terça-feira, outubro 19

Amor sem fronteiras


Na tv holandesa há um programa chamado grenzeloos verliefd, ou algo como amor sem limites. O programa mostra uma holandesa ( nunca vi nenhum programa com um homem holandês, é sempre uma mulher ) que se apaixona por um estrangeiro e imigra para algum país para ficar com ele. Até alguns programas atrás, era sempre um imigrante pobrezinho, elas sempre se mudavam para algum fim de mundo num casebre, ou então o namorado/marido era mulçumano e mostrava o incrível choque de culturas, o programa era sempre muito, muito radical. Teve um que mostrou uma holandesa que foi morar no Brasil numa daquelas casas de palafita, uma pobreza que até eu que nasci e vivi até os 30 no Brasil, nunca vi.

Nunca consegui terminar de ver um capítulo, sempre me aborreço com o radicalismo do programa, e querendo treinar meu holandês ou não, mudo de canal. Mas a secretária aqui do departamento é fã número um, daquelas que se perde um programa, corre assistir na internet assim que chega em casa.

Há algumas semanas, houve um programa de uma holandesa que mudou para o Egito. Acho que foi um dos mais radicais que eu já vi, não pela pobreza, eles nem estavam tão mal instalados assim, mas porque a holandesa largou tudo e mudou pro Egito sem nunca ter tido relações íntimas com o namorado, e casou sem antes ter relações íntimas. O programa mostrou o conflito do casal antes do casamento, ela - vinda duma sociedade onde adolescente ela já transava como namorado, ele - virgem aos 28 anos. Eles casaram, ela engravidou, e o mais chocante foi ela admitir na TV que pela lei egípcia ela não tem direito algum ao bebê, ele "pertence" ao pai.

Me lembrou daquele filme: Never without my daughter, de uma mulher que passa por situação semelhante ao visitar o Iran com o marido Iraniano.

Eu conheço muito pouco da religião mulçumana, e fico me perguntando se é lei religiosa ou civil que dá a "posse" do filho para o pai. Alguém sabe? Interessante é que em muitos países a cidadania de um bebê é determinado pela "lei do livre ventre", que parte do princípio que o filho deve ter a cidadania da mãe porque pai, até que se prove o contrário, pode ser qualquer um.

Ainda nessa linha do "me encafifa mas eu não sei o que diz o Corão", eu digo que, apesar muita gente ter criticado o filme Sex in the City 2 ( que aliás eu achei perfeitamente bobinho mas divertido ) eu também acho humilhante as mulheres que usam burka. Aqui em Eindhoven e até no Egito eu já tinha visto algumas, e sempre me perguntei como fariam para comer em público, e no filme eu vi. Em tempos de discussão sobre a proibição da burka em países Europeus, eu acho que pouquíssimas mulheres vestem burka por opção, a maioria deve ser por pressão do marido, de familiares.

Eu acho que a burka deveria ser proibida sim, pelo simples fato de que a pessoa por baixo é inidentificável, pode cometer qualquer crime sem ser identificada. Pior ainda, é que existem casos de homens-bombas que se esconderam debaixo de burkas e ninguém percebeu.

Dito isso, sou totalmente contra a proibição do lencinho na cabeça. Só aceitaria tal proibição se fosse também proibido usar cruxifixo na correntinha, ou aquelas estrelas de Davi ou qualquer manifestação de fé religiosa. Aliás, a família do meu pai é Lituana, e eu lembro que as mulheres mais velhas sempre usavam um lencinho muito parecido com o das mulçumanas ( só que davam um nó debaixo do queixo ), não por nenhuma questão religiosa, mas simplesmente porque na Lituania eram camponesas e parece que era costume fazer isso antes de irem trabalhar na roça. Seria esse lenço proibido também? E lenço em cima dos bobs? Minha tia Sônia fez tanta "touca" e por cima punha um lenço, seria proibido também?

E como sempre, comecei falando lá e terminei com crá.

O programa Amor sem Fronteiras aliás, suavisou e ficou meio chato. Até acharem o meio termo, que mostre a cultura do novo país sem os exageros do "meu amor numa cabana - literalmente", mas que não caiam na "agüice com açúcar" de ficar mostrando a vida de um casalzinho classe média em Seattle ( bóóóóring ), eu ficarem sem assistir o programa. Vou agora treinar meu holandês com um tal de Hello, Goodbye. Sou fanática por TV, mas tô pra ver algum país com programas mais chatonildos que esse aqui. Até Band é melhor.

 

4 comentários:

Camila disse...

Adriana, nunca ouvi falar nessa "lei de livre ventre". Cidadania geralmente é determinada pelo jus sanguinis (ou seja, o filho é da mesma cidadania que os pais, como em tantos países europeus) ou pelo jus solis (pelo local de nascimento, como nos Estados Unidos, por exemplo). Por isso podemos acumular mais de uma, dependendo do caso. Descendentes de europeus vivendo no Brasil, por exemplo, podem requerer o reconhecimento da cidadania por conta do jus sanguinis (minha avó é portuguesa, eu poderia pedir a Portugal que me reconheca como portuguesa tb).

Existe a presuncao legal de paternidade dentro do casamento - se o filho nasce enquanto os pais sao casados e moram juntos, o filho é do marido, até prova em contrário, mas a cidadania dessa crianca vai depender da lei do país em que ela está. Nem sempre a crianca vai ter a cidadania de um dos pais... Por isso existem casos como os de imigrantes ilegais que têm filhos nos Estados Unidos na esperanca de evitar uma deportacao - ledo engano, já que a crianca é americana e a mae nao e se a mae for expulsa, a crianca fica no país.

De direito islâmico nao sei nada além de como é feito o divórcio, mas arrisco um palpite de que o homem é considerado o chefe da família e como tal, cabem a ele as decisoes importantes, como a guarda dos filhos num eventual divórcio. No antigo direito romano era assim tb, o paterfamilias era o chefe e tinha poder absoluto sobre os que viviam com ele. Isso valia inclusive pra filhos casados e as famílias deles.

Eliana disse...

Eu acho que a lei é baseada na religião onde o homem é o chefe e a mulher, submissa, não manda nada. Sem contar que se há traição da parte da mulher ela é condenada à pena de morte sem perdão. Vcs acompanharam o caso de uma mulher do Irã, se não me engano, a qual o Brasil estava querendo ajudar, baseado na lei dos direitos humanos? Ela estava "separada" e tinha arranjado outro namorado. Até acheio meu estranho. Nem sabia que este povo aceitava divórcio! rs Sobre usar burca e se submeter a algumas regras nós, de cultura diferente, achamos humilhante, inaceitável mas elas, as próprias mulheres desta cultura são as primeiras a defenderem a bandeira do uso da burca. É a cultura delas. Isso eu vi num programa de TV que se passou na Arábia Saudita, foi um documentário que se passou em algumas partes. Então, vai entender o que se passa na cabeça deste povo! Depois dessa, é cada macaco no seu galho! Claro, que dentro da "culturas delas" a que querem ser diferentes e são castigadas, aí sim é triste: não ter liberdade de escolha!

Jaboticaba Preta disse...

La no meu trabalho tem uma holandesa casada com um muçulmano. Ela teve que se converter antes de casar. Amanhã vou perguntar para ela como funciona a questão da guarda dos filhos uma vez que o caso das crianças é meio confuso, elas não tem sobrenome dos pais. Os meninos foram registrados conforme a tradição no Egito: nome + nome do pai + nome do avô paterno

Marcia-Rotterdam disse...

Isso é coisa de muçulmano - os filhos pertencem ao pai.
E há algo similar no judaísmo também.