quarta-feira, abril 11

Quando não é um vizinho, é outro.

Como vocês sabem, mudei para a minha atual vizinhança há 3 anos. Na vizinhança antiga, mais simples que essa nova, nunca tivemos problemas com vizinhos, nessa, além do problema com os vizinhos que queriam montar tanques de peixes comedores de carne humana na garagem, já tivemos outros problemas – todos relativos a estacionamento de carros.

Na minha rua todas as casas tem uma garagem. As casas do modelo B, que é a minha, tem ainda um espaço na frente da garagem que, em teoria, dá para deixar um espaço para a porta da garagem abrir e estacionar um carro do lado de fora. As casas do modelo A, que ficam do outro lado da rua, não tem esse espaço para estacionar na frente da garagem. A rua em si contém também vários espaços para estacionamento público não pago. Quando os problemas com estacionamento começaram, a prefeitura foi acionada e ela respondeu que a vizinhança conta com um cálculo de 2,5 vagas de estacionamento por família, incluindo vagas na rua, vagas em frente à garagem ( oprit ) e garagem. E é aí que a  porca torceu o rabo: holandês NUNCA usa a garagem para estacionar seus carros. Com as casas todas apertadas, e essa mania maldita de guardar qualquer pote velho de maionese, as garagens viram depósitos de cacarecos, enquanto suas BMW’s dormem na rua.

Ontem estávamos em casa montando móveis Ikea, 10 da noite, quando toca a campainha: era o vizinho de frente. Eu abro a porta e ele rosna: dá pra você parar de estacionar na “minha” vaga? Eu, totalmente pega de surpresa, só pude responder: como assim? Aí o cara apontou para o carro dele, estacionado na minha “oprit”, atrás do carro do Bart, bloqueando a possível saída do carro do marido, e espumando de raiva, respondeu: eu estacionei meu carro na sua garagem pra “make a point”, porque você tem espaço aqui mas continua estacionando “na minha vaga”.

*** Pausa para explicação: normalmente eu saio antes do marido e volto depois do marido pra casa, então, na maioria dos dias, estaciono atrás dele, apertada, na tal oprit. Quando o marido ainda não chegou, ou sei que ele vai ter que tirar o carro antes de mim, procuro um lugar na rua para estacionar. Ontem o marido ía levar o carro pra lavar, por isso ao chegar, estacionei na rua, na vaga em frente à casa do vizinho. Só para deixar bem claro, todas essas vagas são públicas, não são reservadas a morador / casa X, é quem chegar primeiro, tasca. Detalhe é que o vizinho tem uma BMW que deixa na rua, e a garagem é cheia de cacarecos, como já expliquei ali em cima. ***

Eu olhei para o carro do sujeito, estacionado ali na minha porta, e só exclamei: ah, você estacionou o carro aqui… nem tinha visto! E não tinha mesmo. Esse cara ficou vermelho, azul, verde, listradinho… o coitado provavelmente ficou pissaroco de ver meu carro na vaga onde ele queria estacionar, juntou toda a coragem que tinha e que não tinha pra estacionar na minha garagem/oprit, ficou esperando sentadinho no sofá a campainha tocar pra ele dar o sermão, e nada… aí ele teve que juntar coragem tudo de novo e ir tocar minha campainha, pra eu dizer que nem notei o “protesto” dele.

Em retrospectiva, eu deveria ter dito pro cara que ele que vá pentear macaco, a vaga é pública, mas acabei dizendo que iria evitar estacionar na vaga dele, mas mencionei que como a vaga é pública, mesmo que eu não estacione, outros o farão. No que o cara ainda mais bravo retrucou que os outros vizinhos raramente estacionam na vaga “dele”, que todos entendem que quem tem casa naquele lado da rua não tem onde estacionar ( porque a própria garagem está cheia de vidros de maionese usados ) e que tem que usar a rua pra isso, que se não há outras vagas, os vizinhos chegam até a tocar a campainha dele pra pedir desculpa por ter que estacionar que vaga “dele” ( o cara quer paparicação? ).

Estou pê da vida comigo mesmo, deveria ter dito isso e aquilo, mas fui pega de surpresa, sou péssima quando sou pega de surpresa. E agora fico remoendo tudo o que eu quero falar pro idiota do vizinho. Vou tentar evitar de estacionar naquela vaga em frente à casa do carcará, mas entre estacionar meu carro em lugar ilegal ou ter o carro do marido me bloqueando de manhã, digo-vos que se a alternativa disponível for estacionar naquela vaga, o farei. E daí, a pergunta que fica: como lidar com o maldito do correio, que sempre entrega minhas encomendas na casa dos vizinhos, incluindo na casa dele? Esse cara vai dançar a polka em cima do meu próximo pacote.

Dessa história toda, duas conclusões: a maioria dos holandeses é louca e TEM QUE IR PRO PSIQUIATRA*, e viver em bairrozinho classe média é mesmo uma merda – duvido que o Bill Gates tenha problemas com o vizinho dele!

(*) Historinha que aconteceu no fim de semana nas terras baixas: crianças estavam brincando na rua e fazendo barulho de crianças brincando na rua. Uma bola caiu no quintal de um sujeito que estava de saco cheio das crianças e seus barulhos. Uma das crianças foi pedir a bola, ele se negou a devolver. A mãe da criança foi lá pedir a bola, discutiram, ele bateu a porta na cara da mãe da criança. A mãe da criança insistiu, o sujeito abriu a porta com um bastão de beisebol na mão e fraturou o crânio da mãe e de mais duas pessoas que vieram acudir. Estão os três no hospital em estado grave. Dia de fúria na vida real!

6 comentários:

Joaninha Bacana disse...

Minha nossa senhora, a historinha do final é de deixar os cabelos em pé!
Quanto aos pacotes entregues nos vizinhos, eu odeeeeeeeeeio que o correio faça isso! Deveria ter uma maneira de bloquear a opcao 'entregue no vizinho' :-(
Quanto ao seu vizinho, nao esquenta nao: a política da boa vizinhança é sempre a melhor :-D
Beijocas, Angie

Alice disse...

Ecolhi a profissão e o país certos. E o bairro tb!!! No meu ninguém tem garagem cheia de vidros de maionese usados e ninguém briga com ninguém por causa de vagas na rua. Pobre no Brejo de Baixo é MUITO MAIS civilizado que meio-rico!

Alice disse...

Eu faria uma carta aberta aos vizinhos da rua e daria queixa no departamento "vagas da rua" da deelgemeente! hehehehehehe

Liliane Gusmao disse...

Entitlement. Casos graves de entitlement... É certamente necessário fazer uma reclamação só não tenho certeza de a quem voce deva reclamar.

Liliane Gusmao disse...

Entitlement. Casos graves de entitlement... É certamente necessário fazer uma reclamação só não tenho certeza de a quem voce deva reclamar.

Marcia disse...

Adri, tem algo como a Packstation na Holanda? Aqui na Alemanha, existem lugares totalmente automatizados onde você se inscreve, recebe um cartão com senha, e ao encomendar algo pode pedir que seja entregue nessa Packstation, onde pode ser retirado 24 horas por dia, 7 dias por semana. É um sistema genial! Só funciona com encomendas entregues pela DHL,que é o equivalente da TNT, mas são a grande maioria das que eu peço. E manda esses vizinhos pentelhos pentear macacos mesmo.