sexta-feira, novembro 30

Home sweet home

Quando vivia no Brasil, morávamos em São Bernardo, num bairro bem próximo ao centro e pertinho de uma das saídas da Rod. Anchieta. Sempre que eu viajava por periodos longos, a “ficha” caía de que eu estava em casa quando o carro entrava na Anchieta, passava pelo Carrefour e pelo Colégio Regina Mundi, dalí tem-se uma vista da retona da Anchieta que entra em São Bernardo. Ah, estou em casa. Até hoje, passados quase 10 anos, se eu fechar os olhos, me transporto pra esse lugar, sei cada curva do caminho. Na primeira vez que voltei, dirigindo pelo centro de São Bernardo e repetindo o caminho para São Paulo, que tantas vezes fiz, novamente essa sensação de estar em casa, o deslumbre com o cérebro que relembrou as quebradas pelo Jardim Saúde. Essa sensação vai diminuindo a cada vez que volto. A cada vez, mais carros, mais gente, mais grafitti. Os olhos estranham tantos outdoors, fios elétricos, árvores mal podadas, lixo. Os olhos também observam que não há mais criança nos semáforos, aliás – são poucos os semáforos com vendedor de balinhas hoje em dia, aqueles que penduram as balas no espelho com um bilhetinho macambúzeo e quando o farol abre saem correndo pra pegar as balinha ou o dinheiro. Nunca mais vi cachorro de rua, e na Marechal em São Bernardo, não tem mais os tios pipoqueiros ou os tios vendedores de coquinho. Tá tudo muito diferente. E tá tudo ainda tão igual!

Nas duas últimas vezes que fui ao Brasil, já no finzinho, estava já naquele banzo ( odeio essa palavra ), mas era pela Holanda! No fim eu estava sentindo falta do meu pão de fatias do AH, de andar no centro de Eindhoven, do meu cinema Pathé e o cheiro do restaurante ao lado, das latinhas de sopa deliciosas que eu tanto amo Outro dia num workshop tinha uma foto aérea do centro de Eindhoven, e me deu aquele calorzinho bom de familiaridade, essa é agora minha casa! Vocês já sentiram isso?

Desde que eu mudei pra Holanda eu digo que quando eu me aposentar, quero fazer o que muitos Norte Europeus fazem: mudar pra Espanha. Estaria ainda morando num lugar seguro, mas mais quentinho, de preferência perto de uma praia, quem sabe na Espanha a família brasileira me visitaria mais, a língua eu já falo, a comida eu amo… mas será que quando o dia chegar, eu vou querer deixar a Holanda?

Outro dia uma das comadres me disse: eu falo holandês, não me sinto diferente de holandês nenhum, sou como eles. Eu não me sinto holandesa e jamais vou me sentir, apesar de agora já funcionar, fora ou dentro do trabalho, em holandês, tem sempre aquela piadinha que você não entende, ou aquela referência que você não capta, uma mania coletiva que você não tem. Mas hoje, diferente do começo, acho meus colegas holandeses extremamente generosos em me aceitar como o fazem, com graça, com paciência, com curiosidade pela minha “brasileirice” mas vejam, eu moro em Brabant, a Bahia da Holanda, onde tudo é mais relax, onde o povo é caipira e simpático, onde se tem o “brabantse quartierje” ( quinze minutos de atraso antes de qualquer reunião – ou seja, a neurose pelas horas marcadas é menor ).

A cada dia que passa eu crio mais raízes por aqui, e infelizmente, menos no Brasil. Ultimamente ando pensando muito na velhice, a nossa será bem solitária. Se eu me for antes, o marido se transformará num ermitão, e será feliz assim; se ele se for antes, terei uma velhice bem triste. Porque eu não sei viver completamente isolada, vou sentir falta de pessoas. Se voltar para o Brasil, vai chegar aquele momento crucial em que vou precisar de cuidados especiais e não terei ninguém pra ajudar. Por outro lado, o cuidado de velhinhos aqui na Holanda é ótimo, tudo bem que vão embolsar 70% da minha aposentadoria, mas estando no bico do corvo, vou precisar de dinheiro pra que? – mas estarei bem sozinha, se tiver sorte vou ser visitada pela Alice também velhinha ( ela prometeu! ) e pelos voluntários.

A sheicho-no-ie diz que tudo é projeção da mente. Vou projetar então que vou viver feliz e saudável numa cidadezinha espanhola simpática perto de uma praia bonita, vou ficar velhinha com muita saúde e lucidez, e quando a hora chegar, terei um aneurisma fatal que me levará em 2 segundos.

Ai, que papo light pra uma sexta-feira, né não? Bom fim de semana, pessoal!

terça-feira, novembro 27

saudade

Hoje, por algum motivo, me deu uma saudade imensa do meu TaaiTaai.

Ontem falei com uma prima no Brasil que perdeu o cachorrinho dela em março, ele morreu de causas naturais aos 15 anos de idade. A família tem sofrido bastante, e assim como eu farei em breve, adotaram mais um bichinho. O problema é que ela e o marido estão tendo problemas em aceitar o cãozinho, tão diferente do anterior. Nós em casa já adoramos a nossa gatucha, enxoval da bichinha tá quase pronto.

Sabem, eu sou infinitamente grata aos dias que eu tive com o TaaiTaai. Ele foi um gatinho muito amado, muito querido. Eu tive o privilégio de ajudá-lo quando ele ficou doente, tive a felicidade de vê-lo ficar melhor, aprendi que “it is not over until it is over”. Até na morte dele ele está me ensinando. Me ensinando que não importa a gente querer segurar, querer ter de volta, querer mudar o imutável, na morte não se dá um jeito, não há dinheiro que evite, não há reza que ajude. E um potinho de cinzas, é só um potinho de cinzas. Que uma lápide é só uma lápide, onde se vai para resgatar memórias, e memórias a gente a gente mantém conosco, sempre.

Não consigo imaginar a dor de quem perde um filho. Não consigo.

 

segunda-feira, novembro 26

Post de gente louca, começa com lá e termina com crá, de Kipling a Jaburu

Estou embarcando meus presentes de Natal pro Brasil, se tudo der certo, essa semana. E olhando os presentes que estou mandando, penso que droga é esse de país onde todo mundo tem que ser magro e gostar de roupinha de modinha

Minha mãe me pediu já tempos uma calça jeans, e pediu também uma pra minha tia, ambas são razoavelmente magras, o problema delas com as calças brasileiras é a cintura baixa, que convenhamos, não combina com uma senhora de 65 anos ( e minha tia também já passou dos 60 ). Achei que tivesse lojas de roupas "para senhoras", mas pelo menos minha mãe não conhece nenhuma.

Outro campeão de pedidos são os meus tankinis, juro que vou começar a exportar. Sempre usei, sempre tem alguém em resort que me pergunta "se mandei fazer", ou onde comprei. Há algum tempo dei um para a minha cunhada, ela amou. Emprestou pra minha mãe, agora minha mãe quer um também, e a vizinha – mãe e filha – disseram que quando eu voltar, gostariam de encomendar a "muamba biquinística". Acho que no geral, deve ter um nicho para esse modelo no mercado brasileiro, mas claro que ninguém vai investir em biquini de gordo ou velho, gordo tem que emagrecer e velho tem que se esconder.

Minha tia gordota, coitada, tem a maior dificuldade de achar lingerie. Aqui, pasmem, achei lindinhas de malha com rendinha na C&A. E baratas. No Brasil, só naquelas lojas de gordo especializadas, e gente, são uma fortuna.

O resto dos presentes são na maioria coisas que tem preço normal aqui e no Brasil são um assalto a mão armada. Esse ano colecionei barganhas ao longo do ano e estou mandando presentes ótimos com preços inacreditáveis. Para o sobrinho, Nike de couro, cano alto, modelo basquete, por €39. Para a sobrinha, calça da Tommy Hilfiger por €37 ( a sobrinha usa tamanho 27, gente, que tiquitinho de calça, devem usar duas tirinhas de 30 cm de pano pra fazer a calça ). Sem falar que na última liquidação lambança abiscoitei uma Kipling grandinha por €29, e camisetas Tommy Hilfiger pro sobrinho a €15.

A grandessíssima comida de bola que dei foi me empolgar ao ver um livro de arte para a prima querida artista, e antes de encomendar não notei que o bendito pesa 5kg! A remessa pro BR vai custar €58 L

Tudo será acomodado em 3 caixas diferentes, o que custará um montão, mas maiores são as chances de minhas muambas não serem pegas pela alfândega.

E mudando de pato pra ganso. A secretária aqui do departamento disse que vai pedir pro Sinterklaas ( o povo aqui não pede pro papai noel, pede pra Sint ) um namorado, porque ela fez 30 anos esse ano e ainda está sozinha.

Essa secretária é muito boazinha, todo mundo gosta muito dela. Ela é prestativa, é legal, é engraçada, ela só não é bonita. É baixinha, apesar de ser rata de academia não tem um corpo fantástico ( é aquela magra remediada sem peito, sem bunda ), só compra roupas boas na Esprit mas não sabe combiná-las muito bem.

Há 3 meses recebemos a notícia que teríamos um expat mexicano trabalhando no nosso grupo, vimos o CV, e ele é solteiro. Logo começamos fazer planos pra secretária e o mexicano, demos muita risada. Esperávamos um mexicano dark and handsome, e eis que chega um mexicaninho baixinho e loiro de olhos azuis, a secretária só faltou chorar de decepção. Acontece que o mexicaninho é gente finíssima, juro que "ficou" até bonito, mas quem diz que a secretária quer ir tomar um café com ele?

E é aí que eu digo, aquele que conhece a capacidade de areia que tem seu caminhãozinho, não anda de caçamba vazia. Eu pessoalmente acho que o carinha em questão não é feio, e tem muitas outras qualidades mais importantes in my book – do que a morenice e o 1,80mt, mas a colega secretária ainda não cansou de esperar o príncipe, fazer o que?

Outro dia conversei via FB com uma amiga das antigas, que tem a minha idade e tá bem bonitona, razoavelmente magra, cabelão, conservadésima. Ao elogiá-la, ela me disse: Adriana, tive que me conservar porque casei tarde, fiquei muito tempo no mercado. Esse "no mercado" me chocou, e ela me explicou pragmática: infelizmente, pra sentar e conversar com um rapaz, você tem primeiro que passar pela concorrência que é baseada nas aparências, então o negócio é tentar controlar as banhinhas, deixar o cabelón crescer, andar arrumadinha e maquiadinha, baixar um pouco as expectativas. Essa colega era como a secretária daqui, tinha expectativas altíssimas, ficou sozinha até os 37 anos, e pelo menos fisicamente, o marido não é nenhum Brad Pitt.

Blé, que papo, agradeço todos os dias eu "não estar no mercado", porque acho esse lance de paquerar, namorar, sair pra gandaiar, ruim demais. Blé blé blé, sei, que papo de baranga Adriana, mas não é só o negócio de ter que ficar bonitinha não, mas é tanto homem jaburu por aí… Putz, eu já saí, fiquei, namorei, com tanto jaburu – e muito jaburu bonito, manja o cara que é bonitinho mas ordinário?

quinta-feira, novembro 22

Nossa fofinha

Nossa ainda sem nome fofinha

Aqui com 8 semanas, no dia que a visitamos

 Aqui em baixo com 4 semanas, a da esquerda com a irmã e o irmão
 Sorrindo ( not ) para a camera. Será que ela vai ser rabugentinha que nem o Ty?
 Aqui a da direita, menorzinha que o irmão.
Nome ainda indecidido. Eu gosto de: Lila, Julie, Bela, Amber, Nikki, Lilly... O marido quer ficar no medonho Nora, a gata má do Mr. Filtch :(

segunda-feira, novembro 19

Quando chegar a hora

Aqui na Holanda a eutanásia em humanos – é permitida.

Nunca havia pensado no assunto até mudar pra cá, e pra ser sincera, até meu marido perguntar: o que você quer? Nós dois queremos ser mantidos com suporte até o fim, até não haver 0.0001% de chance de recuperação. Sempre acreditei que se há 0.001% de chance de recuperação, 1 em 1000 terá uma cura milagrosa, e quem diz que não pode ser eu?

Há pouco fui colocada na posição de decidir, não por um humano, mas pelo meu gato. De todo o processo, acho que essa foi a parte mais traumática.

Os exames mostravam que o rim dele não funcionava mais, nadica, nem um resquiciozinho, ou seja, ele estava se envenenando, mas até aquele momento, apesar de ter perdido muito peso, de estar lerdinho e apático, os olhinhos remelentinhos, ele ainda estava andando, estava bebendo água, indo ao banheirinho sozinho, ele dormia no tapetinho do quartinho de computador, do meu lado, ele ronronava quando eu o acariciava… como colocá-lo pra dormir?

Na minha cabeça eu pensava muito naquele livro Vidas Secas ( ódio mortal desse livro ), onde a cachorra Baleia pega raiva, o dono a mata, e o livro conta o fato sob a perspectiva da cachorra. Eu pensava, será que ele entende que eu estou tentando poupá-lo de dor e sofrimento? Será que ele já percebeu que o fim chegou?

Na dúvida, o trouxemos pra casa. O veterinário nos preparou para que não levaria uma semana, marcamos para dali a 2 dias, é terrível trazer o animalzinho pra casa sem esperança nenhuma, não tinha nenhum remedinho, nenhuma comidinha, nada que nos desse qualquer esperança.

Na manhã seguinte, minha filosofia do “manter até o fim” mudou em 10 segundos: Ty estava praticamente sem abrir os olhos, não conseguia mais engolir saliva, então estava todo babado até o peitinho, a saliva estava misturada com um pouco de comida que ele ingeriu na noite anterior, e o golpe final: enquanto eu me despedia dele ( eu já tinha percebido que era o fim ), ele tentou ir ao banheirinho e não conseguiu, fez xixi no chão. A cena foi toda muito traumática, eu sabia que era mesmo o fim, eu sabia que se antes ele estava só com um “mal estar”, agora ele estava mesmo com dor.

Aquilo foi o que eu precisei para tomar a decisão. Fomos pro vet, ele estava tão malzinho que dormiu na caixinha de transporte dentro do carro, quem tem gatos sabe que isso NUNCA acontece. Chegando no vet, ele acordou e deu dois miadões, e cortou meu coração, eu preferia que ele já tivesse inconsciente, que não visse que ele não estava dormindo coisa nenhuma, ele estava é indo morrer.

A veterinária foi muito sensível, não o examinou, era visível o estado dele. Nós acariciamos, beijamos, ele tomou a injeção pra dormir, nós continuamos acariciando até ele se enrolar e dormir. A veterinária então o esticou, mediu os batimentos, a gente viu que ele foi respirando mais devagar. O mais impressionante, e eu gostaria de ter sido preparada para isso, é que o gato fica com os olhos abertos, é estranho. Beijamos, dissemos adeus, e saímos da sala. Ele tomou então a segunda injeção.

Nunca saberei se ele, um gatinho, entendeu que esgotamos todas as possibilidades de prolongarmos a vida dele. Agora pergunto: e quando chegar a vez do marido, se é que ele vai antes de mim?

Será que conseguirei vê-lo sofrer e manter nosso acordo de “não desligar as máquinas”?

Aqui a maioria das pessoas é cremada, fui na minha primeira cremação faz um mês mais ou menos. Foi a sogra de um funcionário meu. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão, intratável, foi pra uma casa de “repouso assistido”, foi definhando até chegar a 32 kg para 1,62 de altura, no fim estava pouquíssima parte do tempo consciente, e quando estava consciente estava gemendo e gritando de dores, a família decidiu então pela eutanásia. Acho uma decisão acertada, mas hoje, tendo passado pela experiência com o Ty, sei que ficaria: mas e se ele ainda tiver uma horinha de lucidez sem dor, tenho o direito de roubá-lo dessa hora?

Outra coisa que eu acho fundamental é ter certeza que se tratou o paciente de todas as formas conhecidas. Ty teve comida especial, vários remédios, e mesmo assim, lendo sites dos loucos americanos que chegam até a fazer transplante, eu já tive que pegar o último exame dele várias vezes pra me lembrar que não haveria acupuntura, floral, comidinha  caseira que o salvasse do rim que resolveu parar. A pergunta: teria sido diferente se …? – se forma na cabeça, mas imediatamente eu relembro do exame e de tudo o que fizemos.

Sei que o papo tá pesado, mas a vida continua… Sexta levamos um susto com o Plato, ele já tinha emagrecido um pouquinho no ano passado ( 400 gr em 1 ano, de 9.6 kg pra 9.1 kg ), na quinta peguei o Plato no colo, o achei mais leve, pesei: 8,5 kg! Sexta liguei pro vet pra perguntar se é da nova comida diet, não podia ser, então fomos pra lá com ele. E passamos por tudo de novo, exame físico e exame de sangue. Espera agoniante. Os exames estão normais, só indicam que o Plato está envelhecendo, a creatinina um pouquinho alta, mas ainda dentro do normal. Eu odeio não achar a causa do emagrecimento, mas o vet diz que o provável é que foi o estress de perceber o irmão doente e depois a depressão. Voltarei em 3 semanas para mais um follow up, mas os exames de sangue estão super normais, não há muita razão pra se alarmar.

Mas pelo sim, pelo não, corremos resolver o negócio: reservamos uma irmãzinha pro Plato. Ela é uma british short hair lilac, lindinha, tem 8 semanas, e vem pra nossa casa dia 31 de dezembro. Estamos radiante com a nossa nova filhinha, e ainda que a saudade do Ty não passe e não diminua, temos ainda um gatinho em casa e ele precisa de companhia.

Assim que tiver um tempinho posto uma foto da fofa, que ainda não tem nome. Eu queria Lila ( ou Piper, ou Mimi ), o marido quer manter o horrível Nora que é o nome oficial do passaporte. Podem mandar sugestões, alguma idéia de nomes legais com N ou P?

segunda-feira, novembro 12

E para os que ficam...

Obrigada a todos pelas palavras de apoio.

Estamos ainda bem abalados, mas melhores. Por enquanto o segredo é evitar as fotos, a saudade bate mais forte quando vemos o rostinho rabugentinho, ou as preguicites dele. Ele nos faz muita falta. E também ao Plato. Plato me segue 100% do tempo, e ele era um gato bem independente. Ele ainda procura bastante pelo Taai e quando não o encontra, mia. Mia as 6 da manhã, mia a 1 da manhã, ele mia, minha gente, mia muito. Plato sempre foi o serelepinho que amava ficar no jardim, já caçou passarinhos, rato, até um sapo! Sempre foi uma dificuldade colocá-lo para dentro, quantas vezes tivemos que eu e o Bart persegui-lo pelo quintal, um espanta daqui o outro cata dali… e agora ele só sai se eu ou o Bart estivermos juntos, e no minuto que a gente entra, ele começa a arranhar a porta pra entrar.

Por isso decidimos que adotaremos outro gatinho, de preferência uma menina dessa vez, dois machos brincando de lutinha em casa é o ó ( pêlo pra todos os lados ). Eu pensei em comprar um British short hair ( pra quem mora na Europa, é o gato da marca de comida felina Sheba ), principalmente porque uma das características da raça é que eles são “indoor” – são caseiros, queremos continuar  a criar os gatos em casa e no jardim, sem ir pra rua, mas o marido quer simplesmente adotar um do abrigo de animais. Eu não me importo, vou amar e adorar qualquer gatinho, então – abrigo it is.

Estou muito impressionada com os holandeses no quesito animais. Tem sim muita gente que larga os animais pra ir viajar, que tem filho e manda os animais pro asilo, mas isso acho que tem em qualquer lugar. Mas o que me supreende é que quando eles querem um animalzinho, dão prioridade pro abrigo de animais da cidade. Para gatos, eles tem vários que moram no abrigo, mas a quantidade é surpreendentemente baixa, Eindhoven é a quinta maior cidade da Holanda e eles devem ter uns 30 gatos adultos esperando adoção. Os filhotes, na sua maioria ficam na casa de “famílias de criação”, normalmente são doados ou encontrados pequetitos  e essas famílias criam o gato entre outros animais, com crianças, pra aumentar as chances do gatinho ser adotado. Ando de olho no asilo desde o dia em que o Taai morreu ( quarta-feira ), a maioria dos gatinhos que estavam no site já foram adotados, morro de felicidade quando vejo a fotinho com o símbolo “eu tenho dono”!

Não podemos pegar o gatinho agora, em 3 semanas vamos pra Tailândia. Por outro lado, vai ser dificílimo pro Plato dessa vez, ele sempre dividiu a “suíte” dele com o Taai, aliás, ainda preciso ligar pro hotelzinho pra avisar que o Taai não está mais entre nós, estou sem coragem.

Essa história toda me deu um respeito enorme pelos pais que perdem um filho e conseguem conviver com o fato, mesmo que depois de anos de sofrimento. Sim, é para os nossos gatos que direcionamos o afeto que daríamos ao filho que não temos, mas não sou uma louca, é um gato, imagino quantas vezes maior é a dor de perder um filho.

A literatura Kardecista é incrivelmente pobre no assunto do que acontece com os animais depois da morte física. Uma vez numa palestra ouvi que como não tem nada a resgatar, os animaizinhos reencarnam imediatamente. Espero que sim. A doutora Alice mandou uma meditação para a perda de animais de estimação, e a explicação dizia que o espírito do animalzinho ainda permanece por alguns dias. Eu não sei qual é o correto, só sei que mentalizei muito para que ele esteja bem, para que não fique preso a nós, que venha em alguma outra família que queira muito um gatinho rabugentinho como ele.

Tenho também a dizer que numa hora dessas entendo menos ainda o ateísmo. Acho tão absurdamente ilógica a noção de que a gente nasce, vive e morre, tudo tão sem propósito, tão ilógico mesmo mesmo mesmo. Marido é ateu, mas até ele resmungo que o Taai “está num lugar melhor, sem dor”. E sei lá, pode ser que o ilógico é crer numa vida após a morte que não se vê, não se prova, mas… se a gente vai morrer mesmo e todo mundo voltar a ser cinza, qual o mal em eu me “iludir” que meu gatinho está em um outro plano?

Bom, to be or not to be à parte, vamos sobreviver. E isso já é o bastante por hora.

quarta-feira, novembro 7

O mundo está tão triste

Em fevereiro de 2011, nosso Tyrus - ou Taai Taai, foi diagnosticado como paciente renal grave. O veterinário disse que os índices dele estavam todos no limiar das possibilidades de tratamento, mas como tínhas possibilidades financeiras - e muita vontade - decidimos tratar.

Ele se recuperou bem, o veterinário o chamava de "my miracle cat", mas sempre nos lembrou que ele estava vivendo com 20% dos rins ou menos.

Quando voltamos de Portugal, o Taai Taai ainda estava bem, pesamos, ele tinha emagrecido um pouquinho, mas não nos preocupamos. Nos últimos 5 ou 6 dias ele estava com uma gripe, olhos com secreção e nariz entupidinho, levei pro vet. Dirigindo pra lá, me deu um arrepio de pensar que o primeiro diagnóstico também foi feito assim, ele parecia estar com uma gripe e tinha perdido peso.

O veterinário desconfiou na primeira olhada, limpou os olhinhos, o nariz, pediu o exame, e depois de 20 minutos me disse: vou ser sincero, não podia ser pior. E me explicou, e fez desenhinho, é tudo um borrão na minha memória. Eu já sabia que estávamos tratando com tudo o que havia de recursos, comida especial, remédio em cápsulas, pó na comida, já sabia que se houvesse mais alguma complicação, não haveria tratamento. E foi assim que eu entendi que o médico estava me dizendo que teríamos que colocar meu Taai Taai querido pra dormir.

O pior foi acreditar que o gatinho que na semana passada estava batendo na minha porta cedíssimo por causa da troca do horário de verão, era o mesmo que eu teria que colocar pra dormir, eu só pensava, será que não vou tomar a decisão muito cedo?

O vet disse que ele tinha 1 semana, então decidimos trazê-lo pra casa, ele estava razoavelmente bem, pra nos acostumarmos com a idéia, pra nos despedirmos, pro Plato se despedir. E assim fizemos.

Na mesma noite ele piorou muito, de manhã ele não consegui mais engolir a saliva, estava da boquinha até o peito ensopado, e ao tentar ir no banheirinho, acabou fazendo xixi em si mesmo. Esse foi o último sinal, incontinência - já sabíamos que quando chegava nessa fase, não há mais muito tempo.

Ligamos pro vet, fomos direto pra lá. O método consiste em 2 injeções, uma é um sedativo, a outra pára o coração. Ficamos durante a administração do sedativo, ele dormiu enquanto falávamos com ele e fazíamos a carícia favorita na orelha, ele foi se encolhendo, se enrolando como fazem os gatos, e dormiu. Tivemos ainda uns minutinhos pra beijar, abraçar - ainda sinto o peluchinho macio dele no meu rosto - e nos retiramos da sala.

Tudo é muito horrível, não há consolo, não há alento. E por cima de tudo, você tem que decidir como quer "colocar o Taai Taai pra descansar" - escolhemos cremação e que as cinzas fossem jogadas ao mar.

Não tenho esperança que as lágrimas sequem, não tenho esperança que a dor passe, pelo menos por enquanto. O marido também está um caco como eu. Ele teve que ir pra empresa pra uma reunião, vai voltar em algumas horas pra gente "limpar" a casa: limpar onde o Taai Taai passou mal, jogar as toalhas, cobertores fora, trazer o banheirinho que colocamos no andar de baixo pro lugar original, ou seja, apagar um pouco as lembranças dolorosas e começar a aprender como é ter um gato só em casa. E uma família ainda menor...

Tyrus van den Broek, Taai Taai, 2005 - 2012