quarta-feira, outubro 24

Jogos Vorazes

Quem é vivo sempre aparece.

Fui pra Portugal ( e não perdi o local ), Lisboa é tudo de bom! Juro que vou postar umas foteeenhas aqui. Recebi o e-mail de uma leitora dizendo que eu sempre viajo mas não dou mais dicas de viagem, pois então, voltarei a dar.

O negócio aqui tá periclitante, são apenas mais 6 semanas antes das férias na Tailândia – tudo explodindo no trabalho.

Mas deixa eu falar de outra coisa. Quem aqui lê o blog da Holandesa ( link aí do lado ), está acompanhando a situação do marido dela a empresa. O meu começou a passar pela mesma situação. Tcheu explicar. É aliás também o motivo de eu não conseguir convencer a gerência a mandar o Old Fart embora.

Se uma empresa quer mandar um funcionário embora, tem que pagar um salário mensal para cada ano que esse funcionário ficou na empresa. Isso em si já é um drama, imaginem que em 2009 eu tive fornecedores aqui pedindo empréstimo para mandar gente embora – não conseguiam mais pagar a folha mas também não tinham grana pra pagar a recisão de tantas pessoas ao mesmo tempo. E tudo é bem controladinho pelo sindicato, a empresa tem que mostrar que está no vermelho, precisa cortar postos de trabalho, e não pode voltar a contratar gente por um periodo X. O sindicato, em parceria com o governo tem tanta força, que criam leis mirabolantes para proteger o funcionário que na verdade não é proteger o funcionário coisíssima nenhuma, é só uma garantia que o empregador não vá colocar o funcionário na rua e esse vai ter que receber o salário desemprego.

Para mandar o funcionário embora e contratar outro no lugar, você tem que provar, muito explicitamente, que o funcionário não está fazendo seu trabalho direito pelo menos por 3 periodos. Para funcionário indireto ( de escritório ), um periodo é 1 ano. Tudo é feito com base na sua avaliação anual, o funcionário que tiver 3 vezes “insuficiente”, pode ser mandado embora por justa causa. O problema é que dar esse insuficiente 3 vezes consecutivas ( ou no espaço de 5 anos ) é praticamente impossível. O funcionário que tem o insuficiente é avaliado pelo RH, vai fazer cursinho, tem ajuda especializada com revisão a cada 3 meses, só se for mesmo um banana de pijama pra não melhorar e receber pelo menos um suficiente no próximo ano. É a categoria onde se encaixa o Old Fart. Ele teve uma avaliação “goed” ( bom ) e uma voldoende ( suficiente ). Com essa “suficiente” o RH já entrou em ação, já está mandando a gente escolher um treinamento pra ele, etc e tals.

A divisão da Philips onde o marido trabalhava foi vendida para investidores. Ter a empresa comprada por um fundo de investidores é a pior praga pro funcionário, benefícios são cortados, a pressão por lucro é incessante, a preocupação com a função social da empresa é zero. Nesses 4 anos que a empresa foi vendida, vários benefícios foram cortados, criaram um tal de “salário bonus” que ainda está sendo julgado se é legal ou não ( 20% do seu salário é atrelado à obrigação de trabalhar 200 horas por mês, se você fica doente um dia, perde o bônus ). O que salva é que essa empresa do marido na verdade é um pool de engenheiros de software que são “alocados” em outras empresas, então se você é alocado numa empresa legal, pelo menos o ambiente de trabalho é bom.

Por tudo o que eu falei acima, quando a empresa tem que reduzir pessoal e tem tempo pra isso, começa a fazer joguinhos pra “forçar” o funcionário a se mandar por conta própria. O truque mais antigo do livrinho é colocar o funcionário numa função que ele não gosta, fizeram aqui na empresa com uma funcionária que queria trabalhar part-time ( ela deu uma sacaneada de leve com a empresa, santinha não era ). No caso do marido, é mandar fazer cursinhos totalmente fora da linha de trabalho dele, ficar fazendo joguinho psicológico de “você precisa melhorar o desempenho”. O marido hoje decidiu ir ao advogado do sindicato: o cliente onde ele trabalha fez duas avaliações dele com “muito bom”, ele tem toda a papelada assinada, só que a empresa oficial dele, pela segunda vez, na avaliação anual queria colocar um suficiente, e dessa vez ele se recusou a assinar.

Em tempos bicudos de crise, vai ser difícil achar outro emprego, mas a situação está deixando o marido um caco. Vamos ver o que o advogado fala, mas tô cheirando problema se formando no horizonte.

A gente acha que essas leis protecionistas são bom pra nós, os funcionários, mas sei lá se concordo. É bom pensar que a empresa não pode me mandar embora sem mais nem menos, mas por outro lado, cria-se esses joguinhos psicológicos que são o ó. Vamos ver no que vai dar essa história.

1 comentários:

Adriana disse...

passando por isso...exatamente isso!