quinta-feira, julho 28

Vício e viciados

Eu tinha 9 anos e era gordinha. Pedi pra minha mãe me levar no médico pra emagrecer, o médico me deu uma dieta razoável para uma menina de 9 anos, e nos fins de semana eu podia comer 2 itens da lista proibida. Voltei ao médico depois de 30 dias e tinha emagrecido 1.5kg, ganhei muitos parabéns e uma maçã. Saindo do consultório minha mãe, visivelmente desapontada disse: tanto sacrifício pra emagrecer só 1,5kg. Meu regime acabou ali.

Quando eu fiz 12 anos minha tia estava indo a um médico em São Caetano e estava emagrecendo a olhos vistos. Eu quis ir, minha mãe deixou. Ainda lembro de pegar o ônibus pra encontrar minha tia, pegar outro ônibus com ela, lembro da consulta, lembro da dieta e meu primeiro potinho de remédio. Aos 12 anos eu ganhei um lindo potinho amarelo de anfetaminas: anfepramona, triac e diazepam. Dessa vez voltei ao médico depois de 30 dias com 5 kg a menos, minha primeira ( e única ) nota vermelha, mas eu e minha mãe estávamos felizes. Esse médico, 15 anos mais tarde perdeu a licença.

E não parei mais. Tome anfetamina non-stop dos 12 aos 26 anos.

Pode parecer fácil, ir ao médico, pegar receita, mandar aviar, tomar, emagrecer, manter, mas não é. Você vai se acostumando com a dose, o médico se recusa a aumentar, você pára de emagrecer, ou começa a engordar, e precisa de uma dose maior. Ou então, na época da faculdade e estágio, como arrumar tempo pra esperar hooooras numa sala de espera do médico que está sempre atrasado. Ou então é simples curiosidade. O gordo sempre tem outros amigos gordos que conhecem uma farmácia lá em Moema, ou tem um farmaceutico do balacobaco… E é assim que muito gordo cai no mercado black de anfetamina.

Primeiro foi o remédio da Dr. Tânia, em Moema. Uma farmácia de manipulação podre de chique, a gente chegava e pedia a fórmula natural da Dr. Tânia 1, 2 ou 3 - os números representavam a "potência" da fórmula. A menina no balcão explicava: a número 3 só em uma "emergência pra caber num vestido". Ninguém sabia o que tinha, e eu cheguei a tomar a Dr. Tânia 3, dose dupla por meses seguidos. Tava linda e magra e fazia o maior sucesso na Limelight.

Denunciaram a Dr. Tânia, um magro - claro, e descobrimos o véio Gera. Véio Gera tinha a melhor fórmula do universo, era tão forte e tinha tanta coisa que o primeiro dia você mal conseguia beber água. Tomei anos. Até a família da minha cunhada, em Curitiba, me pedia pra mandar. Até o véio Gera morrer sem deixar a receita das pílulas. Daí desesperadas, eu e minhas amigas gordas, fizemos um formulário azul falsificado, carimbo, e comprávamos de farmácia mesmo, pelo menos pra manter o peso.

Isso que eu estou contando não é nada perto do que existe no Brasil, a terra onde só magros vivem, os gordos sobrevivem. Cheguei a ir ver as cápsula de virus italiano: cápsulas de virus estomacais que te davam enterite por uma semana e você perdia até 6 kg - diziam. Esse eu não tive coragem. Tinha uma louca que injetava remédios de cavalo em gente, dizia que "queimava" a gordura - também não tive coragem.

Passei por Spas caríssimos, fiz mil aplicações de tudo que diziam que derretia banha, fiz todas as dietas malucas que inventaram. Acabei mutilando meu estômago e aspirando as banhas.

Fazem exatamente 10 anos que eu não coloco uma anfetamina na boca. Cheguei a comprar, numa das minhas idas ao Brasil, mas e o medão de ficar viciadona de novo? Estou agora tentando emagrecer o que ganhei depois da transfusão de sangue e está muito difícil. Fico me perguntando se eu ferrei meu metabolismo com tanto treco que tomei, ou se é efeito do tal Mirena que eles juuuuram que tem só um pouquinho de hormônio de ação local, ou se é mesmo idade. Ou tudo junto.

Hoje, depois de dois dias comendo pouquíssimo, quando a balança disse que eu GANHEI 400 gramas, quase chorei de raiva. Nesse momento, se eu tivesse um potinho de "bolinha" ( como nós, os viciados nos referimos às anfetaminas ) teria recomeçado. É por isso que eu entendo as recaídas dos viciados em qualquer substância, qualquer adversidade e a gente corre pro vício.

Estão pra proibir as anfetaminas no Brasil, eu acho besteira. Muitas pessoas se viciam como eu, mas muitas fazem o tratamento direitinho e em 3 meses estão saudáveis, com a alto estima lá em cima, levando suas vidas felizes. E os viciados, como eu já contei, contam com um imenso black market, que vai continuar existindo, só que com remédios vindos da India, da China ou sei lá o que, sem controle nenhum da Anvisa.

Agora me resta continuar passando fome, mesmo com energia zero tentar fazer uns exercícios, e rezar, rezar muito. Qual é o santo dos gordos?

quarta-feira, julho 27

E depois os subdesenvolvidos somos nós


No jornal, hoje, a notícia dos holandes que deixaram três crianças de 7 meses, 2 e 4 anos num barco e foram jantar num outro barco. O barco desatracou, ficou a deriva e foi achado por um pescador que chamou a polícia pra socorrer as crianças. As crianças estavam assustadas e com fome, foram alimentadas na delegacia. Os pais deram as caras depois de 3 horas. Foram pro xilindró e pagaram fiança.

Fiquei horrorizada, o que passa na cabeça de pais que deixam as crianças dentro de um barco, num lugar desconhecido, onde ninguém entende o que eles falam, podendo cair na água, o barco pegar fogo… Ah, mas deixaram um rádio com o mais velho ( de 4 anos!!! ) e o que a criança vai fazer, ligar e dizer pro "papa" "papa: tô queimando - papa: tô me afogando"?

Traduzi a notícia pros colegas, achando que eles fosse também se chocar, e achando que a atitude desse casal é uma exceção, um casal de doidivanas, e eles não acharam não nenhum absurdo, "ah, se o outro barco tava perto…", e disseram ainda que costumam deixar o bebê em casa dormindo e com o baby monitor vão até o vizinho jantar numa boa. Um disse que as vezes até dá uma corridinha no mercado, que fica no fim da rua. Adriana ouvindo de boca aberta.

Quantas vezes, na casa da minha tia, chegava a vizinha pra conversar no portão e ela dizia: entra que eu quero ficar de olho no nenê… Imagina que a gente ía deixar a criança sozinha, acordar assustada com alguma coisa e estar lá, sem ninguém pra acudir...

Lembram do caso Madeleine? Os pais deixaram a menina no quarto para ir jantar, eu fiquei chocadésima dos pais deixarem as crianças sozinhas, mas pelo jeito por essas bandas de cá isso é normal.

Eu contei pra eles que pela lei, se você deixar a criança em casa e for no vizinho jantar, tocar um policial e a criança estiver sozinha, você, assim como o casal de holandeses, pode ser enquadrado em abandono de incapaz, e vai pro xilindró. Eles acham que a gente é louco e não tem o que fazer.

Eu acho relaxo. Comodismo. Vou dizer: acho vagabundagem de gente que não devia ter colocado filho no mundo. Quer ter toda a liberdade do mundo,faça como eu: não tenha filhos.

Tô louca povo? É normal deixar a criança sozinha pra ir saracotear?

terça-feira, julho 26

A Holanda está cheia

A Holanda está cheia, é isso que a gente ouve direto como desculpa pra controlar a vinda de mais imigrantes, ou pra justificar as casas pequenas e coladinha por um preço de mansão da Côte D'azure ( pequeeeeno exagero pra contribuir com a moral da estória ). Enfim, o brejo tá cheio.

Por estar cheio, ou só porque esse povo gosta mesmo de inventar firula, tem vários departamentos por cidade pra fazer o planejamento da região. São mapinhas de cada bairro, numero de arvorezinhas por habitante, banheiros de cachorro por superfície ( se for muito longe, o Rex faz pela rua ), estudos de "morabilidade", de afluencia de carros, planejam mais do que um país antes de entrar na guerra.

E investem tanto tempo, tanta gente, tanto dinheiro, e fazem cagada. Quero morrer de catapora!

No meu bairro, que é novo e todo planejadinho, desde que mudamos sofre-se com lugares para estacionar. Já contei aqui da vizinha que fazia petição pra substituirem as arvorezinhas por estacionamento. Vários dias, o lixeiro que passa a cada 15 dias, não pôde recolher o lixo porque os vizinhos deixam os carros estacionados onde atrapalha a curva do caminhão. Todo mundo reclamando. Aí um grupo de moradores mandou uma carta pro prefeito.

O prefeito responde que nos cálculos do projeto, foi estimado um número de 1,5 vagas de automóveis por moradia, incluindo garagem e entradinha pra garagem. Ora pois, se aqui na Holanda NINGUÉM, com exceção do meu marido, usa a garagem pra guardar carros, e todo mundo sabe disso, como é que alguém aprova um projeto que já começa com metade das vagas inutilizadas? E não adianta forçar esse povo xucro, eles vão continuar guardando as cadeiras de plástico Itatiaia na garagem e deixando o Audi na rua. Aí o prefeito continua: Eindhoven é uma cidade com ótimas ciclovias, e as localidades mais distantes são facilmente acessíveis com o excelente sistema de transporte. Mas seu prefeito, o povo tá tendo que saiiiir de Eindhoven pra achar emprego, porque a Philipona tá falindo, cada ano corta mais empregos, como é que neguinho vai pra Roermond de bike?

Só sei que tá todo mundo emputecido com a situação.

Minha casa é numa rua sem saída. Na frente da minha casa é proibido estacionar porque numa área tão pequena ( um Cul'de Sac com 4 casas ) tem já duas vagas demarcadas pra estacionamento público. Eu odeio carro estacionado na frente da minha casa, no tal Stoep, porque fica tão perto da minha janela que a cozinha até fica mais escura. Pode chover, eu posso estar carregada de compras, se a vaga demarcada está ocupada por alguém, eu sempre estaciono da esquininha. Ontem eu estou chegando e tá lá uma dita estacionando no meu stoep.  Pedi pra ela sair, falei que nem eu estacionava porque não gostava de carro ali, que me incomodava o carro dela. Ela, grossa que nem só mulher holandesa sabe ser: é lugar público… Eu fiquei azul, "mevrouw, público mas é ilegal estacionar aí", aí ela fica toda cheia de reclamações, resmunga, e tira o carro, e o detalhe é que na esquininha, 10 mtrs dali tinha 4 vagas vazias. Eu não entendo! Agora eu, chata que sou, já estou imaginando que todos os dias vou chegar lá e vou encontrar a dita estacionada na porta da minha casa.

E depois disso fui direto pro meu maldito livro em holandês, porque eu só não falei poucas e boas pra essa mulé porque me faltaram palavras. Ódio disso, de faltarem palavras.

Eu sei, podem falar, Adriana que bitch que você tá.


segunda-feira, julho 25

Um continente em frangalhos?


Li hoje no jornal brasileiro uma jornalista de economia dizendo "A Europa, um continente em frangalhos busca salvação no Brasil". Tenho tanto a dizer sobre isso…

Primeiro que um pouquinho de modéstia não faz mal a ninguém. Quem ( ou o país que ) se acha a última bolacha do pacote acaba enfiando os pés pelas mãos feio.

Me pergunto se essa mesma jornalista não leu, dias atrás, que as remessas de lucro para o exterior bateram record esse ano? Ou seja, lucram no Brasil mas mandam o tutu pra Europa, o tal continente em frangalhos. Não acho isso ruim, ou ruim demais, afinal, eles investiram no país, criaram empregos, pagaram impostos, continuam reinvestindo na ampliação de suas fábricas no território nacional, ou seja, o Brasil ganha demais, mas… o lucro ainda vai pra matriz, que pelo menos na indústria automotiva, uma das mais fortes do país, são todas na Europa.

O mesmo artigo menciona que está todo mundo interessado nesse país que em 8 anos transformou metade da população em classe média, ou seja, supostamente com dinheiro e muita vontade de gastar. Todo mundo vai tentar sugar até o último centavo desse povo desacostumado a ter uns trocados a mais no fim do mês, mas quem tá lá ensinando pro povo simples a planejar os gastos, a iniciar uma poupança?

E tudo vai sendo empurrado com a barriga, sem o mínimo de planejamento. A nova classe C não precisa mais viajar de ônibus 3 dias pra visitar os parentes no Ceará, vão de Webjet com parcelamento em 10X no cartão, mas quem é que amplia os aeroportos pra dar conta desse povo todo? E o povo tá comprando seus carrinhos chineses Chery, mas cadê a ampliação desse Metrô, a melhora dos ônibus, a ampliação e melhora de ruas e avenidas pra comportar esses carros todos? E todo mundo tem laptops, e smartphones, e até Ipads, mas cadê investimentos em conectividade?

Acho engraçadissimo ( not ) o povo fazer passeata contra a tal nova hidroelétrica ( Belos Montes? ), mas como alimentar a casa desse povo todo cheio de TV's, computadores, máquinas pra tudo? E dar conta desse lixo todo que é gerado, com um povo que não é acostumado a reciclar?

Às vezes me parece que o brasileiro está deslumbrado demais com a renda extra, tá "se achando", mas esquece de aprender certos (bons) hábitos do europeu: poupar, não gastar mais do que tem, planejar a infraestrutura, tentar usar transportes coletivos ou o carpooling, reciclar ( e não tô falando da dona maricota que faz aqueles breguíssimos artesanatos de garrafa pet ).


sábado, julho 23

Respira fundo

Foi uma semana bem difícil essa.

Não adianta, estou aqui já há tanto tempo e ainda me vejo em situações que não entendo a reação de muita gente que me rodeia. Vou confessar, é difícil quando você tem que gerenciar gente que você muitas vezes não entende.

Hoje é o black saturday por aqui, a data em que grande parte do país coloca o pé na estrada com suas caravans, com seus bagageiros-caixões ( podem me dizer que é prático, mas eu não consigo deixar de visualizar um cadáver lá dentro ), a filharada, e vão pros campings da França, Itália, trabalhei com um que dirigia non-stop até a Costabrava na Espanha.


*** Ainda se o vampiro Eric tivesse ali dentro...***

Na empresa todo mundo querendo terminar o que era urgente, jogando pepinos pra cima dos poucos que ficam.

Tive algumas mini-crises. O senhor da "espionagem" viu que uma cerca no estacionamento quebrou, pegou o telefone de um fornecedor de serviços de reparos, chamou os caras na empresa e pediu cotação pra arrumar, assim do nada, como se fosse o quintal da casa dele. O fornecedor achou estranho, contatou a compradora dessa commodity, e a m. foi pro ventilador. Acabou que uma mulher do RH me ligou (agora, depois de 2 meses!) pra discutir as "limitações" do senhor espionado. Ela disse que ele tem uma condição médica e que dever ser considerado "simple minded". Não conheço, em português, significado para essa expressão que vi pela primeira vez na Holanda: simple minded, assim, em inglês. É a pessoa que não tem deficiência mental, mas também não é plenamente capaz. Eu sempre pensei que a pessoa nascia assim, mas como uma pessoa adquire "uma condição médica" e fica simple minded eu não sei. Hoje foi o último dia dele, o nosso departamento é muito cheio de riscos pra alguém assim.

E meu diretor está de férias, e o que o está substituindo não lida muito bem com pressão, e o departamento tá pior que uma panela Clock em fogo alto. Na terça feira eu passei tanta raiva, que chorei. Escondidinha no banheiro, sériamente influenciada pela TPM, mas chorei, de ter que rebocar a maquiagem. Um de vários problemas foi o do meu funcionário R. Na segunda ele me perguntou se ele podia sair de férias um dia mais cedo, ou seja, na quarta, eu concordei. Quando meu diretor soube mandou eu voltar atrás e dizer que o R. precisava ficar porque ía "podia" aparecer uma coisa urgente. O rapaz já tinha antecipado uma noite no B&B onde ele ía ficar, foi um xabu mas o rapaz acabou ficando. Na quarta feira ele estava lá as 9 da manhã quando recebe um telefonema: a esposa, grávida de 10 semanas estava no hospital porque o feto não tinha mais batimento cardíaco. Cês sabem, né? Informei o diretor e ele achou que o rapaz tinha que voltar depois do almoço. Levantei da sala sem nem responder.

Pra encerrar a semana tivemos a festinha de despedida de um dos diretores que está se aposentando. E já está falando em voltar a trabalhar na empresa como consultor. Me deprime isso. Uma pessoa chegar aos 62 anos de idade sem ter um plano pra curtir os anos que lhe restam, uma pessoa ter tão pouco pra fazer que até se enfiar num escritório 40 horas por semana seja melhor. Não entenderei nunca.

Então, já que nesse sábado todos vão e eu fico, pelo menos comprei minhas passagens pro Brasil-sil-sil. E a KLM aumentou as tarifas de novo. Agora, pelos 875 euros das duas ultimas idas, só se for com escala no insuportável do Charles de Gaulle, direto do Schipol maravilhoso, 932 euro contos.

Vamos ver se essa semana rola post sobre Cuba, quero ver se tenho ânimo de baixar as fotos.

quarta-feira, julho 20

Dreaming


Eu acho interessantíssimo ouvir as pessoas descreverem o que elas fariam se ganhassem na loteria. Ontem estávamos falando sobre isso aqui no trabalho, e quando falo ganhar na loteria falo logo em boladas, tipo os € 25 milhões da loteria estadual holandesa de uns tempos atrás.

O que você faria?

Eu ía rodar a Europa a procura de um terreno de frente pro mar. Teria que ser perto de uma cidade maiorzinha, pra eu poder bater pernitchas de vez em quando, mas de preferência dentro de um vilarejo, e mais de preferência ainda, longe de rotas turísticas. Existe esse lugar?

Aí, terreno comprado, eu iría contratar um fantástico arquiteto pra fazer a casa dos meus sonhos.

E enquanto a casa não ficasse compras, eu iria cuidar de assuntos mais corriqueiros. Iria dar uma ajeitada na vida da minha mãe, iria dar uma ajudada no meu irmão e sobrinhos, iria comprar um apê e um carrinho pra minha prima querida, tudo isso sem eles saberem que eu ganhei da loteria, que ninguém merece parente pedindo isso e aquilo.

Aí eu iria praquele SPA pra perda de peso que a Oprah foi no Hawaii. Ia botocar o rosto, com certeza. Ia refazer o guarda roupas e comprar um carro conversível.

Meus pituchinhos íam ganhar uma área inteira na nova casa, e eu ía adotar um Yorkshire. Talvez, se eu achasse uma empregada e a família prometesse me visitar muito, eu tentasse ter um filho ou adotar uma chinesinha.

Com certeza eu ía alugar uma gigantesca casa em Orlando por um mês e ía trazer "my favorite people" pra curtir a disney comigo, a parentada, minha amiga Fernanda, ía ser demais.

E eu viveria muito feliz na minha casinha de praia, com meu marido e meus bichos, faria trabalho voluntário com alguma ONG de animaizinhos, quem sabe até construísse um abrigo, visitaria mais a família e os traria para me visitarem…

Quem sabe o Bill Gates não lê esse post e me manda 1% da fortuna dele?

E você, o que faria?

segunda-feira, julho 18

Questão de respeito


Minha prima mais querida, mais ligada a mim, praticamente a filha que eu não tive, me contou, aos 13 anos, que era lésbica. Indescritível o choque. O choque passou, e ficaram duas certezas, meu amor por ela não diminuiu um milímetro, ela ainda era minha priminha fofa, minha companheira de Hopi Hari. A segunda é que ela ía sofrer muito com isso. E ela sofreu.

É incrível o preconceito contra lésbicas. Às vezes eu penso que quando todo mundo defende tanto os direitos homossexuais, estão na verdade é falando dos homens, porque contra as mulheres o negócio é bem mais ofensivo.

Ao longo desses anos, quando eu contei pra amigos mais íntimos, o que eu ouvi variou entre "só precisa mesmo é achar um homem com H maiúsculo", até a "que coisa feia". Nossa avó, que não sabe, disse que se ela não arrumasse namorado logo, íam começar a chamá-la de muié-homi.

E tem muita gente, mas muuuuita gente, que diz que não tem preconceito, mas se refere à elas como "sapatão", fala da falta de feminilidade com desdém, e faz piadinha.

Hoje meus colegas de trabalho falavam sobre o mundial feminino de futebol. Eu disse que no Brasil comentaram muito sobre a beleza da goleira americana, e um colega respondeu: e adianta de quê se ela "cola velcro", e fez o gesto com a mão ( !!! ). E eu respondi: ué, o fato dela jogar futebol não quer dizer que ela é lésbica. E ele disse que o amigo treinava um time de futebol feminino e metade era lésbica, e fez de novo o gesto com a mão.

Sinceridade? Me aborrece demais isso. Me aborrece porque mostra que essa conversa de que não se tem preconceito é tudo balela, os nomes, os gestos, as piadinhas, tão aí pra provar.

Minha prima é uma menina super legal, generosa, com uma paciência infinita. Ela sempre foi minha companheira de aventuras ( e eu sou um pé no saco ), a que brincava com o priminho pentelho ( meu sobrinho ), a que dá atenção pro marido gringo ( igualmente pé no saco ) sem nem falar inglês. Ela é esforçada, faz faculdade, trabalha pra poder pagar porque os pais não tem a mínima condição, e com o pouco que sobra, ainda acha meios de comprar um remédio ou outro pra minha tia e levá-la, pelo menos uma vez ao mês, num restaurante comer alguma coisa gostosa. Ela não merece ser chamada de sapatão, de ser achincalhada, ou ser piadinha de gente mal-resolvida.

E as outras também não merecem. São filhas, irmãs, amigas queridas, e merecem ser respeitadas.

sexta-feira, julho 15

O gordo Pinóquio

Eu, a gorda chata, hoje teorizarei sobre mais um tipo de gordo: o gordo pinóquio.

A inspiração é o OldFart, que está menos Fart e um tantiquinho assim ó ( fazendo pequeninho com o polegar e o indicador ) mais magro.

O gordo Pinóquio é aquele gordo que, sabe-se lá porque, mente. Mente a respeito do peso ( peso 85 kg, quando na verdade pesa 95 kg ), mede a respeito do peso que perdeu, da rigorosidade da dieta… É uma dificuldade não ser gorda chata perto do gordo pinóquio!

O OldFart tem 1,65mt e é gordinho, sendo maldosa, parece um kabauterzinho ( um anão de jardim ). Essa semana ele recebeu o contrato fixo da empresa, e quando eu dei a notícia, disse que ele tinha que trazer gebak ( torta ). No dia seguinte ele trouxe ameixas, e explicou: estou de dieta. E daí começa a Pinoquisse:

Perdi 25 libras: putz grilo, num país que usa sistema métrico, onde você compra dois quilos de arroz, que ridículo é falar que emagraceu 25 libras só pra causar mais impacto. OldFart, 12 quilos! Aí eu fiquei olhando… nem a pau juvenal… a cada 6 quilos uma pessoa de 1,65 diminui um manequim, e ele não diminuiu 2 manequins…

Faço a dieta da proteína a 5 meses sem escorregar: ele diz que o café da manhã é um iogurte e um pedaço de ontbijt koek ( um bolo de especiarias que parece o pão de mel sem chocolate ), aí ele almoça sem lanchinho entre o café e o almoço, e o almoço é salada com um ovo cozido, aí ele vai direto até a janta e ele come salada ou vegetais na wok com um pedaço de peixe, salmão ou tilápia, e toma um chá antes de dormir. Oras bolas, se uma pessoa passa 5 meses só comendo isso, estaria mais magro que a Twiggy.

Não tenho roupas, todas estão grandes: me respondam, que gordo não guarda suas roupas preferidas da "época de magro"? Isso foi a desculpa para vir de suspensórios. Sim puevo, suspensórios. Segundo ele, as calças estão caíndo ( valha-me Deus de caírem ), e o cinto já não dá conta ( ??? ). Eu só respondi: vai comprar roupas, quer coisa mais maravilhosa que ter que comprar roupas porque emagreceu? Meu colega disse: OldFart, cê tá parecendo o Bastiaan ( um palhaço ). Ah, a sutilidade holandesa…

Então vamos lembrar alguns princípios para o gordinho ser um gordinho legal. Colega gordinho, ninguém tem que te pedir satisfação da dieta, do seu peso, das suas roupas. Nós sabemos que você quer se gabar, nós sabemos que é o furículo do demônio fazer dieta por tanto tempo, mas seja chique colega, se alguém te perguntar se você está de regime, ou se você emagreceu, dê uma resposta blasé, tipo "estou sendo mais cuidadoso com os doces", ou "estou me exercitando um pouquinho mais". Lembre-se que se você começar a falar de dieta, todo mundo vai se sentir no direito de te vigiar, todo mundo vai achar que o fato de você ter falado de regime implica em uma autorização pra quem está ao seu redor te repreender no dia que você colocar uma bala na boca. E se tem coisa que gordinho não suporta é gente ao redor dizendo o que a gente pode ou não comer, quando a gente pode ou não comer.

Isso dito, tenho também inveja do OldFart, porque eu tenho também que começar o regime e estou adiando e adiando. Hoje tenho planos de ir ao Makro pra comprar carnes, já fiz meu cardápio de-carbizado pra próxima semana, vou ter que passar fome.

Mau humor do cão desde já.

quinta-feira, julho 14

Ah, o ser humano...


Uma das comadres, quando virou gerenta, me contou a história de um funcionário que até hoje me faz rir. Ela propôs ao funcionário, que não era nenhum jovenzinho recém formado, que ele fizesse um "layout", um trabalho que até então ele não tinha feito, mas que segundo a comadre, não era nenhum bicho de sete cabeças. Aí no dia seguinte da "proposta" esse funcionário foi pra comadre: Sr. Comadre, eu me olhei no espelho e perguntei: Hans da Silva, você será capaz de fazer um layout??? Esse "me olhei no espelho" ficou comigo desde então, eu já imaginei o banheiro cheio dos vapores do chuveiro matinal e o cara enrolado numa toalha se perguntando: espelho espelho meu, existe alguém mais sonso do que eu?

Aqui na empresa há quase um mês eu recebi um funcionário "do banco". JL trabalha na empresa há 40 anos, está perto da aposentadoria. O mundo evoluiu, os computadores tomaram conta, mas JL não conseguiu acompanhar o povo que agora senta atrás de uma telinha, ele consegue fazer o mínimo do mínimo num computador. JL é um senhor muito correto, orgulhoso dos seus anos na empresa, de uma ética irrepreensível, mas o que fazer com tudo isso se ele não consegue dar um copy/paste no Excel??? Triste isso, um mundo onde a habilidade de dar copy/paste é um bem mais valioso que a ética da pessoa… mas então…

Tem quem goste de achar que os donos de empresa, CEO's e presidentes de empresas holandesas são mais humanos que no Brasil, mas não, a verdade é que as leis trabalhistas aqui protegem mais o cidadão que no Brasil, e num determinado momento alguém lá no RH, que sabe muito bem dar copy/paste, calculou o valor da rescisão contratual do JL e concluiu que era mais barato continuar empregando-o. Assim, JL foi "pro banco", ele fica em casa e quando alguém tem necessidade de uma pessoa com fantástico senso de ética mas sérias limitações tecnológicas, ele é chamado.

Há um mês JL está nos ajudando no que chamamos de "back office". Ontem ele me chamou: Adriana, estou com um problema sério. Um aparte: o negócio fica muito mais dramático em holandês, mas tenho que traduzir procês. Adriana, fui vítima de um desrespeito enorme. O que foi, JL? Ele olhou pra mim, baixou os olhinhos, tremeu a boca, e levantou os olhos cheios de lágrimas ( sim pessoas, lágrimas! ): sou vítima de espionagem ( ele falando espionáááááge em holandês ainda me faz rir ). E eu: como assim JL? E só pensava em quem estaria interessado em espionar o office-boy, digo, o office-meneer do departamento? E ele: hoje eu abri meu Outlook e minhas mensagens estão lidas… Ahn? Adriáááána: faz 3 dias que eu não abro o computador (!!!), mas as mensagens de ontem já estão sem o título em bold, ou seja, alguém tá lendo meus e-mails!!! E as lágrimas corriam.

Eu respirei fundo. Vamos pensar JL. Você deu privilégio de leitura pra alguém? Ele estalou os olhos. Vamos ver se alguém mais tem autorização pra ler seu e-mail. Ele arregalou os olhos maior. Olhei no Outlook, achamos o nome de uma mulher, ele explicou que era a secretária do departamento dele. JL, ela sabe que você está "emprestado" pra compras? Ele secou as lágrimas, acho que não! Ligamos. E mulher ficou surpresa ao ouvi-lo e disse que não, ela não sabia que ele estava de volta, e que o chefe mandou ela olhar todas as segundas-feiras os e-mails dele pra ver se aparecia algum e-mail que precisava ser respondido.

JL ficou feliz de saber que a espionagem era "do bem", que ninguém estava duvidando da idoneidade dele.

E eu fiquei aqui pensando… eu achei que tinha que me preparar para lidar com o diretorzão member of the board, mas de vez em quando, lidar com o office-meneer é tão difícil quanto.

* Meneer é senhor em holandês.

terça-feira, julho 12

Burn out - Post enorme, senta com o café no bule e a xícara na mão

Ontem tivemos uma reunião emergencial de staff. Temos 3 pessoas com burn-out, outros reclamando. Isso no departamento de compras.

Lá em cima, na engenharia, o negócio tá tão feio que até motim já teve.

O projeto grandão da empresa está degringolando. Ao mesmo tempo, a recuperação depois da crise está sendo rapidíssima, e ninguém estava preparado. Faltam funcionários, faltam computadores, falta espaço, falta tempo pra treinar que chega.

A pressão está alta. Eu diria que está quase nos patamares da pressão que tínhamos na minha antiga empresa no Brasil, a diferença é que lá era maior e constante, aqui é um pico e mal começou.

Nessa reunião, eu tentei não abrir a boca. O diretor perguntou a minha opinião e eu fiquei olhando pra ele e pensando, falo ou não falo?

A verdade é que eu acho todo esse pânico cultural. Holandeses não estão acostumado com stress, com pressão, com cobranças. Eu fico pensando na vida do brasileiro, mesmo que minha experiência seja apenas a de uma brasileira da classe média, quando é que nós vivemos sem pressão, sem cobranças? Na escola fica a mãe cobrando notas, tem que ser sempre de 8 pra cima. Quando a gente tá terminando o "ginásio" fica aquela aterrorização sobre o "colegial". Você começa o segundo ano do colegial e todo mundo já tá falando de vestibular. O ano do vestibular é o pior da sua vida, não só você tem que decidir, aos 17 anos, o que vai fazer pro resto da sua vida, como tem que passar na maldita faculdade, de preferência na "Ivy league" brasileira. Daí vem a pressão por um estágio numa empresa de renome, e a almejada "efetivação". Pra mim, esse ano de estágio foi um drama terrível, ano de crise, a empresa mandando meio mundo embora, terrível mesmo. Quando recebi a notícia que eu ía ser contratada, sentei na escada de casa e chorei, chorei não de alegria ( ok, de alegria também ) mas de alívio: eu estava empregada! E depois disseo tiveram os facões, a primeira apresentação pra um diretor em inglês… Aos 22 anos de idade eu já era uma expert em "aguentar o tranco".

Aqui na Holanda há uma aceitação melhor para aqueles que não tiram apenas 9 e 10 na escola, logo menos pressão. O ginásio é curto e o colegial comprido, e apesar de ter já super cedo uma separação no tipo de escola que você vai seguir ( aos 12 anos os melhores alunos vão pra um colegial "mais forte" ) a sociedade aceita bem quem vai pro colegial médio ou o mais baixo, pelo menos é essa minha experiência com meus colegas de trabalho. Eu acho engraçadíssimo que, enquanto os brasileiros estão se esfalfando e traçando mil estratégias pro vestibular ( o da Unicamp tem mais conhecimento genérico e vc tem que ler jornal, o da USP é mais técnico e você tem que ter estudado em escola particular, se vc quer entrar no ITA tem que fazer cursinho no ETAPA ) aqui eles se arrancam os cabelos do requenguela do exame final. Todos os anos há uma revolta sobre a prova A ou B, que tiveram questões dificílimas, e milhares de estudantes ligam pro órgão encarregado pela prova ( a prova é nacional ), naquela semana do exame, a revolta dos estudantes sai sempre na primeira página. Mas depois do exame, acabou.

Meu marido estudou na melhor universidade do país pra área de engenharia de software. Ele se formou no "colegial", foi na universidade, preencheu um formulário, tava matriculado. Exitem profissões mais disputadas, mas até onde eu sei, há um bingo de vagas ( !!! ), ou seja, depende de sorte.

No país inteiro, há uma estatística que apenas 10% dos formandos demoram 2 meses pra encontrar emprego, e eles acham muito!

No ambiente de trabalho, pode até ser que em algumas empresas haja um ambiente mais ácido e competitivo, mas nas empresas que eu trabalhei o negócio era um passeio no parque, a mentalidade "9 to 5" aqui é padrão, e 4 da tarde tem fila na porta do prédio esperando dar o minuto exato pra passar o cartão magnético e congestionamento pra sair do estacionamento.

Na semana retrasada teve um caso bizarro na engenharia. O F. ía tirar 4 semanas de férias agora em agosto. O diretorzão do departamento dele cortou 2 das semanas, já que estamos todos no tal "perído do pico". Ele foi falar com o gerente dele. O gerente dele deu mais uma semana. Ele ficou puto, digo, frustrado, porque o educado é dizer que o cara ficou "frustrated", ele tira 4 semanas de férias todos os anos e justo nesse ano que está a maior pressão, teria que se contentar com 3,  aí ele ficou tão frustrado que ficou doente, e já está a 3 semanas em casa com burnout, cujo motivo é estresse por não poder ficar em casa de férias.

No meu departamento eu observo que o cara que tem burnout não é o mais overloaded, mas o menos acostumado a pressão. Tem um que está trabalhando aqui a 8 meses e tá com burnout, ele nem saiu da fase de aprendizado ainda.

A holandesada tem a resposta na ponta da língua: você tem que ter um balanço saudável entre vida profissional e pessoal. Eu concordo. Só que eu acho que eles são inflexíveis, não trabalham 20 minutos a mais, e se o fazem é esse drama.

A solução? Contratar mais estrangeiros. Aliás, eu nem precisei dizer, parece que se tocaram aqui eu os estrangeiros são mais resistentes a pressão e mais flexíveis: entrevistei uma candidata slovaka essa semana, e ela foi aprovada, só não sei se vem pro meu departamento, estamos disputando a coitada com outros 2.

Mas aí vem a holandesada dizer que a gente tá aqui pra "roubar" o emprego deles. Ué, fica esperto mermão, moleirão do jeito que tu é, é mole pra nóis.


quarta-feira, julho 6

Xexelentésimo

O que é mais que xexelento, realmente xexelentésimo? Aquele aeroporto de Guarulhos.

Quando anunciaram que o Brasil sediaria a copa eu disse que daríamos vexame, me tacaram pedras e disseram que eu torcia contra. Nada disso, eu só não quero passar vergonha…

Liberaram o dindin pro estádio do Coringão, mas pô, vai deixar o templo do xexéu, o aeroporto de Guarulhos, do jeito que tá?

A área antes do check-in é escura e minúscula, e o desembarque é num porão, qualquer feriadinho requenguela aquilo lá vira a sucursal do inferno. Ir de uma asa pra outra, só no sapatinho, porque não há esteiras rolantes. Opções de um lanchinho? Tem um Mc, umas lanchonetes superfaturadas, um Viena e uma Brunella. No Viena paguei 6 "real" numa coxinha, achei caro. Mas essa área pública ainda é melhorzinha que a interna, pelo menos tem dois salões de beleza, farmácia.

Na área depois do controle de segurança tem-se a sensação de estar num aeroporto da União Sovietica comunista circa 1975. Tem uma lanchonetesinha botequenta, aquele freexópis minúsculo com tudo abarrotado na mesma loja ( licença que eu tô acostumada com o fantástico Schiphol e amo ter lojinhas de muambas variadas? ), e inacreditável, não tem uma banquinha pra se comprar jornais e revistas. Banca de jornal é o princípio básico de uma sala de espera no aeroporto, mas no GRU, não tem!

A segurança deixa super a desejar. Apesar da proibição de líquidos em bagagem de mão para vôos internacionais, tanto eu quanto o marido passamos com uma garrafa de 500 ml de refri cada.

Na área do check-in, a odiosa mania brasileira de "passar" os atrasildos na frente de quem tá na fila há tempos.

Me perguntaram se eu vou à Copa ou às Olimpíadas. Sei não… vou é passar vergonha, isso sim.

Aeroporto pior que o GRU? Tem. O Dulles em Washington DC e o Charles de Gaulle em Paris, esse último mais detestável que o primeiro. Não estou aqui contando os "di pobre" como Hugarda e o de Varadero. Espero que quando ( e se ) a reforma do GRU sair, que façam um bom trabalho.

terça-feira, julho 5

Além de gorda, chata!


Ser gordo é difícil. O potencial para se tornar um chato é exponencialmente maior que o do magro.

Não conheço gordo que não fique um porre quando está de regime, e portanto privado das coisas que gosta. Eu me incluo nesse grupo, fico insuportável, logo, uma chatinha.

Gordo chatinho eu até encaro e aliás, me comisero. Passar fome é o ó do borogodó. O que eu não suporto é aquele gordo narrador de dieta. O gordo Galvão Bueno.

O gordo Galvão acorda contando ao mundo, via blog-facebook-twitter-orkut-msn-my space o que ele vai comer no café da manhã, o quanto ele emagreceu naquele dia, e muito constantemente brada ao mundo como é possível viver bem sem os venenos de uma fatia de bolo de cenoura, e que uma bolacha de crespinhos de arroz diet é muito mais gostoso ( tais louco? ).

Outro gordo que me irrita é o gordo-pop-up, que nem a janela, manja? Esse gordo é aquele do palpite não solicitado. Você tá lá, bem com as suas banhas, na primeira mordida no sanduba o gordo-popup exclama: menina, tá louca, maionese é uma bomba de calorias! Pra esses eu tenho uma reação: nossa, ainda bem que eu não preciso emagrecer, né? Porque ó, em banha alheia a gente não mete pitaco.

Um gordo legal é o gordo pé-na-jaca. Ele é gordo, todo mundo sabe que ele tá tentando emagrecer, mas ele vai naquela festinha e já avisa: vou meter o pé na jaca hoje. Bom, nem precisava avisar, não é da conta de ninguém, mas tem coisa mais chata do que gordo que fica dando desculpa pra jaquear? Ah, fiquei sem almoçar 2 semanas pra poder comer um pouquinho mais hoje… Ah, ouvi dizer que coxinhas nem são tão calóricas assim… Ah, esse quibe tá cheio de ferro ( eu )…

Já tô quase acabando minha tese gordística, mas tenho que falar do pior gordo, o gordo "manda pro afeganistão".

A obesidade, mais do que uma condição física, é uma condição psicológica. O gordo supre alguma ausência com a comida. O gordo se auto-medica com a comida. Cada gordo tem seu momento pra assumir que uma dieta é necessária e escolher qual o momento em que ele pode lidar com aquilo que o incomoda sem a auto-medicação da comida. Cada gordo sabe quando chegou a hora de "dietar". Por isso que você, magro ou gordo, que convive com um gordinho, não dê indiretas ou diretas, não force a barra. Alguns podem até estar tentando ajudar, mas não ajudam, muito ao contrário. Quando o gordinho vier te pedir ajuda ( vamos caminhar comigo, vamos num restaurante mais light, por favor não me ofereça chocolates ) ajude, e ajude da forma que foi pedida. Se o gordinho te convidar pra uma caminhada, vá, se divirta, mas não fique policiando o que ele come, ou dando indireta daquele remédinho batata ou daquela drenagem linfática certeira. Não pressione seu gordinho, não seja aquela pessoa que o gordinho quer "mandar pro afeganistão".

Estou aqui, na concentração do sambódromo, esperando o dia da dieta chegar. Vou ter que encarar. Vou de South Beach, já estou procurando receitas, mas me prometi que farei a fase 1 de duas semanas e mais um mês de dieta. E depois, perdendo o que for, faço só manutenção.

Ser gorda ( a aparência física ) me incomoda menos que ser gorda ( ter que emagrecer porque é melhor pra saúde ).




domingo, julho 3

Visita bebezal

Hoje aconteceu a visita bebezal na tribo da cumadre Holandesa.

Começamos com os gatinhos, porque a bebê humana, já de tenra idade, adora bater uma perna num domingo ensolarado.

Dona Holandesa precisa nomear a gataria. Participei de duas mamadas, e foi assim, esse é o espertinho, esse é o machinho preto, essa é a tigresa e a irmã de cela, ali são as três cajazeiras, e essa é a que estava fraquinha. Tudo sem nome esses piolhinhos! São fofos demais e eu estou morrendo de vontade de pegar uma menininha pra mim, mas o marido acha que 3 gatos, pra gente que viaja como nós, é demais.

Aí chegou a bebê humana. Muito fofa e simpática. O irmão, quando bebê, era tinhosinho e não gostava muito de colo alheio, mas ela veio comigo, eu dei mamadeira, só não fiz arrotar porque não tenho mais prática. Uma gracinha!

Deixei um malão pra Dr. Alice por lá. Tentando, acho que cabe até um piano meia cauda lá.

Voltando pra Eindhoven, ainda na tribo, passei por uma fazendinha que vendia cerejas. Nunca tinha visto uma cerejeira carregada, e hoje eu vi. O "bakje" de cerejas não era barato, mas elas eram enormes e dulcílimas, assim que experimentei a primeira, antes de chegar no farol ( coidegordo, eu sei ), dei meia volta e peguei mais uma caixinha.

Foi um ótimo domingo, sol, gatinhos, amiga, nenê, frutinha não engordativa e coxiiiiinha!

Biii biiii

Quando a gente muda pra Europa, todo mundo se surpreende com o sistema de transporte público. Não é que seja fenomenal não, é que o do Brasil ou é péssimo, ou não existe.

No começo do casamento, tínhamos um carrinho bonitinho, usado, motor mil, só mesmo pra nos levar e trazer. E isso ele fez, nos levou e trouxe muito, de todos os lugares. Até pra Paris encontrar meu irmã com ele eu fui.

Quando comecei a trabalhar, usar o carro era impossível: ir porta-a-porta de casa ao trabalho levava mais de 3 horas, e dirigir até a estação de trem com ele era impossível porque não havia onde estacionar. Daí surgiu a scooter ( minha querida moteeenha ). Eu dirigia até a estação, deixava a moteeenha estacionada no estacionamento de bicicletas, e na volta voltava pra casa com ela. Era tudo muito prático, mas tinha um porém, um enorme porém: o frio... dirigir uma moteeenha na chuva, temperatura abaixo de zero graus... A holandesada encara na boa, encaram a bicicleta na boa, mas pra gente, brasileiros acostumados a temperaturas mais amenas, e sempre dentro dos nossos carrinhos ( eu ía na padaria de carro ), é duro viu...

Nos últimos anos eu já estava de saco cheio, falei que queria um carro, nem que fosse um poisé, mas sempre acabava concordando que pagar taxas, impostos, seguros, fazer manutenção, tudo pra andar 2 km de manhã pro trabalho e 2 km de volta... me parecia um disperdício.

Em março o Bart comprou um carro novo. Como o nosso poisé tá velhinho, valia mais a pena pegar um desconto que dão quando você não tem carro pra trocar do que dar nosso poisé pra concessionária, então eu "herdei" o Sponge Bob, nosso Hundai Atos amarelo. Minha qualidade de vida aumentou incrivelmente. Nas manhãs de chuva, é só pegar um guardachuvinha e dar uma corridinha. Até o guarda-roupas mudou, agora não preciso de casacões de neve e sapatos super isolados. Até calças, já pra usar tecidos mais leves sem congelar. E meu humor melhorou mil porcento.

Por isso recomendo quem está chegando aqui agora, aproveite sim todo o transporte público holandês, mas tenha um carrinho de backup pros dias frios e chuvosos ou praquelas idas ao supermercado.

A boa notícia é que a concessionária onde compramos o carro novo do marido está com uma promoção num carro novo, e como ele é pequenino e leve há isenção de taxas, e por um precinho camarada conseguimos dar o Sponge Bob e encomendar um novinho em folha. É um Suzuki Splash, pequenoto, fraquinho ( motor 1.0 ), mas novinho, com ar condicionado, rádio e vidro elétrico. E cheiro de carro novo!

Claro que sendo a Holanda, nada de pegar o carro em uma semana, vai demorar 3 meses pro carro chegar, mas vai ser um pitéu!