Aqui na Holanda, se você tem um problema de desabilidade física você vai receber um “salário desabilidade”. Mas o negócio não é tão simples, dependendo da sua desabilidade, eles vão tentar achar um emprego alternativo, ou um emprego em “part-time”, ou seja, vão tentar de tudo antes de te assinar um chequezinho mensal de X euro-contos.
Uma das maiores reclamações dos holandeses, é sobre os espertinhos que tentam passar a perna no governo. Sim, aqui também tem espertinho, menos que no Brasil, mas tem.
Na família do marido teve o caso do Fulano que machucou as costas “irreparavelmente” aos 45 anos. Foi ao médico, fez mil fisioterapias, continuava morreeeeendo de dor, o médico acabou atestando que o Fulano não podia mais trabalhar. Aí o fulano ganhou o salário desabilidade. Só que era tudo falcatrua ( ou exagero ) do Sr. Fulano, e por cima, o Sr. Fulano achou que o salário desabilidade era pouco, então ele abriu uma ONG que ensina jovens problemáticos a consertar eletrodomésticos. Em teoria, ele só pode trabalhar 2 horas por dia, então ele cumpre direirinho a “schedule”, trabalha duas horas por dia, 3X por semana, ensina os jovenzinhos. E qual a “grande jogada”? A grande jogada é que, já que o Fulano tem uma empresa sem fins lucrativos, ele pode fazer praticamente todas as compras da casa sem pagar o BTW ( imposto ). Ele também não precisa pagar BTW de nenhuma conta ( água, luz, eletricidade ) da empresa sem fins lucrativos, que é na verdade uma garagem aquecida na casa dele, ou seja, todas as contas de casa são isentas de impostos. TRUTAAAAA.
Fico imaginando como deve ser difícil para os funcionários dos órgãos responsáveis separar “o joio do trigo”.
Tenho um funcionário que é assistente administrativo ( o salário é mais modesto, ele tem menor escolaridade ). A esposa dele tem 32 anos e diz que danificou a coluna irreparavelmente na segunda gravidez. Após vários exames, fisioterapias, o médico deu laudo de que ela só podia trabalhar 3 vezes por semana, 4 horas por dia. Daí, ela foi diagnosticada com depressão pós parto que evoluiu para uma depressão relacionada a trauma de infância “reativado” pela maternidade ( são as palavras do meu funcionário ) e está fazendo tratamento psicológico. Então, o argumento dela é que ela só pode “ficar de pé” 12 horas por semana, e que dessas 12 horas por semana ela precisa de 4 horas para o tratamento dela ( 2 hr psicologia e 2 hr fisioterapia ), logo ela poderia trabalhar apenas 8 horas por semana, o que a qualifica como desabilidade total.
Durante todo esse processo, por lei, ela tem que ir a entrevistas de empregos que o órgão holandês ( UVW ) arruma pra ela, no limite das possibilidades físicas dela. Segundo o meu funcionário, ela não pode ficar sentada mais do que 1 hr por vez, não pode levantar / segurar pêso, não pode virar pro lado ( torcer a coluna ). Em cima de tudo isso, não pode trabalhar em lugares que a deprimam ( hospital, funerária, açougue – sim, ele me disse açougue ). Agora me digam, se vocês fossem a funcionária lá do órgão holandês, íam achar que tem treta aí ou não? Eu só sei que eu ouço ele me contar e não digo um pio, mas que eu acho tudo muito bizarro, eu acho.
Aqui no trabalho tivemos os colegas com burnout. Um ficou em casa 3 meses, arrumou outro emprego, e foi-se. O outro já tem 20 anos de casa, está a 8 meses com “burnout”, está agora trabalhando 4 vezes por semana 4 horas por dia, e entrou com o pedido para “desabilidade”. Em primeira instância disseram que ele deveria trocar de emprego, mas ele respondeu que o burnout causou traumas psicológicos permanentes, que ele até tentou ir para uma entrevista de emprego, mas só de ouvir a descrição das funções ele teve uma recaída, que aumentou o medo dele de não conseguir nunca mais realizar nenhuma tarefa produtiva, e que ele teve que aumentar a carga horário do tratamento psicológico, daí requerer desabilidade permanente.
E eu ouço tudo isso e fico tentando não julgar, mas como? Não sei se realmente esse povo é mais fraquinho e não está preparado para as dificuldades da vida, se é sacanagem pura da pessoa mesmo, ou se é algo “in between”. Só sei que não entendo messsssssm…
E o meu funcionário? Pasmem, ganhou o benefício de volta contanto que a esposa vá em entrevistas de emprego mandadas pelo UVW para vagas até 12 hrs por semana, que a pessoa não tenha que sentar, se virar, levantar mais que uma caneta, e que a deixe alegrinha. Existe emprego assim, eu vos pergunto?
4 comentários:
Ah, eu quero um emprego assim... rs... será que existe? não consigo imaginar nenhum.
Tenho dó de quem afirma que doença psiquiátrica é faniquito...
Doença do corpo, em geral, tem remédio. Mas doença da cabeça, só a própria pessoa tem a cura, e se não se mexer pra melhorar a doença escala pra uma proporcao gigantesca e até mesmo sem volta.
Aqui na Suécia é a mesma coisa!! Sem contar que agora eles andaram se ligando que tem gente inválida, que nao é e nunca foi inválido ganhando ha anos... e não só ela o cuidador tbm ganha por 8 horas de trabalho mais horas extras e finais de semana!!! Prisoes e milhoes de koroas jogadas nas contas dessas pessoas que estão geralmente no exterior gozando a vida, com o dinheiro publico! Definitivamente não é so no Brasil que se tem espertinhos!!
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