sexta-feira, novembro 14

Minha família tem gente cretina sim

Li hoje num blog uma declaração do George Clooney dizendo que ainda nessa geração veremos o casamento gay ser aceito normalmente, e as pessoas que se opuseram a ele se sentirão tão ridículas quanto é hoje George Wallace tentando impedir o primeiro negro a entrar numa universidade americana no Alabama.

Será que isso virá ainda nessa geração?

Na minha família, especialmente do lado materno, tenho parentes gays. Homens e mulheres. Tenho um tio, o irmão mais novo da minha mãe, que já deve estar beirando os 45/50 e ainda "está no armário". Não por escolha própria, mas porque vive com a minha avó e ela não aceita. Começo dizendo que meu tio tem sim a parte de culpa dele, não pelo homossexualismo, mas por estar com 45 anos nas costas e ainda morando com a mãe. Morar com a mãe aos 45 é uma vergonha, não ser gay. Mas anyway... eu ía dizendo... Eu dizia que minha avó não aceita, mas a verdade é que ninguém da família aceita, e ficam se "escorando" na não aprovação da minha avó. "Ah, é bom mesmo ele não trazer o "amigo" aqui porque a vó não aceita". Uma ova, eles estão é aliviados de não serem confrontados com algo que eles não aprovam. Fiquei indignada quando ouvi que os dois foram a um aniversário perto da casa da minha avó e acabaram perdendo o ônibus, voltaram pra casa e tiveram que ficar na garagem sentados naquelas cadeiras de praia das 2 às 6 da manhã, porque meu tio não podia trazer "o amigo" pra casa. Que ódio gente, que vontade de sopapear a cara desse povo até cairem na real.

Eu poderia escrever um livro aqui sobre a reação da família quando nossa parenta lésbica "saiu do armário". Até FEBEM rolou, ela era menor e os pais simplesmente levaram para a FEBEM, "ó seu delegado, fica aí com ela porque ela gosta de mulher e na minha casa não!". Gente, sopapo, sopapo, muito sopapo na cara dessa gente cretina.

Essa parenta lésbica está namorando, e eu disse pra ela que quero conhecer a namorada, vira e mexe converso com a namorada no MSN e quero conhecê-la pessoalmente. Minha mãe, quando soube, disse: "que vergonha, o que é que o Bart vai pensar?". Como assim jacaré, o que é que ele vai pensar? Se ele fosse babaca de pensar qualquer coisa negativa, eu não teria casado com ele. Ué. E sopapo procê.

Fico aqui torcendo pra geração que vem atrás da nossa ser um pouco mais mente aberta. Até mesmo gente da minha geração, amigos meus, esclarecidos, tiveram reações do tipo "que feio", "precisa conhecer um cara legal pra consertar ( !?!?!? )", e coisas do gênero. Tenho que confessar que no começo é um choque. Principalmente se você é mais íntimo, porque você sabe como aquela pessoa vai enfrentar preconceito, como vai sofrer, e você vai sofrer junto. Eu sofri junto, muito. Hoje ela está feliz e eu estou feliz.

Me irrita quando ouço dizerem que a fulana ( a lésbica ) podia ser mais como a ciclana ( hetero e prima da mesma idade ). Primeiro que cada um é o que é, e segundo, que a ciclana não é nenhum modelo de comportamento. Namora um cara com quem vive brigando aos berros pela rua, a ponto do vizinho chamar a polícia ao ouvir a gritaria; viiiive endividada e cheia de papagaios - quer coisa mais humilhante do que ter dona de brechó de vila cobrando dívida na porta de casa? Não pára em um emprego, é 6 meses de trabalho e 6 meses de auxílio desemprego, diz que chefe nenhum gosta dela porque ela fala o que pensa ( posso até imaginar o que ela pensa ). Cheguei a ouvir que não sendo criminoso e drogado, qualquer coisa é melhor que ser gay. Muito, muito, muito sopapo nessa gente.

Mas sabe o que mais me irrita? São os eufemismos, se bem que sei lá se podemos chamar de eufemismo. A família toda não fala "fulana é lésbica", fala "ela é cê sabe". Ou "a fulana diz que é isso aí". E quando dizem: ah, você sabe do problema da fulana. Problema, wtf???? Ah, teu tio tem aquele amigo dele, cê sabe né?

Outro dia ouvi: até que o lado paterno da família é "melhor", não tem tanto "disso". Cumé? Não tem gay, mas tem um monte de alcoólatra, uns pares de puladores de cerca, filhos que ficam anos sem falar com os pais, até parente grávida se suicidando nos anos 50 teve.

Espero que nossa geração ensine os filhos que uma pessoa não se define pelo que ela faz dentro de um quarto com o parceiro. Vou ao Brasil e logo na primeira noite vou sair com a minha parenta e a namorada dela, não farei segredo pra família, e espero que eles vejam quão ridículos estão sendo. E se alguém falar alguma coisa, vou ter que me segurar pra não dar sopapo, muito sopapo.

Tanta coisa pra se preocupar no mundo e neguinho esquentando a cachola com pequenisse dessas.

Somos primatas meu povo, acabamos de sair do uga-buga.

12 comentários:

Luiza disse...

Adorei o post!!! Que humor! :)) É triste o tipo de mentalidade que ainda encontramos na nossa geração... Mas o post está d+!!! Sopapo! Sopapo! hahahha
Beijo!
Bom fds. :))

Laura disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laura disse...

O duro é pensar que MUITA gente precisa de MUITO sopapo, e infelizmente não é so por conta desse assunto. Tomara que eles não passem esse moralismo pra proxima geraçao.
Abraços

Marcia-Rotterdam disse...

Engraçado é a sua mãe se preocupar com o que o Bart acha, aqui na Holanda isso é a coisa mais normal do mundo! Dito isso, o país não é tão liberal como gostam de crer, mas os holandeses já chegaram num ponto onde o Brasil ainda engatinha. E essa da Febem foi de lascar...

Unknown disse...

Oi Adriana,
Voltei aqui pra fazer outro comentario pq eu fiquei pensando neste post depois que eu sai da sua pagina, porem eu vi que vc apagou o meu primeiro post, entao queria te pedir desculpas pelo que eu escrevi - acho que eu me espressei mal e talvez tenha feito uma brincadeira de mal gosto sem perceber...
Anyway, desculpa mesmo pois a minha intencao nunca foi te ofender! ;)

Adriana disse...

Bruna, não fui eu quem apaguei, foi você, leia lá, comentário apagado pelo autor! Pior é que faz um tempo que tá aparecendo essa mensagem, em outros posts também, e eu não sabia quem era! Vê aí que seu computador deve estar com algum tchu-tchu! Adriana

Kate Le Fay disse...

Adriana eu adorei seu post e queria ter a sua coragem para escrever E publicar o que penso. Parabéns pela coragem!

Silvia disse...

Olá Dri...eu sempre que dá leio o seu Blog e gosto muito!Resolvi fazer um também!passa lá pra ver o que vc acha?
Eu mandei um email pra vc te elogiando há alguns dias atrás vc recebeu?

Silvia disse...

http://silviagigamsgig.blogspot.com/

Holandesa disse...

A pergunta é: o que se pode fazer para mudar essa mentalidade cretina que existe no Brasil?

Unknown disse...

Poxa Adriana,você esta coberta de razão.Eu sou hetero,mas tenho verdadeiro ASCO a gente preconceituosa.Acontece,várias vezes na sala de aula,do pessoal levantar a questão do homossexualismo e todos dizem a mesma coisa:"Isso não é de Deus!" ou então "O que se passa pela cabeça de uma pessoa dessas?"É terrível.E o pior de tudo: os indivíduos que dizem isso não tem mais de 17 anos...é,a nova geração é talvez um mínimo menos tacanha do que a passada.

Ana Paula Waaijenberg disse...

Tenho uma tia no Brasil com 4 filhas, 2 lesbicas. Mas ela faz q nao ve, nao sabe e nao comenta com ninguem. Fica sempre um tabu enorme: elas moram com "amigas"... Me lembra aquele quadro do Jo: tem pai que eh cego!