segunda-feira, abril 20

Brazuca versus Lourão

Bom povo, vamos voltar um pouco ao "Adriana business talk - panic under control".

Estou tendo que fazer negócios ( ou tentar ) com o Brasil. Fazia tempo que eu não lidava com fornecedores brasileiros, e sinceramente, espero não ter que fazê-lo tão cedo. Não pelo lado do contato pessoal, muito pelo contrário, gerentes de vendas brasileiros são infinitamente menos insuportáveis que os europeus, mas business is business, e é muito mais complicado fazer business com brasileiros. Começa que poucos falam inglês, e quando falam é macarrônico, eu tenho que ficar traduzindo conversa de engenheiro, o que adiciona um processo ( e uma complicação ) ao bom andamento do negócio. Depois, vem o fator "matéria prima". O Brasil ainda produz muito pouco na área dos plásticos, a maioria do substrato vem da Europa, e aí os custos dobram ou triplicam até chegar no estoque do fabricante da peça em si. E tem mais, as gigantes B@SF e B@YER acabam usando o Brasil como outlet de material de segunda, o que acaba criando mais scrap ( material rejeitado ), que acaba sendo incluído do preço. E, para acabar, graças ao salário mínimo quase decente do nosso Lula a mão de obra não é mais tão barata.

( Insight )

Eu acho ótimo a merendeira escolar receber 400 paus de salário ao invés de 200. Acho fantástico o novo plano do Lula de aumentar o salário da merendeira pra 560 paus. However... isso tira o Brasil da lista dos "Low Cost Country", o que não é uma tragédia, desde que haja um plano econômico para se substituir produção para exportação por produção para o mercado interno. Ou seja, o Brasil tem que importar menos já que vai exportar menos, se quiser ( e tem que querer ) manter a balança comercial. Ou tem que exportar mais produção agrícola. E o mercado interno tem que crescer para consumir os produtos industrializados que antes eram destinados à exportação.

(End of Insight)

Mas voltando aos negócios com os brasileiros... E ao fim da nossa última conferece call, quando os engenheiros já tinham saído da sala, o gerente de vendas brasileiro pergunta: Adriana, esse target price seu, quão perto eu preciso estar pra pegar o negócio? E esse é o ponto, europeus, quando passam um target, passam uma figura super confiável, transparente, calculada até nos centavos. E brasileiros blefam, mais que jogador de poker meio bêbado no Tropicana sexta à noite. Aí o brasuca olha pro target do lourão e pensa: o cara tem 10% de blefe nesse target. E o lourão, que passou semanas calculando o target pensa: esse brasileiro é careiro, tá 10% acima do target. E o negócio nunca rola. Esse com o brasileiro agora não vai rolar, já avisei aqui. Sem falar que na segunda conference call o gerente de vendas já tava me chamando de "Dri". Meus colegas que me vêem todos os dias há um ano não me chamam de Dri, o cara lá nunca me viu e já "Drizou" meu nome. Tjá.

Aqui na Europa, to whom it may concern, a quebradeira continua. Agora temos o "gerente especial de falências", que coisa! É um cara que fica só gerenciando os projetos que visam substituir o fornecedor quebrado, vai à reuniões com o administrador de falências. Por enquanto são "só" 9 empresas falidas. Mas a boa notícia é que pelo menos o segmento de carros de passageiros está começando, levemente, a reagir. Essa reação vem dos incentivos que o governo alemão está dando, principalmente para os carros barateeenhos. Já tem até uma modesta filazinha de espera para se comprar um Fiesta, e a Volkswagen também está aumentando a produção dos pequenos. Enquanto isso, no Brasil-sil-sil, tem fila de um mês pra se comprar um Toyota. O índice de vendas de março de 2009 é o mesmo, senão levemente superior ( WTF??? ) à 2008. Brasileiros têm mesmo o incrível dom de sublimar a crise, qualquer crise. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas a porra-louquisse-financeira do brasileiro vai acabar salvando o país da recessão que assola o resto do mundo. O poder do cheque pré, do cartão de crédito e do limite do cheque especial jamais será subestimado novamente. E quem por ventura perder seu emprego para a crise(zinha), é só procurar uma "nova colocação" no SPC, eles devem estar cheio de vagas abertas.

3 comentários:

Alice disse...

Wow!

Fernanda disse...

Eu não posso falar muito do cara brasileiro pq eu tenho a péssima mania de ficar encurtando o nome das pessoas sem conhecer muito bem. Eu tento dar uma controlada mas não vejo muitas melhoras.
E tb não posso falar muito sobre a linha de pensamento do cara quanto ao target price pq assim é que calculamos na minha área … em relação com qualquer país. Meu chefe belga ‘through and through’ chega ao disparate de anunciar um target price 20% menor do que ele realmente precisa quando estamos comprando tarifas.

Isso do BR é verdade. O cheque especial, o cheque pré e o cartão de crédito fez com que a crise não passasse de um disse me disse. Se vc não está em determinado setor de emprego, ou não estuda o mercado financeiro, diria que nada demais aconteceu!
Faz idéia de quantas dicsussões eu tive por lá com neguinho falando que as empresas européias e americanas que estavam declarando problemas financeiros e demitindo várias pessoas estavam, na verdade, só de jogada.
Irritante!

vcdarcie disse...

Ótimo post.