quarta-feira, fevereiro 6

Deliberações de quem está esperando uma reunião começar

No facebook esse semana, acompanhei uma conversa onde um dos “postantes” dizia: não gosto de compromisso financeiro, não pago hipoteca, não pego empréstimo, nem carro tenho. Não sei se admiro ou me espanto com gente assim. Não sei se era o caso da pessoa, porque não a conheço, mas nos outros casos que vi, eram normalmente pessoas que trabalham porque precisam da grana, claro, mas não são “carreiristas”, se é que você me entende.

 

Se por um lado fico pensando na liberdade que é ter suas possessões materiais facilmente acomodáveis numa mala de bom tamanho, uma conta bancária com total liquidez, e o completo desprendimento de qualquer outro compromisso financeiro; por outro lado não entendo a falta de preocupação financeira com o futuro – tão inerente ao ser humano com seu senso de preservação. E também não sei se entendo o desprendimento do “ter que ser dono da própria casa”. Na família do meu pai tivemos parentes que tiveram muito dinheiro e viviam de aluguel, diziam: comprar uma casa e se prender pra que? Estou muito bem na minha casa alugada, quando me cansar, alugo outra. Eu era adolescente, e achava um conceito legal. Anos mais tarde eles perderam tudo, a única coisa que tinha foi um apartamento que nos bons tempos, por capricho, compraram para os pais idosos.

 

Anyway. A conversa ía, coincidentalmente, sobre comprar e manter um carro. A pessoa em questão dizia que estava farta da NS, empresa de transporte ferroviário holandesa. Usei o serviço intensamente por quase dois anos, e seu apreço pela empresa tem fases. Para nós, no começo, é de deslumbre. Os trens, comparados com os brasileiros, chegam razoavelmente no horário, digo razoavelmente porque uns 90% deles estão milimétricamente no horário, mas aqueles 10% que atrasam te deixam plantados numa estação fria, te fazem andar de cima pra baixo de um trilho pro outro, ou simplesmente te deixam lá, sem informação, ou com a informação de que aquele trem foi sumariamente cancelado e o próximo só dali a 30 minutos. Isso com o tempo vai te irritando, te irritando… Os trens são razoavelmente confortáveis, pra mim que pegava praticamente na estação inicial e descia praticamente na estação final, era ultra confortável, sempre sentava, com aquecedorzinho, ótemo; mas muitos que pegavam o trem nas estações intermediárias tinham que ir de pé. E você tem sim que conviver com muita gente sem noção; senhoras escandalosas conversando aos berros, adolescente tocando música alta no telefone, os infelizes com malditos fones de ouvidos zumbindo ao seu lado; neguinho falando alto no celular a viagem inteira… Sem falar os fedidos, os embriagados, os drogados, o povo com criança sem educação…

 

Eu concluí que até congestionamento é melhor que trem, se você vai usá-lo todos os dias. Começa pela observação de uma das comadres: é porta-a-porta, você sai cheirosinha de casa, chapinha em dia, perfume e maquiagem bombando, e chega no trabalho no mesmo estado. Chuva tem pouca importância pra você. Neve quer dizer raspar os vidros, mas é fácil. E de resto, você está sozinho no seu carrinho quentinho e sequinho, sentadinho confortávelmente, ouvindo Adelão e tentando cantar junto, carrega o que quiser com você… Não importa se for um fusquinha 66, sua vida ganhará uma nova dimensão nessa terrinha no dia que você se motorizar.

 

E conversávamos sobre isso no trabalho quando um dos colegas holandeses, que já morou em SP observou: engraçado o brasileiro, o paulista, na terra dele ele usa o carro pra tudo, não chega nem perto do metro ou ônibus, e na Europa adora usar transporte public. Expliquei que é simples, metrôs como o de Londres, Paris, são o sonho do brasileiro, organizado, abrangente, prático, confortável.

 

Eu, confesso, tenho um fraco por bondes, onde tiver bondinho, lá está a Adriana. Adoro os trams de Amsterdam e em Lisboa fiz a festa, até no bondinho rouba-rouba eu andei.

 

 

1 comentários:

Eliana disse...

Olha, se o transporte público funciona, é uma beleza. Se é perto de casa, então, melhor ainda! Rápido, prático e ponto. Agora enfrentar transporte público lotado, ficar plantado na estação sem saber se o trem virá ou, pior, que não virá, pra quem tem horários, tá louco pra chegar em casa depois de um dia de trabalho, fato é que ninguém merece, e muito menos no inverno...chega a ser desumano. Nestas horas, conforto é tudo sim...e tem mais é que saber aproveitar mesmo, já que é pra isso que se trabalha. Tô pra ver alguém feliz, de pé, no frio, embaixo de nevasca, esperando pelo trem que não veio e que vai lhes custar no mínimo meia hora de espera...tô fora! rs