Amiga Alice está fazendo Weight Watchers e está emagrecendo bem, o que me animou a mais uma vez encarar o programa.
Ontem eu estava online procurando cardápios e livrinhos e todas as informações possíveis, e Alice ficou brava, disse que ao tentar evitar as reuniões eu estava me boicotando.
Fiquei brava também, e expliquei que na verdade eu estava é evitando meu auto-boicote.
Explico.
Antes de operar o estômago, eu tentei absolutamente todos esses programas weight-watchers-alike. Meta Real, Peso Ideal, CCA. Além dos Vigilantes, claro. Acontece que tudo, absolutamente TUDO nessas reuniões me desistimula e me irrita.
Começa que você chega e vai se pesar. Tem sempre uma fila.
Gorda da Frente: - E aí, como foi a semana?
Adriana: - Ótima
Gorda da Frente: - A minha foi péssima, enfiei o pé na jaca.
Adriana: - Hmmm
G da F: - Tive um casamento no buffet mais chique da cidade, até Lagosta Termidor teve. Ai ai... que estrago...
Gorda de Trás: - Ai menina, antes comer em festa do que como eu: minha mãe está com câncer, fiquei deprimidíssima, e quando estou deprimida sempre ataco os chocolates... Vou com ela todos os dias na quimio, e enquanto espero, devoro uma barra de Milka.
G da F: - Ó querida, não se martirize, no seu caso é compreensivel.
G de Trás: - Mas você ía dizendo que sua semana foi ótima, você conseguiu ficar na dieta a semana toda? ( olhando pra mim )
Adriana: - Ah não, pelo contrário. Tive um fornecedor Alemão que ama feijoada, e me levou almoçar no Bolinha! Feijoada do Bolinha de graça!!!! Me deliciei com as pururucas, me acabei na feijoada em si, tomei caipirinha bem docinha... Realmente, uma ótima semana, sorrio até agora ao lembrar do banquete!
O simples fato daquelas adultas sentirem que devem se justificar por terem cedido à tentação, ou ficarem arrumando desculpas para terem saido da dieta me deprime imensamente. Imensamente.
Nós, gordos, comemos porque gostamos de comer. Pronto. Existem vários fatores que podem nos levar a comer exageradamente, ou a quebrar uma dieta, mas no fundo, no fundo, comemos porque gostamos. Tem gente que ao se deparar com uma situação difícil, vai pra academia malhar. Vai porque gosta de malhar, as endorfinas ou se lá o que da malhação os acalmam. Outros bebem. Alguns compram. Fumam. Eu, e TODOS os gordos, comemos.
Aí fica o gordo lá se enganando, procurando o culpado pela comilança dele, culpam suas mães ( como eu fiz muitos anos )...
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Momento filosófico:
Minha mãe odeia gordos, sempre odiou, e infernizou minha vida por 30 anos, 12 dias e 4 horas por eu ser gorda. Claro que eu acabei no psicólogo tentado descobrir o porque da comilança. E é claro que o motivo acabou sendo minha mãe. Isso que é frustrante. Você aí colega, grávida, ou com seu bebezinho, ou com seus pestinhas já maiorzinhos, não importa o quanto você se esforce, o quanto você leia livrinhos de como criar bacurins, passe noites acordadas, conforte, dê remédinho pra cólica, embale pra dormir, leve pro ballet, natação, berimbau, aula de empinação de pipa... quando seu filho for adulto, e por algum motivo for parar num psicólogo, a culpa vai ser sua. Sua. Você que não apoiou, ou pressionou, ou traumatizou, ou sei lá mais o que. A culpa será sempre SUA.
Isso dito, minha mãe não foi fácil, mas sei que ela só queria me ajudar, e sei que ela achava que estava fazendo o melhor pra mim. E dizem que o que conta é a intenção, certo? Mas levei 34 anos pra chegar a essa constatação. 34.
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Então, os Vigilantes.
O simples prospecto de passar 2 horas no meio de um bando de gordas holandesas caipiras ( porque isso aqui não é Rotterdam ou Amsterdam, é Noord Brabant, e aqui tem mooooito caipira ), a essa altura do campeonato, maio, todas laranjas de cama de bronzear, ouvindo as mesmas desculpinhas furadas, só que dessa vez nessa língua maldita, me arrepia. Minha força de vontade não vai tão longe.
Tanto o site do Vigilantes no Brasil quanto o daqui oferecem o auto-curso: você segue todo o programa normalmente, pode até ver palestras pelo computador, sem ter que ir às reuniões. Achei a idéia ótima. Até de férias em Tumbuktu você pode logar, pegar seu cardápio, e tentar seguí-lo
Resolvi então, pra evitar cair numa furadésima como o livro da Sonia Bakker, xeretar a internet pra ter uma idéia de como o método funciona. Comecei pelos livrinhos brasileiros, que achei no torrent. O programa é muito bom, você conta pontos, tem até uma cota de pontos "comfort" ( pra furar a dieta, sem enfiar o pé na jaca ), e o material de apoio é ótimo. Tem cardápios semanais, mas você pode fazer seu próprio cardápio, pois tem um livro com os pontos de praticamente tudo que se encontra no supermercado. Fora isso tem listas de compras semanais, diários de emagrecimento. Achei o sistema bom mesmo. Só que da forma como os cardápios brasileiros são elaborados, o programa é inviável aqui. Pelo menos aqui na empresa eu não tenho como comer uma refeição quente no almoço. No Brasil é fácil, num quilo qualquer, comer um pouco de arroz, uma carne, legumes, verduras, uma frutinha no final, mas aqui isso não existe. Por isso estou agora procurando uns cardápios holandeses, pra ver o que eles propõem para o almoço. E se for legal, vou comprar o pacote de iniciantes. Ele vem com livro de receitas, livro de pontos dos produtos locais, 4 cardápios semanais, livro de exercícios, dicas de como comer em restaurantes sem furar a dieta, e claro, um livro básico explicando como tudo funciona.
O que me anima, é que dessa vez não inicío um programa desses no mais absoluto desespero. Não estou arrasada porque tenho que emagrecer 45 quilos. Quero emagrecer 13 quilos, e quando a metade tiver ido, sei que já estarei com todas as roupas folgadinhas, o biquini menos feio, e os ânimos bem elevados pra continuar na dieta. Dessa vez quero emagrecer pra ficar mais bonita e saudável, e não pra deixar de ser um bofe, como eu me sentia antes da gastroplastia.
Eu acho que a estrada para resolver qualquer problema está em mim, e não em fatores externos. Não vou culpar ninguém pelas minhas pisadas na bola. Eu sou capaz, logo, quando falho, sou responsável também. A busca do "porquê" ( porque como tanto, porque engordo fácil, porque não resisto a tal comida ) pode levar décadas, e o "esclarecimento milagroso" pode ( e provavelmente vai ) nunca vir. Prefiro encarar o problema de forma mais proativa, sou ( gorda comilona ) assim e pronto. Tenho que aprender a comer melhor, a me controlar melhor, encontrar algum exercício físico que me pareça menos horripilante. Quando eu tiro a responsabilidade dos outros: da minha mãe, das anfetaminas, dos meus gens, das circunstâncias, essa responsabilidade recai sobre mim. E o que depende apenas de mim, e não dos outros, é mais fácil de controlar. E assim será.