segunda-feira, julho 18

Questão de respeito


Minha prima mais querida, mais ligada a mim, praticamente a filha que eu não tive, me contou, aos 13 anos, que era lésbica. Indescritível o choque. O choque passou, e ficaram duas certezas, meu amor por ela não diminuiu um milímetro, ela ainda era minha priminha fofa, minha companheira de Hopi Hari. A segunda é que ela ía sofrer muito com isso. E ela sofreu.

É incrível o preconceito contra lésbicas. Às vezes eu penso que quando todo mundo defende tanto os direitos homossexuais, estão na verdade é falando dos homens, porque contra as mulheres o negócio é bem mais ofensivo.

Ao longo desses anos, quando eu contei pra amigos mais íntimos, o que eu ouvi variou entre "só precisa mesmo é achar um homem com H maiúsculo", até a "que coisa feia". Nossa avó, que não sabe, disse que se ela não arrumasse namorado logo, íam começar a chamá-la de muié-homi.

E tem muita gente, mas muuuuita gente, que diz que não tem preconceito, mas se refere à elas como "sapatão", fala da falta de feminilidade com desdém, e faz piadinha.

Hoje meus colegas de trabalho falavam sobre o mundial feminino de futebol. Eu disse que no Brasil comentaram muito sobre a beleza da goleira americana, e um colega respondeu: e adianta de quê se ela "cola velcro", e fez o gesto com a mão ( !!! ). E eu respondi: ué, o fato dela jogar futebol não quer dizer que ela é lésbica. E ele disse que o amigo treinava um time de futebol feminino e metade era lésbica, e fez de novo o gesto com a mão.

Sinceridade? Me aborrece demais isso. Me aborrece porque mostra que essa conversa de que não se tem preconceito é tudo balela, os nomes, os gestos, as piadinhas, tão aí pra provar.

Minha prima é uma menina super legal, generosa, com uma paciência infinita. Ela sempre foi minha companheira de aventuras ( e eu sou um pé no saco ), a que brincava com o priminho pentelho ( meu sobrinho ), a que dá atenção pro marido gringo ( igualmente pé no saco ) sem nem falar inglês. Ela é esforçada, faz faculdade, trabalha pra poder pagar porque os pais não tem a mínima condição, e com o pouco que sobra, ainda acha meios de comprar um remédio ou outro pra minha tia e levá-la, pelo menos uma vez ao mês, num restaurante comer alguma coisa gostosa. Ela não merece ser chamada de sapatão, de ser achincalhada, ou ser piadinha de gente mal-resolvida.

E as outras também não merecem. São filhas, irmãs, amigas queridas, e merecem ser respeitadas.

5 comentários:

Juliette disse...

PERFEITO...falou tudo. Tao simples ne?? viva e deixe viver, respeite para ser respeitado, seja gentil para receber gentilezas, ajude para ser ajudado...e o mundo seria muuuuito melhor.

bj

marcia ferreira teles disse...

O mundo prescisa de seres humanos, com sensibilidade, esta muito em falta. Marcia teles

Adriana disse...

eu tbm tenho uma prima que é lésbica..brigo com todo mundo pra deixarem ela em paz!

Cido disse...

Dri, eu fico triste e feliz ao mesmo tempo ao ler seu post. Triste por ver que no Brasil ainda vai levar tempo pras coisas entrarem nos eixos (apesar de muita coisa ter mudado sim).
Fico feliz por saber que "nossa" prima tem você e por ela apesar de tudo que deve ter passado, está sendo fiel a sí mesma e não deixando ninguém ditar sua vida.
Beijo

Wilma disse...

Eu também fico triste e feliz ao mesmo tempo, triste por saber que essas pessoas sofrerão discriminação porque a sociedade é feita para casais, homem X mulher, e esse papo de não há preconceito é balela mesmo, então quem não se enquadra, seja gay, lésbicas, solteiras, sozinhas, solteiros, sem filhos, etc, sempre serão cobrados; e alegre porque a cada dia vejo que o respeito a vida alheia cresce, o viver e deixar viver do jeito que se quer, desde que não prejudiquem a outrem, tem sido a ordem. Mas temos uma longa caminhada ainda, o primeiro passo é admitir o preconceito e rever os seus conceitos. Se assim não fosse o post nem existiria, né?!!