Desde criança, eu sempre me impressionei demais com as histórias da Segunda Guerra Mundial.
Até eu mudar para a Europa, o meu contato com a guerra eram as imagens de TV, fotos, tudo muito longe, meio abstrato. Eu sempre perguntava pra minha avó como tinha sido a guerra, e ela, brasileira, me dizia: foi terrível, não se achavam ovos e açucar em lugar nenhum, ía tudo pro exército americano! Pra ela, o maior problema da guerra foi não ter podido fazer bolos.
Mudando pra Holanda, a gente aprende rapidinho a dimensão da tragédia que essa guerra foi.
Há alguns dias, um fornecedor contava que o pai morreu cedo, aos 75 anos ( a expectativa de vida de um europeu é pra lá dos 85 anos ), e que o motivo foi o pai ter sido prisioneiro de guerra. Apesar de não ser judeu, o pai era soldado do exército holandês e foi capturado e mandando para um campo de concentração "especial". Ao término da guerra o pai dele, alto e fortão, tinha baixado dos 80 para 35 quilos. O corpo nunca se recuperou totalmente, e aos 55 anos ele não conseguia mais trabalhar, tinha que usar rolator, e sofria "dos nervos".
Hoje, um outro colega contava que os pais eram sitiantes no sul do país, e que o exército alemão passava o tempo todo confiscando tudo que pudesse ser comido. No desespero, os pais desenterraram bulbos de tulipas e passaram meses tomando sopa daquilo. Já imaginaram?
Os holandeses não têm problema em falar da guerra, eles também foram vítimas, mas esse é um assunto que não se comenta jamais com um alemão. Eu tenho muitos fornecedores alemães, e nesses 5 anos de vida profissional aqui, aprendi que não há taboo maior pra um alemão do que falar na segunda guerra mundial.
Eu, pessoalmente, apesar de ver filmes, documentários, de ler, não consigo entender como um país inteiro acreditou na propaganda do H. Tento me imaginar uma simples dona de casa naquela época, ouvindo os absurdos da propaganda nazista, e não consigo imaginar como uma pessoa normal possa aceitar que seja certo condenar uma raça inteira à fornos-crematórios, por exemplo.
Bom, deixa pra lá, assunto complexo pra blog, e triste pra uma sexta-feira.
Bom finde!
4 comentários:
Dri, na wikipedia tem uma foto bonita de Eindhoven sendo liberada na 2a guerra. beijocas.
Existiu uma resistência alemã, e não foi pequena.
Assista esse filme: Sophie Scholl ( http://www.imdb.com/title/tt0426578/ ), é muito bom!
"Sophie, seu irmão Hans e outros amigos fazem parte da Rosa Branca, uma organização clandestina que edita e distribui panfletos contra o regime nazista e contra Hitler. Descobertos, são condenados à guilhotina.
O que comove no filme é ver como uma garota de 21 anos é capaz de permanecer fiel à sua consciência no meio de uma sociedade hipnotizada pela loucura. Enquanto todos se calam e abaixam as cabeças ao regime, Sophie pensa livremente, fala, argumenta, e desafia a Gestapo e a sociedade alemã. Sophie se nega a trair seu coração e se tornar mais um cordeiro do rebanho nazista."
Como é possível Dri? Depois de tantos anos, os próprios holandeses agora caem na propaganda do Sr. Wilders! Claro que ele não é tão radical, mas as idéias estão ali perto. E isso é o perigo! Boa propaganda consegue tudo. A Alemanha era um país pobre, com inflação altíssima, antes de Hitler subir ao poder. Ele prometeu mudar isso. Abriu estradas (as famosas autobahns são invenção dele) e desenvolveu a indústria ( nosso fusquinha foi "encomenda"do H.) TODa empresa alemã de porte que existia na época da guerra estava envolvida com o regime. Enquanto isso o povo era doutrinado a acreditar que pertenciam a uma raça superior. Os holandeses sofreram muito com a guerra, eu já conhecia a história dos bulbos, mas também tinha muito holandês traíra que colaborava com os alemães - foram holandeses que denunciaram a Anne Frank.
Como diz o ditado, aqueles que não aprenderam com os erros do passado estão condenados a repetí-los.
Oi Dri!
Em hebraico o holocausto e chamado 'shoah'. Shoah significa calamidade/destruicao/catastrofe. A palavra por si so tem um meeega peso.
Claro que o povo judeu tem "n" traumas mas o lema e... Olhar para frente e seguir a vida!
Beijos.
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