quarta-feira, outubro 3

Conversando com a Chinesa

Na semana passada viajei pra uma feira em Hannover ( lindo centro histórico, não esperava! ) com o pessoal do escritório. No carro fomos eu, meu diretor ( o legal ) e a chinesa, carinhosamente aqui apelidada de SongaMonga.

É tanto absurdo que não dá pra acreditar.

Songa estava muito feliz pelo passamento de uma nova lei na China. Como ela é de Shangai, onde existia a lei do 1 filho, os pais só tiveram ela. Por essa nova lei, se ela se casar com um filho único, o casal pode ter 2 filhos! Nas cidades do interior, já havia uma “lei dos dois filhos”, que diz que qualquer casal que tenha uma menina primeiro, poderia ter outro filho. O que acontece muito é que casais que tiveram uma filha, tentam novamente e se o ultrassom mostra que é outra menina, abortam, e vão tentando até vir um menino. A chinesa disse que esse ano houve um “protesto público” quando autorizaram uma mulher a abortar um “feto” de 8 meses (!!!!). Ficamos, o chefe e eu, horrorizados, claro. Mas ela diz, a gente tem que entender esse povo das cidades rurais, não há sistema social na China, então é o filho que sustenta o pai na velhice, a filha se casa e vai para outra família (?) e é o filho homem que vai trabalhar a enxada e cuidar dos pais idosos.

Daí eu perguntei: mas, se os chineses podem abortar, porque tantas meninas jogadas na rua, em orfanatos? Ela disse que é um “outro” problema. Os homens mais ricos, que não tem filho homem com a esposa, acreditam que é a mulher que só “faz filhas” ( oi? Foi só eu que aprendi que é o homem que determina o sexo da criança? ), portanto tentam com uma amante ter um filho. Se nasce um filho homem, eles “compram” os documentos para registrar como filho deles. Mas como assim, compram documentos? Acontece que filhos de mãe solteiras não tem direito a certidão de nascimento, a identidade, a passaporte, a documento nenhum. E sendo indocumentado, não existem, portanto não vão a escolha, não são ninguém! Daí a mulher solteira que teve uma menina jogar o bebê na rua, e todo mundo ver e ninguém fazer nada. Nojento isso! Por outro lado fico pensando em quantas mulheres solteiras engravidam, querem ter seus bebês, mas não ousam, afinal – quem quer uma vida dessas pra própria filha?

Daí a conversa rolou para o tema “casamento”, e eu contei que no nosso grupo, o pessoal mais jovem não necessariamente casa, que aqui na Holanda não é necessário, que o fulano tem 2 filhos e nunca casou, que o ciclano não é casado e a namorada está grávida, que o beltrano também… Ela não se conformava. Mas, porque fazem isso? E os filhos, não vão ser discriminados, vão ter direito a escola, vão conseguir arrumar emprego quando adultos? Se o rapaz realmente ama a moça, porque faz ela passar por tudo isso?

Cheguei a conclusão que o Brasil, sempre colocado na mesma “cesta” que os chineses quando se fala em BRIC, pode ter muitos outros problemas, a violência, a corrupção, ensino publico deficiente, mas é mais humano, um bebê ser jogado na rua ainda nos choca, e ele não ficaria ali 5 segundos sem ser socorrido.

2 comentários:

Juliette disse...

Oi Dri,

Recomendo um livro que foi lancado ano passado pela companhia das letras: Mensagem de uma mae Chinesa desconhecida. Histórias reais de como funcionam as coisas na China (chocante eu diria). Para vc ter uma ideia, quando a autora Xinran, que também é jornalista, deu uma entrevista online para a Cia das letras ela chorou...nem ela aguentou falar sobre a situacao das menininhas na China, lendo o livro vc vai entender porque ela se emocionou tanto.

bj
Ju

Marcia disse...

Que horror :(