sexta-feira, fevereiro 24

Que triste!

Na semana passada o príncipe Friso, segundo filho da Rainha Beatrix, sofreu um acidente de esqui.

Ele estava na Austria, e apesar do aviso de risco de avalanche 4 ( vai até 5 ), ele, um experiente esquiador que conhece bem a área, decidiu arriscar. Ele foi soterrado por uma avalanche, ficou 50 minutos sem batimentos cardíacos, foi ressucitado e levado a um hospital da área. Já era sabido que o dano cerebral era extenso, mas não se sabia, até ontem, quão extenso.

Hoje os jornais noticiam que o príncipe continua em coma e um recente MRI mostra que o dano cerebral é pior que o que se esperava, ninguém sabe afirmar se ele sairá do coma e em caso positivo, em que condições.

Eu não esperava que os holandeses, sempre tão críticos da família real, sempre tão críticos com os imprudentes que mesmo com aviso grau 4 se arriscam na “piste” fossem estar tão chateados com a notícia de hoje nos jornais. Um dos senhores que trabalha comigo disse que é muito triste passar pela alegria do nascimento de um membro da família real e ver também, o que parece ser o encaminhar da história, a morte prematura do mesmo.

Eu, sinceramente, me condoo com a rainha, que deve estar com vontade de se arrastar pelo chão chorando ramelenta e descabelada, mas tem que passar por tudo isso em cima do salto e com o cabelo propriamente cheio de laquê.

O país está triste, e nossas preces estão com o príncipe Friso e a família.

quarta-feira, fevereiro 22

Procurando um emprego aqui e acolá

Deixa eu começar dizendo que eu acho processo de seleção pra empregos uma coisa muito, muito bizarra.

No Brasil, minha experiência em entrevistas é curtíssima. Antes de entrar na GM eu fui estagiária, vi o anúncio na faculdade, preenchi uma ficha, eles queriam alguém que falasse inglês, ficou entre eu e outra menina, eu levei a vaga.

Para entrar na GM foi um drama.

Aqui começa uma histórinha que, se você estiver sem tempo ou sem paciência, pode pular lá pra baixo, onde eu aviso que é o fim da estorinha.

Entrei também como estagiária, e naquela época era raro alguém entrar de outra maneira. Haviam 120 vagas, uma metade qualquer aluno de administração podia se candidatar, o resto era vaga técnica. Naquele ano a GM teve 3000 CV’s. Para dar a primeira peneirada, eles aplicaram um teste de lógica com 36 questões, a nota de corte foi 34, chamaram os primeiros 600 candidatos.

*** Historinha parte 1: eu nunca tinha pensado em fazer estágio na GM, mas o pai de uma amigona era diretor lá e ela estava alucinada pra fazer estágio lá. No dia que abriram as inscrições caiu a maior chuva do universo, e ela estava sem carro, então me pediu se dava pra eu dar uma carona pra ela e a gente pegava um cinema depois, pra não ter que esperar na chuva ou dentro do carro, eu entrei no RH com ela, e aí, porque não preencher uma ficha também? E ambas fomos chamadas pro tal teste lógico ( todo mundo foi ), eu passei e ela não. ***

Esses primeiros candidatos assistiram palestras de vários departamentos, eu escolhi fazer entrevista em importação e exportação. Ficaram de me dar a resposta 2 semanas depois da entrevista, passou-se um mês e nada. Eu desanimei, fiquei chateada a essa altura tinha ficado animada com a perspectiva de estagiar no departamento de importação de uma empresona tão grande – e depois de exatos 2 meses, me ligaram pra dizer que a vaga era minha.

*** Histórinha parte 2: quando me ligaram pra dizer que eu passei no teste lógico e estava convidada pras palestras, liguei direto pra amigona pra combinarmos a carona ( e a roupa, e o cabelo, e a maquiagem ), mas ela ainda não havia sido contactada. Amigona, meu nome começa com A, o seu com P, ainda hoje te ligam. Não ligaram e nossa amizade de anos, de viajar junto e tudo acabou ali. Quando me ofereceram a vaga, depois das entrevistas e longa espera, encontrei a amigona numa festa da turminha, meio acanhada contei que ía estagiar na importação, e ela, toda sorridente, me disse que ía estagiar em compras. Como, se você não assistiu nenhuma palestra, não foi a nenhuma entrevista? Ah, meu pai escreveu um memo pro RH dizendo que achou o processo falho e eles abriram uma exceção pra mim, que fiz então entrevista em compras e fui aceita. #issoehBrasil “

Fiz o estágio por 11 meses, e a empresa que sempre contratava todos os estagiários ao fim do programa, informou que naquele ano não íam contratar ninguém, íam na verdade mandar gente embora. Fiquei arrasada, chorei, e agora meu pai? Me ofereceram um contrato de terceirizada, mas tinha uma cláusula que impedia que no futuro eu fosse contratada pela GM, então eu estava chateadésima e em dúvida se ía aceitar. Na última semana apareceu uma vaga em outro departamento, eu fiz entrevista, novamente o inglês me salvou, no último dia de estágio, fui contratada como “efetiva”. Aleluia, chorei que nem criança.

*** Histórinha parte 3:  a essa altura, amigona não era mais amigona, ela me evitava tanto que eu captei a mensagem e parei de procurá-la. No primeiro dia como efetiva, dei de cara com quem na hora do almoço? A amigona. Beijinhos e sorrisos, ela não tinha sido efetivada no departamento de compras, mas uma “oportunidade de última hora” apareceu numa empresa filha da GM e ela foi contratada. O que me chateou foi que quando eu contei pra ela da minha vaga, ela ficou azul de raiva porque o a área em que ela estagiou era diretamente ligada à vaga para a qual eu fui contratada, e ela não só não foi convidada a participar do processo de seleção, como nem sabia que a vaga estava aberta. Para meu espanto, ela foi até o meu supervisor “tirar satisfação” – discreta e educadamente, porque ela era muito discreta e super educada. ***

Fim da estorinha

Quando mudei aqui pra Holanda, participei do processo de seleção para mais de 15 vagas, a maioria com 3 rounds de entrevista. Tudo muito bizarro. Hoje, quase 10 anos depois, entendo algumas das bizarrices eu era ( ou ainda sou ) a imigrante bizarra, que precisa se adaptar, que precisa aprender o idioma – outras eu não entendo e não faço mais questão.

Aqui, você manda um CV, se te chamam normalmente você faz 3 rounds de entrevistas até te darem uma “proposta” ou um sinto muito. Quando te dão o sinto muito, eles normalmente te informam a razão. Eu achei isso uma coisa do além quando mudei pra cá, mas hoje acho ótimo, afinal você sempre é informado que está fora do processo, e se te informam o motivo, tem como se comportar diferente numa futura entrevista.

Um exemplo: fiz entrevista na Nutricia, empresa que faz a Olvarit, a maior marca de comida infantil e hospitalar da Holanda. Sem falar que fazem também o Chocomel ( humm, diliça ). A primeira e segunda entrevistas foram ótimas, o gerente que me entrevistou praticamente me deu o emprego na hora. O que eu não vi na época, mas agora entendo, é que esse gerente queria uma compradora junior / assistente, e eu queria a vaga de compradora ou compradora senior. A terceira entrevista foi com dois diretorezões, fizeram vários testezinhos do além, perguntinha capisciosa de laguinho que se multiplica todos os dias, padre e canibal, mas a porca torceu mesmo o rabo quando um lá me perguntou se eu sabia quem era Alan Greenspan. Não eu não sabia. Vergonha, eu sei, mas eu não sabia. Aprendi, meio tarde, mas fazer o quê? Na cartinha de rejeição, o motivo indicado é que eu não era “sofisticada” o suficiente para lidar com aquela vaga, se eu estivesse interessada eu poderia continuar no processo de seleção para assistente / junior. A vaga pagava pouco, era em Amsterdam Zuid, eu decidi não continuar.

Quer mais bizarrice? Os tais assessments. Já pegou essa moda aí no Brasil? Então, eu fiz os 3 rounds de entrevistas na DSM, passei em todos. O último diretorzão disse que por procedimento tinham que me mandar pro tal assessment, que era pra ter sido antes das entrevistas, mas teve um desencontro de agendas. Fiz o tal assessment. É um tal de teatrinho, de case study, de mais pegadinha de laguinho-padre-canibal, conversinha com psicólogo, um dia desperdiçado. O resultado: não me indicavam pra compras, mas sim para vendas. WTF? Eu não consigo vender perna de pau pra perneta! E eu fiquei chateadésima, claro, e por cima ficou o tal RH me ligando pra eu ir pra entrevista do departamento de vendas, e eu desesperada pra conseguir um emprego, mas 100% certa de que eu seria incapaz de trabalhar naquele departamento, o que o RH não entendia era porque se o almighty assessment dizia que eu era perfeita pra vendas, como poderia eu discordar??

Há algumas semanas recebi um e-mail de uma vaga numa empresona em Nijmegen. A vaga é super legal, mas eu não estou interessada em mudar de empresa, e pra falar a verdade, dirigir mais de uma hora pra ir e outra pra voltar, não rola. Mas meu colega gerente mora a 8 km da planta, e ele está querendo sair daqui, então repassei a vaga pra ele. Ele mandou um CV e segunda recebeu a cartinha que está fora do processo. Ele ligou lá pra saber o porque!!! Eu fiquei de cara, mas parece que isso aqui na Holanda é procedimento normal. A mulher do RH disse que não vão mudar de idéia, mas que ela aceita ter uma conversa telefônica com ele pra um feedback, ou seja, a mulher vai explicar tin-tin por tin-tin, o porquê de ele não ir nem pra primeira rodada. Agora digam aí, qual a reação no Brasil, onde nem te dão o feedback que você está fora, se o candidato liga e pede pro cara explicar porque o CV dele não é bom o suficiente?

terça-feira, fevereiro 21

30 dias

Quando estivemos em Cuba em maio do ano passado, o hotel oferecia TV cubana estatal, alguns outros canais latino americanos ( entre eles o GNT ), e claro, nenhum canal americano. Bizarrice total é que haviam uns 50 canais canadenses, todos passando programação americana, que os cubanos parecem não diferenciar de programação canadense. Anyway.

Num desses canais “canadenses” vi um programa que propunha um mês de “investimento em si mesmo”. Sei que soa ultra programinha patético de auto-ajuda, mas vamos lá.

O tal programa propõe que você escolha uma coisa que você quer melhorar em si mesmo e, por um mês, do primeiro ao último dia, se mantenha “livre” do vício. Claro que os exemplos foram gordos, fumantes, alcóolatras, mas teve uns legais, uma “comprólatra”, e uma moça lá que falava muito palavrão e queria parar. O negócio é assim: no meu caso, claro, seria a guerra às banhas. Então eu me proponho a fazer dieta X por 30 dias, ginástica 3 X por semana por 30 dias, adoto um calendário onde eu entro um tipo de “diário” descrevendo como foi aquele dia, e continuo me repentindo que é um dia de cada vez, e que são só 30 dias. No primeiro dia, eu vou lá na ultima página e coloco itens mensuráveis, no meu caso escolhi: peso ao começar e no fim, medida da bunda, quantas vezes eu furei a dieta ( espero ser zero ), se eu estou me sentindo feliz, se foi muito sacrificado, se eu entrei numa roupa menor. No fim do programa, se você sinceramente estiver orgulhoso do seu desempenho, você se dá um presente, escolhido previamente. Eu escolhi um casaco da Desigual ( qualquer um que caiba em mim ).

Já escolhi uma agendinha bonitinha que cabe na bolsa, já comecei a listinha de comiduchas a congelar, já desengavetei o DVD da Zumba. O mês escolhido é março, porque antecede o mês do meu aniversário.

Foi só eu colocar na agendinha “dia um”, e apareceram 2 eventos com fornecedores aqui na empresa que me estressarão ao máximo – incluindo dois almoços com lanchinhos; tenho ainda uma reunião de almoço com o diretorzão member of the board; tenho nossa revisão de objetivos anuais ( morrerei de estresse por causa do Old Fart ), enfim, meu mês de março será a 25 de março em véspera de Natal.

Mas achei o programinha super interessante e estou animadésima. Será que conseguirei, 30 dias? Clááááááro que você consegue Adriana, o que são 30 dias?

E você, já pensou no que você poderia fazer melhor em 30 dias?

segunda-feira, fevereiro 20

Tricô de carnaval

Tricô 1

Sobre o comentário da Alice no post abaixo, eu não disse ( nem penso ) que doença mental seja faniquito, só que aqui na Holanda os médicos são muito mais cuidadosos do que no Brasil ao indicar para um paciente que já é hora de voltar ao trabalho, portanto, quando o fazem, eu acredito que a pessoa tenha sim condições de ir se integrando novamente. Uma coisa que eu acho bárbara aqui na Holanda, e que teria me ajudado muito na recuperação da gastroplastia ainda no Brasil, é essa "volta aos poucos" ao trabalho. O colega com burnout começou dessa forma, todos os dias por 3 horas, acho muito melhor que simplesmente voltar 100%: um dia você está de cama, no outro você está negociando um pacote de €50 milhões.

No Brasil, quando operei, a empresa me deu 3 meses de licença, o meu médico me disse que pelo menos 30 dias. Depois desses 30 dias, eu não aguentava mais ficar em casa, e estava neurótica com o "impacto na carreira" que 3 meses ausente íam causar. Assinei um termo de responsabilidade e depois de exatos 30 dias, voltei. Agora imaginem, costuradésima, 13 pontões no bucho, cinta apertadíssima pra não dar hérnia, comendo no máximo 500 calorias por dia, os primeiros 15 dias só com alimentos pastosos ou bem macios ( arroz, pasta, purê )… O dia começava bem, mas as 2 da tarde, eu estava me arrastando! Teria sido ótimo poder trabalhar nem que fossem 6 hrs por dia.

O que eu acho nessa história toda, é que a pessoa que está com um problema tem sim que procurar tratamento, psicológico, psiquiátrico, físico, mas no fim, vai estar nas mãos do paciente em si dar aquele passo pra frente pra manter a máquina funcionando. Não adianta toda terapia e Prozac no mundo se a pessoa não der seus passinhos pra frente, nem que sejam passos minúsculos e lentos, serão ainda passos pra frente!

Um exemplo? Minha mãe. Em agosto farão 10 anos do divórcio. 10 A.N.O.S. Ela toma mil medicamentos para dores que segundo o médico não tem razão clínica para existir, ela toma anti-depressivo – mas vive pra baixo, ela só fala em doenças e o problema de todo mundo, qualquer membro da família, vira problema dela. As senhoras da idade dela estão fazendo cursinho de pintura, aulinha de dança no clube da terceira idade, hidroginástica, menos ela, porque isso dói, aquilo é muito caro, praquilo outro ela não tem paciência.

Trico 2

Hoje ouvi um comentário terrível aqui na empresa. Um ex-funcionário, parte do grupo que foi promovido comigo, saiu da empresa pra ir morar em Istambul. Quando efereceram esse emprego na Turquia pra ele, além dele estar bastante descontente aqui, estava também saindo de um namoro de 9 anos ( não sem quem entrou com o pé e quem entrou com a bunda ). O cara, que tem agora 30 anos, arrumou uma namorada lindíssima, que ele móóóórre de mostrar via mil fotos e filminhos no facebook. Entra de tudo um pouco nessa exibição toda, acho que no término do namoro ele foi a parte que entrou com a bunda que levou o pé. Ele sempre quis se exibir pros coleguinhas de trabalho e amigos ( tinha um Audi TT branco conversível, e nas 2 vezes por ano que fazia calor pra baixar a capota, ele chegava todo barulhento, oculozão Armani, só faltava o terno e sapato branco ) então agora a namorada lindona é um prato cheio. Mas então…

Ele estava aqui de manhã visitando os ex-colegas e perguntaram pra ele sobre a namorada. Ele respondou que ela tem 23 anos e é lituana. E um colega retrucou: tá explicado, aqui na Holanda uma mulher daquelas não te dá bola nem nos seu sonhos, então o jeito é ir buscar uma "pobre coitada" nos Balcãs ou em qualquer outro país de terceiro mundo. Eu só revirei os olhos e disse: ufa, ainda bem que meu marido me tirou da miséria lá no Brasil, mas coitado dele – se deu mal, podia ter importado uma loiraça dessas do leste europeu… Mas no fundo, dizer o que pro colega se até eu pensei que aqui na Holanda, um tipinho como ele, sem grandes atrativos físicos, assalariado ( se bem que o Audi TT branco conversível impressiona ), um chato de galocha infantilzão, realmente não atrairia as atenções de uma louraça com (meio) cérebro e potencial de modelo?

Trico 3

Nossa agência, a Arke, agora tem um módulo online para você fazer o tracking da sua viagem, e lá, a contagem regressiva mostra 88 dias até nossa ida pra Jamaica! Gente, parece uma eternidade!

Comentei com vocês aqui que a KLM agora oferece com 24 horas de antecedência, quando há assentos disponíveis, upgrades a preços bem convidativos ( €199 GRU-AMS para a business class ). A Arke, além de oferecer 3 classes ( premium, que é um pouco pior que a business da KLM – Comfort, que é um pouco melhor que a econômica da KLM econômica, que é um pouco pior que a econômica da KLM ) agora oferece um tal de "duo seat": você pode pagar a partir de €25 ( pra Jamaica sairia €60 ) pra bloquear o assento ao lado do seu, e se o vôo não lotar, aquele assento permanecerá vazio para te dar maior conforto / privacidade, se o vôo lotar, você recebe seu dinheiro de volta. Agora vejam só, se eles não conseguem vender todos os lugares, assentos ficarão vazios de qualquer jeito, pra eles tanto faz se é do seu lado ou do lado do Dunha, então porque não tentar arrancar mais eurecas da sua carteira? E olha, eu até acho uma boa idéia, por exemplo, a configuração do nosso vôo é 2-3-2, então seria legal pagar esses sessentinha-eurecas pra ter o lugar do meio entre o marido e eu vazio, principalmente na volta, que é vôo noturno.

Trico 4

Apesar do e-reader e do tablet, guia de viagem pra mim tem que ser mesmo em papel. Imagine se eu vou ficar carregando o tablet pros cafundós de uma floresta em Ocho Rios! Aqui na Holanda, um guia Fodor's ou semelhante custa menos que a metade que custa no Brasil, o que parece ser um bom negócio. Só que encomendando no UK via amazon.co.uk, sai menos que a metade daqui. Pra vocês terem idéia, o Rough Guide Jamaica aqui tá €30, no amazon tá 9 pounds. Se eu encomendar também o Indonésia, e o livrinho de receitas low carbs pra aproveitar o frete, sai uma pechincha. Agora vos pergunto: o que justifica essa diferença toda???

quinta-feira, fevereiro 16

O que é justo?

Aqui na Holanda, se você tem um problema de desabilidade física você vai receber um “salário desabilidade”. Mas o negócio não é tão simples, dependendo da sua desabilidade, eles vão tentar achar um emprego alternativo, ou um emprego em “part-time”, ou seja, vão tentar de tudo antes de te assinar um chequezinho mensal de X euro-contos.

Uma das maiores reclamações dos holandeses, é sobre os espertinhos que tentam passar a perna no governo. Sim, aqui também tem espertinho, menos que no Brasil, mas tem.

Na família do marido teve o caso do Fulano que machucou as costas “irreparavelmente” aos 45 anos. Foi ao médico, fez mil fisioterapias, continuava morreeeeendo de dor, o médico acabou atestando que o Fulano não podia mais trabalhar. Aí o fulano ganhou o salário desabilidade. Só que era tudo falcatrua ( ou exagero ) do Sr. Fulano, e por cima, o Sr. Fulano achou que o salário desabilidade era pouco, então ele abriu uma ONG que ensina jovens problemáticos a consertar eletrodomésticos. Em teoria, ele só pode trabalhar 2 horas por dia, então ele cumpre direirinho a “schedule”, trabalha duas horas por dia, 3X por semana, ensina os jovenzinhos. E qual a “grande jogada”? A grande jogada é que, já que o Fulano tem uma empresa sem fins lucrativos, ele pode fazer praticamente todas as compras da casa sem pagar o BTW ( imposto ). Ele também não precisa pagar BTW de nenhuma conta ( água, luz, eletricidade ) da empresa sem fins lucrativos, que é na verdade uma garagem aquecida na casa dele, ou seja, todas as contas de casa são isentas de impostos. TRUTAAAAA.

Fico imaginando como deve ser difícil para os funcionários dos órgãos responsáveis separar “o joio do trigo”.

Tenho um funcionário que é assistente administrativo ( o salário é mais modesto, ele tem menor escolaridade ). A esposa dele tem 32 anos e diz que danificou a coluna irreparavelmente na segunda gravidez. Após vários exames, fisioterapias, o médico deu laudo de que ela só podia trabalhar 3 vezes por semana, 4 horas por dia. Daí, ela foi diagnosticada com depressão pós parto que evoluiu para uma depressão relacionada a trauma de infância “reativado” pela maternidade ( são as palavras do meu funcionário ) e está fazendo tratamento psicológico. Então, o argumento dela é que ela só pode “ficar de pé” 12 horas por semana, e que dessas 12 horas por semana ela precisa de 4 horas para o tratamento dela ( 2 hr psicologia e 2 hr fisioterapia ), logo ela poderia trabalhar apenas 8 horas por semana, o que a qualifica como desabilidade total.

Durante todo esse processo, por lei, ela tem que ir a entrevistas de empregos que o órgão holandês ( UVW ) arruma pra ela, no limite das possibilidades físicas dela. Segundo o meu funcionário, ela não pode ficar sentada mais do que 1 hr por vez, não pode levantar / segurar pêso, não pode virar pro lado ( torcer a coluna ). Em cima de tudo isso, não pode trabalhar em lugares que a deprimam ( hospital, funerária, açougue sim, ele me disse açougue ). Agora me digam, se vocês fossem a funcionária lá do órgão holandês, íam achar que tem treta aí ou não? Eu só sei que eu ouço ele me contar e não digo um pio, mas que eu acho tudo muito bizarro, eu acho.

Aqui no trabalho tivemos os colegas com burnout. Um ficou em casa 3 meses, arrumou outro emprego, e foi-se. O outro já tem 20 anos de casa, está a 8 meses com “burnout”, está agora trabalhando 4 vezes por semana 4 horas por dia, e entrou com o pedido para “desabilidade”. Em primeira instância disseram que ele deveria trocar de emprego, mas ele respondeu que o burnout causou traumas psicológicos permanentes, que ele até tentou ir para uma entrevista de emprego, mas só de ouvir a descrição das funções ele teve uma recaída, que aumentou o medo dele de não conseguir nunca mais realizar nenhuma tarefa produtiva, e que ele teve que aumentar a carga horário do tratamento psicológico, daí requerer desabilidade permanente.

E eu ouço tudo isso e fico tentando não julgar, mas como? Não sei se realmente esse povo é mais fraquinho e não está preparado para as dificuldades da vida, se é sacanagem pura da pessoa mesmo, ou se é algo “in between”. Só sei que não entendo messsssssm…

E o meu funcionário? Pasmem, ganhou o benefício de volta contanto que a esposa vá em entrevistas de emprego mandadas pelo UVW para vagas até 12 hrs por semana, que a pessoa não tenha que sentar, se virar, levantar mais que uma caneta, e que a deixe alegrinha. Existe emprego assim, eu vos pergunto?  

segunda-feira, fevereiro 13

Procrastinação

Procrastinação é o diferimento ou adiamento de uma ação. Para a pessoa que está procrastinando, isso resulta em estresse, sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros, por não cumprir com suas responsabilidades e compromissos. Embora a procrastinação seja considerada normal, ela se torna um problema quando impede o funcionamento normal das ações. A procrastinação crônica pode ser um sinal de alguma desordem psicológica ou fisiológica.

Existem algumas poucas coisas que estão me incomodando, cuja solução não é complicada, ou pelo menos os primeiros passos já tenham sido identificados por mim, no entanto, eu fico patinando, adiando, demorando, de forma que quando chega aquele dia, normalmente na segunda, quando eu me olho  no espelho e pergunto: e aí, andou pra frente? – e a resposta, colegas, é sempre um “não, nem comecei”.

Carambolas, porque sou assim? O problema é razoavelmente simples, a solução ( ou primeiro passo ) está ao meu alcance, e mesmo assim... eu vou deixando... e deixando...

O regime. Estou ultra feliz que estou um pouco mais fina do que fui para o Brasil. Minha meta para o ano de 2012 é menos 5 quilos. Se eu seguir a South Beach tin-tin por tin-tin, e adicionar o exercício físico ( zumba, wii-step, a Chalene da Paca ), em um mês chegaria super próximo do meu objetivo, aí seria só manter uns 6 meses para daí então fechar a boca novamente para perder 3 quilos adicionais. É dífícil? Não. É uma coisa do outro mundo? Não, especialmente considerando que eu já encarei 50 quilos no passado pra perder, e agora conto com a vantagem dum estômago costurado... Mas e porque a empacação? Durante a semana sigo a dieta direitinho, mas no final de semana, acabo dando uma escorregada, ou seja, o que eu emagreço em cinco dias, praticamente recupero no findi. E o exercício físico? O DVD da zumba está lá, na caixa, é super legal, eu fiz 2X e adorei, mas chego em casa cansada, ao invés de dizer pra mim mesma: vá lá Adriana, 45 minutos e pronto... eu acabo é dando uma desculpinha esfarrapada pra ir colocar o pijama e me emboletar no sofá com os gatos e o tablet... Fail total!

E o holandês? Decidi que ía ler os livros da Danielle Steele em holandês, mais fácil não há. Mas é eu começar e aquele mundaréu de palavras medonhas e desconhecidas, a cabeça começa a girar, eu não tenho paciência. Lembro-me que no começo com o inglês era a mesma coisa, mas eu tinha 16 anos!!! Agora não tenho mais saco, não tenho paciência pra esperar as coisas fazerem sentido... E vai ficando, aquele monte de livros no ereader empacados, sem passar na terceira página.

E minha casa? Mudamos faz 3 anos, e ainda não tenho lustres! Eu e o marido não concordamos em nada, então o jeito é engolir os sapos e tentar entrar num acordo, mas pra evitar briga, eu vou adiando, adiando... O dinheiro da reforma está lá no banco, a gente só pagando imposto em cima ( o tal do box 3 ), e necas de nem chamar os pedreiros pra fazer orçamento, porque vai ser um inferno, escolher o pedreiro, convencer o marido que tem que ser assim ou assado, tirar tudo o que tem no zolder de lá pros caras começarem, arrumar um canto pros gatos durante a reforma, a sujeirada toda... Ó céus!

Porque sou assim, respondam-me? Como diz o wikipedia aí em cima, será sinal de desordem psícológica?

quinta-feira, fevereiro 9

Elfstedentocht

Ontem a Holanda inteira ainda esperava, mesmo que sem muito otimismo, a confirmação ou não da Elfstedentocht ( Corrida das Sete Cidades – em invernos muito frios, na província de Friesland, no norte do país, canais congelam, ligando 11 cidades por uma imensa pista de patinação de gelo com mais de 200 km, e skatistas profissionais ou não participam de uma corrida por esses canais congelados a última foi em 1997, porque a espessura do gelo tem que atingir 14cm e isso é super raro ).

Chegando no trabalho, na filinha da máquina do café, um desconhecido comentou ao notar que eu sou estrangeira: você vai ver nossa euforia se a corrirda for confirmada, a Elfstedentocht é o nosso superbowl.

E aí fiquei pensando… O superbowl é mesmo representativo da cultura americana, pelo que dizem, e sei lá, é aquela extravagância exagerada toda, os jogadores são milionários, com esposas modelos milionárias, e gente famosa e milionária na platéia, e dona Madonna, que não precisa na idade e nível profissional dela se enfiar numa mini-saia e ir competir o rebolado com duas no-ones ( eu fiquei tensa a apresentação inteira, vendo a hora que a madonna ía se estabacar no chão, que rolou alí, salto muito alto, palco escorregadio, Madonnão com a coluna travada? ).

Enquanto isso, numa terra do velho mundo, coberta de gelo ( pero no mucho ), um país inteiro espera a natureza tomar seu curso e congelar o laguinho e o canalzinho ( onde vão parar os patos, minha gente? ), pra irem pra uma das tais 11 cidades, congelar ao ar livre, tomando sopinha (Unox) ou chocolate quente (Chocomel), enquanto esperam os participantes da corrida passar. E ía ter muita roupa, plumas e perucas laranja, e alguém ía desenterrar umas vuvuzelas, e ía ser lindo. O prêmio? Nada! Ter seu nome registrado na história do país como o ganhador da ElfStedentocht ano XXXX. E claro que no fim alguém ía dar um copinho de sopa de ervilhas pro cara J. Ha ha ha, tenho certeza que se estivéssemos nos EUA, já teriam inventado uma máquina de congelar os canais na marra, o prêmio seria de 5 milhões de dolares, o ganhador seria capa da Times, e cobrariam ingresso – sei lá como, mas cobrariam.

Tenho que admirar esse povo holandês. Tenho que agradecer ter vindo parar aqui e não nos EUA. A Holanda está me ensinando o que eu preciso aprender, afinal, eu lá no nosso Brasil tupiniquim, também já fui viciada em roupas de marcas, em carros mais caros do que eu podia pagar, em baladinhas que arrombavam meu orçamento, se tivesse ido morar nos EUA, estaria com 5 cartões de crédito estourados.

Estou feliz de estar aqui, sabem?! Estou menos ranzinza, estou mais tolerante com as coisas que aqui eu não posso ter ( só vou sentir falta eternamente da empregada ), com o que ficou pra trás. Não me sinto mais em casa no Brasil, a diferença é que estou me sentindo cada vez mais em casa aqui. Já era tempo. Quem sabe agora não fica até fácil dominar essa linguinha linda e sonora? Tô até mais boazinha, baixei umas músicas do Guus Meuus.

Nossa, que lindo, vou soltar uma lagriminha de emoção, a tia Madonna quase se estabacando no palco ao lado de duas pafúncias me fez ver o quanto eu aprecio a Holanda.

Brigadinha Madonnão!

P.S.: e foi confirmado hoje que para a tristeza geral da nação, não teremos a Elfstedentocht esse ano. Oh, dó.

quarta-feira, fevereiro 8

It's a small world after all

Uma coisa que aprendi aqui e lá no Brasil me horrorizo: como o povo por lá deixa pra programar suas férias na ultimíssima hora! Amo o jeitão dos holandeses, chegam de uma e já reservam as próximas. Desde dezembro fechamos um pacote para a Jamaica em maio, pegamos uma ofertona num hotel fantástico "no kids" e ainda por cima tivemos um desconto "vroegbook korting" ( desconto por compra adiantada ) que nos permitiu pagar o upgrade pra "star class" ( um pouco melhor que a economy plus, um pouco pior que a business, já que a Arkefly eliminou a antiga business ) e ainda economizar €590. A Arke ( nossa agência já há muitos anos ) ainda inventou uma nova vantagem: se você reservar com bastante antecedência e mudar de idéia até 10 semanas antes da viagem, pode mudar o destino, o hotel, o que quiser!

Com as férias de maio já resolvidas, me perguntaram aqui na empresa se eu ía esse ano pro Brasil, porque assim poderia emendar uma viagem a trabalho. E sinceramente? Não quero ir. O Brasil está caro demais. Fora a barbada que pegamos nos hotéis Iberostar reservando daqui, em outros lugares está tudo caro demais. Pousadas no Alagoas com preços começando nos R$ 500 a diária com café da manhã, em Trancoso começando nos R$800… E eu e o marido curtimos hotéis legais, não somos do tipo "vamos pro quarto só pra dormir". A gente senta na varanda pra ler, a gente assiste TV antes de ir jantar, a gente valoriza messsssmo um quarto de hotel com todas as comodidades.

Eis que comecei a pensar em ir pra Asia, a primeira coisa que me veio na cabeça foi Bali, mas depois de ler o relato de viagem da Adriana ( Drieverywhere ) eu desisti, muito longe pra ter praia ruim. Aí comecei a pensar em Tailândia e Malásia. Os únicos templos budistas que eu já visitei foram os de Taipei, e são lindos, é muito emocionante estar em um; mas pra gente, férias tem também que ter praia, e todo mundo fala muito bem das praias da Tailândia. Alguém aqui já foi praquelas bandas? Estou tentando achar sites e foruns, se vocês puderem indicar alguns, please – vou adorar. Li os relatos do Drieverywhere, mas embora as dicas de atividades sejam boas, viajamos em esquema diferente, eu não encararia os hotéis que ela encara, e gastaria um dinheirinho a mais com certas comodidades ( como táxis, guias ). Help, pípol?

E a viagem sonhada pra Orlando? Mais uma vez adiada, dessa vez o sobrinho estará prestando vestibular, e o plano era a família se reunir pelas bandas de lá.

terça-feira, fevereiro 7

Bolada!

A Holanda tem uma só empresa automotiva de carro de passageiros, chama-se Nedcar, fica em Limburg ( sul da Holanda ) e anunciou ontem que vai fechar as portas. Já há quase dois anos, temos alguns funcionários dessa empresa trabalhando aqui com a gente. Acho interessante como esse negócio de benefício social, salário desemprego e pacote de demissão funciona, então deixa eu contar pra vocês me darem sua opinião se funcionaria no Brasil.

Em 2009, no auge da crise, minha empresa e várias outras da região pediram auxílio ao governo. A lógica é simples, ou o governo ajuda a empresa, ou a empresa demite, e aí perde todo mundo, a empresa, que tem que pagar os pacotes de demissão, o governo, que tem que pagar salário desemprego pra esse bando de gente por sabe-se lá quanto tempo, e principalmente o funcionário, que vai receber o salário desemprego, não vai morrer de fome, mas vai ter que batalhar em meio a uma crise pra encontrar um emprego novo ( pros mais jovens é menos problemático, mas imagine o cara de 50 / 55 anos, que ainda tem que trabalhar pelo menos uns 10 mas é menos “desejável” no mercado de trabalho). O governo cedeu o benefício a várias empresas ( o funcionário ficava um dia da semana em casa e o salário desse dia era pago pelo governo ) mas a condição é que quando as coisas começassem a melhorar com uma empresa, ao invés dela ir contratar mão de obra no mercado ( todos os temporários foram dispensados no início da crise ), teria que usar a mão de obra das outras empresas que ainda não melhoraram, num tipo de terceirizacão. E daí termos contratado o pessoal da Nedcar. Eles tem um contrato Nedcar, são alocados na minha empresa, trabalham super bem porque são super experientes na área, e de quebra, são ótimas pessoas – eu tenho dois senhores, um de 51 e 58 que tem performance 10.

Agora a Nedcar tem que mandar essas pessoas embora. No minuto que anunciaram, o sindicato já estava fazendo piquete na porta da empresa pra negociar o plano social. A Holandesa ( link ali do lado ), já falou sobre isso e até ensinou a fazer as continhas. A grosso modo, esses funcionários tem que receber 1 salário mensal bruto por ano que trabalharam na empresa antes dos 35 anos, e 1,5 salário bruto por ano que trabalharam depois dos 35. Meus dois funcionários tem 28 e 33 anos de casa, imaginem a bolada que eles tem que receber. Um deles, que lá é gerente, comentou que a bolada dele ficaria em 380 mil euros, tudo bem que o leão fica com 52% da grana, mas imaginem só!!!!

As negociações seguem, sindicato involvidíssimo, meus “rapazes” estão nesse momento lá na porta da fábrica, lutando pelo “potje geld” deles ( potinho de dindin ).

Aqueles que foram demitidos, além do potinho de dindin, entram pro salário desemprego. A grosso modo, você tem direito a um salário quase integral por ano trabalhado, ou seja, o colega que tem 32 anos ganharia um salarião por 32 meses, eu, ganharia só 8. Pra isso, você tem que provar que está procurando emprego, o que você faz mandando CV pra vagas, eles te mandam uma cartinha “recebemos seu CV”, e se você não for selecionado recebe uma cartinha “lamentamos, mas escolhemos outra pessoa”, e essas cartinhas você manda pro órgão especializado UWV. Esse órgão pode te mandar pra entrevistas em vagas que eles tem abertas, pode te chamar pra uma “conversinha”.

E é daí que eu fico pensando. O sistema tem mil motivos pra não funcionar, porque depende da honestidade das pessoas. Funciona porque, apesar de ter gente folgada e que ludibria o sistema, esses são ainda a minoria. A teoria de que o ser humano prefere um emprego à caridade aqui parece funcionar melhor que no Brasil. Então, o sistema daqui funcionaria no Brasil? Nem a pau, Juvenal, penso eu.

No Brasil, uma pessoa próxima comentou que conseguiu um emprego, mas que ía trabalhar os primeiros 4 meses “sem registro” porque assim poderia também receber o salário desemprego, apesar de estar trabalhando. Essa parece ser uma prática normal. No Estadão, uma matéria sobre procurar empregos diz que “se você não receber um retorno uma semana após mandar um CV, é porque ficou fora do processo”, como assim Bial, nem mandam um e-mail de duas linhas informando do fato? E como então provar que você está procurando emprego? No fundo, o que eu estou querendo dizer, e me desculpem os mais sensíveis, é que o holandês é sim senhor mais honesto que o Brasileiro.

O negócio no Brasil é tão exdrúxulo, que até eu, quando saí da GM, acabei caindo no poço sem fundo das estranhisses brasileiras.  Saí da GM num pacote de demissão voluntária, ou seja, saí porque quis. Aqui na Holanda, quem sai porque quis não tem direito a salário desemprego. Eu saí com uma ótima bolada, na época, livre, tirei quase 20 salários, e olha que o salário da GM não era dos ruins. Aí a mulher do sindicato que pega suas assinaturas no fim do processo, já te dá um recibo, ela mesmo já entra com o pedido de salário desemprego pra você. Aí eu, que fui voluntária, que estava com uma bolada no banco, que não estava procurando emprego porque ía me mandar do país, recebi uma cartinha “pode vir pegar seus 300 contos de salário desemprego”. Era tudo muito surreal, primeiro que o valor, que na época era menos que 10% do meu salário na empresa, caso eu estivesse desempregada mesmo, com família pra sustentar, não ía pagar nem o miojo das crianças. Segundo que ninguém nem pergunta: você precisa? O negócio é tão bizarro que eu vim pra Holanda 2 meses antes do benefício acabar, e dois anos depois, quando voltei de férias, o dinheiro estava lá me esperando, com correção monetária!

Alguns anos depois, nas férias de 2008, outra cartinha me esperava: eu tinha direito a sacar 900 reais referentes ao PIS dos anos X a Y. De novo, ninguém avalia se você precisa, e honestamente, eu nem sei o que é o PIS e porque eu tinha direito a restituição. Ah, Adriana, você reclama mas aposto que não devolveu o dinheiro. Não, não devolvi, e mesmo que quisesse, pra quem? Mas pelo menos uma coisa boa eu fiz: torrei a grana ali no Brasil mesmo, criei uns empreguinhos a mais e dei uns impostinhos extras. Adriana ajudando a economia nacional!

Postão, né? Sorry, mas é que depois de tantos anos aqui, poucas são as novas experiências, e quando eu passo por alguma novidade, quero contar! Ficarei aqui torcendo pros meus “senhores nota 10” receberem suas boladas, e no meio tempo, já tenho o papelucho que me autoriza a contratá-los assinado pelo diretorzão.