quarta-feira, setembro 12

O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus (hahaha nem existe mais) continua numa boa...

Essa semana fui “convidada” a dar uma ajuda linguística a um diretorzão da empresa. Como ele sempre foi muito legal comigo, fui com a maior boa vontade.

Olha, depois dessa estou cada vez mais convencida que serviço médico no mundo todo é uma máfia dos infernos.

O Diretorzão, como muitos holandeses, acha lindo e maravilhos passar as férias num lugar remoto no meio da montanha, comungando com a natureza, longe de qualquer sinal de civilização. Alugou então um chalé em algum lugar de Portugal a 2 hrs de distância de Braga. E não contente com o passeio de índio, resolveu por cima de tudo ir de carro. Olhem aí no mapa a distância entre a Holanda e Braga. Então.

Estão lá no chalé e a esposa começou a se sentir mal. Agora vejam se não é também imprudência: ambos estão na casa dos 60, ela é epilética, e ambos não se preocuparam em verificar quão distante o tal chalé era do hospital mais próximo. E era longe pacas. Duas horas.

A esposa tendo arritmia, sendo cardíaca, ligaram para o seguro na Holanda para indicarem onde os dois deveriam ir. Sacanagem número um, na Europa, o seguro não reembolsa clínicas particulares, eles foram então direcionados para um hospital público, o mais próximo era em Braga. A cidadezinha remota não tinha uma ambulância, mas tinha uma “van”, que os levou até ¾ do caminho. A 30 minutos de Braga, chegaram numa cidade que tinha ambulância, então os paramédicos deram os primeiros socorros, o ECG da mulher parecia estar bem ruim mas eles não sabiam, já que o paramédico não falava um A em inglês. Foram com sirene ligada Portugal afora.

Chegando no hospital foram atendidos prontamente, o hospital era limpinho, parecia tudo nos trinques, não há queixas. Ela ficou uma noite nos Cuidados Intensivos, arritmia foi controlada, nada mais foi constatado, ela estava bem, foi liberada. O Diretorzão, assustado e com uma noite mal dormida, não lembrou de pedir uma cópia dos exames, recebeu só um resumo das condições e tratamento.

Ele estava tentando, desde o começo de Agosto contactar o hospital para pedir os exames, sem sucesso. Até o médico da esposa mandou fax, nada de resposta. Adriana, você pode tentar ligar em português pra ver o que está acontecendo?

Com o telefone do hospital em mãos, ligo pro telefone central, pra recepção, pro atendimento ao cliente, ninguém atende. Horário comercial certinho, tento novamente, nada. Depois de 2 dias ligando compulsivamente, lá da sala do diretorzão, que fica em outro andar, atendem. Não é pronto-socorro, são “As Urgências”. O número de referência é “episódio”, explico o caso pro que eu acho que era o porteiro. Ele explica que não é departamento, é gabinete de atendimento e informação ao cliente, o GAIC – mas senhora, vão-se as 4 ( era 4:20pm ). Explico como foi difícil atenderem, ele diz que não poderia, mas que vai me dar o número direto da central “das Urgências” – mas que raio, se você tem uma emergência, liga pra esse hospital como?

No dia seguinte liguei várias vezes pras Urgências e finalmente atenderam, e a telefonista fala baixinho pra alguém do lado: uma holandesa que fala brasileiro quer falar no GAIC ( wtf – brasileiro? ). Me transferiu. Um senhor muito paciente ouviu minha história e me informou que não havia problema algum, que a paciente tem que mandar um scan do passaporte – achei normal, uma forma de controlar que é o paciente mesmo pedindo os dados com o pedido de exames, favor informar a direção, e esses serão enviados pelo correiro. Não pode ser e-mail pra ir mais rápido? Não senhora. Nem por fax? Não senhora, só por correio, pessoal e confidencial.

A essa altura, eu estava íntima do cara, que educadamente me informou que não era gabinetchi, era gabinêti.

E já que o post tá enorme mesmo, vou dizer: como é difícil envelhecer, e para alguns, pior ainda. Esse diretorzão sempre amou jogar vôlei. Nos últimos 2 anos rompeu o tendão de aquiles 3 vezes, passou por uma cirurgia, e o médico já avisou que ele vai perder a mobilidade do pé se não parar de jogar e aconselhou: a idade chegou, senhor Diretorzão, deixe o vôlei pros moços. Ele ainda está em depressão e ainda fala nisso.

O Old Fart veleja, fala com boca cheia que faz parte do time de bronze mundial. Nesse último campeonato voltou manquitolando, está com um problema sério no joelho, vai ter que operar. Diz que acorda sem poder dobrar a perna, tem que colocar num raio UV sei lá das quantas pra poder levantar e vir trabalhar. Semana passada ele tira 2 dias pra fazer o que? Velejar! Ou mente sobre a dor, ou é só um babaca mesmo. Voltou pior, diz que está “dizzy” com os medicamentos que está tomando e onde ele vai amanhã? Velejar! Tomare que caia no mar e Yemanjá leve. Se bem que com oferenda dessa, ela vai é devolver na certa!

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