quinta-feira, dezembro 1

Cabeça de vento

Alguém, pelo amor de Deus, me diga o que fazer quando sua memória está zerada, acabada, escangalhada, órfã de pai-e-mãe!

Decidido: assim que voltar de viagem acharei uma nova médica de família e discutirei com ela essa minha memória, que isso não é normal!

Vou pegar alguma coisa na geladeira, abro-a e... o que é mesmo que eu queria pegar?

Estou dirigindo e no meio do percurso me pergunto... pra onde é mesmo que eu ía?

Há duas semanas descobri que eu achei - jurava de pé junto - que tinha feito a reserva do vôo de GRU a Salvador pela Gol, mas cadê? Não fiz. Acho que olhei os horários, decidi que era aquele mesmo que eu queria, mas sei lá, fui pegar um copo de água e não efetuei a reserva. Tive que fazer reserva com a TAM, que foi bem ruinzinha no ano passado, pagando não tão barato, as 7:30 da matina, mas era o que tinha tão sem antecedência.

Hoje fui imprimir a reserva do hotel em Schiphol e cadê? Gente, isso não é normal! Eu discuti com o Bart se iríamos no CitizenM ou no Sheraton, decidimos pelo Sheraton, mas cadê que eu fiz a reserva? PQP!

Eu sei que o problema com ferro afetou minha memória, mas caracas, já estou com ferro acima de 9 há 6 meses!!!!

Agora estou com muito, muito medo de ter comido outras bolas nessa viagem. Esqueci de mais alguma reserva, tô levando os documentos, tenho calcinhas na mala????

Meleca!

terça-feira, novembro 29

O capiroto tá de oio n'eu

Passei os últimos dois dias enfurnada num centro de treinamento. Muito bom o curso, só não gostei de terem colocado o chefe do chefe na mesma turma, como ir lá, de cara lavada, falar de seus pontos a melhorar, fazer filminho pra analisar linguagem corporal, discutir meu baixo nível de controle emocional numa negociação, tudo na frente do chefe do chefe?

Ando com várias preocupações ultimamente, coisas com a minha mãe; o clima bem tenso na empresa por conta da recessão, já tive meu primeiro caso de falência nessa nova crise, comunicado sexta-passada, ou seja, uma semana antes das minhas férias. Viajo na sexta, nem lavei algumas das roupas que quero levar, a mala ainda está no zolder.

Tem época que a cabeça da gente tá embananada, devagar, e aí vos pergunto: não deixar a peteca cair ou recuar um pouco, descansar a mente, dar-se um pouco de mimo? Óquei, já sei, só yoga salva!

Hoje no curso tivemos que fazer uma lista com nossos pontos positivos e negativos, tudo relativo aos nossos poderes de negociação ( esse era o tema do curso ), e em um segundo minha mente digressou a todos os meus pecados, imperfeições, pés na jaca e urucas afins. Estou convencida de que o Capiroto já tem a lista e está reservando lugar de honra no seu reino para essa que vos escreve.

LISTA DE MOTIVOS PELOS QUAIS A ADRIANA É DE INTERESSE DO CAPIROTO

- Adriana não deu atenção suficiente à encomenda da Kipling da (sua única) sobrinha e encomendou o rosa errado

- Adriana não resistiu ao péssimo hábito de comprar pacotinhos de calcinhas HEMA novinhas para a viagem, só porque elas já vem dobradinhas e ocupam mínimo lugar. As 12 recém compradas juntar-se-ão as outras 42 que ela já possui ( não estou brincando na conta )

- Adriana já trabalha há 15 anos em compras ( olha como eu sei usar o "há") e ainda tem traços de "conscious competence" nos seus métodos de negociação ( googuem aí ), o que quer dizer que ela é praticamente uma burra, e toda a burrice será castigada

- Adriana tem 100 vezes mais vontade de ter um cachorrinho Yorkshire do que parir um bebezinho fofinho (dessa nem o Tim Tones salva)

- Adriana mora a 1500 mt do trabalho, percurso 100% coberto por ciclovia, e mesmo assim vai trabalhar de carro todos os dias, apesar da bunda tamanho 46

- Adriana sissibila, por vezes parece estar falando em "parseltongue"

- Adriana, mesmo que num passado muito ( muuuuuito ) distante, votou no Malufão

- Adriana comeu 8 guiozas na segunda ( Dr. Agatston, me perdoe )

Este caros amigos, é o momento de ficar quieta no meu canto porque tudo está me chateando, tudo está me deixando down. Em 3 dias estarei indo pro sol da Bahia, vou tomar caipirinha de caju e comer acarajé. Depois disso tem colo de mãe ( gagá, mas mãe all the same ), tem família linda, com sobrinhos humanos e caninos, e Natal com pernil assado.

Há que se ter fé e passar uma rasteira no capiroto.

quinta-feira, novembro 24

OldFart véio babão se ferrou

Estávamos agorinha falando do diretor Belga baixinho que passou a exposição brasileira inteirinha babando nas modeletes. Nós, as “moças” dizíamos que era simples, caras atraentes não ficam babando, são babados, e que é realmente “disgusting” esses véios bestas babando as gatinhas, o que é que eles tão pensando, como se a modelete cheia de gatinhos babando nela, vai dar bola pro véio babão.

O OldFart, que é um cu, e é mal educado, e não tem simancol, já tinha me irritado essa semana, ele me disse que eu “preciso deixar minhas unhas crescerem porque é mais atraente”, eu só respondi que o mesmo vale pros cabelos dele ( ele é calvo ). Dessa vez, ele olha bem pra Loirinha Peituda, aquela que 3 meses depois de se casar se separou pra ficar com um cara do departamento 16 anos mais velho que ela ( nota da blogueira: o cara com quem ela agora está morando tem 42 anos mas é muito bonitão, sexy pra caramba ), e manda: ué, o R. ( o novo namorado ) babou a gatinha e levou, é por isso que a gente baba descaradamente, às vezes dá certo!!! ( apontando pra ela, que estava na rodinha )

Todo mundo gelou. Eu achei que ela fosse dizer que o namorado pelo menos já estava divorciado, ou que não era da conta dele ( do Old Fart ), mas ela simplesmente olhou pra ele de cima em baixo, e muito calma perguntou: OldFart, você tem espelho em casa?

Amey!

Nada muda

A nova colega slovaca é filha de uma médica pediatra. Ela está aqui do meu lado horrorizada com o que estão falando pra ela da tal Consultatie Bureau. Long story short, aqui não tem médico pediatra, seu filho tem que periódicamente ir a um centro médico onde ele vai ser pesado, medido, observado e vacinado. Lá tem uma tabela estatística ( não falo aqui que todo médico holandês começa a facultade estudando matemática? ) e se o que é observado no seu filho tá dentro da média, beleza, se não, ele é encaminhado pra um especialista. Parece que é efetivo, apesar de ser uma fabriquinha de mini-holandesinhos, mas quem sou eu, "desfilhada" pra julgar? Meu médico pediatra, o Dr. Cervantes, foi também o médico pediatra escolhido pelo meu irmão pros filhos dele, eu tinha 26 anos quando o Dr. Cervantes pediu pra eu ir no próximo check-up com o Bruno, estava com saudades e queria me ver. Tem preço isso?

E os sobrinhos, que não são mais crianças, me mandaram links pros presentinhos. O sobrinho foi direto num site de informática, tô levando coisa que eu nem sei o que faz. A sobrinha me pediu uma bolsa Kipling e uma calça Diesel. A calça que ela quer está na Bijenkorf por €82, no Brasil custa R$715. Meu irmão, que dever ter sido turco na outra encarnação, já me perguntou se eu não quero levar muambra pra revender pra "amygues" da sobrinha. Salvei a adolescência dela dizendo um sonoro não, pai sacoleiro ninguém merece.

E claro que eu deixei tudo pra última hora, claro que tô desesperada, claro que não vai dar tempo de nada. Claro que já estou macambúzea com a depressão de inverno estamos há uma semana nos afogando na neblina. Zilhões de coisas pra fazer no trabalho, zilhões de coisas pra acertar fora, e essa maledeta cidade onde tudo fecha as 6 da tarde. Hoje vou pra Roermond no outlet, tenho que sair daqui as 4 da tarde.

Tudo vai dar certo, esse ano estou enfrentando o inverno com o meu Little Poney ( nome do meu carrito ), e há esperanças de dias melhores.

Amém.

segunda-feira, novembro 21

Dá pra fazer mesmo em 30 minutos?

Eu adoro as 30 minute meals do Jamie Oliver, mas nunca botei muita fé que daria pra fazer tudo aquilo, sem ter a experiência de chef, em 30 minutos. Decidida a comer uma boa pasta que coubesse na fase 3 da minha South Beach ( integral ), escolhi essa 30 minute meal do Jamie Oliver:



Desde o começo decidi que o pão ficaria de fora, porque não dava pra encaixá-lo na tal fase 3. O fennel ( erva doce? ) da salada também ía ficar de fora porque eu odeio. Então comecei assim:

Coloquei água pra ferver, dei uma limpadinha na área, peguei minhas panelas, frigideira pro molho, uma tigela pra salada. A salada foi a primeira, eu já tinha comprado meus rabanetes sem a folhagem e limpinhos, só fatiei em cima de uma cama de baby folhas. Espremi um limão num potinho pra nós usarmos pra temperar a salada, deixei na mesa ao lado do azeite.

Coloquei a água do macarrão pra ferver, e como o Jamie, coloquei o chocolate da ganache ali no "bafo" e fiquei ali jurando que aquilo não ía dar ponto. O truque da pitadinha de sal no chocolate é tudo, são esses segredinhos que a gente não sabe e outros chefs não ensinam.

Enquanto isso comecei meu molho, meu atum vinha em azeite e não em óleo comum, usei um chili pequenito só ( ele disse 1 ou 2, a gosto ), o alho - me embananei no alho porque não tenho o super esmagador que ele tem e tive que pelar antes, as alcaparras, as azeitonas e as anchovas. Fiquei me pelando de medo das anchovas porque não sou muito fã de anchovas, mas botei minha fé no Jamie. Salsinha aromatizando o óleo ( podia ter colocado mais ), atum, e minha mão se recusou a jogar canela naquela mistura que estava cheirando ultra-bem. Mais uma vez fui com fé nas indicações do Jamie e taquei a canela ( mas fui mais conservadora que ele ). Coloquei a passata, deixei engrossar um pouco. Nesse meio tempo a tal ganache, por um milagre, deu ponto. Servi com morangos e com uns biscoitinhos Atkins ( que ninguém comeu ). Joguei então meu macarrão no molho ( salvei uma metade antes, porque minha porção era só pra 2 pessoas ), arrematei como ele com água do cozimento, tremi na hora mas coloquei o limão, finalizei com mais salsinha e um fio de azeite.

Deu em menos de 30 minutos? Não, deu 32 e eu não fiz o pão. Qual a explicação? Bom, eu perdi tempo ao pelar o alho e demorei pacas pra desencaroçar as azeitonas. A destreza dele na faca não se compara, então minhas salsinhas demoraram o dobro. Mas o que mais "roubou" tempo foi não ter tudo à mão ( tive que procurar o alho, não conseguia abrir as alcaparras...) e principalmente, as limpadinhas. Veja que o Jamie vez por outra dá uma esfregadinha de mãos no pano de prato, mas com a mão cheia de salsinha ele se mete a fazer a ganache, e eu ali só pensando que eu morreria se caísse salsinha na minha linda e sedosa ganache. E eu lavei as mãos depois de abrir o atum, as anchovas, e se caiu salsinha no chão eu limpei pra não pisotear. Então no fim, deu 32 minutos, o que eu achei bem ótimo. Passei no mercado do lado de casa pra comprar os ingredientes e demorei 20 minutos, cozinhei em 32 minutos, foi uma hora entre a porta do escritório e a cadeira da mesa de jantar.

E a comida? Nunca comi pasta melhor, Jesus. É muito, muito, muito bom. A ganache também ficou de chorar. A salada tava simples demais, vou procurar alguma outra pra completar a refeição.

Então, vale a pena? Demais!

California* Dreaming

PQP, que frio.

Já tirei os casacões mais ões do armário, dois deles já estão no hall. Estrangeiro sofre, além de ter que aprender, normalmente na base do erro-acerto, a complicada ciência casaquística, ainda tem que aprender a ciência “penduradora de casacos”. No Brasil nunca tivemos um pendurador de casacos, aqui estou no meu terceiro, e acreditem, foi difícil escolher, tem que ter um número X de ganchinhos, tem que ter um móvel perto pras luvas e cachecóis, um baldinho pros guardachuvas molhados.

E daí, porque eu sou meio anta mesmo, todo ano tem aquele dia do “me ferrei”, aquele dia que você percebe que já deveria ter começado a usar suas roupas de invernão. Esse ano foi um par de sapatos com meia fio 40, vim com um lindo scarpin e meia fio 40 e congelei a manhã toda, até que fui pra casa na hora de almoço pra calçar botas e meia grossa. Aliás, junte aí botas ao menu “essencial” junto com os casacos. No Brasil botas são bonitas e legaizinhas, aqui, especialmente pra quem tem pés ultra frios como eu, é usar ou morrer. ( olha o drama )

Doutora Alice fala da touquinha, e eu vos digo: muita calma nessa hora. Eu não chapinho o cabelo, mas seco e deixo ele bonitinho todos os dias, vou amassar meu penteado com um touquinha inapropriada? Vou deixar minha orelhas desprotegidas e pegar uma infecção de ouvido? Não!!! Há um meio termo, tem várias touquinhas ou chapéus que não escangalham sua cabeleira, eu gosto daquelas touquinhas frouxas, que você fixa perto das orelhas e ela fica meio solta em cima, sem amassar o cabelo.

Meio que mudando o rumo dessa conversa, mas não muito, vamos a sessão confissões, conselhos.

Eu sempre vou viajar no começo de dezembro. Já planejo a roupa do avião: pra aguentar 12 horas tem que ser ultra confortável, normalmente acabo com um jeans, tenis, uma camiseta de manga curta ( pra não morrer ao chegar no meu destino tropical ), uma blusa, casaco. Aí estou eu lá confortável quando chegam aquelas mulheres super bem vestidas, botas de saltos, vestes charmosas, e eu, confortável ou não, fico me sentindo uma marmota. O pior é que eu acho que roupa influencia sim nos upgrades, ano passado eu fui pro aeroporto em SP Com um lindo vestido e sandálias de salto, cabelo esvoaçante e maquiagem, recebemos um upgrade, o cara foi na fila puxar gente pra receber o upgrade, então ele viu bem a “facha” dos upgradados. Coitado, mal sabia ele que eu estava prestes a ir pro banheiro colocar meu jeans e all-star que estava na mala de mão. Agora estou aqui esquentando a cabeça, vou de bota de salto baixo quentinha, nada elegante, jeans, e o que mais povo? Esse ano ninguém vai me buscar no aeroporto de SP, botas e casacão serão carregados pra Salvador e de volta! Já estou me sentindo mulambenta desde já! Sacola! Digam aí, sou só eu que sofro desse mal, o de não saber dosar conforto X aparência?

*Praia do Forte

quinta-feira, novembro 17

Breaking Dawn*

Hoje eu ando me perguntando muito se o que eu acho que eu quero é mesmo o que eu quero.

Uma vez uma leitora escreveu que trabalhava só mesmo para ganhar um dinheirinho porque precisava ajudar em casa, mas que não tinha ambição nenhuma de fazer carreira, de mudar de cargo, de crescer na empresa. Esse comentário deixado num post há anos ainda “haunts” me ( me persegue? ).

Eu trabalho numa empresa que eu gosto, eu fui promovida a um cargo de gerência há pouco mais de um ano, e confesso que nunca esperei que como estrangeira, mulher, fosse chegar a isso, tenho colegas de quem gosto, levo 6 minutos da porta de casa a porta do departamento, ganho bem. Mas, então porque será que hoje estou tão incomodada com meu trabalho? A carga horária que continua pesadaça, o trabalho que muitas vezes não é reconhecido, as mil vezes que eu tenho que sorrir e engolir um sapaço “OldFartiano”, o colega que está indo pra um curso mirabolante em Seattle e eu não, as reuniões que continuam se multiplicando como um virus… Vou falar pra vocês, middle-management é uma bosta. B.O.S.T.A.

O pior é ver que a crise está vindo. A produção já está cortada em um terço e cortar-se-á mais. Hoje abrimos um site de aço e todas as graduações estão mais baratas, sabem o que isso quer dizer? Que tá todo mundo consumindo menos, que tá todo mundo reduzindo suas produções. Na fábrica, os funcionários já estão tensos: será que teremos 2009 novamente? Demissões, sindicato na porta, redução de jornada de trabalho, todos os gastos cortados…

Por isso vos digo, colegas de blog, essa não é a hora de procurar emprego novo, aqui nas Zuropas ou melhor, na Holanda, tem a tal lei-espelho: dividem todo mundo em faixas etárias e o ultimo a entrar é o primeiro a sair. Não é hora de gastar din-din – quem sabe onde o facão vai atacar ( ai meus sais, será que minha viagenzinha pra Kokomo vai pro beleléu? ).

De resto… tudo como dantes no quartel de abrantes. “Vamos” trocar o carro da minha mãe, meu zolder ainda não foi feito, ainda tô gorda, ainda estou estudando holandês, ainda não achei como desligar o corretor de texto ( que virgule era aquela, Anderson? ), mas faltam só 17 dias pra eu jogar tudo pro alto, mandar tudo às favas, e ir molhar a bunda no mar baiano.

Sabem mais o que eu tenho que fazer? Aprender a crasear. Sou péssima em crases e a Paca ( blog pacamanca ali do lado ) voltou a blogar, dessa vez com comentários abertos. Sugestão de post pra Paca: o mistério das crases.

Tcheu ir lá cuidar da vida, que a morte é certa.

*Inspirada pelo filme que vi ontem e adorei, vos digo, tive um momento Breaking Dawn no staff meeting de hoje, o que causou o momento macambúzio no qual me encontro.

segunda-feira, novembro 14

Chorando as pitangas?

Eu não sou a maior fã do site Viaje na Viagem, não porque não goste do Ricardo Freire, muito pelo contrário, mas porque é um site que funciona bem para brasileiros / brasileiros vivendo no Brasil. Com o tempo, me pego questionando se depois de quase 10 anos morando fora continuo me encaixando no perfil para quem ele escreve, e pra falar a verdade, na maioria das vezes vejo que não. As viagens para a Europa que ele descreve ( e que os leitores amam e fazem mil comentários ), são aquelas do tipo “faça 100 coisas num dia em Paris”, e eu não curto esses dias frenéticos em qualquer lugar que seja. Já curti, hoje não mais. As viagens pro Caribe são sempre de 1 semana, o que pra mim é curto demais, não vou me enfiar numa viagem de 10 horas, ficar lá uma semana, e me abalar outras 10 horas de volta pra casa, sem falar que não é “cost-efficient”. E quer nas reportagens dele ou nos comentários, a importância que se dá à compras não faz mais parte do meu cotidiano ( se eu quero um perfume, vou na drogaria da cidade e compro ).

Apesar do que disse acima, ainda leio o site com alguma frequência porque me identifico com ele ( ele ama praias ), e porque sempre dá pra pescar umas dicas legais dos outros leitores.

Essa semana ele abordou um tema que já apareceu repetidas vezes por aqui: porque é que as pousadas brasileiras não colocam tarifário nos sites? A explicação dos donos de pousada pra mim foi furadíssima: eles alegam que não colocam preço no site porque o brasileiro sempre dá uma chorada no preço, por isso não tem como fixar no site.

Agora pergunto, se essa fosse a verdade, não haveria então a oportunidade de já praticar o preço justo, mais baixo que a concorrência, e sempre dizer não aos que tentarem barganhar? Se o preço fosse mesmo justo e mais baixo que a concorrência, hóspedes é o que não faltaria, certo?

Segundo, supondo que haja mesmo a tal “choradinha de preço”, porque não colocar os preços no site 5% mais altos e então abaixar 5% na choradinha?

Pra mim é tudo balela, mas uma pergunta eu queria fazer para os leitores brasileiros: você chora preço, pede desconto, tenta incluir um serviçozinho a mais ( shuttle, jantar, uma massagem ) quando reserva uma pousada pras férias?

sexta-feira, novembro 11

Tudo brilha por aqui

Hoje está um lindo dia de outono. Está frio, mas o sol brilha, reflete nas árvores que estão douradas ou vermelhas, o efeito é lindo. Ontem fui ao centro de Eindhoven jantar com a comadre e aproveitei pra dar uma voltinha pela amostra Glow, que está linda, cheguei a me emocionar quando vi a estação de trem da cidade.

Há já algum tempo que fico pensando em como é que eu fui deixar a beleza de se morar aqui desaparecer? Sim, me incomodam certas impraticalidades do dia a dia aqui na Holanda ( supermercado com horário limitado, lojas que fecham as 18:00, não poder pegar o livrinho da Sul América, ligar pro dermatologista e ir clarear aquela manchinha no rosto… ) mas quando foi que eu parei de admirar o verdinho da cidade, as (poucas) construções antigas, as ruas limpinhas, os fios elétricos subterraneos, os outdoors cuidadosamente planejados, as flores para todos os lados, o centrinho só para pedestres? E óquei que gente deslumbrada com “A Zuropa” é chato demais, mas pô, será que um pouquinho só pode? Meo, sério, quando é que eu ía imaginar que um dia eu estaria morando, trabalhando, sofrendo, aproveitando a vida numa cidade européia?

Eu sou uma pessoa muito chata mesmo. #kickingmyownass

Hoje sairei ainda com luz lá fora ( antes das 5 ) e vou dirigir pra casa admirando o reflexo do sol nas árvores. Colocarei uma roupa bem quentinha com a minha amada UGG-imitation, e vou andar até não poder mais pelas estações da exposição GLOW, com direito a paradinhas entre elas para beber vinhozinho nas barraquinhas, alias disseram até que tem uma barraquinha de “gluw-wijn” ( não sei como se escreve, mas é um quentão alemão igualzinho ao nosso, só que sem frutinhas ). Admirarei minha cidade que é muito bonitinha sim, com ou sem luzinhas brilhantes.

Felicidade maior só se eu descobrir como desligar o maldito corretor de texto desse infeliz outlook 2007.

Bom fim de semana proceis!

quarta-feira, novembro 9

Enquanto isso, no interior do Congo...

Nossa secretária, de quem sou “quase amiga” ( transformer colega de trabalho em amigo aqui é um processo que pode levar décadas ), veio me contar o drama dela.

Aqui no Congo, as mulheres não fazem prevenção do câncer ginecológico  ( o famoso Papanicolau ) todos os anos como no Brasil. Antes dos 30 não se faz, e aos 30 você é presenteado com uma cartinha do órgão público de saúde com “papanicolau voucher”, e você vai ao seu medico para – alegria alegria – fazer um exame laboratorial ( fala baixo que essa palavra é coisa do capeta aqui na Holanda ). Depois disso o voucher-presente vem a cada 5 anos. E se você tiver alguma coisa entre esse periodo? Ué, cê morre, sô. Mas em defesa dos Holandeses, tem uma estatística matemática, com as variáveis X, Y, Z, as circunstâncias A, B e C, e conclui-se que a chance de você desenvolver um câncer, ele evoluir, e tornar-se incurável é coisa pouca, tipo 4% ou algo que o valha. Então, nos anos entre um exame e outro, ao invés do voucher-papanicolau você ganha um santinho com a reza de São Peregrino, que é o santo padroeiro dos doentes de câncer.

Mas voltando à secretária. Semana passada ela fez o tal exame, e como é procedimento aqui, ligou para pegar o resultado. A assistente informou que ela deveria falar com a médica. Na consulta, a médica disse que o resultado estava “anormal”, e que o colo do útero não estava liso como deveria estar. Disse que pediriam mais um exame, e acessariam a situação. A secretária, zonza, nem sabia o que perguntar. A médica não explicou as possibilidades, não elaborou sobre possíveis tratamentos, não tentou apressar o resultado do teste adicional. A coitada da secretária apareceu aqui no dia seguinte, com imensas bolsas debaixo dos olhos, e inchada de chorar: Adriana, e se eu tiver câncer, e se eu não puder ter filhos? Tudo o que eu pude responder foi: “Querida, a gente sempre pensa o pior, mas não pense o pior, eu conheço tanta gente com cistos, vai ver que é algo bobo assim. Mas se você está assim tão arrasada, não sofra, ligue pra médica e vá hoje mesmo falar novamente com ela, esse é o trabalho dela, cuidar da sua saúde física E MENTAL.

A moça ligou e a médica está de férias. Ela não pode receber uma cópia do exame para ir em outro médico, nem para falar com algum conhecido, nem para googar os resultados.

Apesar de ter feito as pazes com o fato de morar nesse país estranho, jamais entenderei esse sistema de saúde da União Soviética Comunista. Jamais me conformarei em ser tratada e ver quem eu gosto ser tratado como um monte de carnes com dados estatísticos anexado ao produto.

Juro, meus gatos tem melhor tratamento médico do que eu. O veterinário do Tyty me aconselhou a dar um banhinho morno nele depois dele fazer xixi na gaiolinha de transporte “pra levanter a moral dele, porque gato não suporta se sentir sujo”.

Veja se a médica da colega tá aí com a moral dela.

segunda-feira, novembro 7

As pingas que eu tomo...

Vocês sabem aquele ditado: só vêem as pingas que eu tomo, mas nunca os tombos que eu levo? Então…

Estou meio de saco cheio de ser colocada de escanteio por ter feito algumas escolhas diferentes das escolhas da maioria. Sort of…

Não ter filhos por exemplo. Foram 100 motivos que me levaram a escolher não ter filhos, mas foi uma escolha mesmo assim, escolha essa que outros não fizeram. Hoje, eu ouço absurdos, alguns só “irritantezinhos”, outros que me deixam muito muito pê da vida.

Compramos dois carros zero no espaço de 6 meses, deixei de comprar móveis caros, deixei de sair pra baladinha em restaurante caro, não comprei roupetas de marca, minha casa continua sem o quarto de visitas, e sim, não tive filhos – não pago crèche, fralda, papinha, whatever. Aqui, o que ouço cada vez que alguém me vê chegando no meu carrinho ( pequeno, motor fraquinho e barato ) novo é: poxa, que beleza ser dink ( double income no kids )… e risadinha irônica… se a pessoa cutuca com a vara curta, eu respondo: é mas eu não tenho a recompensa que é um bebezinho me chamar de mama… ou então… é, eu preferi economizar em fraldas… e normalmente a pessoa fica amarela e me deixa em paz.

Quando voltei da viagem pro Brasil, fiquei irada. Eramos 3 do departamento voltando e alguém tinha que estar presente na segunda, 12 horas após o avião aterrizar, na sala de um dos diretores pra dar um resumão da viagem. Estávamos os 3 chumbados e sem voz, depois de 5 dias falando sem parar com o público da feira, e sabem qual foi o critério? Adriana, você não tem filhos, o Fulano e o Ciclano querem passar um tempinho com os deles. Eu fervi, e ainda tive que ouvir: seus gatos não vão ficar tão bravos…

Agora meu irmão me mandou um e-mail que precisamos trocar o carro da minha mãe porque ela já não aguenta mais um carro sem direção hidráulica. Precisamos mesmo, o carro dela tá velhinho. Mas, eu já mando dinheiro pra prestação do apê todos os meses, nesses 9 anos de Holanda já foram mais de 10000 euros em prestação de apartamento que podia estar alugado rendendo. Vejam bem, meu irmão não está me cobrando nem nada, está perguntando se eu posso ajudar, mas eu já ouvi antes o fatídico “quem faz tanta viagem é porque a grana tá sobrando”, mas a verdade é que são apenas escolhas diferentes, porque ele senta a bunda dele num carro de mais de 70 mil reais, enquanto eu, depois de 9 anos de bike e motinha, acabei de comprar um carrinho de menos de 10 mil euros. E o pior é que eu estou sim me sentindo culpada por dizer não, não posso mandar 4 mil euros pra comprar um carro pra mãe.

É o que eu sempre digo, pra quem não é rico, cada coisa que você escolhe fazer é em detrimento de algo que você gostaria mas não vai fazer.

E se alguém descobrir um jeito diferente que me ensine.

quinta-feira, novembro 3

Networking e Linquedín

Há tempos eu já me admiro da cara de pau holandesa com o tal do networking. Quando eu deixei a GM, eu e meus colegas trocamos e-mails particulares, prometemos nos comunicar para sempre, eu ganhei festinha com presentes, saí de lá me achando. Tudo bem que nos anos seguintes continuei em contato com 4 dos 15 colegas, mas até que o percentual não é mal.

Aqui na Holanda, o povo vai embora, manda aquele e-mail curtinho “bla blabla, foi ótimo trabalhar com vocês, aprendi muito, boa sorte, fui”, e nada de e-mail particular ou telefone. Aí, os que vão de mesa em mesa dar tchauzinho, antes de você ter oportunidade de pedir um telefone de contato, já tascam: a gente mantém contato pelo Linked in.

Linked in, taí o campeão de audiência com a holandesada. Na prática significa: ó, não faço questão de manter amizade com você, mas vamos nos conectar no linked in pro caso de um precisar do outro profissionalmente no futuro.

Networking, esse é o nome do negócio. Nem muito amigo, nem desconhecido, um útil contato.

Hoje, recebi um convite para um simpósio e tava lá: diner and networking, ou seja, o discreto fazer amiguinhos no jantar de negócios já foi escancarado para o “networking”.

Eu, véia que sou, ainda me admiro com essas objetividades todas, e sinto falta ainda do romantismo de achar que seu colega de trabalho vai sentir sua falta, que o jantar depois de um simpósio é só uma confraternização depois de um árduo dia de aprendizado.

E para terminar, povo brasileiro, vamos aprender a falar linked in, vi a americanada tirar muito sarro dos brasileiros na semana passada. Não é  “linquedííín”, o certo é “línk’d in” – com esse d bem suave e nada tônico.

E já que eu falei da mania da holandesada no linked in, deixa eu falar da mania dos brasileiros no linked in, porque é que todos os pedidos de recomendação que eu recebi vieram dos meus contatos brasileiros? Porque é que a brasileirada recomenda tanto uns aos outros? Será que alguém vai lá e escreve: Pedro Termio não é nada inteligente, e apesar de ser bem esforçado, não consegue acompanhar o ritmo de um escritório dinâmico. Na área pessoal, ele é estranho e obcecado com o facebook, checa a conta dele 4 vezes por hora. Só o contrite se for pra aquivista ou analista de almoxarifado”?

quarta-feira, novembro 2

Coisas de Brasil 1

Passeava eu, lépida e faceira pelo Morumbi shopping, quando vi um shortinho jeans na Guaraná Brasil que era a cara da minha sobrinha. Entrei na loja e enquanto eu olhava as cores disponíveis, esperava uma vendedora vir me atender.  Esperei o que eu julguei bastante, me dirigi então a uma mocinha detrás de um balcão. Minha dúvida era bem simples, como eu não conseguia achar a etiqueta do tal shorts, queria saber se a numeração era a normal brasileira ou aquelas americanas, que já estão usando no Brasil em lojas “design” e até mesmo em lojas mais simples como a Levi’s. Eu sei o número da minha sobrinha no normal brasileiro ( 38 ), mas não faço idéia da numeração americana em polegadas.

Adriana: Você poderia me dizer que tipo de numeração sua loja usa?

Mocinha (olha de cima abaixo):  Nossa numeração é meio pequena, e só vai ao 44.

Adriana: Ah, 44, então é a numeração brasileira. Eu ía te pedir aquele shortinho 38, mas acho que minha sobrinha gostará mais de um produto de marca mais conhecida.

É, o Brasil detesta gordos mesmo.

Sabem que eu não sei se o negócio das roupas miúdas é preconceito ou economia de tecido mesmo? Me disseram que regulamentaram o tamanho mínimo e máximo de cada numeração, e para economizar tecido me parece que todos estão produzindo nos tamanhos mínimos, mas ó, tem coisa que é demais. Comprei daquelas meias finas até o joelho da Trifil, e mal chegou no meio da batata da perna, olhei várias vezes pra ver se tinha comprador meinha soquete, ou tamanho infantil, mas que nada, a bicha foi feita pequena mesmo.

E aí, #comofaz? Palank?

terça-feira, novembro 1

Long time no see

Estou de volta.

Fui ao Brasil para uma série de visita a fornecedores e seguida da parte mais importante: a participação da empresa na FENATRAN, feira de transporte, no Anhembi.

Nesses quase 9 anos de casamento sempre volto a SP como turista, então foi bem diferente estar lá a trabalho.

A princípio fiquei bem chocada com o preço de tudo. Sei que aeroporto tudo é caro, mas R$5,60 numa coxinha me parece caro demais até pra um aeroporto. A manicure que em dezembro do ano passado me cobrou R$40 ( também no aeroporto ), esse ano me cobrou R$50. E estava cheio. Um envelopinho de benegripe, R$ 6.

Saí com meus primos pra um japa, uma delícia. Preço razoável, R$ 40 por pessoa num all you can eat, de qualidade bastante boa. Lá comi pela primeira vez sorvete de melão da marca MELONAS, maravilhoso! Melhor de tudo foi ver meus primos bem, trabalhando, estudando, namorando. Infelizmente, por outro lado, tanto minha mãe quanto minhas tias vivem para reclamar que dói isso e dói aquilo, não há outro assunto. Você tenta falar de algum lugar bonito que esteve, de alguma comida gostosa que comeu, de alguém que viu, mas a conversa converge sempre pro mesmo assunto: dores e remedies. Concluí que não há o que fazer, não há como ajudar quem não quer ser ajudado.

Sugeri pra minha mãe que ela alugue meu apartamento para um aparentado que está interessado e tente, por um ano, morar em Holambra. Na minha cabeça isso quebraria esse ciclo vicioso de estar doente, só falar em doença com as minhas tias e ficar mais doente ainda. Ela não descartou totalmente como eu esperava, o que é um bom sinal.

Meus sobrinhos estão lindos, e adolescents. Minha sobrinha já está dando um certo trabalho, quer “ir pra balada”, quer roupa nova, só quer saber da turminha. Meu irmão sofre, porque ele não é mais o centro das atenções dela, mas tudo será uma questão de tempo.

A feira foi a parte mais legal da visita, não que visitar a família não seja tudo de bom. Éramos 20 pessoas, a maioria falando portunhol ou alguma forma de português marromenos, nativos mesmo, éramos 4. Ficamos num hotel bam-bam-bam escolhido pelos Americanos, o Grand Estanplaza perto da Berrini. Acho o Brooklin Novo uma das partes mais bonitas de SP. A feira em si foi ultra cansativa, ficávamos em pé das 13 às 21, debaixo de um calor de 35 graus, de terno. Mas o time era super legal e estávamos muito motivados, foi uma experiência tão incrível que nos últimos 15 minutos do ultimo dia todos os expositores começaram a buzinar os caminhões, nós acompanhamos e vi que muitos de nós, como eu, tinham lágrimas nos olhos, uma sensação de dever cumprido, de ter feito algo muito bem, incrível.

De toda essa experiência tirei várias conclusões.

A primeira é de que o Brasil é sim uma opção viável para se morar, ao contrário do que eu pensava. Mas ali naquela região linda, com um ultra salário, e com direito a férias num lugar mais calmo de quando em quando. Fazia muito tempo que eu não comia tão bem, fomos 3 vezes no Jardineira, uma no Barbacoa, no bar Veríssimo, no bar do Juarez, na Trattoria do Lellis, no Varandão em SBC ( está ótimo! ), no Almanara. E comi “trequinhos” no Viena, na Ofner e numa brigadeiraria do shopping Morumbi. E acreditem se quiserem, com tudo isso, ainda emagreci 1 quilo. Fomos convidados para 2 jogos de futebol, eu fui convidada para uma peça de teatro, assisti a um ballet de rua, no Veríssimo tinha uma banda de jazz, ou seja, uma vida cultural que aqui na Holanda eu tenho que viajar longe pra ter.

Em decorrência do que falei acima, vem também a conclusão lógica de que estou na Holanda por escolha, e não pela falta de. E pensando nisso, veio a vontade de conhecer o país um pouco mais, ir a lugares que ainda não fui, de exercer essa minha escolha de uma forma melhor.

E a nível profissional, fiz muitos contatos, o tal networking. Mas vi que está na hora de eu me envolver em mais projetos internacionais. Não tenho filhos, tenho um marido que sabe que minha profissão exige viagens, é só mandar os gatuchos pro hotelzinho ou achar alguém pra vir limpar o banheirinho e pronto. A rotina do trabalho, além de cansativa, é chata e me faz perder a motivação. Mudar de ares é bom, te faz ver seu jabá com farofa do dia-a-dia de forma diferente.

Agora é trabalhar de sol-a-sol por 5 semanas e… férias! No Brasil! Bahia, aí vou eu!

segunda-feira, outubro 10

O almoço

Ele, todo charmoso e bem apanhando, sentou-se na minha frente e bebemos Lipton enquanto esperávamos o almoço. O restaurante no estádio de futebol da cidade não é nem bandejão nem estrela Michelin, é no geral agradável.

Ele desdobra o guardanapo de papel, aliás sempre admiro esses guardanapos de papel modernos, quase parecem de pano. Mas então, com o guardanapo desdobrado ele limpa a narina direita, depois a esquerda. Nada de enfiar lá dentro, aquela limpada meio-do-caminho. Ele desdobra o papel, vira e dá uma meio assoada. Tudo isso enquanto me conta do irmão que trabalha na Antártida.

A comida chegou e ele redobrou o guardanapo, creio eu que na tentativa de achar um lugar ainda não usado do pedaço de papel, e elogiou o hamburguer com queijo.

Enquanto eu pensava no disperdício que foi minha mãe me ensinar mil vezes que tudo que tem a ver com assepsia nasal deve ser feito no recôndido do banheiro, pra eu vir parar aqui, onde ninguém aprecia ou sequer reconhece meus bons modos, lembrei que ainda essa semana passarei por outro momento eca.

Se eu ganhasse um euro por holandês assoador de nariz em guadanapo de restaurante, tinha já uma casa lindona na praia, e se somasse outro euro por cada holandês que limpa a testa com aquela toalhinha úmida quentinha que dão antes da refeição no avião, tinha uma mercedinha na garagem da tal casa.

quinta-feira, outubro 6

B.O.R.I.N.G.

Eu gostaria de entrar aqui e ter milhões de coisas interessantes pra contar, mas… que vidinha marromenos que eu ando levando.

Não sei se era ilusão de pós adolescente, ou imaginação fértil de brasileiros, ou só leseira mesmo, mas se há 20 ou 15 anos atrás alguém me falasse da vida de uma brasileira gerente de compras na Europa eu ía achar tudo tão glamouroso, tão chique-no-úrtimo, mas a verdade é que minha vidinha tá bem marromenos sim.

Hoje eu acordei super cedo porque tinha que estar na empresa, devidamente enterninhada, as 7:30, e antes de colocar o salto tive que limpar o banheirinho dos gatos, dar comida ( a do gordo separada da do magro ), fazer barra na calça do terninho ( barra tabajara ), colocar o lixo no container e colocar o container na rua ( debaixo de frio e chuva, andando de pantufas pela rua, o que eu sempre jurei que jamais faria ), olhei pra pilha de roupas sujas no cesto e lembrei que tem outra pilha dobrada lá em cima esperando ir pra gaveta e ninguém pra ajudar em nenhuma das pilhas, suja ou limpa. Não deu tempo de tomar café, carreguei uma barrinha do Atkins pra mastigar no caminho, e fui pensando na lista do “to do”: lavar todas as minhas camisas, passá-las ( será que aquele serviço de passar que abriu perto de casa é caro? ) antes da viagem, comprar o presente da Thali e do sobrinho, comprar umas vitaminas pra minha mãe, reservar o hotelzinho, ligar pra minha mãe pra arranjar uma carona, ligar pra amiga pra arranjar outra carona… e o portão da empresa chegou antes da lista terminar.

E daí eu lembrei que quando eu era adolescente e minha mãe falava que cuidar de uma casa é barra, eu falava que eu ía ter uma empregada. Deus tá me castigando!

Na semana passada falei com uma amiga brasileira e ela me disse que invejava tanto minhas viagens, que ela – com casa pra pagar, dois filhos pequenos pra cuidar, financiamento de carro, seguro, escolinha particular – além de não ter os recurso, não tinha nem energia pra ir de férias. E eu só invejando a empregada nova dela importada do paraguai, que parece ser moda em SP agora – que limpa a casa, passa, cuida do filho bebê e de vez em quando até cozinha. Gente, como deve ser a vida de alguém que tem empregada diária? Não consigo nem imaginar…

Bom puevo, guenta aí que logo, assim que eu chegar no Brasil, devo ter posts mais interessantes.

Ah, e só pra registrar dois momentos dignos de menção. Pena o Steve Jobs ter morrido tão cedo. E eu não pensei que eu ía viver pra ver o Brasil, a terra dos magros, proibir anfetaminas.

Fui puevo!

terça-feira, outubro 4

Querer é poder?

Essa semaninha que eu passei em Portugal foi cuidadosamente planejada e veio na horinha em que eu achava que eu ía pirar de tanta pressão no trabalho, e overload, e pânico meu e alheio por todos os lados.

Semana passada eu voltei calminha, e estabeleci um ritmo legal de trabalho, mas já tá degringolando de novo, e eu não quero voltar àquela loucura que estava antes de eu ir de férias. Eu estava nervosíssima, tava chegando a ser grossa com as pessoas sem nem mesmo notar, em casa eu estava sempre o bagaço… Não, não quero voltar praquela vida, mas a pergunta que não quer calar: eu não quero, mas será que posso?

A empresa vai continuar nessa doidera até 2013, quando lançamos um novo modelo de caminhão no Mercado, até lá vai ser esse pega pra capá. Qual a alternativa? Mudar de emprego?

Vem uma nova crise aí, a gente já tá até se preparando, então quem mudra de emprego agora, ano que vem estará com a bunda na janela na hora que a crise chegar, porque cês sabem né, último a chegar primeiro a sair.

Philipona mandou convitinho pra entrevista de novo, via Linked in, agora: quem se arrisca ir praquele barco afundando? A cada ano é uma nova reorganização, cada vez mais reduzem o quadro de funcionários, e antes que venham com aquele lenga-lenga do “Adriana, mas você não se garante?”, digo-vos já que o problema não é a garantia, mas o saco que é passar por aquela novela que a Holandesa passa todos os anos, não sabe pra onde vai, pra que cargo vai, quem sera o chefe, faz entrevista pra manter o próprio emprego, isso tudo é insuportável demais. Um dos poucos benefícios de trocar a vida profissional brasileira pela holandesa é não ter mais que lidar com facão anual, aos quais eu sobrevivi 9 anos aliás – mas nem por isso sofri menos ( ok, seria pior ter sido decapitada no facão, mas mesmo assim a tensão pré-facão é terrível e ver seus amigos desesperados deixando a companhia é também hor-ro-ro-so). Não, Philipona não rola, mas na região, quem mais?

A parte terrível do gerenciamento é que só vem pepino pra sua mão, a parte legal os compradores fazem. E não há muita continuidade, o comprador começa uma cotação, negocia, escolhe o fornecedor, eu agora como gerente só pego pedaços, e sempre os pepinos, de cada processo. Sei lá se tô mais feliz como gerente do que como compradora. Gosto do salário e gusto do assistente, mas de resto… tenho lá minhas dúvidas.

O OldFart continua fazendo oldfartisses, essa semana temos que entregar o fechamento do ano pra finanças, ele nem começou. Eu vou me esquentar? Não… dessa vez registrarei num log que eu fiz minha parte, se ele xexelentar a apresentação dele, tô nem aí.

Tô em crise existencial povo. E semana que vem estou indo pro Brasil. Meninuchos terão que ir pro hotelzinho porque o marido tá com medo de não dar conta do tratamento do Tyty, e sinceramente, dá um belo trabalho… Limpar banheirinho 2 vezes por dia, comida separada 2 vezes por dia, remédio em pílula, pó na comida seca, comida molhada de noite… Ó céus… E eu nem vou poder me acabar no pão de queijo assim que chegar!!!!!

Hoje, se eu pudesse, comeria um saco inteiro de pão de queijo de Minas congelado, feitinho na hora e recheado com requeijão. Me deu taquicardia só de pensar…

sexta-feira, setembro 30

Gordo sofre

Aqui perto de Eindhoven, na cidade de Roermond, há um Designer Outlet ( Roermond Designer Outlet ) que eu visitei, depois de uns 2 anos, novamente. Gente, dois comentários: 1) u lá lá, como tem coisa legal 2) como gordo sofre, porque é que o mundo detesta a nós, fofinhos?

Eu queria comprar sapatos bonitos, bons e confortáveis para a viagem de negócios para o Brasil, e encontrei um flat e um de saltinho, ultra confortáveis na Marc O'Polo, que sempre faz sapatos ultra duráveis, muito confortáveis, mas com um precinho normalmente acima do meu tímido budget. Pra dar uma idéia dos preços, paguei €80 num par de "pumps" ( mocassim? ) e €35 num part de flats, ambos de puro couro, com solas especiais espumadas e borracha na sola ( pra aguentar andar na neve que virá em 2 meses ).

Tem lojas da Nike, Adidas, Puma, olhei camisetas pra levar de presente para o Brasil. A maioria custa o mesmo que a gente pagan a V&D ou na Bijenkorf ( ao redor de €20 ), mas achei boas ofertas a €15 e até a €12. No Brasil, uma camiseta da Nike não sai por menos de R$80, então eu acho que levando daqui é um bom presente, não ocupa tanto espaço e não pesa tanto no bolso. O marido usa muito camiseta da Nike e da Adidas, a qualidade é realmente superior, até mesmo camisetas mais caras, tipo Esprit ou Mexx, não resistem muito bem à nossa rotina de lavadora a tombo e secadora a tombo ( eu não tenho varal ), e Nikes e Adidas duram pacas.

Outra loja que a gente gosta e é bem vantajosa é a Timberland, comprei camisetas a €11, também duram uma eternidade. Tudo bem que nos EUA é ainda mais barato, mas eu estou ( infelizmente ) aqui e não no sol da Flórida.

Entrei na Tommy Hilfiger e na Ralph Lauren baby ( hey comadres, adivinha porque? ) e embora custe bem mais que uma marca boa holandesa, é mais barato que uma Lilica Ripilica no Brasil. Vi mini-jeans da Hilfiger por €55, o que é caro pra uma calça minúscula que vai ser usada 5 vezes, mas no Brasil uma marca boa seria ainda mais cara.

Fiquei alucinada na loja da Creuset, a maioria das peças com 30% de desconto, logo comprarei pelo menos 2 preciso refazer o armário debaixo da escada.

E porque gordo sofre? Porque mesmo que você tenha na carteira €406 pra dar numa jaquetinha de lã Armani, o maior número é o 42, e deixem-me dizer: é um 42 brasileiro, pequetico de tudo. Jeans da Levi's a €20, mas o maior número era o cintura 29, que Segundo meus calculos é cintura 73, que é um tiquico maior que a cintura da minha sobrinha de 12 anos.

Agora preciso da opinião sincera dos amáveis leitores desse blog. Olha que assunto importantésimo. Está rolando os "Três dias loucos" da Bijenkorf e eu vi uma bolsa da Oilily que eu amei. Acontece que eu quero usar essa bolsa para carregar o tablet e o lap pra reuniões em fornecedores brasileiros, e tô meio com medo que seja louca demais pro ambiente profissional brasileiro, sem contar que a Oilily rosa que eu usei no Brasil foi chamada de bolsa de velhinha simpatico 2 vezes. Povo, clica no link e falaí se a bolsa é aceitável pelas bandas daí.

http://www.debijenkorf.nl/page/product_flypage?product=3704020002&fh_session=d34n2vpu8ke3php9cq5idum1n5&tsm=1&fh_maxdisplaynrvalues_brand=1000&fh_secondid=3704020002&fh_lister_pos=1&fh_location=//catalog01/nl_NL/ddd_cat>{drie20dwaze20dagen20aanbod}/categories<{catalog01_20}/categories<{catalog01_20_660}/brand>{oilily}&fh_eds=ß&fh_refview=lister

quarta-feira, setembro 28

Difícil


Quando eu era pequena, nossa família tinha um tabu, um assunto praticamente "intocável": o suicídio da C.

C. era prima do meu pai e irmã da minha madrinha, e há mais de 50 anos engravidou solteira, o pai da criança sumiu. A criança nasceu, a C. continuou morando com os pais e a vida continuou. A filha era ainda pequena ou bebê quando a C. subiu num prédio de São Caetano e pulou, especula-se que ela estivesse grávida de novo. A criança foi criada pela avó como se fosse filha, a menina só ficou sabendo da história da mãe verdadeira já adolescente.

Fora esse caso, nunca soube de nenhum outro suicída no Brasil.

Mudando aqui pra Holanda, em nove anos já conheci 3 pessoas com um familiar que se suicidou.

Há tempos contei aqui do senhor que trabalhava na Bosch comigo, o filho aos 16 anos pulou na frente de um trem nos trilhos bem na janela do escritório do pai. Já fazia 4 ou 5 anos e o pai ainda tomava remédio pra depressão e trazia na mesa um porta-retratos com a foto do filho e uma lanterninha de jardim com uma vela dentro, que ele acendia todos os dias.

Ontem, um dos meus funcionários me pediu um dia livre na semana que vem para um "herdenking": a família se reúne para lembrar do afilhado dele, que se suicidou há 3 anos, também no trilho do trem. É triste ver o estado da família depois de um acontecimento desses, não só pela tragédia ou pela perda, mas ver os familiares chegados, que viam o rapaz todos os dias, se condenando por não terem percebido nada, não terem visto os sinais. Deviam fazer mais campanhas pra ensinar famílias a reconhecer sinais, eu acho que eu também não teria percebido.

Olha que coisa estranha, uma velhinha que mora de frente pro trilho de trem contou pra família que o viu por lá 3 vezes ao menos, andando ao lado dos trilhos, indo e voltando. Ela achou que ele estava pensando em suicídio, mas que atitude tomar, falar com o rapaz, tentar localizar a família? Esse rapaz tinha 29 anos, naquele dia foi com amigos a um jogo de futebol aqui no estádio do PSV, parou num bar com os amigos, tomou uma cerveja, foi de bicicleta até o trilho do trem, acorrentou a bicicleta e fechou o cadeado, ajoelhou na frente do trem, e segundo o motorista do trem, estava com as mãos em posição de prece. O corpo foi encontrado aos pedaços, claro, apenas o cinto e a carteira foram devolvidos pros pais, e após várias semanas da cremação, um vizinho achou um dedo numa árvore.

Eu me pergunto se a depressão é mais frequente hoje em dia, ou se os números sempre foram altos, mas no passado nunca foram levados a sério ou tratados como doença. No Brasil, minha mãe faz tratamento com remédios pra depressão, e quando ela sisma em parar com o remédio, todo mundo percebe porque conviver com ela é praticamente impossível. Agora minha prima me disse que minha tia está muito muito mal com uma depressão terrível, e começou essa semana a tomar remédio. Acho ótimo que hoje tenha-se remédio pra depressão, mas fico com medo de alguns médicos que os prescrevem. A doença deve ser levada à sério, e o uso do medicamento também. No caso da minha mãe e da minha tia, o médico receita 3 meses de remédios, sem uma volta ao consultório. Aí, como faz minha mãe sempre, depois de um mês ela se sente melhor, que é o efeito esperado do medicamento, e pára de tomar, achando que está "curada". É claro que um mês depois ela volta à estaca zero, deprimida de novo. Duvido que com a minha tia será diferente, ouvi que "não vou ficar tomando remédio de maluco pro resto da vida". E esse médico que não explica que a depressão não é uma inflamação de garganta, que se medica, ela sara, e volta a acontecer tempos depois? E esse médico que não explica que depressão é uma doença séria e não "coisa de maluco"?

Ai credo, que assunto né?