quinta-feira, fevereiro 28

R.E.V.O.L.T.A.D.A.

Deixa eu contar um pouco da minha perspectiva de "como é viver num país socialista".

 

Ontem um colega brasileiro comentava as maravilhas européias, transporte público bom, escolas bonitinhas, etc etc e etc. E sentenciou: olha que beleza as coisas num país onde não tem roubalheira. Verdade, caro colega, ajuda, mas a razão da belezura toda é bem outra: colega, você paga a maior taxa de imposto de renda brasileira que é 27.5%, eu pago 52%!

 

Sexta feira recebemos nosso salário adicionado do bonus de participação nos lucros da empresa. Como é pago ao mesmo tempo, 52% do meu bonus vai direto pro Leão. É injusto.

 

Na Holanda, é pecado mortal, passível de punição severa, merecível de torturas bárbaras, ganhar um pouco a mais que o "Jan Modaal" ( Jan Modaal é a personificação do cara que ganha o salário médio, que oficialmente é €33 mil por ano, que dá uns €1700 líquido por mês ). É pecado ir pra um hotel cinco estrelas de férias enquanto metade do país só tem grana pra acampar, eu só queria que alguém viesse aqui na empresa e checasse quem está aqui as 7 da noite, talvez eu deva colocar filminho no youtube do nosso Jan Modaal, apelidado de Forest Gump, que bate o ponto as 15:30 e corre, literalmente, casaquinho flutuando ao vento, pro carro pra evitar a fila que se forma no portão da empresa nesse horário – a fila dos Jans Modais. No Brasil a gente diria: vê as pingas que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo.

 

Um dos meus funcionários, assim como vários colegas e mesmo as amigas, reclamava que ele e a esposa vão ter subsídio ZERO na crèche da filhinha recém nascida de acordo com a nova lei. Com dupla renda, merecem duplo castigo. Por outro lado, meu funcionário Jan Modaal é casado, a esposa tem "depressão" e não pode trabalhar e ganha salário desemprego. Ela fica em casa o dia inteiro, mas tem que fazer tratamento psicológico duas vezes por semana, e não tem condição mental de cuidar dos filhos, logo o mais velho vai pra escolinha e o novinho vai pra crèche meio periodo todos os dias – enquanto ela fica em casa "deprimida" – e a família tem reembolso de 80% da crèche. E tem reembolso de €70 euros por pessoa no plano de saúde, e tem reembolso de aluguel. No fim do mês, o Jan Modaal tem livre €1000 na conta; que é o mesmo que meu colega do lado tem livre, com a diferença que ele tem mestrado, trabalha 50 horas por semana, praticamente todos os dias chega em casa tão tarde que a filha já está dormindo, e a esposa está já se preparando pra voltar a trabalhar.

 

Eu, sinceramente, vejo socialismo só da divisão de renda, na divisão de trabalho – ha ha ha, faz me rir.

 

É demotivante pros jovens, e é por isso que a Holanda há anos tem que importar mão de obra especializada – diga-se: com grau universitário. Aqui na Empresa acabamos de contratar um Mexicano, em abril começam uma Taiwanesa e uma outra brasileira. Fiz pessoalmente entrevistas para as vagas de "recém formados". Hoje em dia, pra atrair esse pessoal holandês recém formado, além de um salário legalzinho, você tem que prometer celular da moda, laptop fantastico, mil viagens de trabalho, e chegaram até a perguntar se ganham carro da empresa – benefício normalmente dado a empresas de consultoria, que dá o tal carro porque o funcionário está sempre indo de cá pra lá em clientes, e normalmente o salário dessas empresas é abaixo da media – meio que pra compensar o benefício do carro. Mas então… é difícil achar aquele candidato com vontade de pegar no batente, de ralar mesmo…

 

Essa taiwanesa que vai trabalhar conosco vem de uma das nossas empresas nos EUA. Durante a entrevista, havia um "gap" de 8 anos entre o fim da escola básica ( o colegial taiwanês ) e a faculdade. Ao ser perguntada, ela não se vexou: ela vem de uma família camponesa que não podia pagar faculdade pra ela, ela foi então pra Taipei, trabalhou 8 anos pra juntar o dinheiro pra faculdade. Quando começou a faculdade, era 8 anos mais velha que todos os outros alunos, e de uma classe social inferior, por isso a vida social dela foi limitada e ela estudou dia e noite. O resultado foi uma bolsa pra fazer MBA nos EUA e foi assim que ela acabou entrando na filial Americana. O chefe holandês e a moça do RH não cansam de repetir a história dela, porque aqui, pra holandesada, é uma história fantástica, ninguém aqui faria isso! Ou melhor, deixa eu criar um loop na generalização, poucos fariam isso. No fim, estudando ou não, trabalhando ou não, todo mundo acaba com mil contos na mão. Ha ha ha, novo motto holandês.

 

E já que já estou reclamando mesmo… Não vou usar praticamente benefício nenhum do governo holandês, mas pelo menos minha aposentadoria vai ser uma belezura… ERRADO! Pensam que minha aposentadoria está incluída nos 52% de impostos que eu pago? Necas de catipiribas. Em cima disso, ainda pago 8% de fundo de pensão, vai somando aí quanto dinheiro do meu salário eu não vejo. E como se não bastasse, esses 8% aparentemente não serão suficientes para garantir 75% do meu salário médio de aposentadoria, logo eu pago uma pensão "complementar" que dá uns 3% do salário. E, pra embelezar a situação, sei lá quem decidiu – vai ver foi a rainha antes de pendurar as chuteiras – que os fundos de pensão fizeram merda com aplicações financeiras em 2008-2009 e agora todo mundo tem que "doar" 6% do seu fundo de pensão pro Sinter Klaas. Sem choro nem vela.

 

Bom, tá aí, minha revolta. Daqui pra frente saibam: socialismo de ** é ****. Sou capitalista ferrenha, defenderei "cada um que cheire sua merda", ao invés de sempre ser forçada a cheirar a merda dos outros. Casa social? Taca fogo. Creche? 300 contos de desconto por cabeça, independente da renda, não pode pagar crèche, adote um cachorro.

 

R.E.V.O.L.T.A.D.A.

 

quarta-feira, fevereiro 13

Xitiplé ( onomatopéia de chicotada )

Eu sofro de depressão de inverno. Eu entretanto não acredito em depressão. Sempre que ouço as pessoas atribuindo tragédias pessoais à depressão, penso – nhé nhé nhé mi mi mi. O que eu chamo de depressão de inverno é na verdade uma extra sensibilidade às perrengas no dia-a-dia,e  coisas que eu tiraria de letra quando o sol brilha e tudo parece mais legal, arrasam comigo nesses meses frios e cinzas.  

 

Não vou, e repito, NÃO VOU, sentar e ficar “mimimizando” as mazelas da minha existência, me dou 10 dias pra sacodir a poeira e dar a volta por cima; ou vou pra médica pedir um anti-depressivo. Simples assim.

 

Em março tenho minha revisão de plano de carreira, tenho que preparar uma documentação de mais de 40 páginas. Comecei a fazer isso na semana passada e nesse “estado de espírito” só faltei chamar meu diretor e a empresa de fubangos xexelentos malemolentos dos infernos. É o exagero da tal depressão. Mas vejam meu ponto de vista:

 

-          Sou formada em Comércio Exterior, meu cargo exige que além das funções gerenciais eu seja gerente de conta de um fornecedor, e adivinha? O meu é um dos 3 fornecedores HOLANDESES do grupo;

-          Fui promovida a gerente há 3 anos, e ainda não fiz o curso de formação de gerentes da empresa em Seattle – a desculpa é que por causa do projeto meu tempo é mais bem aproveitado aqui do que uma semana no tal curso, mas enquanto isso sou em pastando pra gerenciar o Old Fart sem saber como

-          A empresa anda caçando no Mercado profissionais com experiência internacional; eu venho da Mecca automobilística em globalização, já apresentei 2 projetos de desenvolvimento na China, e nas duas vezes a resposta é a mesma que a do curso em Seattle: a essa altura do projeto, seu tempo é mais valioso aqui do que na China

Isso tudo está me deixando cada vez mais frustrada com o dia-a-dia do meu trabalho, é sempre a mesma coisa, e nos últimos 2 anos, 80% é coisa que eu não gosto de fazer, ou digamos, que eu faço mas não é meu forte.

 

Ontem eu estava macambúzea de ter que voltar ao trabalho depois de 4 dias de bem-bom. E somado à isso, marido e eu ainda não concordamos com nada pra casa e vivemos empacados, a casa feia por acabar. Eu de saco muito cheio, novamente amplificado pela depressão, esbarro no novo programa da Oprah, dessa vez visitando a India. E ela mostrava a casa dessa família, um casal com 3 filhas morando num cômodo de 3 X 3. Chorei cântaros, a menininha falando que é sim feliz, que a vida dela não era difícil, tinham comida, lugar para dormir, ela ía à escola… E eu ali, de chororô por causa dos lustres da sala… No fim a Oprah acaba a matéria perguntando: quanto a gente realmente necessita pra “viver”?

 

Adriana, o que você precisa pra viver? Cortininhas Luxaflex? Uma barra de Lindt? Me senti pequena, povo, muito pequena…

 

Hoje vou ao salão de bronzeamento, ver se os raios UVA/UVB da maquininha me ajudam, se na semana que vem não tiver dado resultado, remédio goela abaixo, porque ficar empacando minha vida, ou pior, tomar decisões erradas por causa de depressãozinha de inverno não é comigo. Depressão, mimimi, a gente trata assim, na chicotada.

 

quarta-feira, fevereiro 6

Deliberações de quem está esperando uma reunião começar

No facebook esse semana, acompanhei uma conversa onde um dos “postantes” dizia: não gosto de compromisso financeiro, não pago hipoteca, não pego empréstimo, nem carro tenho. Não sei se admiro ou me espanto com gente assim. Não sei se era o caso da pessoa, porque não a conheço, mas nos outros casos que vi, eram normalmente pessoas que trabalham porque precisam da grana, claro, mas não são “carreiristas”, se é que você me entende.

 

Se por um lado fico pensando na liberdade que é ter suas possessões materiais facilmente acomodáveis numa mala de bom tamanho, uma conta bancária com total liquidez, e o completo desprendimento de qualquer outro compromisso financeiro; por outro lado não entendo a falta de preocupação financeira com o futuro – tão inerente ao ser humano com seu senso de preservação. E também não sei se entendo o desprendimento do “ter que ser dono da própria casa”. Na família do meu pai tivemos parentes que tiveram muito dinheiro e viviam de aluguel, diziam: comprar uma casa e se prender pra que? Estou muito bem na minha casa alugada, quando me cansar, alugo outra. Eu era adolescente, e achava um conceito legal. Anos mais tarde eles perderam tudo, a única coisa que tinha foi um apartamento que nos bons tempos, por capricho, compraram para os pais idosos.

 

Anyway. A conversa ía, coincidentalmente, sobre comprar e manter um carro. A pessoa em questão dizia que estava farta da NS, empresa de transporte ferroviário holandesa. Usei o serviço intensamente por quase dois anos, e seu apreço pela empresa tem fases. Para nós, no começo, é de deslumbre. Os trens, comparados com os brasileiros, chegam razoavelmente no horário, digo razoavelmente porque uns 90% deles estão milimétricamente no horário, mas aqueles 10% que atrasam te deixam plantados numa estação fria, te fazem andar de cima pra baixo de um trilho pro outro, ou simplesmente te deixam lá, sem informação, ou com a informação de que aquele trem foi sumariamente cancelado e o próximo só dali a 30 minutos. Isso com o tempo vai te irritando, te irritando… Os trens são razoavelmente confortáveis, pra mim que pegava praticamente na estação inicial e descia praticamente na estação final, era ultra confortável, sempre sentava, com aquecedorzinho, ótemo; mas muitos que pegavam o trem nas estações intermediárias tinham que ir de pé. E você tem sim que conviver com muita gente sem noção; senhoras escandalosas conversando aos berros, adolescente tocando música alta no telefone, os infelizes com malditos fones de ouvidos zumbindo ao seu lado; neguinho falando alto no celular a viagem inteira… Sem falar os fedidos, os embriagados, os drogados, o povo com criança sem educação…

 

Eu concluí que até congestionamento é melhor que trem, se você vai usá-lo todos os dias. Começa pela observação de uma das comadres: é porta-a-porta, você sai cheirosinha de casa, chapinha em dia, perfume e maquiagem bombando, e chega no trabalho no mesmo estado. Chuva tem pouca importância pra você. Neve quer dizer raspar os vidros, mas é fácil. E de resto, você está sozinho no seu carrinho quentinho e sequinho, sentadinho confortávelmente, ouvindo Adelão e tentando cantar junto, carrega o que quiser com você… Não importa se for um fusquinha 66, sua vida ganhará uma nova dimensão nessa terrinha no dia que você se motorizar.

 

E conversávamos sobre isso no trabalho quando um dos colegas holandeses, que já morou em SP observou: engraçado o brasileiro, o paulista, na terra dele ele usa o carro pra tudo, não chega nem perto do metro ou ônibus, e na Europa adora usar transporte public. Expliquei que é simples, metrôs como o de Londres, Paris, são o sonho do brasileiro, organizado, abrangente, prático, confortável.

 

Eu, confesso, tenho um fraco por bondes, onde tiver bondinho, lá está a Adriana. Adoro os trams de Amsterdam e em Lisboa fiz a festa, até no bondinho rouba-rouba eu andei.

 

 

segunda-feira, fevereiro 4

Oi, breque de boi! ( expressão paulista que não quer dizer nada )

Dir-vos-ei, fiéis leitores, fazer dieta é uma merda, não importa qual.

Não tô falando de dietinha de quem quer emagrecer 10 quilinhos, tô falando de dieta messssmo, de gente gorda messssmo.

Praquele que diz que essa dieta ou aquela dieta dá mal humor ou cansaço: todas dão! Gorducho tá acostumado a acordar e comer dois pãezinhos de padaria, com manteiga, moçarela, presunto, daí o Vigilantão – que garante que você pode comer de tudo – te deixa comer meio pãozinho sem miolo com uma milimétrica camada de Philadélphia Light ( ou requeijão zero, que me disseram que no Brasil agora tem ). Me digam, como não ficar de mal humor?

O fato pra mim é, não importa se você vai cortar carbs, se você vai contar pontos, se você vai tomar shakes, meu corpitcho se rebela com qualquer restrição. E a dieta-não-dieta da Paca também não tem futuro: se eu for comer o que quero e pronto, só comeria pipoca e double chocolate cookies pro resto da vida, e muitos, minha gente.

Então que, no meio da Dukan, fui de viagem a trabalho pra Alemanha. E vou aproveitar o gancho pra parar de falar de dieta, que isso é assunto de gente chata ( pior é o gordo-dieteiro que fica narrando a perda de peso dia-a-dia ).

Todas as vezes que vou pra Alemanha, amo as cidades que visito. E olha que nem todas são turísticas não. Dessa vez chegamos em Munich, que é linda, maravilhosa, fantástica; e fomos em direção à fronteira rumo a uma cidade chamada Deggendorf. Nos hospedamos ali, passeamos pelo centrinho da cidade – lindinho, parecia uma pintura – jantamos muito bem. No dia seguinte fomos montanha acima para a cidade de Zwisel, onde fazem os cristais famosos. A temperatura vai caindo, muita neve, e emoção: vi meu primeiro ski-lift! A cidadezinha é bem simpática também, pena que nosso “tour” tenha sido perdidos, com um dos colegas teimando em não usar o TomTom ( coisa de homem, claro ).

Preciso um dia pegar um carro e fazer a Rota Romantica pela Bavária.

E, pra não perder o costume, sabem qual foi a última do Old Fart? Ele estava falando de uma negociação, que o fornecedor “levou dele até as calças”, um colega brincou “ah, mentira, você ainda está de calças”, e ele sem pensar um minuto abriu as calças e jogou as calças no chão, ficou aqui no meio do departamento de cuecão samba-canção. Claro que isso aconteceu quando eu não estava aqui, mas ao menos 5 pessoas viram. Agora pergunto-vos: esse senhor tem algum problema psicológico ou não?