quinta-feira, abril 26

Cadê o Dr. Oz?

Outro dia li no Facebook ( olha que referência para teorias filosóficas ) “tem sempre alguém em situação pior que você”. E ó, tem mesmo.

Minha professora de holandês desabafou sobre o drama familiar na casa dela.

A filha casou, o marido não queria filhos, ela insistiu, tiveram uma. Acidentalmente engravidou, o marido queria que ela abortasse, ela recusou. Foram fazer o primeiro ultrasson, são gêmeos. Foram fazer o segundo ultrasson, são meninas e uma delas tem lábios leporinos e possível retardamento mental. O marido queria que ela abortasse a gêmea não saudável, mas o risco para a bebê saudável era muito grande.

Começaram o calvário de exames para diagnosticar quão doente é a bebê, e o fim do calvário acabou na Bélgica, como acontece muito por aqui com as pessoas cansadas da medicina de interior do Zaire das Zolanda. Não há retardamento mental, mas o problema do lábio leporino é dos mais graves, com fenda dupla, incluindo o pálato.

Diagnóstico em mão, começa o calvário número dois pra pesquisar o tratamento pós parto da bebê. Opções limitadíssimas, visto que só 3 hospitais na Holanda estão preparados para tratar o problema. Google, google, google, clááááááro que o tratamento mais moderno não está disponível na Holanda, mas sim na Bélgica e Alemanha, mas considerando que consiste em 3 cirurgias no primeiro ano do bebê, como financiar tudo isso do próprio bolso?

Deve ser enlouquecedor, não poder pagar um tratamento médico para um filho ainda não nascido.

Não sei o que me chocou mais, a história toda ou a minha professora ter desabafado comigo, com lágrimas e tudo.

Amanhã conto do vizinho louco, o que tem problemas em estacionar.

segunda-feira, abril 23

Esse ano 39, ano que vem 30 e 10

Hoje estou completando 39 anos. Meu último ano na casa dos 30. Estou, desde já, em pânico. Pânico esse nada justificável, afinal, entrarei nos 40, com certeza, bem melhor do que metade dos meus 20 – lembrem-se que eu passei metade dos meus 20’s acima dos 100 quilos.

Eu estava me lembrando de um blog de uma brasileira aqui na Holanda há uns 8 anos, logo que eu cheguei aqui. Ela contava que tinha ido à praia com um lindo biquininho vermelho, e um senhor, cuja esposa usava um esdrúxulo biquini enorme e florido, ficou olhando pra ela. Aí ela discorreu umas 5 laudas sobre o desleixo e mau gosto da gringa, e concluiu que ela mesmo é que estava certa, com o biquininho vermelho e os olhares “admiradores” do marido da tal gringa. Na época eu, também ainda estranhando a forma de se vestir das holandesas, achei que a tal brasileira estava certa. Hoje? Bah, que asneira falou aquela moça…

Admiro que as mulheres por aqui, pelo menos as que eu conheço, honestamente se preocupem mais com a saúde e bem estar do que em caber dentro do biquininho minúsculo. Ninguém quer ser gordo, claro, mas a neurose das mulheres brasileiras, aqui não existe. Admiro demais que elas se vistam como gostam e se sentem bem, não tem nada de ficar seguindo modinha. Imaginem que eu cresci na escola e no clube metido a besta da cidade, ouvindo que usar maiô é pras barangas, afinal, quem quer esconder é porque é baranga mesmo. A tal senhora do biquinão de flores grandes, ah que sortuda ela – usar um biquinão confortável, que não fique entrando no forébis, assando tudo… Sim, porque me desculpem as fãs de biquinis entrentos, mas dá pra ver quem é brasileira nos resorts internacionais pelos biquinis menores e entrando na bunda – sempre!

Tenho a impressão que os holandeses julgam menos, e que as pessoas ligam menos para o julgamento dos outros. Hoje eu estava trocando uns e-mails com uma brasileira que diz que não usa biquini desde os 5 anos, que vai à praia de bermuda e camiseta, e vou contar-lhes, ela deve ter uns 20 kg a menos que eu. Isso acontece porque a gente foi criada naquele país do caramba, onde há que se ser boa de bunda, onde o povo olha mesmo descaradamente, e fofoca mesmo descaradamente, e condena mesmo descaradamente, cada celulitezinha, cada graminha a mais. Blé pra todo esse povo. Um grandessíssimo blé. Blé pra esse povo todo que tá pagando carnê da casas Bahia e tá gastando os tubos em drenagem linfática, em lipostabil, em creminho Lipocontour da Lâncome.

Então, hoje, aos 39, começo a preparar-me pros 40. Sempre tive medos dos 40. Preciso preparar o físico, quero sim emagrecer alguns quilinhos, menos da metade que me aconselhou o médico brasileiro. TENHO, em maiúscula, que começar a “educação física”, porque ninguém envelhece saudável paradona como eu sou. E o mais importante: tenho que assassinar e enterrar a brasileira dentro de mim que pensa que eu tenho que ter o corpinho de capa de revista e que se não o tiver, tenho mais é que colocar uma burka ao ir à praia.

Como vocês podem ver, os próximos 12 meses serão de preparação física e psicológica intensas.

E que venham os 40!!!

quarta-feira, abril 11

Quando não é um vizinho, é outro.

Como vocês sabem, mudei para a minha atual vizinhança há 3 anos. Na vizinhança antiga, mais simples que essa nova, nunca tivemos problemas com vizinhos, nessa, além do problema com os vizinhos que queriam montar tanques de peixes comedores de carne humana na garagem, já tivemos outros problemas – todos relativos a estacionamento de carros.

Na minha rua todas as casas tem uma garagem. As casas do modelo B, que é a minha, tem ainda um espaço na frente da garagem que, em teoria, dá para deixar um espaço para a porta da garagem abrir e estacionar um carro do lado de fora. As casas do modelo A, que ficam do outro lado da rua, não tem esse espaço para estacionar na frente da garagem. A rua em si contém também vários espaços para estacionamento público não pago. Quando os problemas com estacionamento começaram, a prefeitura foi acionada e ela respondeu que a vizinhança conta com um cálculo de 2,5 vagas de estacionamento por família, incluindo vagas na rua, vagas em frente à garagem ( oprit ) e garagem. E é aí que a  porca torceu o rabo: holandês NUNCA usa a garagem para estacionar seus carros. Com as casas todas apertadas, e essa mania maldita de guardar qualquer pote velho de maionese, as garagens viram depósitos de cacarecos, enquanto suas BMW’s dormem na rua.

Ontem estávamos em casa montando móveis Ikea, 10 da noite, quando toca a campainha: era o vizinho de frente. Eu abro a porta e ele rosna: dá pra você parar de estacionar na “minha” vaga? Eu, totalmente pega de surpresa, só pude responder: como assim? Aí o cara apontou para o carro dele, estacionado na minha “oprit”, atrás do carro do Bart, bloqueando a possível saída do carro do marido, e espumando de raiva, respondeu: eu estacionei meu carro na sua garagem pra “make a point”, porque você tem espaço aqui mas continua estacionando “na minha vaga”.

*** Pausa para explicação: normalmente eu saio antes do marido e volto depois do marido pra casa, então, na maioria dos dias, estaciono atrás dele, apertada, na tal oprit. Quando o marido ainda não chegou, ou sei que ele vai ter que tirar o carro antes de mim, procuro um lugar na rua para estacionar. Ontem o marido ía levar o carro pra lavar, por isso ao chegar, estacionei na rua, na vaga em frente à casa do vizinho. Só para deixar bem claro, todas essas vagas são públicas, não são reservadas a morador / casa X, é quem chegar primeiro, tasca. Detalhe é que o vizinho tem uma BMW que deixa na rua, e a garagem é cheia de cacarecos, como já expliquei ali em cima. ***

Eu olhei para o carro do sujeito, estacionado ali na minha porta, e só exclamei: ah, você estacionou o carro aqui… nem tinha visto! E não tinha mesmo. Esse cara ficou vermelho, azul, verde, listradinho… o coitado provavelmente ficou pissaroco de ver meu carro na vaga onde ele queria estacionar, juntou toda a coragem que tinha e que não tinha pra estacionar na minha garagem/oprit, ficou esperando sentadinho no sofá a campainha tocar pra ele dar o sermão, e nada… aí ele teve que juntar coragem tudo de novo e ir tocar minha campainha, pra eu dizer que nem notei o “protesto” dele.

Em retrospectiva, eu deveria ter dito pro cara que ele que vá pentear macaco, a vaga é pública, mas acabei dizendo que iria evitar estacionar na vaga dele, mas mencionei que como a vaga é pública, mesmo que eu não estacione, outros o farão. No que o cara ainda mais bravo retrucou que os outros vizinhos raramente estacionam na vaga “dele”, que todos entendem que quem tem casa naquele lado da rua não tem onde estacionar ( porque a própria garagem está cheia de vidros de maionese usados ) e que tem que usar a rua pra isso, que se não há outras vagas, os vizinhos chegam até a tocar a campainha dele pra pedir desculpa por ter que estacionar que vaga “dele” ( o cara quer paparicação? ).

Estou pê da vida comigo mesmo, deveria ter dito isso e aquilo, mas fui pega de surpresa, sou péssima quando sou pega de surpresa. E agora fico remoendo tudo o que eu quero falar pro idiota do vizinho. Vou tentar evitar de estacionar naquela vaga em frente à casa do carcará, mas entre estacionar meu carro em lugar ilegal ou ter o carro do marido me bloqueando de manhã, digo-vos que se a alternativa disponível for estacionar naquela vaga, o farei. E daí, a pergunta que fica: como lidar com o maldito do correio, que sempre entrega minhas encomendas na casa dos vizinhos, incluindo na casa dele? Esse cara vai dançar a polka em cima do meu próximo pacote.

Dessa história toda, duas conclusões: a maioria dos holandeses é louca e TEM QUE IR PRO PSIQUIATRA*, e viver em bairrozinho classe média é mesmo uma merda – duvido que o Bill Gates tenha problemas com o vizinho dele!

(*) Historinha que aconteceu no fim de semana nas terras baixas: crianças estavam brincando na rua e fazendo barulho de crianças brincando na rua. Uma bola caiu no quintal de um sujeito que estava de saco cheio das crianças e seus barulhos. Uma das crianças foi pedir a bola, ele se negou a devolver. A mãe da criança foi lá pedir a bola, discutiram, ele bateu a porta na cara da mãe da criança. A mãe da criança insistiu, o sujeito abriu a porta com um bastão de beisebol na mão e fraturou o crânio da mãe e de mais duas pessoas que vieram acudir. Estão os três no hospital em estado grave. Dia de fúria na vida real!

segunda-feira, abril 2

Adriana, mais pra baixo que uma arrastante larva

Eu não sou de jogar a toalha. Vocês que me acompanham a quase 10 anos sabem que eu tenho mil defeitos, mas há uma coisa que considero uma das minhas qualidades: a persistência.

Estou persistindo no negócio com o Old Fart já há muito tempo. Gente, está acabando comigo. Hoje botei o café da manhã pra fora de nervoso. Sabem o que está me matando mais do que a irritação com esse idiota? É estar a um passinho de jogar a toalha. Desistir não existe no meu vocabulário há anos, vai entrar. Estou me sentindo o cocô da larva que a pulga do cavalo do bandido comeu.

Quarta-feira temos o forecast anual como diretorzão member of the board. O grupo inteiro está trabalhando há duas semanas nos números e apresentações. Pedi pro meu grupo bloquear a agenda totalmente pra se preparar, e passei nervoso a semana inteira vendo esse insuportável fartístico flauteando pra cima e pra baixo. Ele ficou 1 dia até mais tarde, e deu o assunto por encerrado, a apresentação dele estava mais fraca que o primeiro draft de muitos. E ele foi empurrando, e empurrando, na sexta-feira, que era o deadline, ele veio pra empresa, 9 da manhã passou mal, foi embora. Não, ele não estava fingindo, não, não me aborreceu, afinal, ninguém controla um piripaque.

O que me fez vomitar o café da manhã, é que ele veio no sábado terminar a apresentação, e agora quer tapinha nas costas e elogio. Se ele tivesse trabalhado na apresentação como todo mundo fez, não precisaria ter vindo no sábado! Gente, ele fica rodeando, repetindo mil vezes que veio no sábado, pra mim, pra secretária, pro diretor… Morri!

O negócio é que 50% da minha ira é incompetência dele mesmo, os outros 50% é ódio mortal que eu tenho desse sujeito. E é feio isso, um gerente ter ódio mortal do funcionário. Meu diretor vê tudo isso, me pede paciência, ele tem que ficar até o projeto terminar, mas gente, eu não vou aguentar! Meu estômago está em pandarecos, meus nervos fritos… O que fazer?

Estou me sentindo péssima, porque junta tudo: eu me sinto terrível porque se der um ultimato ao meu diretor significa que eu estou jogando a toalha, me sinto péssima porque eu acho que não deveria estar levando o negócio pro lado pessoal, me sinto péssima porque fico remoendo os afrontes desse sujeito.

Esse fulano quer agrado, quer paparicação, quer elogio, e as coisas só vão melhorar, se é que melhorariam, se alguém der essa motivação que ele tanto quer. E isso, meus colegas, não está ao alcance das minhas capacidades.

Naquela pirâmide de Maslow fala que o cara só vai deselvolver o potencial dele se ele conseguir suprir a necessidade dele de elogios ( melhorar a auto-estima ). Gente, a vida desse cara é um caos, como é que eu vou conseguir aqui resolver a meleca de vida que ele tem? Ele reclama que teve que aceitar um salário menor aqui na empresa, está com problemas no banco ( ligam aqui!!! ), mas tem uma pilha de recibos de viagem sem receber de volta da empresa porque ele tem preguiça de fazer a declaração! Já somam-se €2000! Ele se acha o supra sumo de tudo, então não manda o carro dele pro conserto, faz ele mesmo em casa, só que o carro foi reprovado no APK 3 vezes, está sem licenciamento, a polícia pegou, deu multa, apreendeu o carro, ele se atrasou pra uma reunião importante, mas ele é que é o coitadinho. A mulher já o deixou 2 vezes, então o mundo pode estar caindo que ele vai embora as 6:30, tem que jantar em família, e ele só aponta a aliança no dedo e diz que quer manter ela ali ( ugh… too much information ). O caos da vida dele ele traz pra cá e as deficiências da vida dele, ele busca aqui. Não dá!

Que merda!