terça-feira, julho 31

Carambolas, onde tem paciência pra se comprar?

Você quer trabalhar na Holanda? Então deixa eu te dar umas dicas.

Metade do país é “horácio”, manja o braço curto? Vai morrer se esticar o dedinho um pouco pra fazer o que não é serviço direto dele. E se você, que não é braço curto, fizer a cagada de tentar ajudar em algum assunto, o mico vôa pra sua mesa mais rápido que dizer “Zip me up Scottie”.

Já ouviu falar em “save face”? O holandês vai ir às profundezas do buraco negro pra “save face”, ou seja, pra não pagar um carão. Assumir que cometeu um erro, que esqueceu de algo? Jamé de la vie, ele vai arranjar mil e uma desculpas para não dizer “pisei na bola, desculpaê”.

Eles acham que o mundo tem que parar se eles ficam doentes. Temos um fornecedor holandês, empresa familiar, o dono tem uns 60 anos, foi operado há 6 semanas e deveria estar fazendo repouso, mas como pegou esse projetão na minha empresa e a empresa dele atrasou horrivelmente o projeto ( manja empresa que quer dar o passo maior que a perna? ), ele está lá na fábrica, no chãozão mesmo, ajudando a soldar, a cortar vergalhões de aço. Cada vez que eu ligo para checar o status do projeto, ele me repete a ladainha: estou me recuperando duma cirurgia, devia estar fazendo repouso, estou com dores, e mesmo assim estou fazendo o supremo esforço de tentar cumprir o contrato que eu assinei com você. E aí você pergunta: esse cara não tem um “second in command”?

Aí entra a lição numero três de como trabalhar com os brejeiros. O dono da empresa tem um filho que é sócio dele, um gerente de fábrica, um gerente de qualidade que é ex-funcionário da minha empresa, mas infelizmente nós ousamos desafiar a deusa furiosa das férias de verão, e se alguém trabalhar, vai queimar no fogo do inferno. O cara, doente, concordou em deixar esse povo todo ir de férias, não dava pra negociar um periodo alternativo com pelo menos um deles? O detalhe é que essa zique-zira já é conhecida desde abril, ou seja, não é que neguinho foi pego de surpresa.

E a próxima lição. Aí o senhor começa a fazer beicinho no viva a voz, diz que está emocional ( ik ben emotioneeeeel, echt emotioneeeeeel ) e a holandesada do lado de cá quase chora junto. Éramos 4, os outros 3 só no “coitadinho”, eu – que tenho um trabalho a fazer – respondi: vamos lá senhor fulano, vamos achar uma solução, dá pra trabalhar segundo turno, dá pra produzir no final de semana, dá pra  contratar transporte com dois motoristas pra Espanha? – e o cara enxugou as lágrimas e disse (depois de repetir que devia estar em repouso) que ía lá falar com os empregados pra ver se eles concordam em vir no sábado. Quando deligamos estavam todos olhando pra mim como se eu fosse o capeta, eu sai da sala mas fingi que ía tirar uma xerox do ladinho e ouvi o véio de um outro departamento: meu deus, não tem consideração essa aí, esses estrangeiros não tem consideração por ninguém… mas isso é agora o que a empresa quer, desde que foi comprada pelos americanos ( em 1996! ) só esse tipo de gente sobe aqui…

Na boa, fazer negócios com empresas pequenas e médias holandesas é uma bosta. Fuja! É sempre assim, tudo muito amador, tudo muito pessoal demais. Podem falar do que for dos alemães, mas quando eles pisam na bola, ligam pra informar já com um plano B, com tudo organizado, não tem tarde, não tem fim-de-semana, não tem férias.

Ai meus sais… Já me chamavam de “Iron Lady”, agora serei “the Iron Bitch”, se é que já não me chamam disso a muito tempo…

segunda-feira, julho 30

Xing Ling

Bom, já disse no post ali abaixo o quanto eu confio desconfiando dos Xing Lings da vida. Pode parecer preconceito, mas eita que tudo é muito estranho com esse povo.

Esse ano vamos comemorar 10 anos de casados, em Dezembro, na Tailândia. Queríamos praia, eu queria muito algo novo, diferente dos nossos all-inclusives onde tudo é mastigadinho pra você. A Tailândia se encaixou direitinho.

A começar que queríamos voar com mais conforto, e achamos uma empresa Taiwanesa muito bem recomendada ( EVA AIR ) que tem tarifas muito boas para business class. Pesquisei semanas a fio, e decidi por concentrar nossa estada em duas regiões - a ilha de Koh Samui e a cidade de Krabi, seguido de 3 diazinhos em Bangkok. Eu queria que pelo menos um dos hotéis fossem especiais, e o de Koh Samui é um hotel típico tailandês onde teremos uma piscina privativa. O segundo é um Sheraton - era o mais prático, fica perto de vários restaurantes "de rua". Na Tailândia não existe o esquema de all-inclusive, portanto estaremos "por conta".

As reservas dos hotéis fiz na TUI da Alemanha via minha agência de turismo aqui em Eindhoven ( ARKE ), assim como a compra da passagem internacional, tudo saía mais barato. Na hora de fechar os vôos locais, tentei fazer tudo via ARKE, mesmo pagando mais, e foi conveniente. Sobrou o último vôo, de Krabi a Bangkok, e tive que fazer sozinha pois era por uma cia aérea que a ARKE não cobre.

Entrei no site, achei o vôo que eu queria, entrei os dados, os dados do cartão, pediu o secure code do banco ING, eu entrei, e na última tela o sistema congelou, deu tilt total, ficou branca e eu não sei o que aconteceu com a transação. Liguei pro banco ING, eles disseram que a transação por parte do banco foi aprovada, a Thai Air tem 15 dias pra concluir a transação, pois ainda não o fez. No site inteirinho da Thai não tem um mísero telefone pra eu ligar e ver se a transação foi concluída, depois de muito pesquisar, achei um telefone na Bélgica. Liguei e a mulher me disse que se eu não recebi um e-mail é porque a compra não foi concluída. Eu fiquei traçando meus passos pra trás e fico me perguntando: e se eu digitei o e-mail errado? Fui verificar e não tem double-check ( dois campos para você entrar o endereço de e-mail, os dois tem que bater ). Resumindo, vou ter que esperar até dia 19 pra ver se debitam meu cartão ou não. Sei que são só 200 euros, mas e se eu for lá e comprar as passagens tudo de novo e ficar duplicado? E se eu não comprar as passagens e o mundo inteiro decidir ir de Krabi para Bangkok exatamente naquele dia?

Estou rezando pra esse não ser um presságio de que vamos nos danar com essa viagem "mais independente", e ao mesmo tempo estou me borrando de medo desse mundo de vôos locais ( voaremos 3 trechos com empresas xing-lings ), de todos os taxis que teremos que pegar porque não temos transfers, tudo sem entender nem o alfabeto e números dos caras.

E que Buda nos ajude!

Quantos amigos você tem?

Acho o Facebook fenomenal. Como achei o Orkut. Encontrei gente que não via ( ou sabia notícias ) há décadas, literalmente. Parentes distantérrimos me encontraram, amigos de infância, conhecidos espalhados pelo mundo. E as fotos? Que delícia ver como está todo mundo, mais delícia ainda ver aquele seu ex xexelento gordoto e careca ( atire a primeira pedra ). Enfim.

Os meus amigos no facebook são predominantemente brasileiros da mesma faixa etária que eu. Tem também holandeses, outras nacionalidades variadas, alguns mais velhos, alguns mais novos, mas não são a maioria. E deixa eu contar algumas coisas que me encafifam.

Como tem brasileiro de 40 se comportando como se tivesse 14! Gente, o tanto de gente reclamando de amigos falsos, de gente invejosa, de colegas trapaceiros, e eu quando leio penso o seguinte: se você tem mais de 16 anos e tem amigo falso, a culpa é sua querida! Aos 40, gente falsa, invejosa, trapaceira, já não existe no meu mundo, ficou pra trás, ô joga fora no lixo ( como diria Sandra de Sá ). Não tenho hordas de amigos, tenho pouquíssimos e ótimos, coisa que aprendi com o tempo. Aliás, isso é coisa que qualquer “cerumano” inteligente chegando nos 40 aprendeu, é ou não é? Ou será que brasileiro gosta mesmo é de um dramalhão? Fulana comentou que bonitinha sua sandália rasteirinha da Dakota e a pessoua já tá achando que a colega tá secando pimenteira, botando olho gordo, vou tropeçar e quebrar a perna, bate na madeira mangalô perna de pato.

E a tropinha do meme? Carambolas, neguinho cola uma foto do vizinho, uma frasezinha de efeito qualquer, dá um nome famoso ao suposto autor, e pronto, a babaquice é curtida e recurtida mil vezes. Quantas milhares de frases supostamente da chatérrima e deprimentérrima Clarice ( né, Alice? ) Lispector você já não leu? E da Martha Medeiros? E do Charles Chaplin? E da Marilyn Monroe? E do coitado do Chico Xavier?

Eu acho que todo facebookiano é voyeur, ama ver fotos e saber da vida dos miguxos e fuçar na vida dos menos miguxos. E quem aqui não é stalker de ex? Sou assumida. Estranhíssimo ver os caminhos que eles tomaram, sempre me pergunto se tivéssemos permanecido junto, teria sido diferente? Um que já era feio está medonho, o coitado. Um que era lindo de morrer está com uns 180 kg – sério, uma pena porque até o rosto charmosérrimo está todo distorcido, e olha que eu gosto de um homem gordinho ( ele não está gordinho está obeso ). O namorado que mais me fez sofrer não mudou muito – sim, requenguela que sou estava querendo mais é abrir as fotos e vê-lo gordo, careca, perneta mas ele está levemente calvo, ainda passável, praticamente o mesmo peso da adolescência, mas surpresa – surpresa – não o acho mais bonito como eu o achava, e engraçado, todo mundo me falava que ele era vesgo e eu não conseguia ver onde, e povo, ele é vesgo!!! Ah, os olhos do amor… O que me dá pena é que ele tinha tanto potencial, mas acabou se contentando com tão pouco. Culpa de uma mãe ultra controladora, imaginem que ele passou no vestibular pra fazer direito na USP, mas a mãe o convenceu que era besteira, longe demais, puxado demais, que fazer direito São Bernardo já tava bom (!!!)… e esse tom de “já é bom o suficiente” parece ser o “motto” da vida dele. No geral, esses “exes” levam vidas que eu não gostaria de estar levando, têm obviamente prioridades da vida que estão muito longe de ser as minhas. Deus realmente escreveu certo por linhas tortas.

terça-feira, julho 24

中国上海市天钥桥路30号美罗大厦16楼

A Márcia comentou essa semana sobre o filme Food Inc, que eu assisti assim que ele ganhou o oscar há uns anos, foi televisionado na Holanda em dobradinha com um programa do Jamie Oliver sobre a produção de ovos na Europa. Eu fiquei tão impressionada que desde então tento só comprar carnes e ovos orgânicos – pra falar a verdade, só carne de boi que eu ainda não consigo comprar orgânica, só carne moída. Mas a moral do filme e do programa do Jamie é a mesma: se o produto custar muito barato, não compre!

Interessante que é exatamente o oposto do que todo mundo faz, não é? É só um supermercado anunciar um frango a 3 euros e todo mundo sai correndo pra comprar, ninguém se pergunta, como pode uma ave ser criada, abatida, conservada, empacotada, transportada com refrigeração e chegar às prateleiras por 3 míseros euros.

Nessa linha de pensamento, se for muito barato não compre, falo sobre os produtos chineses. Estou agora na minha área de trabalho investindo em me especializar com compras na China, e gente, é chocante.

Minha área é a de plásticos, um dos materiais que, mal empregados, tem um grau de toxidade que pode ser ultra prejudicial pra saúde, se não fatal. Existem plásticos que precisam "respirar" antes de ser moldados porque liberam gases venenosos, outros que depois do primeiro uso começam a se decompor, outros que jamais se reciclam… escolher o plástico ideal pro que você quer usar é uma ciência complicada, pra poucos! Um exemplo, essa garrafinha de água que você compra no mercado e continua usando por semanas, enchendo todo dia, ela foi engenheirada, na Europa, para durar 5 vezes a vida útil, ou seja, depois da quinta vez que você usou a garrafinha, ela começa a liberar partículas que vão, na água, pro seu sistema. O produtor da água não tem responsabilidade alguma pelo mau uso que você faz, ele só precisa indicar na embalagem que depois do uso você tem que descartar a embalagem ( símbolo de um homenzinho jogando algo no lixo ) e que pode ser reciclada. Você escolheu ficar usando a garrafinha por semaaaanas? Problema seu.

A mesma coisa é esse povo que fica inventando o que fazer com embalagens vazias, todo mundo achando que tá abalando bangu reaproveitando embalagens. A reciclagem mais responsável e eficiente é você entregar a embalagem plástica para um profissional de reciclagem, aqui na Holanda os containeres laranja, o resto é pataquada pra parecer ecologicamente correto, uma bobagem sem fim.

But I digress. Estava falando da China. Gente, pelamor, fuja desses produtos do 1,99. Se vocês tivessem a menor idéia de como são feitos! Mas Adriana, a Mattel terceiriza a produção na China, qual a diferença de eu comprar uma Barbie oficial e uma genérica? A Mattel é uma empresa ISO / TS ela é auditada anualmente e tem que exigir dos fornecedores em qualquer parte do mundo padrões mínimos de qualidade ( uso de material não tóxico, sistema de produção monitorado, tintas e tecidos armazenados propriamente, funcionários com padrão mínimo de conforto e ergonomia no trabalho, etc etc etc ). Mesmo assim, em se tratando da China, é uma luta inglória. Quando estive em Taiwan, que dizem ser uma versão muito melhorada da China, visitamos uma fábrica onde as moças sentavam num banquinho duro, meio altinho, e uma moça tinha o banquinho, que já era péssimo, quebrado. Nós mostramos pro supervisor que estava nos levando pra visita e imediatamente eles foram lá buscar um novo banquinho pra moça. Algumas horas depois, quando estávamos indo embora, passamos pela moça e adivinha? Ela estava de volta ao banquinho quebrado. Aí vocês perguntam, porque sempre pegam a Mattel com problemas ( ou outras multinacionais ) e nunca as Xing-lings barateeenhas? Porque as Xing-lings não são auditadas!!! Ninguém sabe que raio de materiais são usados, se um lote estiver envenenado não tem como tracear e fazer recall dos produtos, há motivos pra custar tão barato: é uma merda!

Uma das coisas que me dá mais arrepio são aqueles "tapueres" chineses. Neguinho compra no torra-torra por 1 real 5 vasilhas, e não pensa que há algo de errado em algo que custa 20 centavos e tem que ser produzido com plástico não tóxico, embalado, embarcado da China, armazenado, distribuído. E ali vai a comida da família inteira, crianças inclusive, que não tem resistencia pra esse tipo de químicos.

A desculpa principal de quem compra produtos Xing-ling é que "o original, o europeu – brasileiro" é a mesma coisa, mas você paga a marca. Desculpa fajuta! Você paga pela materia prima superior, os controles de qualidade, e os impostos, claro, que muitas vezes são sonegados com esses produtos de camelô.

De onde vem essa minha ira com os Xing-lings hoje? Precisamos fabricar uns tubos de ventilação. Tenho uma cotação européia para o molde+sistema de corte que custa €130mil, o chinês, €44 mil. Investigando o motivo, vi que o sistema de corte europeu consiste numa faca ( parece aqueles cortadores de frios ) dentro de uma "gaiola" – essa gaiola garante que rebarbas de plástico não voem nos olhos do operador, uma capa para lâmina que garante que o operador não esbarre por acidente principalmente em final de turno quando ele está cansado – na lâmina, o sistema de acionamento de corte é o sistema de dois botões ( você posiciona a peça no dispositivo de corte, trava, fecha a gaiola e precisa apertar dois botões separados, um com cada mão, pra cortar a peça – isso garante que operadores tenham as duas mãos em segurança – foi na inexistência desse dispositivo que o Lula perdeu um dedo ). O sistema de corte chinês? É uma guilhotina, muito parecida com aqueles de cortar papel no escritório ( em 1970 ). Perguntei pro chinês como se evitava acidente de trabalho com a tal guilhotina, ele respondeu: o operador é instruído a prestar atenção ( !!!! ). Agora vejam quanta hipocrisia nossa: nós queremos que nossos maridos, filhos, irmãos, trabalhem com todas as normas de segurança no trabalho, mas os chineses… ah, problema deles.

segunda-feira, julho 23

Digno da série Dallas ( ou good times, bad times? )

Tenho um primo muito querido, o T. Ele é um moço muito bonito, loiro de olhos azuis ( óquei, por aqui é jabá, mas no Brasil faz o maior sucesso ), é super legal, engraçado, ótima companhia. Começou a namorar a Flávia quando tinham 17 anos.
Semanas antes de eu ir ao Brasil em 2006, fiquei sabendo que a Flávia tinha terminado com o T depois de 4 anos de namoro. Quando cheguei fiz vários passeios incluindo meu primo, ele estava super pra baixo, emagreceu horrores, abatidão. Na cozinha, minha tia contou o bafão: a Flávia estava trabalhando numa empresa familiar da qual ela gostava muito, aí começou a rolar um boato de facão, ela estava morrendo de medo de perder o emprego, e aproveitou que o filho do dono da empresa, que também trabalhava lá, estava dando bola pra ela, e resolveu tentar segurar o emprego tendo um affair com o cara. Vejam que ela nem terminou com um pra namorar o outro, foi só mesmo pra ter um affair pra tentar segurar o emprego.
Long story short, o dono da empresa não quis nem ouvir falar do filho namorando uma recepcionista, ela foi a primeira a rodar; colocou então o rabinho entre as pernas e veio pedir pro T pra voltar. Eu fiquei muito puta, falei pra minha tia abrir o jogo com ele ( ele não sabia ) porque quem faz uma vez, faz outras. O rapaz decidiu perdoar, achou que valia a pena tentar de novo, e yata yata yata. Demodosque – chamarei a dita daqui pra frente de La-baca que é como eu me refiro a ela em conversinhas familiares desde esse episódio.
Nas vezes que fui ao Brasil mantive distância da La-baca. Minha tia até me falou “perdoe, todo mundo erra…” e te direi: todo mundo está sujeito a virar a esquina e se apaixonar por outra pessoa, TODO O MUNDO. Mas como você age desse momento em diante, vai depender da sua classe, da sua moral.
O pior é que a La-baca nem apaixonada pelo cara tava, era só mesmo pra segurar o emprego – que pobreza – de conta bancária e de espírito!
Mas então, depois de 5 anos evitando a La-baca, na viagem a trabalho pro Brasil fui com os primos pra um “festival de sushi” e ela foi. Eu já sabia que ela tinha feito curso para cabeleireira, depois para massagista e trabalhava numa “clínica” de um acupunturista. A gerente saiu da clínica e sei lá como ela virou sócia, ela cuida das massagens, o tal acupunturista cuida da acupuntura, e de quebra estava ensinado-a ( sempre achei que acupunturistas tivessem que ser médicos, mas parece que não é o caso ). Ele faz também uma aplicação de uns copos com sucção que eu acho terrível, nojentão, mas whatever. Quando a namorada da minha prima – toda educadamente - perguntou se ela trabalhava numa clínica de estética, a La-baca respondeu toda ríspida e de nariz empinado: não, eu sou a DONA. Detalhe, a clínica tá tão na pindaíba que eles ainda não tem website porque não tem como pagar um webdesigner  pra fazer o layout ( cadê o by Marina? ).
No fim de abril o acupunturista e a La-baca foram a uma convenção de acupunturistas em Fortaleza. Como alguém sai de SP para ir a uma convenção de acupunturistas na grande metrópole cearense eu não sei. Mas na volta perderam o vôo e só tinha vôo razoavelmente barato dali a 3 dias ( WTF? ). Nesses 3 dias foram conhecer a cidade, o que não tem nada demais, mas ela inundou o Facebook com fotos muito estranhas… dançando forró agarradinha, abraçada no buggy, tudo muito íntimo – se é que vocês me entendem.
E é aí que a história descamba. Gente xumbrega sempre existiu e sempre vai existir, mas essa gente xumbrega agora tem acesso ao facebook e a falta de vergonha na cara desse povo fica aí escancarada, parece até que fazem questão de mostrar.
 
Eu vi as fotos da La-baca em Fortaleza e achei tudo muito estranho, daí eu quase cair da cadeira quando 2 semanas depois ela mudou e status dela para “casada”. Na hora pensei – putz, o T casou e nem falou nada, eles estavam com o casamento marcado pra Novembro e resolveram antecipar, mas vocês provavelmente já adivinharam o rumo dessa história: a La-baca casou, 12 dias depois de terminar um namoro de 10 anos, com o sócio xexelento dela. Detalhe: o cara é 21 anos mais velho que ela, é um xaropão arrogante, feio de doer ( de doer mesmo ), meio pobrão, e tem uma filha praticamente da idade da La-baca. Sei que tudo isso é irrelevante quando uma pessoa se apaixona ( ó que romântica eu sou ), mas eu tenho CERTEZA que isso tem a ver com a situação financeira dela, com a avó que ficou doente e teve que ir morar na casa dela – no mesmo quarto que ela, que a paixão dela é mesmo um apartamentinho requenguelinha que ela chama de “minha casa”, toda orgulhosa, no facebook
Como tudo o que é ruim pode piorar, agora rola um boato entre os amigos que ela está grávida, e a gente só consegue pensar, plís God, que não seja do meu primo! Que seja lá do xexelento dela e que essa seja uma história, daqui a alguns anos, esquecida no tempo.
O que mais me chocou nisso tudo, e a La-baca ter documentado step-by-step, via Facebook o chifre, o “casamento”, fotos com a família dele, foto da “casa nova”… Eu, assim como muitos dos amigos dos dois, fiquei sabendo do término quando ela mudou o status do facebook pra casada – e mais tarde o nome do xexelento. Estupefata com essa tralha toda, fiz um mínimo post no Facebook e a dita foi lá “tirar satisfações” com o meu primo, o que é que ele andava falando pra mim? Como se ele precisasse ter me dito qualquer coisa, tudo está lá no facebook, escancarado, fotografado, datado…
 
O facebook mostra o melhor e o pior do ser humano. Minha turminha da oitava série se encontrou esse mês, a maioria não se via a 25 anos, que legal ver o pessoal bem, com suas famílias. Por outro lado você vê essas baixarias, e eu tenho certeza que não são poucas.
Meu povo, será que a gente tá preparado pra essa convivência virtual? Será que a gente QUER ter convivência virtual? Há quem diga que se não quiser, não faça parte e pronto, mas é difícil não ser afetado, veja por exemplo minha mãe, que nem sabe o que é facebook, mas acompanhou todas as fotos, seja porque um ou outro mostrou, ou ouviu as histórias de quem acompanhou via Facebook, sou seja, não tem muito como escapar.
 
No fim vai tudo acabar no caráter da pessoa: quem tem vai usar a internet pra coisas positivas e quem não tem, vai ser que nem essa pafúncia dessa La-baca, só meleca…

PS.: Desculpaê povo, mas a formatação do blogger ficou louca... 

sexta-feira, julho 20

ôôô que broto legal... garota fenomenal... que abafou no festival...

Óquei que eu saí do Brasil a quase 10 anos, não tenho o direito de ficar dando muito pitaco, mas vocês que estão morando aí no Brasil, têm idéia de quão ridícula é essa mania de dizer “Véi”? Véi, na boa… “ Estão notando  o ridículo do negócio? Quando percebi a “tendência” pensei: mas que coisa de pobre, mas é errado e preconceituoso pensar assim, mesmo porque tem gente no meu Facebook com grau universitário e MBA escrevendo assim, é coisa de gente burra mesmo. Tá mesmo é faltando esse povo adquirir o hábito de leitura, assim criam vocabulário e sentem esses absurdos doer no ouvido.

E aliada à distância do país, vem a idade… Meu português tá virando português de velho, ou melhor, minhas piadinhas estão virando piadinhas de velho. Nessa semana tínhamos dois brasileiros por aqui, novos funcionários da empresa no Brasil. Um deve ter lá pelos 45 anos, o outro deve estar beirando os 30. Esse de 30 tinha uma bonita camisa, eu comentei: linda camisa Fernandinho ( lembram da propaganda? ); ele me respondeu: como você sabe que  meu nome do meio é Fernando? O colega mais velho explicou a piada pra ele, que nunca viu a propaganda da Linda camisa Fernandinho – a do senhor também é linda.

Quem me chamar de véia vai apanhar.

Enquanto isso, na sala da justiça… digo, aqui no interior de Coxipó da Ponte, tentei efetuar uma compra pela internet usando meu cartão de crédito e ele foi rejeitado. Liguei pro banco, e claro que me deparei com o maldito serviço de atendimento ao consumidor pago, sim aqui pagamos 10 cents por minuto pra falar com o SAC da empresa. Me explicaram que eu não paguei a conta, esclareci então que eu tinha solicitado que o cartão de crédito entrasse pro débito automático e recebi uma cartinha dizendo que a partir de 1 de junho seria feito assim, portanto não tinha como eu não ter “pago a conta”. O atendente ficou váááário minutos digitando e resmungando hum-hum, e finalmente achou a minha solicitação e disse que so sorry, we screwed up, vamos processar o pagamento, em 3 dias seu cartão estará livre de débito. Mas sujeito, eu quero efetuar minha compra AGORA. Digita digita digita, não é possível, me passa pro seu gerente já, reclama reclama reclama, o gerente concorda em liberar meu cartão imediatamente. Aí, no final, eu digo que já que eles é que fizeram a cagada, que eu queria que aquele telefonema ( foram vááááários minutos ) não fosse cobrado. Nossa-senhora-do-bom-parto, parece que eu xinguei a mãe do cara. Foram vários outros minutos discutindo, eu ameançando ir pro Consumenten Bond ( algo como o Procon daqui ) até que o cara liberou os custos da chamada. Já me dá gastura esse negócio de atendimento ao cliente ser cobrado, o cara querer que eu pague pela ligação que eu tive que fazer porque eles fizeram besteira… ah, isso já é demais. E é claro que o cartão não estava liberado bosta nenhuma, ainda tá dando tchu tchu no site de compras.

quarta-feira, julho 18

Cadê meu Oscar?

Hoje tive que fazer o impensável. Depois de 3 semanas de inferno cobrindo as férias do OldFart, ele retornou e eu fui incumbida, como gerente da peste, de ter uma conversa “séria” com ele. Pedi conselho ao meu mentor, e ele disse que a única forma de fazer esse trem desgovernado de pessoa se empenhar em melhorar, é começar elogiando o que ele fez bem, ele estaria então mais aberto a ouvir as críticas e a melhorar. A teoria é linda, mas amigos, como começar a conversa elogiando o sujeito, se eu só vejo as bostas? Pensei, pensei, pensei, não achei nada. Uma outra pessoa, por coincidência, veio falar comigo sobre ele e terminou: apesar de tudo, ele é bom nisso e naquilo. Me apeguei então nesses dois tiquinhos de informação, e ensaiei dois dias. Gente, eu sou uma senhora atriz, e meu mentor se orgulharia de mim. O cara é teimoso como uma mula, metade do que eu falei ele ficou com aquele sorrisinho “poker face” e eu tenho certeza que na cabecinha dele ele já apagou tudo, mas falar eu falei.

O negócio é que eu tenho mesmo que mudar, porque eu me remôo demais com essas pendengas. Muitas vezes remôo porque emocional que sou, exagero as coisas na minha cabeça. Fiquei 2 dias com ódio mortal de diretor acima do meu diretor, de quem eu não sou a maior fã, porque programei uma viagem pra China em agosto e ele não aprovou a requisição. Fiz meu cenários mentais, o que eu ía falar pra ele, que eu ía ameaçar de ir procurar outro emprego, que uma hora me mandam urgente pra China e no minuto seguinte não aprovam a viagem, que palhaçada é essa.. bla bla bla… como sou esperta e na maioria das vezes me acalmo o suficiente para pelo menos perguntar o motivo, ele me explicou que ele gostou muito de uma apresentação que eu fiz para esse projeto que envolve a China, que exatamente naquela semana o Vice-Presidente de Compras viria dos EUA pra cá e que ele gostaria que eu fizesse a apresentação pra ele. É uma honra imensa! Só que… sofri um inferno e meio dois dias achando que o cara cancelou a viagem porque não vai com a minha cara. Quando eu vou aprender a não sofrer por antecipação, não ficar conjecturando sem todas as informações, quando eu vou começar a dar ao outro o benefício da dúvida e assumir o mais positivo?

E no meio dessas dúvidas existenciais profissionais, a vidinha continua com suas pendengas. O momento de fúria da hora é com o sistema de entrega de compras online desse paiseco. Senhor, ninguém merece. Compramos uma secadora, mandaram uns entregadores parangolés que me detonaram toda a escada. O detalhe é que só entregam no horário comercial, eles colocam no site que você pode agendar o horário e pode receber uma ligação 30 minutos antes. Como eu trabalho a 6 minutos de casa, achei beleza. O agendamento de horário dava 2 oções 8-12am, 13-17pm, ou seja, você ter que perder mesmo 4 horas esperanco. A ligação 30 minutos antes nunca veio, sorte que eu decidi vir pra casa mais cedo e cheguei junto com o caminhão. Agora decidimos comprar online uma lavadora de roupas, uma mesa com cadeiras de jardim, 4 lustres de LED, claro que ninguém agenda horário, ninguém entrega fora do horário comercial, e estou tentando pelo menos agendar todos no mesmo dia, de preferência de tarde, assim tiro meio dia livre. Acho isso inaceitável pra um país de primeiro mundo em pleno 2012. Se o Zaire não tivesse deixado de existir, diria até que aqui parece o interior do Zaire.

Sem falar na maldita mania, que eu já descrevi aqui, do correio holandês de entregar sua encomenda no vizinho. Ha ha ha, na semana passada o vizinho encrenqueiro – o que não quer que eu estacione na rua – comprou algum produto da Apple store e vieram entregar na minha casa. Vocês precisavam ver a cara de pafúncio dele tocando minha campainha pra pedir o pacote. Vai ver que ele, se for negativo como eu, já imaginou que eu sapateei em cima do produtinho carésimo dele. Pena que eu sou boazinha…

Bom, tcheu ir trabalhar que o negócio tá feio.

sexta-feira, julho 13

Sexta filosófica

A pessoa fala com a boca cheia e os olhinhos brilhando que “frequenta” muitas salas de gerentes da empresa. E aí emenda que também na sua vida privada tem o “privilégio” – assim, usando essa palavra mesmo – de conviver com bastante gente rica, daqueles que são donos de veleiros e iates e tudo.

E aí eu pergunto-vos, sábios leitores: o que é pior, ter que conviver, mesmo que superficialmente, com gente que tem esses valores, ou ser a pessoa que tem esses valores?

Porque enquanto eu estou aqui, irritadíssima com essa pessoa que – peão – mesmo de férias fica mandando SMS pra diretor da empresa, ele está lá, achando que está abalando Bangu.

 

quinta-feira, julho 5

Gorda, eu?

Na semana que vem o marido faz aniversário. Estou aqui me descabelando pra descobrir um presente que o surpreenda e que ele goste. Vi um coupon de clareamento de dentes no Groupon, e como o marido sempre quis fazer clareamento de dentes, achei que ele ía adorar. Antes que vocês pensem que meu lindo maridinho é um requenguelo de dentes manchados, esclareço: ele tem os dentes lindinhos, branquinhos, retinhos, tudo fruto de um longo e doloroso tratamento ortodôntico, que como seqüela deixou uma excessiva preocupação com a cremalheira ( googuem aí o que é cremalheira, jargão automotivo pra dentes ).

Mas então. Num impulso comprei, por 79 dinheiros, um clareamento dentário de última geração. Mas aí, a pulguinha veio atazanar: Adriana, vai checar o local, vê se é tudo bonitinho, se a clínica é bem preparada, etc e tals. E aí fui.

Chegando lá, me espantei: era uma clínica de estética, não um dentista. Nunca tinha visto uma clínica de estética aqui na Holanda, do tipo que tem em cada esquina no Brasil. E ali já na entrada, posteres de mil tratamentos contra as banhas, sempre elas – as banhas. Rolos disso, bandas quentes e frias, luzes sei-lá-de-que-cor, só não vi os fatídicos tratamentos de drenagem linfática por aparelhos, tão comuns no Brasil – os famigerados choquinhos.

No que eu adentro a clínica, com minhas ancas voluptuosas, já vi até os olhinhos da recepcionista brilharem, os cifrões, que nem em desenho da Hanna-Barbera já substituindo as butucas: ah, essa aí vai precisar de 239 sessões de bandas quentes, 34 horas de rolos massageadores, 112 ampolas de lipostabil… Aí eu sorrio e pergunto quais eram as opções de tratamento para branqueamento dos dentes – abanando meu voucherzinho do Groupon.

Minha gente, vocês precisavam ver a cara da recepcionista. Só faltou fazer o sinal da cruz.

Depois de dada as informações, ela me perguntou: você não estaria interessada nos nossos tratamentos estéticos? Ainda é tempo de se preparar para o verão!

Lembrei nitidamente da Dra. Alice narrando a conversa dela com um dos personal trainners, e respondi: ué, mas eu tô prontinha pro verão…

Ha ha ha, se eu tivesse uma câmera nas mãos, ganharia um prêmio naquele programa “laughing at home videos” ( algo como as cassetadas do Faustão ). A boca da mulé, literamente, abriu. O legal é ver quão sem reação esse povo todo fica.

Gorda eu? ‘Magina…