terça-feira, novembro 29

O capiroto tá de oio n'eu

Passei os últimos dois dias enfurnada num centro de treinamento. Muito bom o curso, só não gostei de terem colocado o chefe do chefe na mesma turma, como ir lá, de cara lavada, falar de seus pontos a melhorar, fazer filminho pra analisar linguagem corporal, discutir meu baixo nível de controle emocional numa negociação, tudo na frente do chefe do chefe?

Ando com várias preocupações ultimamente, coisas com a minha mãe; o clima bem tenso na empresa por conta da recessão, já tive meu primeiro caso de falência nessa nova crise, comunicado sexta-passada, ou seja, uma semana antes das minhas férias. Viajo na sexta, nem lavei algumas das roupas que quero levar, a mala ainda está no zolder.

Tem época que a cabeça da gente tá embananada, devagar, e aí vos pergunto: não deixar a peteca cair ou recuar um pouco, descansar a mente, dar-se um pouco de mimo? Óquei, já sei, só yoga salva!

Hoje no curso tivemos que fazer uma lista com nossos pontos positivos e negativos, tudo relativo aos nossos poderes de negociação ( esse era o tema do curso ), e em um segundo minha mente digressou a todos os meus pecados, imperfeições, pés na jaca e urucas afins. Estou convencida de que o Capiroto já tem a lista e está reservando lugar de honra no seu reino para essa que vos escreve.

LISTA DE MOTIVOS PELOS QUAIS A ADRIANA É DE INTERESSE DO CAPIROTO

- Adriana não deu atenção suficiente à encomenda da Kipling da (sua única) sobrinha e encomendou o rosa errado

- Adriana não resistiu ao péssimo hábito de comprar pacotinhos de calcinhas HEMA novinhas para a viagem, só porque elas já vem dobradinhas e ocupam mínimo lugar. As 12 recém compradas juntar-se-ão as outras 42 que ela já possui ( não estou brincando na conta )

- Adriana já trabalha há 15 anos em compras ( olha como eu sei usar o "há") e ainda tem traços de "conscious competence" nos seus métodos de negociação ( googuem aí ), o que quer dizer que ela é praticamente uma burra, e toda a burrice será castigada

- Adriana tem 100 vezes mais vontade de ter um cachorrinho Yorkshire do que parir um bebezinho fofinho (dessa nem o Tim Tones salva)

- Adriana mora a 1500 mt do trabalho, percurso 100% coberto por ciclovia, e mesmo assim vai trabalhar de carro todos os dias, apesar da bunda tamanho 46

- Adriana sissibila, por vezes parece estar falando em "parseltongue"

- Adriana, mesmo que num passado muito ( muuuuuito ) distante, votou no Malufão

- Adriana comeu 8 guiozas na segunda ( Dr. Agatston, me perdoe )

Este caros amigos, é o momento de ficar quieta no meu canto porque tudo está me chateando, tudo está me deixando down. Em 3 dias estarei indo pro sol da Bahia, vou tomar caipirinha de caju e comer acarajé. Depois disso tem colo de mãe ( gagá, mas mãe all the same ), tem família linda, com sobrinhos humanos e caninos, e Natal com pernil assado.

Há que se ter fé e passar uma rasteira no capiroto.

quinta-feira, novembro 24

OldFart véio babão se ferrou

Estávamos agorinha falando do diretor Belga baixinho que passou a exposição brasileira inteirinha babando nas modeletes. Nós, as “moças” dizíamos que era simples, caras atraentes não ficam babando, são babados, e que é realmente “disgusting” esses véios bestas babando as gatinhas, o que é que eles tão pensando, como se a modelete cheia de gatinhos babando nela, vai dar bola pro véio babão.

O OldFart, que é um cu, e é mal educado, e não tem simancol, já tinha me irritado essa semana, ele me disse que eu “preciso deixar minhas unhas crescerem porque é mais atraente”, eu só respondi que o mesmo vale pros cabelos dele ( ele é calvo ). Dessa vez, ele olha bem pra Loirinha Peituda, aquela que 3 meses depois de se casar se separou pra ficar com um cara do departamento 16 anos mais velho que ela ( nota da blogueira: o cara com quem ela agora está morando tem 42 anos mas é muito bonitão, sexy pra caramba ), e manda: ué, o R. ( o novo namorado ) babou a gatinha e levou, é por isso que a gente baba descaradamente, às vezes dá certo!!! ( apontando pra ela, que estava na rodinha )

Todo mundo gelou. Eu achei que ela fosse dizer que o namorado pelo menos já estava divorciado, ou que não era da conta dele ( do Old Fart ), mas ela simplesmente olhou pra ele de cima em baixo, e muito calma perguntou: OldFart, você tem espelho em casa?

Amey!

Nada muda

A nova colega slovaca é filha de uma médica pediatra. Ela está aqui do meu lado horrorizada com o que estão falando pra ela da tal Consultatie Bureau. Long story short, aqui não tem médico pediatra, seu filho tem que periódicamente ir a um centro médico onde ele vai ser pesado, medido, observado e vacinado. Lá tem uma tabela estatística ( não falo aqui que todo médico holandês começa a facultade estudando matemática? ) e se o que é observado no seu filho tá dentro da média, beleza, se não, ele é encaminhado pra um especialista. Parece que é efetivo, apesar de ser uma fabriquinha de mini-holandesinhos, mas quem sou eu, "desfilhada" pra julgar? Meu médico pediatra, o Dr. Cervantes, foi também o médico pediatra escolhido pelo meu irmão pros filhos dele, eu tinha 26 anos quando o Dr. Cervantes pediu pra eu ir no próximo check-up com o Bruno, estava com saudades e queria me ver. Tem preço isso?

E os sobrinhos, que não são mais crianças, me mandaram links pros presentinhos. O sobrinho foi direto num site de informática, tô levando coisa que eu nem sei o que faz. A sobrinha me pediu uma bolsa Kipling e uma calça Diesel. A calça que ela quer está na Bijenkorf por €82, no Brasil custa R$715. Meu irmão, que dever ter sido turco na outra encarnação, já me perguntou se eu não quero levar muambra pra revender pra "amygues" da sobrinha. Salvei a adolescência dela dizendo um sonoro não, pai sacoleiro ninguém merece.

E claro que eu deixei tudo pra última hora, claro que tô desesperada, claro que não vai dar tempo de nada. Claro que já estou macambúzea com a depressão de inverno estamos há uma semana nos afogando na neblina. Zilhões de coisas pra fazer no trabalho, zilhões de coisas pra acertar fora, e essa maledeta cidade onde tudo fecha as 6 da tarde. Hoje vou pra Roermond no outlet, tenho que sair daqui as 4 da tarde.

Tudo vai dar certo, esse ano estou enfrentando o inverno com o meu Little Poney ( nome do meu carrito ), e há esperanças de dias melhores.

Amém.

segunda-feira, novembro 21

Dá pra fazer mesmo em 30 minutos?

Eu adoro as 30 minute meals do Jamie Oliver, mas nunca botei muita fé que daria pra fazer tudo aquilo, sem ter a experiência de chef, em 30 minutos. Decidida a comer uma boa pasta que coubesse na fase 3 da minha South Beach ( integral ), escolhi essa 30 minute meal do Jamie Oliver:



Desde o começo decidi que o pão ficaria de fora, porque não dava pra encaixá-lo na tal fase 3. O fennel ( erva doce? ) da salada também ía ficar de fora porque eu odeio. Então comecei assim:

Coloquei água pra ferver, dei uma limpadinha na área, peguei minhas panelas, frigideira pro molho, uma tigela pra salada. A salada foi a primeira, eu já tinha comprado meus rabanetes sem a folhagem e limpinhos, só fatiei em cima de uma cama de baby folhas. Espremi um limão num potinho pra nós usarmos pra temperar a salada, deixei na mesa ao lado do azeite.

Coloquei a água do macarrão pra ferver, e como o Jamie, coloquei o chocolate da ganache ali no "bafo" e fiquei ali jurando que aquilo não ía dar ponto. O truque da pitadinha de sal no chocolate é tudo, são esses segredinhos que a gente não sabe e outros chefs não ensinam.

Enquanto isso comecei meu molho, meu atum vinha em azeite e não em óleo comum, usei um chili pequenito só ( ele disse 1 ou 2, a gosto ), o alho - me embananei no alho porque não tenho o super esmagador que ele tem e tive que pelar antes, as alcaparras, as azeitonas e as anchovas. Fiquei me pelando de medo das anchovas porque não sou muito fã de anchovas, mas botei minha fé no Jamie. Salsinha aromatizando o óleo ( podia ter colocado mais ), atum, e minha mão se recusou a jogar canela naquela mistura que estava cheirando ultra-bem. Mais uma vez fui com fé nas indicações do Jamie e taquei a canela ( mas fui mais conservadora que ele ). Coloquei a passata, deixei engrossar um pouco. Nesse meio tempo a tal ganache, por um milagre, deu ponto. Servi com morangos e com uns biscoitinhos Atkins ( que ninguém comeu ). Joguei então meu macarrão no molho ( salvei uma metade antes, porque minha porção era só pra 2 pessoas ), arrematei como ele com água do cozimento, tremi na hora mas coloquei o limão, finalizei com mais salsinha e um fio de azeite.

Deu em menos de 30 minutos? Não, deu 32 e eu não fiz o pão. Qual a explicação? Bom, eu perdi tempo ao pelar o alho e demorei pacas pra desencaroçar as azeitonas. A destreza dele na faca não se compara, então minhas salsinhas demoraram o dobro. Mas o que mais "roubou" tempo foi não ter tudo à mão ( tive que procurar o alho, não conseguia abrir as alcaparras...) e principalmente, as limpadinhas. Veja que o Jamie vez por outra dá uma esfregadinha de mãos no pano de prato, mas com a mão cheia de salsinha ele se mete a fazer a ganache, e eu ali só pensando que eu morreria se caísse salsinha na minha linda e sedosa ganache. E eu lavei as mãos depois de abrir o atum, as anchovas, e se caiu salsinha no chão eu limpei pra não pisotear. Então no fim, deu 32 minutos, o que eu achei bem ótimo. Passei no mercado do lado de casa pra comprar os ingredientes e demorei 20 minutos, cozinhei em 32 minutos, foi uma hora entre a porta do escritório e a cadeira da mesa de jantar.

E a comida? Nunca comi pasta melhor, Jesus. É muito, muito, muito bom. A ganache também ficou de chorar. A salada tava simples demais, vou procurar alguma outra pra completar a refeição.

Então, vale a pena? Demais!

California* Dreaming

PQP, que frio.

Já tirei os casacões mais ões do armário, dois deles já estão no hall. Estrangeiro sofre, além de ter que aprender, normalmente na base do erro-acerto, a complicada ciência casaquística, ainda tem que aprender a ciência “penduradora de casacos”. No Brasil nunca tivemos um pendurador de casacos, aqui estou no meu terceiro, e acreditem, foi difícil escolher, tem que ter um número X de ganchinhos, tem que ter um móvel perto pras luvas e cachecóis, um baldinho pros guardachuvas molhados.

E daí, porque eu sou meio anta mesmo, todo ano tem aquele dia do “me ferrei”, aquele dia que você percebe que já deveria ter começado a usar suas roupas de invernão. Esse ano foi um par de sapatos com meia fio 40, vim com um lindo scarpin e meia fio 40 e congelei a manhã toda, até que fui pra casa na hora de almoço pra calçar botas e meia grossa. Aliás, junte aí botas ao menu “essencial” junto com os casacos. No Brasil botas são bonitas e legaizinhas, aqui, especialmente pra quem tem pés ultra frios como eu, é usar ou morrer. ( olha o drama )

Doutora Alice fala da touquinha, e eu vos digo: muita calma nessa hora. Eu não chapinho o cabelo, mas seco e deixo ele bonitinho todos os dias, vou amassar meu penteado com um touquinha inapropriada? Vou deixar minha orelhas desprotegidas e pegar uma infecção de ouvido? Não!!! Há um meio termo, tem várias touquinhas ou chapéus que não escangalham sua cabeleira, eu gosto daquelas touquinhas frouxas, que você fixa perto das orelhas e ela fica meio solta em cima, sem amassar o cabelo.

Meio que mudando o rumo dessa conversa, mas não muito, vamos a sessão confissões, conselhos.

Eu sempre vou viajar no começo de dezembro. Já planejo a roupa do avião: pra aguentar 12 horas tem que ser ultra confortável, normalmente acabo com um jeans, tenis, uma camiseta de manga curta ( pra não morrer ao chegar no meu destino tropical ), uma blusa, casaco. Aí estou eu lá confortável quando chegam aquelas mulheres super bem vestidas, botas de saltos, vestes charmosas, e eu, confortável ou não, fico me sentindo uma marmota. O pior é que eu acho que roupa influencia sim nos upgrades, ano passado eu fui pro aeroporto em SP Com um lindo vestido e sandálias de salto, cabelo esvoaçante e maquiagem, recebemos um upgrade, o cara foi na fila puxar gente pra receber o upgrade, então ele viu bem a “facha” dos upgradados. Coitado, mal sabia ele que eu estava prestes a ir pro banheiro colocar meu jeans e all-star que estava na mala de mão. Agora estou aqui esquentando a cabeça, vou de bota de salto baixo quentinha, nada elegante, jeans, e o que mais povo? Esse ano ninguém vai me buscar no aeroporto de SP, botas e casacão serão carregados pra Salvador e de volta! Já estou me sentindo mulambenta desde já! Sacola! Digam aí, sou só eu que sofro desse mal, o de não saber dosar conforto X aparência?

*Praia do Forte

quinta-feira, novembro 17

Breaking Dawn*

Hoje eu ando me perguntando muito se o que eu acho que eu quero é mesmo o que eu quero.

Uma vez uma leitora escreveu que trabalhava só mesmo para ganhar um dinheirinho porque precisava ajudar em casa, mas que não tinha ambição nenhuma de fazer carreira, de mudar de cargo, de crescer na empresa. Esse comentário deixado num post há anos ainda “haunts” me ( me persegue? ).

Eu trabalho numa empresa que eu gosto, eu fui promovida a um cargo de gerência há pouco mais de um ano, e confesso que nunca esperei que como estrangeira, mulher, fosse chegar a isso, tenho colegas de quem gosto, levo 6 minutos da porta de casa a porta do departamento, ganho bem. Mas, então porque será que hoje estou tão incomodada com meu trabalho? A carga horária que continua pesadaça, o trabalho que muitas vezes não é reconhecido, as mil vezes que eu tenho que sorrir e engolir um sapaço “OldFartiano”, o colega que está indo pra um curso mirabolante em Seattle e eu não, as reuniões que continuam se multiplicando como um virus… Vou falar pra vocês, middle-management é uma bosta. B.O.S.T.A.

O pior é ver que a crise está vindo. A produção já está cortada em um terço e cortar-se-á mais. Hoje abrimos um site de aço e todas as graduações estão mais baratas, sabem o que isso quer dizer? Que tá todo mundo consumindo menos, que tá todo mundo reduzindo suas produções. Na fábrica, os funcionários já estão tensos: será que teremos 2009 novamente? Demissões, sindicato na porta, redução de jornada de trabalho, todos os gastos cortados…

Por isso vos digo, colegas de blog, essa não é a hora de procurar emprego novo, aqui nas Zuropas ou melhor, na Holanda, tem a tal lei-espelho: dividem todo mundo em faixas etárias e o ultimo a entrar é o primeiro a sair. Não é hora de gastar din-din – quem sabe onde o facão vai atacar ( ai meus sais, será que minha viagenzinha pra Kokomo vai pro beleléu? ).

De resto… tudo como dantes no quartel de abrantes. “Vamos” trocar o carro da minha mãe, meu zolder ainda não foi feito, ainda tô gorda, ainda estou estudando holandês, ainda não achei como desligar o corretor de texto ( que virgule era aquela, Anderson? ), mas faltam só 17 dias pra eu jogar tudo pro alto, mandar tudo às favas, e ir molhar a bunda no mar baiano.

Sabem mais o que eu tenho que fazer? Aprender a crasear. Sou péssima em crases e a Paca ( blog pacamanca ali do lado ) voltou a blogar, dessa vez com comentários abertos. Sugestão de post pra Paca: o mistério das crases.

Tcheu ir lá cuidar da vida, que a morte é certa.

*Inspirada pelo filme que vi ontem e adorei, vos digo, tive um momento Breaking Dawn no staff meeting de hoje, o que causou o momento macambúzio no qual me encontro.

segunda-feira, novembro 14

Chorando as pitangas?

Eu não sou a maior fã do site Viaje na Viagem, não porque não goste do Ricardo Freire, muito pelo contrário, mas porque é um site que funciona bem para brasileiros / brasileiros vivendo no Brasil. Com o tempo, me pego questionando se depois de quase 10 anos morando fora continuo me encaixando no perfil para quem ele escreve, e pra falar a verdade, na maioria das vezes vejo que não. As viagens para a Europa que ele descreve ( e que os leitores amam e fazem mil comentários ), são aquelas do tipo “faça 100 coisas num dia em Paris”, e eu não curto esses dias frenéticos em qualquer lugar que seja. Já curti, hoje não mais. As viagens pro Caribe são sempre de 1 semana, o que pra mim é curto demais, não vou me enfiar numa viagem de 10 horas, ficar lá uma semana, e me abalar outras 10 horas de volta pra casa, sem falar que não é “cost-efficient”. E quer nas reportagens dele ou nos comentários, a importância que se dá à compras não faz mais parte do meu cotidiano ( se eu quero um perfume, vou na drogaria da cidade e compro ).

Apesar do que disse acima, ainda leio o site com alguma frequência porque me identifico com ele ( ele ama praias ), e porque sempre dá pra pescar umas dicas legais dos outros leitores.

Essa semana ele abordou um tema que já apareceu repetidas vezes por aqui: porque é que as pousadas brasileiras não colocam tarifário nos sites? A explicação dos donos de pousada pra mim foi furadíssima: eles alegam que não colocam preço no site porque o brasileiro sempre dá uma chorada no preço, por isso não tem como fixar no site.

Agora pergunto, se essa fosse a verdade, não haveria então a oportunidade de já praticar o preço justo, mais baixo que a concorrência, e sempre dizer não aos que tentarem barganhar? Se o preço fosse mesmo justo e mais baixo que a concorrência, hóspedes é o que não faltaria, certo?

Segundo, supondo que haja mesmo a tal “choradinha de preço”, porque não colocar os preços no site 5% mais altos e então abaixar 5% na choradinha?

Pra mim é tudo balela, mas uma pergunta eu queria fazer para os leitores brasileiros: você chora preço, pede desconto, tenta incluir um serviçozinho a mais ( shuttle, jantar, uma massagem ) quando reserva uma pousada pras férias?

sexta-feira, novembro 11

Tudo brilha por aqui

Hoje está um lindo dia de outono. Está frio, mas o sol brilha, reflete nas árvores que estão douradas ou vermelhas, o efeito é lindo. Ontem fui ao centro de Eindhoven jantar com a comadre e aproveitei pra dar uma voltinha pela amostra Glow, que está linda, cheguei a me emocionar quando vi a estação de trem da cidade.

Há já algum tempo que fico pensando em como é que eu fui deixar a beleza de se morar aqui desaparecer? Sim, me incomodam certas impraticalidades do dia a dia aqui na Holanda ( supermercado com horário limitado, lojas que fecham as 18:00, não poder pegar o livrinho da Sul América, ligar pro dermatologista e ir clarear aquela manchinha no rosto… ) mas quando foi que eu parei de admirar o verdinho da cidade, as (poucas) construções antigas, as ruas limpinhas, os fios elétricos subterraneos, os outdoors cuidadosamente planejados, as flores para todos os lados, o centrinho só para pedestres? E óquei que gente deslumbrada com “A Zuropa” é chato demais, mas pô, será que um pouquinho só pode? Meo, sério, quando é que eu ía imaginar que um dia eu estaria morando, trabalhando, sofrendo, aproveitando a vida numa cidade européia?

Eu sou uma pessoa muito chata mesmo. #kickingmyownass

Hoje sairei ainda com luz lá fora ( antes das 5 ) e vou dirigir pra casa admirando o reflexo do sol nas árvores. Colocarei uma roupa bem quentinha com a minha amada UGG-imitation, e vou andar até não poder mais pelas estações da exposição GLOW, com direito a paradinhas entre elas para beber vinhozinho nas barraquinhas, alias disseram até que tem uma barraquinha de “gluw-wijn” ( não sei como se escreve, mas é um quentão alemão igualzinho ao nosso, só que sem frutinhas ). Admirarei minha cidade que é muito bonitinha sim, com ou sem luzinhas brilhantes.

Felicidade maior só se eu descobrir como desligar o maldito corretor de texto desse infeliz outlook 2007.

Bom fim de semana proceis!

quarta-feira, novembro 9

Enquanto isso, no interior do Congo...

Nossa secretária, de quem sou “quase amiga” ( transformer colega de trabalho em amigo aqui é um processo que pode levar décadas ), veio me contar o drama dela.

Aqui no Congo, as mulheres não fazem prevenção do câncer ginecológico  ( o famoso Papanicolau ) todos os anos como no Brasil. Antes dos 30 não se faz, e aos 30 você é presenteado com uma cartinha do órgão público de saúde com “papanicolau voucher”, e você vai ao seu medico para – alegria alegria – fazer um exame laboratorial ( fala baixo que essa palavra é coisa do capeta aqui na Holanda ). Depois disso o voucher-presente vem a cada 5 anos. E se você tiver alguma coisa entre esse periodo? Ué, cê morre, sô. Mas em defesa dos Holandeses, tem uma estatística matemática, com as variáveis X, Y, Z, as circunstâncias A, B e C, e conclui-se que a chance de você desenvolver um câncer, ele evoluir, e tornar-se incurável é coisa pouca, tipo 4% ou algo que o valha. Então, nos anos entre um exame e outro, ao invés do voucher-papanicolau você ganha um santinho com a reza de São Peregrino, que é o santo padroeiro dos doentes de câncer.

Mas voltando à secretária. Semana passada ela fez o tal exame, e como é procedimento aqui, ligou para pegar o resultado. A assistente informou que ela deveria falar com a médica. Na consulta, a médica disse que o resultado estava “anormal”, e que o colo do útero não estava liso como deveria estar. Disse que pediriam mais um exame, e acessariam a situação. A secretária, zonza, nem sabia o que perguntar. A médica não explicou as possibilidades, não elaborou sobre possíveis tratamentos, não tentou apressar o resultado do teste adicional. A coitada da secretária apareceu aqui no dia seguinte, com imensas bolsas debaixo dos olhos, e inchada de chorar: Adriana, e se eu tiver câncer, e se eu não puder ter filhos? Tudo o que eu pude responder foi: “Querida, a gente sempre pensa o pior, mas não pense o pior, eu conheço tanta gente com cistos, vai ver que é algo bobo assim. Mas se você está assim tão arrasada, não sofra, ligue pra médica e vá hoje mesmo falar novamente com ela, esse é o trabalho dela, cuidar da sua saúde física E MENTAL.

A moça ligou e a médica está de férias. Ela não pode receber uma cópia do exame para ir em outro médico, nem para falar com algum conhecido, nem para googar os resultados.

Apesar de ter feito as pazes com o fato de morar nesse país estranho, jamais entenderei esse sistema de saúde da União Soviética Comunista. Jamais me conformarei em ser tratada e ver quem eu gosto ser tratado como um monte de carnes com dados estatísticos anexado ao produto.

Juro, meus gatos tem melhor tratamento médico do que eu. O veterinário do Tyty me aconselhou a dar um banhinho morno nele depois dele fazer xixi na gaiolinha de transporte “pra levanter a moral dele, porque gato não suporta se sentir sujo”.

Veja se a médica da colega tá aí com a moral dela.

segunda-feira, novembro 7

As pingas que eu tomo...

Vocês sabem aquele ditado: só vêem as pingas que eu tomo, mas nunca os tombos que eu levo? Então…

Estou meio de saco cheio de ser colocada de escanteio por ter feito algumas escolhas diferentes das escolhas da maioria. Sort of…

Não ter filhos por exemplo. Foram 100 motivos que me levaram a escolher não ter filhos, mas foi uma escolha mesmo assim, escolha essa que outros não fizeram. Hoje, eu ouço absurdos, alguns só “irritantezinhos”, outros que me deixam muito muito pê da vida.

Compramos dois carros zero no espaço de 6 meses, deixei de comprar móveis caros, deixei de sair pra baladinha em restaurante caro, não comprei roupetas de marca, minha casa continua sem o quarto de visitas, e sim, não tive filhos – não pago crèche, fralda, papinha, whatever. Aqui, o que ouço cada vez que alguém me vê chegando no meu carrinho ( pequeno, motor fraquinho e barato ) novo é: poxa, que beleza ser dink ( double income no kids )… e risadinha irônica… se a pessoa cutuca com a vara curta, eu respondo: é mas eu não tenho a recompensa que é um bebezinho me chamar de mama… ou então… é, eu preferi economizar em fraldas… e normalmente a pessoa fica amarela e me deixa em paz.

Quando voltei da viagem pro Brasil, fiquei irada. Eramos 3 do departamento voltando e alguém tinha que estar presente na segunda, 12 horas após o avião aterrizar, na sala de um dos diretores pra dar um resumão da viagem. Estávamos os 3 chumbados e sem voz, depois de 5 dias falando sem parar com o público da feira, e sabem qual foi o critério? Adriana, você não tem filhos, o Fulano e o Ciclano querem passar um tempinho com os deles. Eu fervi, e ainda tive que ouvir: seus gatos não vão ficar tão bravos…

Agora meu irmão me mandou um e-mail que precisamos trocar o carro da minha mãe porque ela já não aguenta mais um carro sem direção hidráulica. Precisamos mesmo, o carro dela tá velhinho. Mas, eu já mando dinheiro pra prestação do apê todos os meses, nesses 9 anos de Holanda já foram mais de 10000 euros em prestação de apartamento que podia estar alugado rendendo. Vejam bem, meu irmão não está me cobrando nem nada, está perguntando se eu posso ajudar, mas eu já ouvi antes o fatídico “quem faz tanta viagem é porque a grana tá sobrando”, mas a verdade é que são apenas escolhas diferentes, porque ele senta a bunda dele num carro de mais de 70 mil reais, enquanto eu, depois de 9 anos de bike e motinha, acabei de comprar um carrinho de menos de 10 mil euros. E o pior é que eu estou sim me sentindo culpada por dizer não, não posso mandar 4 mil euros pra comprar um carro pra mãe.

É o que eu sempre digo, pra quem não é rico, cada coisa que você escolhe fazer é em detrimento de algo que você gostaria mas não vai fazer.

E se alguém descobrir um jeito diferente que me ensine.

quinta-feira, novembro 3

Networking e Linquedín

Há tempos eu já me admiro da cara de pau holandesa com o tal do networking. Quando eu deixei a GM, eu e meus colegas trocamos e-mails particulares, prometemos nos comunicar para sempre, eu ganhei festinha com presentes, saí de lá me achando. Tudo bem que nos anos seguintes continuei em contato com 4 dos 15 colegas, mas até que o percentual não é mal.

Aqui na Holanda, o povo vai embora, manda aquele e-mail curtinho “bla blabla, foi ótimo trabalhar com vocês, aprendi muito, boa sorte, fui”, e nada de e-mail particular ou telefone. Aí, os que vão de mesa em mesa dar tchauzinho, antes de você ter oportunidade de pedir um telefone de contato, já tascam: a gente mantém contato pelo Linked in.

Linked in, taí o campeão de audiência com a holandesada. Na prática significa: ó, não faço questão de manter amizade com você, mas vamos nos conectar no linked in pro caso de um precisar do outro profissionalmente no futuro.

Networking, esse é o nome do negócio. Nem muito amigo, nem desconhecido, um útil contato.

Hoje, recebi um convite para um simpósio e tava lá: diner and networking, ou seja, o discreto fazer amiguinhos no jantar de negócios já foi escancarado para o “networking”.

Eu, véia que sou, ainda me admiro com essas objetividades todas, e sinto falta ainda do romantismo de achar que seu colega de trabalho vai sentir sua falta, que o jantar depois de um simpósio é só uma confraternização depois de um árduo dia de aprendizado.

E para terminar, povo brasileiro, vamos aprender a falar linked in, vi a americanada tirar muito sarro dos brasileiros na semana passada. Não é  “linquedííín”, o certo é “línk’d in” – com esse d bem suave e nada tônico.

E já que eu falei da mania da holandesada no linked in, deixa eu falar da mania dos brasileiros no linked in, porque é que todos os pedidos de recomendação que eu recebi vieram dos meus contatos brasileiros? Porque é que a brasileirada recomenda tanto uns aos outros? Será que alguém vai lá e escreve: Pedro Termio não é nada inteligente, e apesar de ser bem esforçado, não consegue acompanhar o ritmo de um escritório dinâmico. Na área pessoal, ele é estranho e obcecado com o facebook, checa a conta dele 4 vezes por hora. Só o contrite se for pra aquivista ou analista de almoxarifado”?

quarta-feira, novembro 2

Coisas de Brasil 1

Passeava eu, lépida e faceira pelo Morumbi shopping, quando vi um shortinho jeans na Guaraná Brasil que era a cara da minha sobrinha. Entrei na loja e enquanto eu olhava as cores disponíveis, esperava uma vendedora vir me atender.  Esperei o que eu julguei bastante, me dirigi então a uma mocinha detrás de um balcão. Minha dúvida era bem simples, como eu não conseguia achar a etiqueta do tal shorts, queria saber se a numeração era a normal brasileira ou aquelas americanas, que já estão usando no Brasil em lojas “design” e até mesmo em lojas mais simples como a Levi’s. Eu sei o número da minha sobrinha no normal brasileiro ( 38 ), mas não faço idéia da numeração americana em polegadas.

Adriana: Você poderia me dizer que tipo de numeração sua loja usa?

Mocinha (olha de cima abaixo):  Nossa numeração é meio pequena, e só vai ao 44.

Adriana: Ah, 44, então é a numeração brasileira. Eu ía te pedir aquele shortinho 38, mas acho que minha sobrinha gostará mais de um produto de marca mais conhecida.

É, o Brasil detesta gordos mesmo.

Sabem que eu não sei se o negócio das roupas miúdas é preconceito ou economia de tecido mesmo? Me disseram que regulamentaram o tamanho mínimo e máximo de cada numeração, e para economizar tecido me parece que todos estão produzindo nos tamanhos mínimos, mas ó, tem coisa que é demais. Comprei daquelas meias finas até o joelho da Trifil, e mal chegou no meio da batata da perna, olhei várias vezes pra ver se tinha comprador meinha soquete, ou tamanho infantil, mas que nada, a bicha foi feita pequena mesmo.

E aí, #comofaz? Palank?

terça-feira, novembro 1

Long time no see

Estou de volta.

Fui ao Brasil para uma série de visita a fornecedores e seguida da parte mais importante: a participação da empresa na FENATRAN, feira de transporte, no Anhembi.

Nesses quase 9 anos de casamento sempre volto a SP como turista, então foi bem diferente estar lá a trabalho.

A princípio fiquei bem chocada com o preço de tudo. Sei que aeroporto tudo é caro, mas R$5,60 numa coxinha me parece caro demais até pra um aeroporto. A manicure que em dezembro do ano passado me cobrou R$40 ( também no aeroporto ), esse ano me cobrou R$50. E estava cheio. Um envelopinho de benegripe, R$ 6.

Saí com meus primos pra um japa, uma delícia. Preço razoável, R$ 40 por pessoa num all you can eat, de qualidade bastante boa. Lá comi pela primeira vez sorvete de melão da marca MELONAS, maravilhoso! Melhor de tudo foi ver meus primos bem, trabalhando, estudando, namorando. Infelizmente, por outro lado, tanto minha mãe quanto minhas tias vivem para reclamar que dói isso e dói aquilo, não há outro assunto. Você tenta falar de algum lugar bonito que esteve, de alguma comida gostosa que comeu, de alguém que viu, mas a conversa converge sempre pro mesmo assunto: dores e remedies. Concluí que não há o que fazer, não há como ajudar quem não quer ser ajudado.

Sugeri pra minha mãe que ela alugue meu apartamento para um aparentado que está interessado e tente, por um ano, morar em Holambra. Na minha cabeça isso quebraria esse ciclo vicioso de estar doente, só falar em doença com as minhas tias e ficar mais doente ainda. Ela não descartou totalmente como eu esperava, o que é um bom sinal.

Meus sobrinhos estão lindos, e adolescents. Minha sobrinha já está dando um certo trabalho, quer “ir pra balada”, quer roupa nova, só quer saber da turminha. Meu irmão sofre, porque ele não é mais o centro das atenções dela, mas tudo será uma questão de tempo.

A feira foi a parte mais legal da visita, não que visitar a família não seja tudo de bom. Éramos 20 pessoas, a maioria falando portunhol ou alguma forma de português marromenos, nativos mesmo, éramos 4. Ficamos num hotel bam-bam-bam escolhido pelos Americanos, o Grand Estanplaza perto da Berrini. Acho o Brooklin Novo uma das partes mais bonitas de SP. A feira em si foi ultra cansativa, ficávamos em pé das 13 às 21, debaixo de um calor de 35 graus, de terno. Mas o time era super legal e estávamos muito motivados, foi uma experiência tão incrível que nos últimos 15 minutos do ultimo dia todos os expositores começaram a buzinar os caminhões, nós acompanhamos e vi que muitos de nós, como eu, tinham lágrimas nos olhos, uma sensação de dever cumprido, de ter feito algo muito bem, incrível.

De toda essa experiência tirei várias conclusões.

A primeira é de que o Brasil é sim uma opção viável para se morar, ao contrário do que eu pensava. Mas ali naquela região linda, com um ultra salário, e com direito a férias num lugar mais calmo de quando em quando. Fazia muito tempo que eu não comia tão bem, fomos 3 vezes no Jardineira, uma no Barbacoa, no bar Veríssimo, no bar do Juarez, na Trattoria do Lellis, no Varandão em SBC ( está ótimo! ), no Almanara. E comi “trequinhos” no Viena, na Ofner e numa brigadeiraria do shopping Morumbi. E acreditem se quiserem, com tudo isso, ainda emagreci 1 quilo. Fomos convidados para 2 jogos de futebol, eu fui convidada para uma peça de teatro, assisti a um ballet de rua, no Veríssimo tinha uma banda de jazz, ou seja, uma vida cultural que aqui na Holanda eu tenho que viajar longe pra ter.

Em decorrência do que falei acima, vem também a conclusão lógica de que estou na Holanda por escolha, e não pela falta de. E pensando nisso, veio a vontade de conhecer o país um pouco mais, ir a lugares que ainda não fui, de exercer essa minha escolha de uma forma melhor.

E a nível profissional, fiz muitos contatos, o tal networking. Mas vi que está na hora de eu me envolver em mais projetos internacionais. Não tenho filhos, tenho um marido que sabe que minha profissão exige viagens, é só mandar os gatuchos pro hotelzinho ou achar alguém pra vir limpar o banheirinho e pronto. A rotina do trabalho, além de cansativa, é chata e me faz perder a motivação. Mudar de ares é bom, te faz ver seu jabá com farofa do dia-a-dia de forma diferente.

Agora é trabalhar de sol-a-sol por 5 semanas e… férias! No Brasil! Bahia, aí vou eu!