quinta-feira, outubro 4

Quero ir comprar batatinhas

Meu primeiro emprego “com carteira registrada” foi na GM, antes disso tinha sido estagiária. Entrar na GM como estagiária foi dificílimo, e ser efetivada – especiamente num ano em que a empresa teve 2 programas de demissão voluntária – foi quase um milagre. Eu tinha um orgulho enorme de trabalhar na empresa, e amava os produtos da empresa. Até hoje, quando entro num carro 100% brasileiro, se não for um GM eu penso – ah, o GM é melhor.

Quem acompanha esse blog a tempos sabe o quão difícil foi encontrar o primeiro emprego. Foi um milagre tão grande quanto entrar na GM. E finalmente mudar pro segundo, perto de casa, e o terceiro e atual, no qual eu fui promovida, e agora “estou” gerente ( um antigo gerente sempre dizia que a pessoa “está” gerente, no dia seguinte pode não mais estar ).

Trabalho numa empresa que faz caminhões chamada DAF, a maioria aqui já sabia, mas voilá, aí está o nome. A empresa está agora abrindo uma planta no Brasil, em Ponta Grossa, é “filha” do grupo PACCAR, que nos EUA fazem os caminhões Peterbilt e Kenworth.

Meu emprego tem muitas coisas positivas: eu conheço automotiva, então é mais fácil; a empresa fica a 1,5 km da minha casa, eu demoro 6 minutos porta-a-porta, sem passar por um semáforo sequer; o salário é muito bom; meus colegas ( com exceção do Old Fart ) são muito legais, e eu gosto bastante do meu chefe direto. O diretorzão é meio louco e coloca uma pressão desumana sobre nós, mas eu gosto dele, ele é direto, é inteligente, tem várias idéias malucas mas “intriguing”.

E o que eu não gosto?

Os sistemas da empresa tem 30 anos, não há SAP em parte alguma, tudo é feito meio que a mão. Tem um carinha no departamento que faz uns databases em Access ( !!! ), de resto, é tudo via arquivinho excel. Nada se comunica com nada, você tem que fazer muito trabalho braçal, contratamos um “back-office” que nos ajuda, mas mesmo assim é infernal o tanto de listas que temos que preencher.

O meu cargo é um cargo novo, então certos “poderes” estão sendo transferidos aos poucos. Deles, o que mais me faz falta é o de poder formar o meu próprio time. Com tempo e paciência, nesses dois anos, eu fui adicionando gente muito boa ao meu time, mas não consigo me livrar do Old Fart. Meu diretor é meio mole, não quer comprar a briga com o RH, e no lado pessoal, ele gosta do cara, e sabe que o cara teria um problemaço financeiro a esposa não trabalha, ele tem 3 filhos adolescentes, tem mais de 50 anos e um  CV que mostra um pinga-pinga de empresa em empresa a cada 3 ou 4 anos ( agora eu entendo porque ); meu trabalho envolve justificar e amenizar escorregadas dos meus funcionários, mas as dele são tantas, e tão idiotas – que não deveriam ter acontecido to begin with e eu já não gosto dele, é difícil colocar o seu na reta por causa de um cara assim. E daí eu me sinto mal, porque eu sou paga pra tratar todos os meus funcionários da mesma forma.

Mas o mais importante, meu sonho profissional, é trabalhar numa empresa que produz algo com o qual eu me identifico mais. Uma das comadres passa o dia criando estratégias mirabolantes para produtinhos legais com Olaz ( Olay ), Maquiagens, sabãozinho em pó, batatinha frita e amendoinzinho, porque eu tenho que ficar discutindo o encapsulamento de um motor? E olha que eu sou especializada no interior do caminhão, bancos, painéis bonitinhos, cortinas, colchão, mas mesmo assim, é tudo de um caminhão.

Fico pensando, como seria acordar e ir pro escritório discutir as estratégias de compras de uma Ikea por exemplo? Ou da Sara Lee? Ou da Google – e poder levar meu cachorro ( que eu ía adotar ) pro trabalho? Minha empresa cortou 100% do budget pra viagens, e eu estou sentindo falta de fazer negócios com gente diferente, ver fábricas diferentes, tava no plano eu ir pra China e India, mas com esses cortes

Sempre quando penso nisso, me sinto culpada, como vários dos leitores já comentaram aqui, tanta gente está desempregada, do que eu estou reclamando? Sem falar na conveniência de trabalhar aqui do ladinho de casa.

Mesmo com uma certa dorzinha na consciência, ando olhando o mercado, e está terrível. Pouquíssimas vagas abertas, sem falar que quando o mercado está devagar assim, sempre sobra mão de obra e os empregadores SEMPRE preferem os holandeses, a não ser que a vaga seja muito especificamente direcionada para o mercado internacional.

Dizem que sonhar é preciso, então continuarei sonhando em trabalhar nessas empresas doidas como a Google, em ir trabalhar sorrindo de orelha a orelha.

6 comentários:

Denise Fernandes disse...

Isso é uma grande verdade... nesse momento é manter o que se tem, porque para trocarmos de trabalho, não está nada fácil! Tirando o mercado de trabalho brasileiro e os de alguns países de África, o resto está mesmo tudo muito parado e para quem é cidadão nacional de outro país e mesmo tendo a nacionalidade do país quem que se vive (que é o meu caso), os patrões dão sempre preferência pelo cidadão nacional autêntico (que não é o meu caso)...

Joaninha Bacana disse...

Dê vários pulinhos de alegria trabalhando tao perto de casa - é o meu sonho de consumo :-D
Beijocas, Angie

Unknown disse...

Ola Adriana,

Leio seu blog desde 2007, achei pesquisando sobre a Holanda. Eu passei 01 ano em Utrecht num programa de intercamvio, desde entao leio o seu e o da Holandesa.
Agora eu gargalhei ao ler o seu post sobre o seu trabalho, e sobre a filial em PG... Eu moro em Curitiba, trabalho com Comex. E trabalhei no SOP de Importacao da Paccar... rsrsrsrs. Esse mundo e um ovo!!!

Abraco,
Andreza.

Adriana disse...

O seu problema, se é que se pode chamar de problema..é que vc quer desafios..SEMPRE. Vc tem o que se chamaria de ideal...mas vc tem a ambição de estar sempre em movimento. Aproveite o momento, espere um pouco e depois se lance a procura de uma nova luta. É mal de "Adriana"? :)
Tenho isso constantemente!

Adriana disse...

O seu problema, se é que se pode chamar de problema..é que vc quer desafios..SEMPRE. Vc tem o que se chamaria de ideal...mas vc tem a ambição de estar sempre em movimento. Aproveite o momento, espere um pouco e depois se lance a procura de uma nova luta. É mal de "Adriana"? :)
Tenho isso constantemente!

Marcia disse...

Putz, tudo em Excel? A minha está se livrando do Excel aos poucos. O problema é que tudo isso custa dinheiro. E acho que você deveria botar mais pressão para tirar esse atraso de vida chamado Old Fart do seu time. Que ele vá encher o saco de outro gerente! Acho que só isso já melhoraria muito a sua qualidade de vida no escritório. Esses holandeses são uns bunda-moles com essas coisas e pensam que tudo se resolve só com conversinha. Se não botar pressão, não vão se mexer mesmo.