Se há uma coisa que eu gostaria de mudar em mim, é a forma como eu fico obcecada pelas coisas até resolve-las. Odeio isso. Vocês já foram testemunhas aqui de que quando eu encasqueto com uma coisa, não sei falar de outra. Aghhhh...
Minha presente obcessão é a bendita cozinha. Porque é que há tanta escolha? Bom era no Brasil, tínhamos 3 ou 4 marcas, duas delas eram as melhores, cada uma tinha 2 ou 3 modelinhos de cada "aparelho", normalmente um mais atual e os outros de coleções passadas. Quando eu comprei meus eletrodomésticos no Brasil ( que acabei deixando pra minha mãe ) foi assim, eu queria Brastemp, coleção atual, tamanho pequeno ( eu ía morar sozinha ). Pronto, escolhido.
Aqui, você quer uma geladeira, vai lá num site que vende todos os eletrodomésticos, e tem que dizer se quer embutida no móvel ou "solta", e se é com freezer ou sem, se o freezer é embaixo ou em cima, que cor, que tamanho. Aí ele te dá mais de 100 opções, você pode ver por marcas, por faixa de preço, por popularidade. E mesmo dentre a mesma marca tem uma coleção infindável de opções esdrúxulas: vitafresh, coolzone, nofrost, quantum-algumacoisa... Aí, você é um ser atormentado como eu, e começa sua pesquisa com uma geladeira embutida na mente, mas no primeiro clique já está na dúvida "poxa, essas de inox são tão lindas, porque não uma de inox?". E pra cada "quesito" você acaba mudando sua opinião. Depois de 10 minutos você esqueceu totalmente o que queria e já está olhando os microondas. Aghhhhh (2).
E pra piorar, isso fica na minha cabeça, latente, me impedindo de pensar em outra coisa, de me concentrar. Tenho um documento chatérrimo para destrinchar, e a cada "clausula", uma imagem de geladeira vem na mente, ou de layout dos armários. Não termino o layout da cozinha nunca, e nem faço meu trabalho bem. Aghhhh (4).
O pior, é que como eu sou atentada mesmo, eu DETESTO vendedor de eletrodomésticos e cozinhas, porque eles SEMPRE acabam te empurrando o que vai trazer comissão maior pra eles, e não aquilo que você realmente quer. Fico lá ouvindo o cara achando que estou sendo enrolada, é uma perda de tempo. Aghhhh (5).
E como aqui nessa terra tudo é complicado, tem ainda a história dos grupos. Óquei, me chamem de paguá, mas no Brasil eu nunca ouvi ninguém falando de grupos de eletricidade, e que geladeira não pode ser ligada na mesma "linha" que a lavalouça. Aliás, precisavam ver a cozinha da minha tia, tinha só duas tomadas e tinha aqueles beija-flor ( ou benjamin? ) com vários aparelhos na mesma tomada. Aqui você tem que calcular a somatória da potência usada por cada aparelho, e um não pode "cruzar" certos eletrodomésticos mais "xupins". É um tal de minha geladeira está aqui mas a tomada "boa" tá láááá do outro lado... Aghhhhh (6).
E daí, quando finalmente você chega ao layout dos sonhos, perfeitinho e tinindo, seu marido olha pra ele e diz: não gostei, parece o layout da casa da minha avó (!!!). Aghhhh (7)
E agora, para o Aghhhh final, vem o preço. Eu não sei se o Brasil está acompanhando o "desenvolvimento" da Europa, mas aqui tem cada coisa fantástica! Em geladeira, estou babando por aquela com as gavetas a 0 grau, que mantém os vegetaizinhos e saladinhas frescos por até uma semana, e de inox, e com gavetinhas de freezer transparentes. Em microondas, quero um daqueles que não tem prato giratório - é o motor que gira. E em fogão, como gosto de fogão a gás estou babando o da SMEG - único que já conseguir "vender" pra FH por causa de uma santa tomada que só pode comportar um equipamento, totalmente de inox, lindo de morrer. E pra tudo isso vai dinheiro colegas, um rio de eurecas. Mas tenho que ser sincera, para os menos exigentes, tem eletrodoméstico bem barato.
***
Adriana vai contar uma histórinha, como o post tá longo, pode pular e voltar aqui quando tiver tempo.
Como eu já cansei de dizer aqui, a família da minha mãe é bem humilde. Eles, assim como nós menos humildes, também tem os desejos de consumo deles, claro. Eu tenho uma tia que desde que casou a quase 30 anos, ainda não acabou de pagar a Casas Bahia.
Estávamos na casa dela e a geladeira começou a fazer um barulhão. Bart me disse: vai quebrar, eles precisam comprar outra. Na mesma hora minha tia disse que a geladeira tinha que durar até março porque só em fevereiro eles acabavam de pagar a câmera digital. Eu traduzi para o Bart. Bart não entendeu porque é que alguém parcela uma câmera digital. Na cabeça dele, se você é pobre, você só se enfia num parcelamento se uma coisa essencial, como a geladeira, quebra e você não tem dinheiro pra comprar outra. Eu entendo e concordo com o pensamento dele, mas conheço não só a minha família como a classe mais humilde brasileira, e sei que eles jamais juntam dinheiro pouco a pouco pra comprar uma coisa que querem, mais improvável ainda que juntem dinheiro na poupança para uma eventualidade. O normal é viver assim, de um "carnê" para outro, e as Casas Bahia, Marabrás, Extra, Carrefour, etc e talz agradecem.
Na mesma semana fomos visitar outra tia minha. Essa tia é a mais "humilde" ( me falaram que eu falo "pobre" demais, então estou evitando ). Eles nunca tem dinheiro para ir a lugar nenhum, para fazer um churrasquinho de carne-moída, até gasolina pro carrinho é raro ter. Logo, é natural que o único lazer deles seja a TV, devidamente acoplada num gato da Cambrás ( TV a cabo ). Minha tia "humilde" tem 100 canais, eu tenho 10. Humpf. Mas então... Uns meses antes, minha tia tinha invocado que precisava comprar uma TVzona que ela viu em promoção na Marabrás, além de linda, de estar na liquidação, a pessoa ganhava "gratis" um DVD player. Todo mundo achou que minha tia tinha ficado pinéu, pois ela nunca foi de comprar nada, de querer nada, de onde aquela fixação pela tal TV? Como as coisas estavam na pindaíba ( e não estão sempre? ), pra comprar a tal TV ela precisava achar um emprego. Pois ela foi trabalhar de cozinheira numa creche ( minha tia mal sabe fritar ovo ), ganhando salário mínimo, que ela deixava todos os meses inteirinho na Marabrás. No dia que íamos visitá-la eu já falei pro Bart: olha, não repara, eles são pobres, vivem nos fundos da minha avó porque não podem comprar uma casa, minha tia está trabalhando de merendeira, bla bla bla. Chegamos lá e estavam todos assistindo um canal a cabo ( que não temos ), numa TV tela plana ( que não temos ), com stereo surround ( que não temos ), e tinham jantado arroz com presuntada em lata porque não tinham dinheiro para "mistura". Explicar pro Bart como?
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Fim da histórinha.
segunda-feira, agosto 11
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7 comentários:
Tem uma música, cantada pelo Cazuza: "...O meu cartão de crédito
É uma navalha...
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Prá só dizer "sim, sim"..." E olha que isso tem tempo, muito tempooooo e nada mudou!!!
Olá Dri,
Como já falei em outros post adoro o seu blog!!!
Agora se vc me permite, a sua familia aqui no Brasil, não se importa de vc inclui-los nos seus post?
Abraços
Lilian
Mas essa á a história do Brasil, você pode ir até pra favela, mas vai ter alguém lá com TV tela plana e cabo e internet ligados por " gato". Não defendo isso, mas o que mais eles vão mostrar na vida? Já que casa e carro legal, ou mesmo emprego, não vão ter...
Só 10 canais Dri? Eu tenho um pacote fuleiro da UPC e tenho uns 100, embora eu me contentaria só com uns 20, mas como não dispenso a BBC eu nunca posso ter só o basicão. E TV de tela plana vale cada centavo, a imagem é um show.
Não dá pra explicar... como eu tb não consigo explicar como prima minha que não tem um tostão no bolso pra comprar a marmita entra na depre por causa do namorado e vai de avião de sp até goiania visitar a outra prima pra aliviar a cabeça...
Eu só curo dor de cotovelo com cerveja de 30 centavos!
Nao, este blog eh o maximo!Acompanho daqui de Sydney, achei por acaso e adorei.
Olá Dri!
Começei pela histórinha e ri um bocado!
Post bem bacana, depois de 30 anos, ainda continua atual.
Sucesso na cozinha!
Ana
Adriana,
esta é a famosa "humildade" de espírito, que tanto falamos aqui no Brasil
(sei que incorreto mas gosto mais de "pobre" :-P )
qual a família que não tem??
beijo
Mônica Peres
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