O dia amanheceu lindo hoje. Ensolarado e fresquinho, sem uma nuvem no céu. Os dias como o de hoje me fazem invejar aqueles que não tem que acordar e ir para o trabalho, que podem escolher o que bem fazer com o seu dia.
Mas nossa vida é assim, não é? Um reflexo das nossas escolhas. No meu caso, minha escolha foi não depender financeiramente de ninguém, e poder bancar uma casa maior e mais bonita, poder viajar pelo menos 2 vezes ao ano, ter um pé de meia pra não passar apertos.
Às vezes eu me pergunto se a gente faz essas escolhas baseados no que mais gostamos ou no que mais tememos. Gostar mesmo, eu gostaria de poder acordar sem despertador todos os dias, não ter nenhum compromisso para poder decidir o que bem fazer, ter um trabalho voluntário com animaizinhos, morar numa "chacarazinha" e ter gatos, cachorros, porquinhos, galinhas... Mas como eu já disse, não sou rica. Mas e se eu tivesse casado com alguém que pode bancar essas coisas para mim?
Aí vem a parte de fazer suas escolhas baseadas no seu medo. Se eu tivesse um marido que bancasse essas coisas para mim, eu não ía conseguir aproveitar. Não por grandes escrúpulos, mas eu ía viver insegura, ía viver lembrando que a qualquer momento ele pode entrar porta a dentro e me dizer que quer se separar, e daí? Tem gente que pensa: dane-se o cara, eu vou pro pau e peço a casa e uma pensão. E daí colega, tu tais frita. Brigamos tanto pela igualdade que o argumento virou-se contra nós. Não somos mais o sexo frágil, juíz vai te dar um aninho de pensão até você conseguir se recolocar no mercado, e você vai ter que se virar. Se tiver filhos na jogada, você vai viver com aquele dinheiro contado até seus filhos fazerem 18 anos e acabou. Se jovem desempregada já não é um bom prospecto, imagina quarentona, sem experiência profissional, vendo o dia das tetas da vaca secarem chegar, sem conseguir garantir o seu. Mêda, muita mêda.
É indescritível a paúra que eu tenho de ficar velha e na rua da amargura. PAÚRA. Se eu achasse uma boa psicóloga eu até ía investigar a razão desse medo desmedido. No meu inconsciente, eu tenho que fazer "whatever it takes" para garantir um tetinho sobre a minha cabeça na velhice e o dinheirinho do jabá. No dia que assinamos a hipoteca da casa nova, pensei: vou ter que ralar muito ainda, mas hoje plantei a sementinha que garantirá minha dentadura. Não pensei no chão de madeira, na geladeira de inox, no banheiro com aquecimento no piso. Pensei na minha dentadura. Pensei que não importa o que aconteça, posso sempre vender essa casa e comprar nem que for um apartamentozinho de 1 quarto numa daquelas cidades do fim do mundo da Holanda, fronteira com a Alemanha ou Bélgica, terei minha aposentadoriazinha do governo, serei sócia da biblioteca e ficarei em casa lendo meus livros, comendo krakelingen comprado no Aldi com o meu rolator... Ou volto pro Brasil, moro no meu apartamento em SBC, deixo metade dos meus euros todos os meses no convênio médico, e fico em casa vendo novela o dia todo.
Uma vez comentei isso com uma brasileira e ela disse: e você nem tem filhos para cuidar de você. AFEMARIAARRIÉGUABATENAMADEIRATRÊSVEZES. Pior do que tudo que descrevi acima seria ter que viver com filhos, morar no quartinho dos fundos, ai ai ai, me dá tremedeira só de pensar. Morar com nora eu genro que só te aguentam porque o esposo ( a ) é seu filho ( a ).
Credo, mas que papo baixo astral para uma sexta-feira ensolarada. Tudo bem que uma pilha imensa de roupas me espera pra passar, mas pelo menos amanhã eu acordo sem despertador. E isso colega, é bondimais.
sexta-feira, agosto 15
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9 comentários:
Menina,
como voce escreve bem...
Encontrei seu blog nao sei nem como, mas posso dizer que agora az parte da minha leitura diaria.
Me divirto muito com suas estorias e ao mesmo tempo fico " conhecendo" um pouco da Holanda. Moro na Australia e me identifico com muita coisa que escreve, eh engracado...
Ah, e este post da velhice esta genial, vc pensa q nao me arrepio soh de pensar tb?
Um bj p voce
Menina,
como voce escreve bem...
Encontrei seu blog nao sei nem como, mas posso dizer que agora az parte da minha leitura diaria.
Me divirto muito com suas estorias e ao mesmo tempo fico " conhecendo" um pouco da Holanda. Moro na Australia e me identifico com muita coisa que escreve, eh engracado...
Ah, e este post da velhice esta genial, vc pensa q nao me arrepio soh de pensar tb?
Um bj p voce
Sobre o post de hoje, acho que sei o que sente...Todos os dias venho trabalhar aqui em SP e vejo a galera dos prédios vizinhos na piscina. Meu, como gostaria de estar ali, lendo um livrinho e tomando sol....Porém penso que se não tivesse a vida que tenho, com meu trabalhinho e meu dinheirinho, não veria a menor graça em uma vida de ócio puro, algo dentro de mim ia estar faltando, aquela satisfação que só o trabalho traz (sentimento de ser útil acho, não sei explicar). Eu que leio seu blog todos os dias acho sua vida legal, porque é uma vida normal, com seus aspectos positivos e negativos... Óbvio que tem um tempero a mais, que é a sua perspectiva de estrangeira. Enfim, concordo que a vida é reflexo das suas escolhas e é isso que nos dá segurança para falar: não me arrependo de nada que fiz, pois foi o que escolhi e o que fazia sentido para mim na época. Um forte abraço e espero que o final de semana continue bem bonito por aí. Ana Luiza Molina - São Paulo
Dri,
tenho 47 anos. Estou no meu terceiro casamento (casamento mesmo foi só o primeiro,os outros dois foram juntamento).
Já fui sustentada, já sustentei e dividi (irmãmente, mesmo ganhando menos). Depois da minha primeira separação jurei que nunca mais ia depender de marido, mas, faz pouco tempo, meu companheiro teve uma proposta de trabalho em Amsterdam e nos mudamos.
Como meu inglês é péssimo e meu nerlandês inexistente, estou vivendo a vida que sonhaste. Não vou negar que tem suas vantagens, mas depois de um tempo bate a deprê.
Chega uma hora que, mesmo tendo cuso superior, tu topa até lavar prato para ter um motivo para sair de casa e ver gente. Contudo, são escolhas. Resolvi que vou aproveitar melhor o tempo e estudar pra valer.
Abraço
http://vera-adoroisso.blogspot.com/
Eu disse que vinha:-)
Gosto do jeito divertido, mas bem lúcido, dos seus posts. Aquele da "brancura" da Beyoncé foi espetacular.
Até breve!
Um beijo,
Arnild
e neguinho tem filho já pensando em ter um cuidador na velhice...isso é demais para minha cabeça de child-free person. Quem disse que existe alguma garantia de que os filhos cuidarão dos pais quando necessário?
Também tenho os mesmos medos que vc descreveu no post, mas eu sei exatamente de onde eles vem: pais divorciados, mãe que adbicou do ganha pão pq o pai aporrinhou ela pra parar de trabalhar, até o dia que ele arrumou uma namoradinha mais novinha e deixou a mãe com um condominio de 500 reais mensais e ela teve que, aos 55 anos, ir atender telefone em cabelerereira pra não ter que implorar todo mês pra aumentar a pensão de merda que ele "dá" pra ela.
Já vi algumas pessoas te chamarem de negativas aqui mas posso te defender: sexta feira vc achou que tava bom o tempo na Holanda?? Putz, sai da França na quinta e cheguei ai na sexta e passei o dia inteiro falando pro namorado: pqp frio do c... como é que vc quer voltar a morar aqui??
hehehe
viu como vc é positiva??
ops, esqueci de assinar...
To each their own, é claro. Mas sei lá, por algum motivo não tenho esse medo, não. Eu sou meio cigana e nunca consegui planejar muito bem o futuro. Vivo o presente e só. Aqui estamos longe de ser ricos mas, sem qualificação, eu só conseguiria emprego em pubs ou como atendente de loja, para ganhar pouco. A troco de quê? Ficar mau humorada por acordar cedo, aturar cliente grosseiro, não poder ir junto nas viagem a trabalho do marido porque EU tô trabalhando, a troco de poder comprar umas roupinhas a mais no fim do mês? Dispenso.
Se algum dia eu levar o tal pé na bunda (unlikely, but never say never), nem peço um ano de pensão. Ponho roupas e bonecas na mala e volto pra casa. Com os trocados que tenho, dá pra fazer um bom curso de fotografia para me aprimorar, compro uma câmera profissional e vou trabalhar com eventos. Ou até faço faxina amarradona, sabendo que, durante um bom tempo, eu vivi como sempre quis viver. Dinheiro não é tudo. Para *mim*, isso é melhor do que viver dando meu tempo, juventude e neurônios para pais, marido, filhos, patrões e similares. Isso sim, me causaria pânico. Acho que não sinto pânico desde que saí da minha última prova no vestibular.
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