quinta-feira, outubro 28

A Holanda para os holandeses

Eu mudei pra Holanda no ano que o Theo van Gogh* for assassinado ( resumão: um cineasta controverso, que fez filmes "expondo" os abusos dos mulçumanos, vivia recebendo ameaças de morte e tinha um policial-guardacostas, escapou pra fumar na rua, foi esfaqueado e morreu ). De lá pra cá só vejo o preconceito contra os imigrantes crescer.

Ontem o novo primeiro ministro, em quem eu votei aliás, se envolveu numa controvérsia, novamente, sobre a lei da dupla cidadania. Discute-se agora leis mais firmes para admitir a entrada de novos imigrantes no país, e fala-se até em mandar quem já tem duas cidadanias escolher uma.

A discussão sempre vai praquele manjado problema: ninguém se incomoda com a Sueca ou o Inglês ( há uma sueca ligada ao CDA e um Inglês na Segunda Câmara ), o que incomoda mesmo são ou turcos e marroquinos, e admitir isso é discriminar.

Eu acho o seguinte ( e quem quer saber do meu pitaco? ). A Holanda devia ter um programa de imigração de profissionais como o Canadá e a Austrália tem. Eles publicam uma lista dos profissionais desejados naquele ano, e você ganha pontos por experiência, formação acadêmica, e baseado nisso te dão o visto ou não. E deveriam endurecer aquele teste para receber o visto antes de imigrar, porque dizem que um dos maiores problemas é que os turcos e marroquinos daqui vão aos seus países escolher seus cônjuges e trazem mais turcos e marroquinos ( eu sinceramente acho isso pataquada, já vi muito turco com holandesa, marroquina com holandês e tem tanto turco e marroquino por aqui que eles podem facilmente encontrar seus parceiros dentre a própria comunidade ).

Mas Adriana, você mesmo é imigrante, então porque você acha que deveriam endurecer os testes, as leis? Eu acho que se a imigração é mesmo um problema ( e não só preconceito ), que se no meio da crise que o país enfrentou ( e ainda enfrenta ) ajudar exilados e investir na adaptação de imigrantes não é prioridade, há que se endurecer a lei e deixar os critérios bem claros. Uma única vez eu participei duma discussão sobre a imigração na Holanda, e eu simplesmente disse: sou imigrante legal, o país ditou uma lei e eu obedeci, ninguém pode me culpar ou cobrar de nada. O que eu acho errado é permitir a imigração de um número maior que o país comporta e jogar esse povo aqui sem suporte, sem emprego, sem verba pra dar um cursinho de holandês pra eles. A crise da qual estamos saindo foi comparada à crise de 1930, uma das piores da história.

Ah, Adriana, mas essa é uma discussão antiga, anterior à crise. Isso é verdade, e eu acho difícil tomar partido.  E acho que deve haver o mesmo preconceito contra uma determinada nacionalidade em cada país ( menos no Brasil, repararam? ).

Eu, que não me considero a imigrante mais adaptada do universo, estarei voltando em janeiro para a escola. Farei ( mais um ) curso de holandês, metade do programa é holandês para executivos e outra metade holandês técnico. Em breve saberei explicar o funcionamento da rebimboca da parafuseta em holandês. Yay (not)!

E na tentativa de treinar a língua e entender um pouco mais a cabecinha do povo daqui, assisti ontem Hello Goodbye, indicado por uma das comadres. É um programa baratésimo, bem B mesmo, onde um cara com uma câmera fica no aeroporto batendo papo com quem vai e vem. Não sei se foi o episódio de ontem, mas acabei o programa tão deprimida, mas tão deprimida… É só gente chorando, cada história triste do caramba. Ontem teve um hómi lá com um filho excepcional ( na verdade ele tinha distrofia muscular e andava todo torto ), um senhor que imigrou pra Nova Zelândia e estava lá todo chororô voltando praquele país depois de visitar a família aqui, e pra fechar com chave de ouro, uma fulana lá cujo pai, quando ela era mais nova, chegou na lata e disse que estava se separando da mãe porque ele estava apaixonado por outra.

Esse programa, o céu cinza e chuvarento, minha vontade descontrolada de comer pão de queijo, me deram uma depressão que cheguei no trabalho me arrastando.

Vou ter que ir me curar no japa batendo papo com a comadre. Muito sushi, yakitori e teppaniaki. E programa holandês vai voltar a ser o 3 op reis ( programa de viagem ) e olha lá.



* Correção, como lembrado pela Holandesa: Theo van Gogh, Pim morreu 6 meses antes de eu vir pra cá, também assassinado.

2 comentários:

Holandesa disse...

Dri,
Trocastes as bolas. Theo van Gogh era o 'regisseur'. Pim Fortijn era um político homosexual à-la-Wilders que queria se tornar o primeiro ministro (homosexual) Holandês...

Jaboticaba Preta disse...

Até comentei lá no blog. Esse novo gabinete não vai durar muito tempo não.