Em janeiro, depois que cheguei das minhas maravilhosas férias baianas, cheguei na empresa e em 2 horas eu já estava a beira de um ataque de nervos. Estamos a menos de um ano do lançamento de um veículo novo, o período mais estressante no desinvolvimento de um caminhão. Pressão inenarrável, volume de trabalho absurdo, e a gente vai, que nem vaquinhas nos Pampas, sendo empurrado, e chicotado, e gritado, e vai seguindo o ritmo do feitor.
Em março eu decidi que ía a um psicólogo ou ía pro hospital, então fui pesquisar que profissional contactar, em que língua, essas coisas. Tirei um dia livre pra isso. Aí eu estava na fila do cinema quando uma frase que eu li me proporcionou o Wow moment of the year:
Para quê a empresa me paga?
Todos os dias eu chego, vejo minha lista “to do”, me proponho a terminar X itens, já sabendo que provavelmente não vai rolar e que vou sair frustrada da empresa, aí eu fico ali correndo contra o relógio, o que me gera uma ansiedade gigantesca, por vezes eu entro em pânico e a qualidade do trabalho vai lá pro pé. É uma bola de neve, uma bola de insatisfação.
A empresa me paga pelas minhas habilidades, experiência e capacidade/inteligência. Eles desenharam um perfil ao me contratar e eu encaixo no perfil. Eles me pagam pra trabalhar 40 horas por semana, usando o melhor das minhas habilidades e capacidade. Então agora eu chego, olho a minha to do list, vejo o que é mais urgente, por vezes ( muitas vezes ), é a primeira vez que eu vou fazer tal tarefa, então eu me dou alguns minutos pra pensar, chego a rabiscar alguns “steps”, quando o negócio estiver mais claro, começo as atividades em si ( e-mails, gráficos, planilhas ). Não olho pro relógio, não me apresso. Ao fim do dia, não penso na to do list, penso em tudo o que eu fiz, analiso se fiz bem feito, faço notas mentais de ações que eu preciso melhorar, e digo a mim mesma: ok, você trabalhou suas horas ( ou até mais que suas horas ) da melhor forma que você sabe, missão cumprida por hoje. E vou me embora sem pensar na to do list.
Estou bem mais calma, estou fazendo as coisas melhor. A verdade também é que metade das coisas que falam pra gente que é urgente, que o mundo vai acabar se você não resolver, acabam sendo esquecidas, sendo canceladas, sendo adiadas, caindo no vácuo.
Meu colega gerente acabou de ser pai. O grupo dele está ultra sobrecarregado por conta da Slovena que se foi e ainda não foi substituída, ele está desbaratinado – está sempre correndo e consultando a listinha to do dele. Contei da minha nova filosofia, ele está aplicando-a há algumas semanas e diz já notar a melhora.
Ontem ele me disse que a paternidade mudou completamente qualquer perspectiva profissional dele. Contou que na semana passada teve uma semana do cão, que culminou numa conversa com o diretorzão geral sobre a performance em geral do grupo dele e dele mesmo. Coisa pesada. Aí ele foi pra casa e o bebê estava com cólicas e prisão de ventre, a esposa esgotada, ele foi encarregado de embalar e massagear o bebê. Lá pelas tantas da noite, o bebê com dores, ele preocupado, o bebê fez cocô. Ele só disse: Adriana, ele deu um sorrisinho de alívio por um milisegundo, foi o suficiente pra me fazer esquecer a merda de semana que eu tive, o cansaço de embalar e massagear por 2 horas, foi uma felicidade indescritível, por – literalmente – um monte de merda. A merda do meu filho me fez feliz como nenhuma promoção jamais me fez.
Putz, tô filosófica hoje.
3 comentários:
Nossa, seu post me ajudou hoje. Sou funcionária pública, trabalho com atendimento ao público, estou muito estressada e cansada de tanto correr o dia todo. Vou repensar meu modo de agir. Assim como voce, todo dia chego e olho pra pilha de serviço interno que tenho que fazer. Aí começo a ter de atender os usuários e passo o dia em tormento por não conseguir fazer quase nada do bendito serviço interno. Putz, tô assim há muito tempo. Vou procurar aplicar sua dica. Um abraço.
Espelho, é voce? :-/
Oh, só quem teve bebês sofrendo de prisão de ventre sabe a felicidade que é quando a merd@ sai...! Eu sou uma delas e não minto...
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