segunda-feira, outubro 10

O almoço

Ele, todo charmoso e bem apanhando, sentou-se na minha frente e bebemos Lipton enquanto esperávamos o almoço. O restaurante no estádio de futebol da cidade não é nem bandejão nem estrela Michelin, é no geral agradável.

Ele desdobra o guardanapo de papel, aliás sempre admiro esses guardanapos de papel modernos, quase parecem de pano. Mas então, com o guardanapo desdobrado ele limpa a narina direita, depois a esquerda. Nada de enfiar lá dentro, aquela limpada meio-do-caminho. Ele desdobra o papel, vira e dá uma meio assoada. Tudo isso enquanto me conta do irmão que trabalha na Antártida.

A comida chegou e ele redobrou o guardanapo, creio eu que na tentativa de achar um lugar ainda não usado do pedaço de papel, e elogiou o hamburguer com queijo.

Enquanto eu pensava no disperdício que foi minha mãe me ensinar mil vezes que tudo que tem a ver com assepsia nasal deve ser feito no recôndido do banheiro, pra eu vir parar aqui, onde ninguém aprecia ou sequer reconhece meus bons modos, lembrei que ainda essa semana passarei por outro momento eca.

Se eu ganhasse um euro por holandês assoador de nariz em guadanapo de restaurante, tinha já uma casa lindona na praia, e se somasse outro euro por cada holandês que limpa a testa com aquela toalhinha úmida quentinha que dão antes da refeição no avião, tinha uma mercedinha na garagem da tal casa.

quinta-feira, outubro 6

B.O.R.I.N.G.

Eu gostaria de entrar aqui e ter milhões de coisas interessantes pra contar, mas… que vidinha marromenos que eu ando levando.

Não sei se era ilusão de pós adolescente, ou imaginação fértil de brasileiros, ou só leseira mesmo, mas se há 20 ou 15 anos atrás alguém me falasse da vida de uma brasileira gerente de compras na Europa eu ía achar tudo tão glamouroso, tão chique-no-úrtimo, mas a verdade é que minha vidinha tá bem marromenos sim.

Hoje eu acordei super cedo porque tinha que estar na empresa, devidamente enterninhada, as 7:30, e antes de colocar o salto tive que limpar o banheirinho dos gatos, dar comida ( a do gordo separada da do magro ), fazer barra na calça do terninho ( barra tabajara ), colocar o lixo no container e colocar o container na rua ( debaixo de frio e chuva, andando de pantufas pela rua, o que eu sempre jurei que jamais faria ), olhei pra pilha de roupas sujas no cesto e lembrei que tem outra pilha dobrada lá em cima esperando ir pra gaveta e ninguém pra ajudar em nenhuma das pilhas, suja ou limpa. Não deu tempo de tomar café, carreguei uma barrinha do Atkins pra mastigar no caminho, e fui pensando na lista do “to do”: lavar todas as minhas camisas, passá-las ( será que aquele serviço de passar que abriu perto de casa é caro? ) antes da viagem, comprar o presente da Thali e do sobrinho, comprar umas vitaminas pra minha mãe, reservar o hotelzinho, ligar pra minha mãe pra arranjar uma carona, ligar pra amiga pra arranjar outra carona… e o portão da empresa chegou antes da lista terminar.

E daí eu lembrei que quando eu era adolescente e minha mãe falava que cuidar de uma casa é barra, eu falava que eu ía ter uma empregada. Deus tá me castigando!

Na semana passada falei com uma amiga brasileira e ela me disse que invejava tanto minhas viagens, que ela – com casa pra pagar, dois filhos pequenos pra cuidar, financiamento de carro, seguro, escolinha particular – além de não ter os recurso, não tinha nem energia pra ir de férias. E eu só invejando a empregada nova dela importada do paraguai, que parece ser moda em SP agora – que limpa a casa, passa, cuida do filho bebê e de vez em quando até cozinha. Gente, como deve ser a vida de alguém que tem empregada diária? Não consigo nem imaginar…

Bom puevo, guenta aí que logo, assim que eu chegar no Brasil, devo ter posts mais interessantes.

Ah, e só pra registrar dois momentos dignos de menção. Pena o Steve Jobs ter morrido tão cedo. E eu não pensei que eu ía viver pra ver o Brasil, a terra dos magros, proibir anfetaminas.

Fui puevo!

terça-feira, outubro 4

Querer é poder?

Essa semaninha que eu passei em Portugal foi cuidadosamente planejada e veio na horinha em que eu achava que eu ía pirar de tanta pressão no trabalho, e overload, e pânico meu e alheio por todos os lados.

Semana passada eu voltei calminha, e estabeleci um ritmo legal de trabalho, mas já tá degringolando de novo, e eu não quero voltar àquela loucura que estava antes de eu ir de férias. Eu estava nervosíssima, tava chegando a ser grossa com as pessoas sem nem mesmo notar, em casa eu estava sempre o bagaço… Não, não quero voltar praquela vida, mas a pergunta que não quer calar: eu não quero, mas será que posso?

A empresa vai continuar nessa doidera até 2013, quando lançamos um novo modelo de caminhão no Mercado, até lá vai ser esse pega pra capá. Qual a alternativa? Mudar de emprego?

Vem uma nova crise aí, a gente já tá até se preparando, então quem mudra de emprego agora, ano que vem estará com a bunda na janela na hora que a crise chegar, porque cês sabem né, último a chegar primeiro a sair.

Philipona mandou convitinho pra entrevista de novo, via Linked in, agora: quem se arrisca ir praquele barco afundando? A cada ano é uma nova reorganização, cada vez mais reduzem o quadro de funcionários, e antes que venham com aquele lenga-lenga do “Adriana, mas você não se garante?”, digo-vos já que o problema não é a garantia, mas o saco que é passar por aquela novela que a Holandesa passa todos os anos, não sabe pra onde vai, pra que cargo vai, quem sera o chefe, faz entrevista pra manter o próprio emprego, isso tudo é insuportável demais. Um dos poucos benefícios de trocar a vida profissional brasileira pela holandesa é não ter mais que lidar com facão anual, aos quais eu sobrevivi 9 anos aliás – mas nem por isso sofri menos ( ok, seria pior ter sido decapitada no facão, mas mesmo assim a tensão pré-facão é terrível e ver seus amigos desesperados deixando a companhia é também hor-ro-ro-so). Não, Philipona não rola, mas na região, quem mais?

A parte terrível do gerenciamento é que só vem pepino pra sua mão, a parte legal os compradores fazem. E não há muita continuidade, o comprador começa uma cotação, negocia, escolhe o fornecedor, eu agora como gerente só pego pedaços, e sempre os pepinos, de cada processo. Sei lá se tô mais feliz como gerente do que como compradora. Gosto do salário e gusto do assistente, mas de resto… tenho lá minhas dúvidas.

O OldFart continua fazendo oldfartisses, essa semana temos que entregar o fechamento do ano pra finanças, ele nem começou. Eu vou me esquentar? Não… dessa vez registrarei num log que eu fiz minha parte, se ele xexelentar a apresentação dele, tô nem aí.

Tô em crise existencial povo. E semana que vem estou indo pro Brasil. Meninuchos terão que ir pro hotelzinho porque o marido tá com medo de não dar conta do tratamento do Tyty, e sinceramente, dá um belo trabalho… Limpar banheirinho 2 vezes por dia, comida separada 2 vezes por dia, remédio em pílula, pó na comida seca, comida molhada de noite… Ó céus… E eu nem vou poder me acabar no pão de queijo assim que chegar!!!!!

Hoje, se eu pudesse, comeria um saco inteiro de pão de queijo de Minas congelado, feitinho na hora e recheado com requeijão. Me deu taquicardia só de pensar…