Li no Estadão segunda feira uma matéria interessantíssima sobre o consumo de "marcas" no Brasil. O escritor do tal artigo o fez movido por um comentário interessante de um economista americano que dizia: só mesmo no Brasil carros como Toyota Hilux, Honda Civic são considerados produtos de prestígio. Achei interessantíssimo e muito próprio o comentário, porque aqui na Holanda Toyotas e Hondas são considerados carro bons, mas nada de especial, e nos EUA são carros bem normalzinhos, diria que o Civic é até breguinha pro gosto deles. A gente vê isso nas ofertas de carros pra alugar, esses carros são sempre os mais jabás da classe.
Esse professor teorizou muito bem sobre o "consumo de posicionamento" do Brasileiro, que consume produtos caros porque espera ser reconhecido por possuir algo que a maioria não pode ter, e ser tratado de forma especial. Ele dá um exemplo: o cara compra um BMW e vai a uma festa e se sente especial com ele, todos olham, as mulheres apreciam e para ele o valor do produto está nesse reconhecimento e não no fato de ser em si um produto de qualidade; mas se amanhã todos tiverem acesso à mesma BMW, ele não terá mais satisfação no produto – não é mais item que o posiciona acima dos outros. Achei interessantíssimo o conceito, porque cansamos de ouvir no Brasil que produto X é comercializado a um alto preço para não "banalizar", ou que não se compra mais produto da marca Y porque agora todo mundo tem.
Quando eu morava no Brasil eu era ultra influenciada por coisas de marca, vivia num meio onde todo mundo vivia de Zoomps, Forums, Arezzos, engraçado que essas mesmas pessoas hoje evoluíram bastante ( NOT! ): agora compram Tommy Hilfiger, bolsas Prada e LV, até funcionária assalariada de Loubotin já vi ( ah, as agruras do Facebook ). Trabalho hoje aqui na Holanda numa empresa semelhante, com gente da mesma classe social dos colegas no Brasil, e aqui NINGUÉM desfila marca. Alívio, até mesmo porque eu não entro nas roupinhas de marca, mas sapatos, bolsas, jóias, estão todos aí pra gordaiada esbanjar elegância e estourar a conta.
No mesmo dia que eu li esse artigo, vi no facebook num dos grupos de brasileiros vivem por essas bandas, uma pessoa reclamando que mandou um pacote pro Brasil e a polícia federal teve a "audácia" de mandar uma cartinha pra mãe dela cobrando R$600 reais pra liberar o pacote. Aí todo mundo cai matando na polícia federal, até um lá ter o bom senso de perguntar o que tinha no pacote: "ah, isso, aquilo, aquilo mais e 9 (N.O.V.E.) vidros de perfumes, mas era óbvio que era tudo presente, estavam embrulhados em papel de presente e tudo (!!!!!)". Aí eu vos pergunto: será que é só o Brasileiro que consegue ser tão sem noção assim? Pode-se mandar com a classificação "presente" objetos cujo valor somado não passe de US$50. Eu sempre mando presentes, sempre acima desse valor mas não muito, nada muito na cara, declaro só os €45 ( US$50 ), sei que se perderem o pacote não receberei mais que isso do seguro, nunca tive problemas. Agora neguinho vai mandar um carregamento de perfumes importados, declarado, e xinga quando a polícia federal manda a conta? Afe-maria viu. E PRECISA mandar NOVE perfumes pro Brasil?
Putz, mudei de assunto, mas deixa tcheu contar de outro: a mulher lá na mesma página do facebook perguntando como fazer pra trazer 3 enxadas sem cabo na mala. Sério gente, enxada sem cabo! Agora me diga, pra que uma pessoa traz enxadas pra Holanda? 3 enxadas, não só uma? E todo mundo lá respondendo pra mulé, no maior tom politicamente correto, que provavelmente na mala de mão não ía poder, e bladibla, ninguém falou pra mulher: fia, se é pra uso pessoal, esquece e compra aqui, se é pra uso profissional ( copiar, usar de amostra, fazer teste técnico do material da tal enxada ) – larga de ser besta e embarca isso via DHL ou qualquer outra empresa de transporte.
Mas então. Sempre que os brasileiros vem pra cá, vem acesos pra muambar um pouco. Já contei que um colega da divisão brasileira foi a um treinamento na sede da empresa nos EUA, trouxe mil bolsas e roupas e estava vendendo pelo facebook, né? Mas então, a última "leva" foi comigo à Bijenkorff, um queria camisas Hugo Boss. Elas não estavam em oferta, mas as camisas da própria Bijenkorff estavam, são de ótima qualidade, lindas, meus colegas de escritório já tinham comprado váááárias pra estocar ( aqui chamam de "dar uma de hamster " ), mas o brasileiro não quis saber, comprou a Hugo Boss por €130 rindo, disse que era a metade do que custaria no Brasil. Agora me diga, o cara é um assalariado de empresa automotiva, tem nexo usar uma camisa que no Brasil, pelo que ele disse, beira os R$500?
Pfff… vai entender. Aliás, tô ficando repetitiva.
Mas vejam, ou falo disso, ou falo do Old Fart, que continua aprontando Old Fartices. Tem também a opção de não falar nada, claro.
Preciso aprender a fazer post menores.
17 comentários:
Pois é, infelizmente é esse um dos grandes motivos pelo qual eu tenho quase a certeza de depois de 9 anos vivendo fora do Brasil, eu não conseguirei viver lá novamente... É isso mesmo, muita ostentação, parece gente que nunca comeu mel e quando come.... Não consigo, e cada vez mais sinto-me feliz por nunca ter sido assim, e agora então que literalmente encontrei o meu canto aqui na Europa, não consigo nem ler mais tantos posts deste tipo no FB... Arghhhhh... dá até dor de barriga!
Adriana, vc tem razão, aqui uma coisa trendy continua valendo mais que o valor $$$, porque supostamente "agrega" valor a quem a possui ... triste, estranho, pequeno, coisa de gente baixa auto estima ... mas que vc passa a incorporar (mais ou menos) quando vive por aqui ....
Ja a Holanda é oásis na europa, o povo em Portugal/ Espanha/ Italia dá muito valor as coisas trendy, referen-se a elas inclusive pela coleção que pertencem, pode ser "de marca" mas se é da coleção "velha" (??) já não tem o mesmo valor! Sei pq morei nestes lugares e sempre foi assim....
Será o "sangue latino"?
sic
Desculpa, mas a Policia federal no Brasil e tambem corrupta. Eu mandei, dos EUA, uma caixa no valor de menos de $50,00 com roupas (usadas) e tributaram.
Ainda bem que não sou só eu que pensa assim... esse caso da enxada me lembrou uma sem noção, que viajou para a Noruega próximo do Natal e resolveu leva rum peru para assar.
Sim, isso mesmo, a anta devia pensar que os perus da Noruega são pequenos, diferentes, sei lá, cismou das calças de levar um do Brasil. Levou o bichão na mala e... adivinha?
A mala extraviou e qdo conseguiram recuperar, o fedor ia longe e alguém ficou com roupas fedidas e impossibilitadas de usar..ahaha!
Eu acho que isso é muito evidente no Brasil sim. Todas as vezes que vou de férias fico chocada com os preços das coisas, e vejo as pessoas comprando biquinis de 200 reais como se estivessem fazendo um ótimo negócio! Dois pedacinhos minúsculos de pano! Não compro nada lá, compro todas as minhas coisas aqui.
Por outro lado, também vejo muito isso aqui, na Holanda. Não em relação a roupas caras, óculos caros, mas num outro nível. Nas duas empresas onde trabalhei, por exemplo, o status está relacionado a barcos, motos caras, carros caros, casas caras (principalmente), comprar, comprar, comprar. Nunca me esqueço o que ouvi da menina do departamento financeiro certa vez: “esse pessoal fica aí contando vantagem de rico na mesa do almoço, mas se você visse o que eu vejo de dívidas, acordos e mais acordos bancários saindo direto do salário deles todo mês, você iria olhar pra eles com outros olhos”.
Enfim, acho que são dois mundos completamente deifeentes. No Brasil é muito mais fácil achar que é diferente pelo fato de ter acesso a produtos mais caros. Já na Holanda, onde quase todo mundo é igual, a diferença de status ainda se dá, ainda existe sim esse “eu tenho mais do que você”, mas em outros níveis. No brasil quem tem um pouco acima da média, acha que tem muito. Aqui pra se ter algo acima da média, é preciso estar muito acima da média, já que quanto mais se ganha, mais se paga.
Dri, pode continuar a falar. Sou toda ouvidos. Nao perca a chance de desabafar, para estamos aqui para apoia-la! Somos sua fiel escudeira. Beijos. m
rcia@yahoo.com
não não - amo seus posts!!!
Dri, sou leitora assídua do seu Blog. Adoro, especialmente, os seus textos grandes.
Bem, em relacao ao post (comentários), concordo com Mônica Peres e Line.
Aqui, na Áustria, vejo crescer o consumismo. Acho que eles estao sendo influenciados pelos vizinhos italianos (como estes dao valor à vestimenta de marca famosa!)... Claro, os austríacos nao sao tao interessados por grifes de luxo como os brasileiros, mas estao engatinhando por este caminho! E a garotada já está usando make up. Estao se abrasileirando? Será que a internet está unindo/influenciando os povos?
(SEM O TIL E O CEDILHA)
beijos
Gente, me acabei de rir agora, peru de natal na mala?? Nunca mais reclamo da mulé da enxada!
E quanto aos endividados holandeses, uma das comadres diz que na Ranstad o negócio é bem diferente que aqui no interiorrr, será? Aqui eu não vejo esse consumismo louco de jeito nenhum, a única que tinha era uma turquinha, mas aqui dizem que mostrar ouro, carro e grife é coisa de turco, então não sei...
Adriana, hospedei um vizinho dos meus pais e uma prima por 20 dias, primeira viagem a Europa, trouxeram grana pra gastar, tirando Paris les nao foram em lugar nenhum porque gastar com trem ou comendo na rua nao valia a pena, o importante era comprar o máximo de produtos de marcas, encher malas e mostrar pra galera no Brasil. Eles passaram dias lindos trancados em cada vendo globo no laptop pra torrar tudo no Bijenkorf.
Aqui onde eu moro, no interior da Itália, é igualzinho. A Itália toda é muito assim, tudo tem que ser de marca, mas aparentemente no interior a coisa toma proporções intergalácticas, talvez por falta do que fazer. Há uns anos virou moda ter SUV da Porsche (o Cayenne); menina, era um tal de Cayenne pra lá, Cayenne pra cá nesse ovo de cidade, e meu contador, que é contador da metade da cidade, só ficava apontando: olha, aquele ali é pedreiro e não me paga há dois meses porque não tem dinheiro, aquele outro sua pra pagar aluguel, aquele ali tá devendo não sei quantos mil euros a fornecedores, mas todo mundo andando com um carro que custa uns 60.000 euros. Pra não falar das crianças com roupas de grife.
Não compensa mandar mais nada pelos correios. Desde janeiro de 2012 qualquer remessa que chegue ao Brasil é tributada e nem adianta declarar que é presente. Minha mãe pagou 169 reais para retirar o presentinho que mandei para o meu sobrinho de 3 anos (2 camisas, 2 calças jeans e 1 jaqueta)
Impostos para entrar coisas compradas no exterior são bastante caros. Eu trabalho para vender tecnologia e muito pouco é feito aqui. Quando um computador é importada dos Estados Unidos, por exemplo, os impostos são a metade do valor. O mesmo se aplica aos perfumes importados e roupas de esportes.
Dri, tdo bem?
Estva fazendo uma pesquisa na internet qdo me deparei com o seu post, que digasse de passagem esta incrivelmente bom, e adivinha? Meu trabalho de conclusão de curso (famoso TCC) é referente a este tema.
Como é uma algo super atual, não existem muitas bibliografias.
Se vc souber de algo e puder me informar qual é a matéria do Estadão, eu agradeço imensamente
bjos
Maria Rita Prieto
Dri, tdo bem?
Estva fazendo uma pesquisa na internet qdo me deparei com o seu post, que digasse de passagem esta incrivelmente bom, e adivinha? Meu trabalho de conclusão de curso (famoso TCC) é referente a este tema.
Como é uma algo super atual, não existem muitas bibliografias.
Se vc souber de algo e puder me informar qual é a matéria do Estadão, eu agradeço imensamente
bjos
Maria Rita Prieto
"digasse"? Ai, meus neurônios.
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