Parece que é bonito, ou modinha, dizer que se quer uma casinha branca com varanda, que as coisas simples da vida são as mais valiosas, que dinheiro não compra felicidade. BULL-SHIT!
Felicidade? Meu carrinho, que me deixa sequinha e quentinha de manhã e de noite pra ir e vir do trabalho, pra ir no mercado, no friozão de -14C. Custou dinheiro. Custa dinheiro de seguro, de gasolina, de imposto todos os dias. Ir ver minha família no Brasil, custou ( um rio de ) dinheiro. Poder trocar o carro da minha mãe, que ela não conseguia mais dirigir porque não tinha direção hidráulica, custou dinheiro. Minha sobrinha fez 13 anos, o sonho dela era ter uma necesssaire cheia de maquiagens, eu me diverti horrores escolhendo maquiagem pra ela, de todas as marcas, de todas as cores, desde gloss até foundation, mas custou vááários dinheiros. Comprar meus vegetaizinhos picados e lavados custa dinheiro. O termostato programável custou dinheiro e ele ligar as 5 da tarde pra aquecer a casa e estar a 20 graus quando eu chego custa dinheiro. O pacote de TV a cabo extra que eu quero custa dinheiro. Meu gatinho paciente renal custa muito dinheiro. O cineminha com pipoca da semana passada me custou um dinheirão ( 21 euros, pode? ).
Eu poderia me locomover de bicicleta. Eu poderia ir ao Brasil a cada 5 anos. Eu poderia falar pra minha mãe andar de ônibus. Eu poderia falar pra sobrinha que ela é linda e não precisa de maquiagem. Eu poderia comprar os vegetaizinhos na feira aos sábados e passar horas lavando, picando, blanqueado e guardando. Poderia também usar um moletonzão bem grosso em casa e não preciso nem mencionar que poderia também viver sem HBO e FOX. Não, não poderia deixar meu gatinho morrer, pensar em não tratá-lo é inconcebível. E poderia deixar de ir ao cinema, ou ir na matinê e pular a pipoca. Eu iria morrer? NÃO. Eu iria ser feliz? NÃO. Logo, dinheiro compra sim felicidade.
E pra bancar tudo isso, amigas, ralo tudo o que ralo. Não é porque o trabalho enobrece, não é porque eu me sinto um ser humano útil. Não é porque “ser chefe” faz bem pro ego. O motivo é simples e fácil de entender: é pela grana, pelo geld, pelo tutu, pelo catchin, pelo money. Dinheiro esse que é MEU, não é do marido, não é do meu pai, não é emprestado. Se eu tivesse nascido riquíssima, não trabalharia. Iria cuidar de animaizinhos largados pelas ruas, ia abrir uma ONG, ia fazer o que gosto sem pensar que preciso ganhar tutu.
Não me digam que tive sorte, isso me emputece muito. Não nego que ela deu sim uma ajudinha, de eu estar no lugar certo na hora certa, de eu ter falado com a pessoa certa quando precisava, de uma amiga ter me dado um empurrãozinho pra preencher um formulário fatídico… Acho que são sim ajudinhas de uma força maior, e sou grata a essas ajudinhas. Mas… puta merda, se 10% foi sorte, 90% foi muita barriga ralada no tanque, aulas de inglês enquanto meus amiguinhos de escola jogavam Atari, muito trabalho de faculdade aos fins de semana, muita hora extra na empresona brasileira, mil entrevistas de trem no frio aqui na Holanda pra conseguir o primeiro emprego, muitas mais horas extras pra conseguir meu holeritezinho todo mês.
Eu, que já disse aqui que tenho sérios problemas de auto-estima, tenho que me dar um tapinha nas costas: eu mereço meu meu carrinho e meus vegetaizinhos lavados e picados do Albert Heijn.
E você colega leitora ( ou colega leitor ), já se deu um tapinha nas costas hoje? Já se disse “well done”? Não? Faça-o djá.
E rumbora trabalhar que faltam 76 dias pras próximas férias. Que custou din-din, aliás.
5 comentários:
Adriana eu adorei o seu post! Nao so porque eu seja materialista pra caralho e confesso, mas sou materialista com o dim dim do meu suor. Nego vem falar que vive sem um plano de saude, mas tudo bem porque as flores la fora sao lindas de se ver, que aqui nao se precisa ganhar muito, porque a qualidade de vida.... desculpa a expressao: meu cu!
Se voce cair doente em uma cama, nao vai ter florzinha que cubra o so tratamento, se voce nao tiver dim dim pra comer pelo menos o que gosta e ter um minimo de conforto, desculpa, voce nao e feliz pra mim, a nao ser que a pessoa viva em uma sociedade completamente alternativa hippie no meio do nada.
Eu tenho muito orgulho de trabalhar e pagar metade das contas em casa, marido nenhum vai poder um dia jogar na minha cara que a mulher estrangeira vive as custas dele (eu sei do desemprego e que a coisa nao ta facil por ai), mas eu escuto muita gente dizer que dei sorte porque arrumei emprego logo que cheguei aqui, e dei sorte tambem quando arrumei o segundo tambem?
Pois eu acho que cada um com as suas prioridades, mas nao venham fazer como uma tia minha que adorava um cabeleleiro, manicure, roupinha da moda pras criancas e nao tinha dim dim pra pagar uma conta de luz e ainda ia fazer a feira la na minha casa.
Beijos
Enqunto estivermos aqui na materia, precisamos simmmmm de dinheiro para tudo (e quem nao gosta de conforto??) e como dizem por ai: Se dinheiro nao traz felicidade ao menos te leva para sofrer em Paris :)...e, deixe que digam, que pensem que falem.
bj
Adorei seu post também. Acho que dinheiro é um dos fatores que nos levam a felicidade. Mas todos somos muito complexos para um ditado popular tão simples.
Se eu não tivesse dinheiro, ou seja, se não conseguisse me sustentar ou dependesse dos outros eu não seria feliz, mesmo que os outros tentassem me dar tudo. A independência me traz felicidade também, e a independencia financeira é grande parte disso... :)
Adriana, também gostei muito do seu post, falou tudo. É importante reconhecer o mérito do próprio esforço, a garra, pois nada vem de graça. Parabéns.
Se trabalhar fosse bom, não precisavam nos pagar para fazê-lo. Dinheiro é muito importante e pode não comprar a felicidade, mas que ajuda a financiar grande parte dela, disso não tenho a menor dúvida.
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