segunda-feira, novembro 7

As pingas que eu tomo...

Vocês sabem aquele ditado: só vêem as pingas que eu tomo, mas nunca os tombos que eu levo? Então…

Estou meio de saco cheio de ser colocada de escanteio por ter feito algumas escolhas diferentes das escolhas da maioria. Sort of…

Não ter filhos por exemplo. Foram 100 motivos que me levaram a escolher não ter filhos, mas foi uma escolha mesmo assim, escolha essa que outros não fizeram. Hoje, eu ouço absurdos, alguns só “irritantezinhos”, outros que me deixam muito muito pê da vida.

Compramos dois carros zero no espaço de 6 meses, deixei de comprar móveis caros, deixei de sair pra baladinha em restaurante caro, não comprei roupetas de marca, minha casa continua sem o quarto de visitas, e sim, não tive filhos – não pago crèche, fralda, papinha, whatever. Aqui, o que ouço cada vez que alguém me vê chegando no meu carrinho ( pequeno, motor fraquinho e barato ) novo é: poxa, que beleza ser dink ( double income no kids )… e risadinha irônica… se a pessoa cutuca com a vara curta, eu respondo: é mas eu não tenho a recompensa que é um bebezinho me chamar de mama… ou então… é, eu preferi economizar em fraldas… e normalmente a pessoa fica amarela e me deixa em paz.

Quando voltei da viagem pro Brasil, fiquei irada. Eramos 3 do departamento voltando e alguém tinha que estar presente na segunda, 12 horas após o avião aterrizar, na sala de um dos diretores pra dar um resumão da viagem. Estávamos os 3 chumbados e sem voz, depois de 5 dias falando sem parar com o público da feira, e sabem qual foi o critério? Adriana, você não tem filhos, o Fulano e o Ciclano querem passar um tempinho com os deles. Eu fervi, e ainda tive que ouvir: seus gatos não vão ficar tão bravos…

Agora meu irmão me mandou um e-mail que precisamos trocar o carro da minha mãe porque ela já não aguenta mais um carro sem direção hidráulica. Precisamos mesmo, o carro dela tá velhinho. Mas, eu já mando dinheiro pra prestação do apê todos os meses, nesses 9 anos de Holanda já foram mais de 10000 euros em prestação de apartamento que podia estar alugado rendendo. Vejam bem, meu irmão não está me cobrando nem nada, está perguntando se eu posso ajudar, mas eu já ouvi antes o fatídico “quem faz tanta viagem é porque a grana tá sobrando”, mas a verdade é que são apenas escolhas diferentes, porque ele senta a bunda dele num carro de mais de 70 mil reais, enquanto eu, depois de 9 anos de bike e motinha, acabei de comprar um carrinho de menos de 10 mil euros. E o pior é que eu estou sim me sentindo culpada por dizer não, não posso mandar 4 mil euros pra comprar um carro pra mãe.

É o que eu sempre digo, pra quem não é rico, cada coisa que você escolhe fazer é em detrimento de algo que você gostaria mas não vai fazer.

E se alguém descobrir um jeito diferente que me ensine.

3 comentários:

Holandesa disse...

Acho mesmo que é tudo uma questão de prioridade e escolhas. Se você gosta e pode comprar um carro novo, por que não? Independente se vc aguentou muita chuva, vento e frio durante 9 anos e horas de trem antes disso? E tb que vc não tem filho? Nós tivemos que comprar agora um outro carro, é de 2a mão, mas estamos satisfeitos e felizes do mesmo jeito!
Outra coisa que eu acho muito fora 'de tato', é que essas observações sobre não terem filhos podem ser muito 'inconvenientes', já que muitas pessoas querem ter filhos e não podem. E um comentário desse acaba magoando profundamente a pessoa. Uma vez eu fiz um colega passar vergonha com uma observação dessas: diria que a tal colega estava disposta a dar o carro zero km pra ele, se ela em troca recebesse a oportunidade de poder ter filho. O cara ficou vermelho, disse que não sabia. (Como se fosse da conta dele o problema de saúde dos outros!). Acho que nunca mais ele fará uma observação dessa...

pacamanca disse...

Lógico que é questão de prioridade, e ninguém tem pissurucas a ver com isso. O que eu num guento é gente que paga 2.500 euros numa televisão, como um amigo nosso, e depois diz que não tem dinheiro pra mandar o filho pra creche. Quer dizer, é preciso ser coerente, né. Mas se você prefere viajar a jantar fora (como eu), ninguém tem nada a ver com isso! Não tá prejudicando ninguém, não tá incomodando ninguém, então ninguém tem o direito de meter o bedelho. Eu, hein!

Mines disse...

Olha Dri... eu ja acho que vc tem é um certo peso na consciencia pq vc escolheu esse estilo de vida. Pq vc sempre cita esse ou aquele comentário malicioso. Eu tbm vivo na mesmissima condicao que vcs e nunca tive qualquer problema no comentário de quem quer que seja. Nao me afeta meeeesmo. Mas uma coisa vou dizer: o que o chefao fez com voce a despeito dos seus colegas, por terem filhos, essa situacao aqui na Suécia dava um barraco legal com o sindicato...