quarta-feira, março 21

Quem não se ajuda

Quem de nós, brasileiros, não conhece váááárias pessoas que "cozinham pra fora"? Desde criança, até o dia de me mudar do Brasil, comprei comida de boleiras, doceiras, "salgadinheiras"… Recentemente vi no programa da Ana Maria Braga o tal Brownie do Luiz, um rapaz que está se sustentando na faculdade fazendo e vendendo brownies. E é sempre assim, a água bateu na bunda, o brasileiro sai nadando.

A minha sobrinha postiça começou a fazer doces pra ganhar um extra no primeiro ano de faculdade. O negócio foi dando tão certo que ela largou o curso que fazia e foi estudar pra ser chef. A especialidade dela são doces, e agora ela tem até marca registrada. Terminou o curso e já começou a fazer uma segunda faculdade, dessa vez em nutrição.

Minha tia, quando meu tio ficou desempregadao, fez quentinha. Compraram uma máquina usada de fechar aquelas quentinhas de alumínio, ela cozinhava, íam ela e meu tio entregar quentinhas. Ficou rica? Não, mas ganhou um belo troco que pagou muitas das contas naquela época.

Lembram-se do meu funcionário que a mulher está recebendo uitkering ( salário desabilidade )? Pois então, o médico da coluna liberou para trabalho parttime e o psiquiatra não só liberou, como até indicou que ela voltasse a trabalhar.

O meu funcionário diz que ela não pode mais trabalhar com o que ela estudou porque ela está muito velha. Ela tem 37 anos ( mais nova que eu ) e estudou "vitrinismo". Nunca tinha ouvido falar nisso antes, mas aqui o povo estuda pra enfeitar vitrine. Ele me diz que ela está muito velha porque nessa profissão você tem que se abaixar muito, tem que ser muito rápida (???). What-ever.

Aí ele pensou em abrir um negócio próprio, pesquisou cupcakes. Achei uma ótima idéia, afinal, investimento inicial é pequeno, você faz no conforto da sua casa, no seu próprio ritmo, mas ele diz que não vai dar certo porque tem 6 pessoas fazendo o mesmo na região e que a margem de lucro é pequena. Eu acho patacoada, porque sempre que compro um cupcake pago os olhos da cara e o que você usa pra fazer aquele bolinho? Uma forminha, um monte de recheio e um bolinho mequetrefe, o custo mesmo é baixo.

Achando que eu podia ajudar, dei vários exemplos da brasileirada que mora por aqui, tem quem faça salgadinho, tortas, quem venda carne, carne recheada, docinhos… Mas nada é interessante o suficiente, ou dá o lucro que ele espera.

Paciência.

Na semana passada ele estava visivelmente preocupado. Perguntei se ele queria conversar. Ele me contou que por causa da discussão com o órgão que paga o salário desabilidade, em teoria, a esposa ficou 2 meses em casa sem estar oficialmente desabilitada ( eram 4 meses, ele negociou 2 ). Durante todo esse tempo, mesmo estando em casa, a esposa mandou as crianças pra creche no periodo integral. Agora a creche quer 2 meses de mensalidade por filho de volta, e dá no total mais de € 5000. Ele falou até com um advogado e como ele já assinou o acordo dos 2 meses de desabilidade, ele reconheceu que por 2 meses a esposa não estava enferma, portanto não tinha direito ao subsidio da creche ( se um dos pais está em casa, o casal não tem direito a receber o subsídio da creche, que em teoria pode chegar a 70% ). Fiquei com pena, mas também não entendo porque a mulher ficou em casa e continuou mandando os filhos pra creche.

Segunda foi aniversário dele, ele trouxe várias tortas e bolos que a esposa fez. Achei uma ótima forma de propaganda, e todo mundo gostou dos quitutes. No mês que vem é meu aniversário, então sugeri pra ele que se a mulher dele topasse, eu compraria as tortas e bolos dela. Por 3 tortas de maçã e três bolos ingleses ( daqueles pequenos e sequinhos, retangulares, aqui chamam de coffe cake ) ofereci 100 euros, o que é o dobro que eu pagaria em 4 tortas da Multivlaai. Como meu aniversário é numa segunda ela poderia fazer no fim de semana. Como vocês já devem ter adivinhado, ela não quis, deu a desculpa que terão um compromisso naquele fim-de-semana.

De novo, paciência.

Minha avó paterna, a Vó Nilda, ficou viúva antes dos 30, com dois filhos de 10 e 5 anos pra cuidar. Meu avô, que se recusou a casar antes deles terem uma casa própria, deixou a casa e uma pensão pra ela, pensão brasileira, cês sabem né? Minha avó mandou o filho mais velho temporariamente morar na casa de uma tia, arregaçou as mangas e de tarde, quando meu pai estava em casa ( ele era o filho de 5 anos ) ela lavava roupas pra fora, e de manhã, enquanto meu pai estava na escola, ela entregava, a pé, as roupas que algumas clientes não podiam buscar. Ela fez isso por mais de 20 anos, lembro que quando eu era pequena ainda tinha gente que vinha procurá-la pra uma ou outra "emergência", e se o dinheiro fosse bom, ela ainda fazia um bico. Meu pai, antes de casar, assim como meu avô, construiu uma casa "nos fundos" da minha avó, e quando eu nasci, ganhando melhor, ele comprou nossa primeira casa, e minha avó alugou a casinha que meu pai fez. Nunca aceitou um tostão dos filhos. Viveu bem, tinha até uma poupancinha, cuja "caderneta" ela sempre mostrava pros netos, toda orgulhosa. Tinha dores fortes nas pernas, provavelmente resultado dos anos em pé no tanque ou passando roupa, ou carregando roupa pra clientes, mas criou os filhos, sobreviveu.

Não entendo, esse povo sobreviveu a uma guerra, ou melhor, a duas guerras mundiais. Já ouvi histórias de gente que comeu sopa de bulbo de tulipa pra sobreviver, e como pode essa geração ser assim tão… tão… acomodada?

Anyway, postão-surra. De novo. Sorry.

7 comentários:

Marcita disse...

Será que ele não quer para o pessoal do trabalho não julgar o trabalho da mulher? Será que ele teria vergonha de dizer que está vendendo comidinhas pra fora?

Monica Peres disse...

Vergonha não paga conta.
Esse povo vai no Aldi "escondido" só para pagar de quem só compra no AH.
E todos (exagero, claro) encostados em algum benefício do governo.
Blé.

Eliana disse...

Tá sem vontade mesmo...se tivesse tino pra coisa já estava se virando. Agora ter mandado os filhos pra creche hahaha puts, sem comentários.

S. W disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
S. W disse...

Tá ai, serio mesmo acho esse povo preguiçoso e incluo muitos infelizmente da minha familia no grupo. Na época do meu casamento, uma amiga ofereceu o bolo como presente, ela era madrinha, 3 dias antes sa data ligou para dizer que não tinha tido tempo de ver isso e que era pra eu arrumar o bolo e mandar a conta. 3 DIAS ANTES! Fomos atrás da boleira do bairro que sempre fez meus bolos desde criança, ela sempre atarefada, afinal os bolos são uma delicia, ela criou e estudou os filhos assim, topou fazer e pediu pra eu tirar umas fotos para ela mostrar que fez bolo pra um casamento internacional (veja que sabida, sabe como brasileiro é com essa de gringo), fez um bolo lindo, delicioso, barato e ainda entregou com seu carrinho lá no restaurante onde era o almoço. Os bem casados achei uma senhora na internet que estava desempregada e resolveu fazer docinhos para casamento, não me arrependi. A familia de um amigo meu da faculdade estava passando por dificuldades, os pais se separaram e a mãe (meio exotica) resolveu fazer chocolates eroticos e pediu pra ele oferecer na faculdade (jovem gosta dessas coisas né), no começo ele tinha vergonha, chamava só os mais chegados no cantinho pra oferecer, mas ficou tão popular e tão cool que ele começou a receber encomendas para aniversário de casamento/namoro, ou só porque eles eram deliciosos e todo mundo achava graça.

Agora vem cá, quem conhece algum holandes que toparia isso? Tem sempre um dat kan niet!

Juliette disse...

Minha mae criou 4 filhas pequenas sozinha depois de uma separacao (libertacao eu diria). Foi costureira, cortou cabelo, foi inspetora de alunos (ja tinha magisterio)...fez faculdade de pedagogia quando uma das minhas irmas mais velhas ja estavam na faculdade. Foi professora, chegou a diretora escolar e se aposentou na funcao com um otimo salario e nuuuunca dependeu de ninguem (e nao existia bolsa familia nao).Foi dificil? foiiii, passamos momentos de perrengue? siiimmmm, mas isso so nos fez mais fortes. Hoje o povo e MOLE MESMO.

Marcia disse...

Que coisa...mas uma coisa ele tá certo, de fato tem muita gente fazendo cupcakes. Ela poderia se especializar fazendo quitutes à moda inglesa e americana, coisas tipo brownies, cheesecakes etc , isso pouca gente faz bem na Holanda, mas já vi que o tino comercial dessa aí é zero. Então vão ficar forever pendurados no governo, o que aliás explica boa parte dessa pasmaceira. E sim, existem vitrinistas no Brasil também, o Senac tem curso e os melhores ganham uma grana até boa.