sexta-feira, março 30

Jamais cuspa no prato que comeu!

No ano passado, durante o processo seletivo de candidatos para uma vaga do meu departamento, mas do grupo do meu outro colega, me pediram para participar da entrevista de uma das candidatas por ser mulher e estrangeira. Ela foi muito bem na entrevista, foi contratada, começou a trabalhar em setembro passado.

Ela é séria, muito concentrada, e algumas pessoas estranham o jeitão meio seco dela, mas ela não é má pessoa ou má funcionária.

Em janeiro, ela comunicou que havia decidido voltar para a Slovakia, o motivo principal é porque a avó dela estava muito doente e a família havia decidido não colocá-la num asilo, mas tratar dela em casa. A moça é filha única e a mãe é filha única. A mãe é médica e aparentemente ultra bem sucedida, porque além de trabalhar também na Austria, dá seminários, ganha uma grana preta, e dá bolsas LV autênticas de presente pra filha ( eu sei, parágrafo fofoquinha ). A avó que elas não querem colocar no asilo também é “bem de vida”.

Encurtando a história, já sabemos mais de dois meses que a moça se irá. Nem se integrou direito e já se vai. Um saco pro rapaz que passou 2 meses intensivamente treinando-a. Só que no último mês, ela meio que largou de mão. Chega a hora que quer, vai embora super cedo. Tem dia que liga avisando que não vem porque foi tratar disso ou daquilo da mudança. Teremos a reunião anual de budget a semana que vem e ela meio que se recusou a preparar o material para a apresentação ( ah, não faz sentido, posso até ajudar quem for apresentar o meu colega gerente, claro ). Fica feio, muito feio sair de uma empresa assim. Mas na cabeça dela deve passar: estou mudando até de país, who cares???

Só que ontem a avó foi pro hospital, os médicos já desenganaram, ela está lá só esperando o inevitável e hoje me ligou “em off” e disse que estão pensando em ficar na Holanda, se eu acho que nosso diretor teria interesse em mantê-la, já que um substituto ainda não foi encontrado. E sinceramente, eu não sei! Depois desse último mês, não sei mesmo. Eu disse pra ela ligar pra ele, não sei se ela vai.

Bom puevo, rumbora que é quase findi. Fez sol a semana inteira, e a peãozada na labuta, hoje que a gente pode ir pro centro tomar uns goró no “terras” ( cafés com aqueleas mezinhas no lado de fora ), chove! Peão tem tudo é que pastar mesmo.

Fui, bom findi!

quarta-feira, março 28

O fim do mundo está próximo

Cansada de me preocupar com a dieta, com as banhas, a aula de zumba, o tamanho 44 ma Mexx que teima em não me caber, vim me distrair na net.

Caramba, o povo só fala em dieta. Eu, tu, o rabo do tatu.

Estamos GORDÉSIMOS povo, achamos que uma raça alien traria o fim do mundo, mas o armagedon foi inventado por nós mesmos, os humanos. Não foi virus mutante, bactéria inventada pela CIA, epidemia vinda das florestas africanas. Nosso fim virá dos M&M's, das Pringles, do Baconzitos, dos pães de queijos recheados de catupiry e coxinhas idem.

Se não fosse o exército anti-gordístico, morreríamos pelo menos felizes, nós os gordos, alimentados pelas orgias serotonínicas chocoláticas, felizes com nossos mega-cheese-salada do Ponto Chic. Mas não, somos caçados iguaizinhos os zumbis de The walking dead, a série.

Quando comerei uma empada de palmito com catupiry novamente sem me sentir o cocô do cavalo do bandido? Nunca! Taí minha maldição, pra sempre confinada à torradinhas de feno do Dr. Atkins, que além de ruins, quase me matam de gases.

Punzenta mas magra, então vos digo que as torradas de serragem ficam!

Sonhando com um brownie do Jamie Oliver, me despeço. Essa semana tá power e eu não sei quando terei tempo de novo. Ó mundo cruel!

quarta-feira, março 21

Quem não se ajuda

Quem de nós, brasileiros, não conhece váááárias pessoas que "cozinham pra fora"? Desde criança, até o dia de me mudar do Brasil, comprei comida de boleiras, doceiras, "salgadinheiras"… Recentemente vi no programa da Ana Maria Braga o tal Brownie do Luiz, um rapaz que está se sustentando na faculdade fazendo e vendendo brownies. E é sempre assim, a água bateu na bunda, o brasileiro sai nadando.

A minha sobrinha postiça começou a fazer doces pra ganhar um extra no primeiro ano de faculdade. O negócio foi dando tão certo que ela largou o curso que fazia e foi estudar pra ser chef. A especialidade dela são doces, e agora ela tem até marca registrada. Terminou o curso e já começou a fazer uma segunda faculdade, dessa vez em nutrição.

Minha tia, quando meu tio ficou desempregadao, fez quentinha. Compraram uma máquina usada de fechar aquelas quentinhas de alumínio, ela cozinhava, íam ela e meu tio entregar quentinhas. Ficou rica? Não, mas ganhou um belo troco que pagou muitas das contas naquela época.

Lembram-se do meu funcionário que a mulher está recebendo uitkering ( salário desabilidade )? Pois então, o médico da coluna liberou para trabalho parttime e o psiquiatra não só liberou, como até indicou que ela voltasse a trabalhar.

O meu funcionário diz que ela não pode mais trabalhar com o que ela estudou porque ela está muito velha. Ela tem 37 anos ( mais nova que eu ) e estudou "vitrinismo". Nunca tinha ouvido falar nisso antes, mas aqui o povo estuda pra enfeitar vitrine. Ele me diz que ela está muito velha porque nessa profissão você tem que se abaixar muito, tem que ser muito rápida (???). What-ever.

Aí ele pensou em abrir um negócio próprio, pesquisou cupcakes. Achei uma ótima idéia, afinal, investimento inicial é pequeno, você faz no conforto da sua casa, no seu próprio ritmo, mas ele diz que não vai dar certo porque tem 6 pessoas fazendo o mesmo na região e que a margem de lucro é pequena. Eu acho patacoada, porque sempre que compro um cupcake pago os olhos da cara e o que você usa pra fazer aquele bolinho? Uma forminha, um monte de recheio e um bolinho mequetrefe, o custo mesmo é baixo.

Achando que eu podia ajudar, dei vários exemplos da brasileirada que mora por aqui, tem quem faça salgadinho, tortas, quem venda carne, carne recheada, docinhos… Mas nada é interessante o suficiente, ou dá o lucro que ele espera.

Paciência.

Na semana passada ele estava visivelmente preocupado. Perguntei se ele queria conversar. Ele me contou que por causa da discussão com o órgão que paga o salário desabilidade, em teoria, a esposa ficou 2 meses em casa sem estar oficialmente desabilitada ( eram 4 meses, ele negociou 2 ). Durante todo esse tempo, mesmo estando em casa, a esposa mandou as crianças pra creche no periodo integral. Agora a creche quer 2 meses de mensalidade por filho de volta, e dá no total mais de € 5000. Ele falou até com um advogado e como ele já assinou o acordo dos 2 meses de desabilidade, ele reconheceu que por 2 meses a esposa não estava enferma, portanto não tinha direito ao subsidio da creche ( se um dos pais está em casa, o casal não tem direito a receber o subsídio da creche, que em teoria pode chegar a 70% ). Fiquei com pena, mas também não entendo porque a mulher ficou em casa e continuou mandando os filhos pra creche.

Segunda foi aniversário dele, ele trouxe várias tortas e bolos que a esposa fez. Achei uma ótima forma de propaganda, e todo mundo gostou dos quitutes. No mês que vem é meu aniversário, então sugeri pra ele que se a mulher dele topasse, eu compraria as tortas e bolos dela. Por 3 tortas de maçã e três bolos ingleses ( daqueles pequenos e sequinhos, retangulares, aqui chamam de coffe cake ) ofereci 100 euros, o que é o dobro que eu pagaria em 4 tortas da Multivlaai. Como meu aniversário é numa segunda ela poderia fazer no fim de semana. Como vocês já devem ter adivinhado, ela não quis, deu a desculpa que terão um compromisso naquele fim-de-semana.

De novo, paciência.

Minha avó paterna, a Vó Nilda, ficou viúva antes dos 30, com dois filhos de 10 e 5 anos pra cuidar. Meu avô, que se recusou a casar antes deles terem uma casa própria, deixou a casa e uma pensão pra ela, pensão brasileira, cês sabem né? Minha avó mandou o filho mais velho temporariamente morar na casa de uma tia, arregaçou as mangas e de tarde, quando meu pai estava em casa ( ele era o filho de 5 anos ) ela lavava roupas pra fora, e de manhã, enquanto meu pai estava na escola, ela entregava, a pé, as roupas que algumas clientes não podiam buscar. Ela fez isso por mais de 20 anos, lembro que quando eu era pequena ainda tinha gente que vinha procurá-la pra uma ou outra "emergência", e se o dinheiro fosse bom, ela ainda fazia um bico. Meu pai, antes de casar, assim como meu avô, construiu uma casa "nos fundos" da minha avó, e quando eu nasci, ganhando melhor, ele comprou nossa primeira casa, e minha avó alugou a casinha que meu pai fez. Nunca aceitou um tostão dos filhos. Viveu bem, tinha até uma poupancinha, cuja "caderneta" ela sempre mostrava pros netos, toda orgulhosa. Tinha dores fortes nas pernas, provavelmente resultado dos anos em pé no tanque ou passando roupa, ou carregando roupa pra clientes, mas criou os filhos, sobreviveu.

Não entendo, esse povo sobreviveu a uma guerra, ou melhor, a duas guerras mundiais. Já ouvi histórias de gente que comeu sopa de bulbo de tulipa pra sobreviver, e como pode essa geração ser assim tão… tão… acomodada?

Anyway, postão-surra. De novo. Sorry.

terça-feira, março 20

Um momento

Tenho muito medo daquele ínfimo momento em que sua vida vira de pernas pro ar.

Um familiar doente, um acidente de carro, um animalzinho de estimação que estava na hora errada no lugar errado. Um momento, um segundo, uma frase, que vai mudar sua vida pra sempre.

Sou sortuda, ainda não passei por nenhuma dessas experiências. Pensei nisso hoje, e me deu aquela sensação gigantesca de que eu sou uma mal-agradecida, que deveria erguer as mãos aos céus pela minha vidinha relativamente pacata. E principalmente, não reclamar das pendengas do dia-a-dia, porque são ainda bem gerenciáveis.

Uma das comadres está passando por um momento difícil, com problemas de saúde em casa. Nós, espíritas, acreditamos não só no poder da prece, mas ainda mais no poder multiplicado da prece pelo reestabelecimento de terceiros. Querer o bem pra si é fácil e previsível, poucos são aqueles que inspiram em outros sinceros votos de melhora, de reestabelecimento. Ontem, em casa, em forma de preces ou de pensamentos positivos, eu e o marido torcemos e rezamos pelo familiar da comadre, que está com problemas de saúde.

terça-feira, março 13

Eu sou, mas quem não é?

Eu sou chata, mas vou te contar, como tem gente muito mais chata que eu nesse mundo, viu!

E gente estranha, e gente sem-loção.

Blé.

segunda-feira, março 12

Foi, é e será

Quando tenho um tempinho, gosto de vir aqui e abrir um arquivo do mesmo dia de um ano longínquo. Me dá alento ver que alguns problemas que eu tinha foram resolvidos, muitas pendengas na cachola se tornaram menos pendengas, muito do que eu achei que fosse ser impossível, hoje é realidade.

Estava lendo um post de alguns meses atrás da Adriana, onde ela fala da preocupação em voltar ao Brasil depois de tantos anos e o povo criticá-la pelo peso ganho. Quando li esse post dela pensei: que bobeira se preocupar com os outros, ninguém paga as contas dela… mas cá estou eu, lendo um post de 2004 onde eu exponho a mesmíssima insegurança.

Ter um diário, como é esse blog, é a melhor forma de acompanhar seu próprio desenvolvimento ao longo dos anos. Diria que 90% do que escrevi ali já não me recordo mais e estaria perdido se não fosse o blog.

Hoje me perguntaram qual foi minha melhor supresa no lado positivo e no lado negativo dessa “empreitada”. Sem pensar muito, porque se eu pensar provavelmente mudarei de idéia, a positiva é ter conseguido avançar na minha carreira de forma que não sei se teria conseguido no Brasil, visto que lá nem sempre só trabalho árduo é suficiente ( e eu não tinha parente nenhum na empresa, nem amiguinho e nunca fui muito boa com a propaganda-pessoal ). E a supresa negativa é que por estar sem família por aqui, nem empregada, nem suporte familiar, nunca tenha me animado a ter filhos, ou pelo menos um. Estivesse eu no Brasil, com minha família por perto e empregada pra dar um apoio, mesmo o marido sendo meio averso à idéia ( hoje ele é meio averso, já foi completamente averso ), teria tentado. E talvez tivesse um bacurinho bochechudo de olhinhos azuis me azucrinando hoje ( e com certeza eu acharia maravilhoso ).

Qual foi o meu maior desenvolvimento pessoal? Foi ter dado o primeiro passo na auto-aceitação, foi começar a me perdoar por esse pecado inominável que é ser gorda. A distância da minha mãe ajudou ( e tem ajudado ) imensamente. Semana passada conversei com a minha cunhada, que também é gordinha ( mas inteirona pra quem teve 4 filhos!! ) e agora é ela que convive com as agruras de ter uma pessoa que odeia gordos por perto. Muito obrigada meu Deus, por esse bálsamo aliviante que se chama oceano atlântico entre nós!

O que me falta? Perder sete quilos e comprar um chiuaua. Daí, tô feliz. Mesmo.

Apertadíssima de costura

Dia 21 vai fazer um ano que eu baixei no hospital com o problema de ferro. Usei essa data também para marcar a última gripe que eu tive, que foi um pouco antes. Depois do tratamento nunca mais tive uma gripe. Aleluia. Em compensação, tenho dores de cabeça de arrasar quarteirão. Esse fim de semana, começando já na sexta, sobrevivi a paracetamol, que é, para mim, o melhor remédio para dor de cabeça.

Stress? Sim! Hoje foi difícil levantar da cama. Tenho hoje, na agenda, 11 reuniões de uma hora, como pode? Cancelei várias, e estou agora sentada numa reunião cujos participantes estão atrasados no trânsito porque tombou um caminhão aqui perto.

Estou aqui nagging, nagging, nagging, burrice minha, Adriana, o que é que você vai fazer pra solucionar o problema? Trabalharei todos os dias até as 17:45, nem um minuto a mais. Sexta vou tirar o dia livre e vou ao Efteling. Conseguirei sobreviver até a páscoa, quando terei um final de semana extra-longo.

Sobreviverei, e esse é o problema, estou cansada de sobreviver.

Chega de reclamar!

Antes de dar um câmbio desligo, vou dizer, sei lá se o tal criador do Facebook falou mesmo o que apareceu nos jornais dos brasileiros, mas a brasileirada tá fazendo do Face uma merda mesmo.

Eu não “amigo” ninguém que eu não conheça, e mesmo assim, estava recebendo vários anúncios de “comes e bebes” todos os dias no meu wall. Era carne, era salgadinho, eram pratos brasileiros, convite pra show de forró... So sorry, desamiguei. Acho válido a pessoa fazer um mailing list com direito a link pra sair do mailing list, mas flooding via face me irrita.

E o povo com re-flow de sites cutes? Eu amo o site de piadas 9GAG, e limito meu flood diário a 2 piadinhas, e mesmo assim na maioria dos dias, me contenho e não inundo o wall dos meus amigos. Mas o que eu recebo de re-flow de gatinhos, coelhinhos, cachorrinhos, bebezinhos, inhos inhos e mais inhos…

Preciso falar alguma coisa das mensagenzinhas de auto-ajuda? Quem precisa de auto-ajuda entra no site do Dr. Phil, néan?

Agora parece que vão liberar GIFs, deus nos ajude, aí é que eu me facebook-cídio de uma vez e volto pro Twitter. O que vai ter de gente atolando nossos walls de coisas piscantes e mexentes… Vai ser o armagedom!

Blé. Tcheu ir trabalhar que os atrasildos chegaram.

Sexta, se o universo conspirar, estarei no Efteling!

segunda-feira, março 5

Um pitaquinho

Eu não sou boa em pitaco como a Dra. Alice. Ela mesmo diz, meus posts são tão grandes que não são pitacos, são surras.

Mas aqui vai um ( uma tentativa de ) pitaco.

Você criatura, que achou o príncipe encantado, mora na sua casinha branca de varanda, tem seu filhinho ( a ), você não acha que você deveria estar andando aos pulinhos de felicidade pela rua? Eu acho!

Tá mais difícil do que nunca quem queira um parceiro, aqueles que querem acham difícil encontrar, quem encontra pasta pra chegar na casinha branca de varanda, e quem tem tudo isso às vezes ainda esbarra na dificuldade de querer ter um filho e não poder. Você tem tudo, caramba!!! Então porque é que você, que tem tudo, que devia estar dando pulinhos de felicidade, deixa coisas pequenas, como um comentário, uma opinião, um “escrito” te aborrecer?

E depois desse mísero pitaco, sigamos com a programação normal.

Amanhã tem surra!

quinta-feira, março 1

O dinheiro traz tanta felicidade!

Parece que é bonito, ou modinha, dizer que se quer uma casinha branca com varanda, que as coisas simples da vida são as mais valiosas, que dinheiro não compra felicidade. BULL-SHIT!

Felicidade? Meu carrinho, que me deixa sequinha e quentinha de manhã e de noite pra ir e vir do trabalho, pra ir no mercado, no friozão de -14C. Custou dinheiro. Custa dinheiro de seguro, de gasolina, de imposto todos os dias. Ir ver minha família no Brasil, custou ( um rio de ) dinheiro. Poder trocar o carro da minha mãe, que ela não conseguia mais dirigir porque não tinha direção hidráulica, custou dinheiro. Minha sobrinha fez 13 anos, o sonho dela era ter uma necesssaire cheia de maquiagens, eu me diverti horrores escolhendo maquiagem pra ela, de todas as marcas, de todas as cores, desde gloss até foundation, mas custou vááários dinheiros. Comprar meus vegetaizinhos picados e lavados custa dinheiro. O termostato programável custou dinheiro e ele ligar as 5 da tarde pra aquecer a casa e estar a 20 graus quando eu chego custa dinheiro. O pacote de TV a cabo extra que eu quero custa dinheiro. Meu gatinho paciente renal custa muito dinheiro. O cineminha com pipoca da semana passada me custou um dinheirão ( 21 euros, pode? ).

Eu poderia me locomover de bicicleta. Eu poderia ir ao Brasil a cada 5 anos. Eu poderia falar pra minha mãe andar de ônibus. Eu poderia falar pra sobrinha que ela é linda e não precisa de maquiagem. Eu poderia comprar os vegetaizinhos na feira aos sábados e passar horas lavando, picando, blanqueado e guardando. Poderia também usar um moletonzão bem grosso em casa e não preciso nem mencionar que poderia também viver sem HBO e FOX. Não, não poderia deixar meu gatinho morrer, pensar em não tratá-lo é inconcebível. E poderia deixar de ir ao cinema, ou ir na matinê e pular a pipoca. Eu iria morrer? NÃO. Eu iria ser feliz? NÃO. Logo, dinheiro compra sim felicidade.

E pra bancar tudo isso, amigas, ralo tudo o que ralo. Não é porque o trabalho enobrece, não é porque eu me sinto um ser humano útil. Não é porque “ser chefe” faz bem pro ego. O motivo é simples e fácil de entender: é pela grana, pelo geld, pelo tutu, pelo catchin, pelo money. Dinheiro esse que é MEU, não é do marido, não é do meu pai, não é emprestado. Se eu tivesse nascido riquíssima, não trabalharia. Iria cuidar de animaizinhos largados pelas ruas, ia abrir uma ONG, ia fazer o que gosto sem pensar que preciso ganhar tutu.

Não me digam que tive sorte, isso me emputece muito. Não nego que ela deu sim uma ajudinha, de eu estar no lugar certo na hora certa, de eu ter falado com a pessoa certa quando precisava, de uma amiga ter me dado um empurrãozinho pra preencher um formulário fatídico… Acho que são sim ajudinhas de uma força maior, e sou grata a essas ajudinhas. Mas… puta merda, se 10% foi sorte, 90% foi muita barriga ralada no tanque, aulas de inglês enquanto meus amiguinhos de escola jogavam Atari, muito trabalho de faculdade aos fins de semana, muita hora extra na empresona brasileira, mil entrevistas de trem no frio aqui na Holanda pra conseguir o primeiro emprego, muitas mais horas extras pra conseguir meu holeritezinho todo mês.

Eu, que já disse aqui que tenho sérios problemas de auto-estima, tenho que me dar um tapinha nas costas: eu mereço meu meu carrinho e meus vegetaizinhos lavados e picados do Albert Heijn.

E você colega leitora ( ou colega leitor ), já se deu um tapinha nas costas hoje? Já se disse “well done”? Não? Faça-o djá.

E rumbora trabalhar que faltam 76 dias pras próximas férias. Que custou din-din, aliás.