sexta-feira, setembro 21

A mina é mó songamonga

Eu sempre digo que nós, os consumidores, estamos cada vez mais exigindo preços menores dos nossos produtos: roupas, coisas de casa, até carros! O produtor, não importa em que país, JAMAIS vai abrir mão do lucro dele, então, o preço baixo que o consumidor quer vai sempre ser as custas de material mais barato, mão de obra mais barata, logística mais barata. Antes de meter o pau na GAP ou afins, que contratam trabalho escravo sei lá onde, lembre-se que você consumidor é a parte chave nesse quebra-cabeça, enquanto você estiver comprando frango a 2 euros o quilo sem questionar, eles estarão te fornecedendo esse frango criado com trabalho semi-escravo, ou lotado de hormônio de crescimento, ou mal armazenado…

Anyway, minha empresa, claro, também está tentando baixar custos comprando produtos na China. Tentar fazer negócios aqui da Europa com a China, é pedir pra sofrer: ninguém entende os costumes, ninguém entende lingua nenhuma, o negócio simplesmente não vai. Até 2 anos atrás tinhamos no grupo um rapaz chinês que era a tábua de salvação de todo comprador que precisava fazer negócios na China. Aí a companhia-mãe decidiu abrir um escritório de negócios na China, e contratou um povo pra dar suporte pras plantas européias e americanas. A primeira coisa que você nota é que os chineses todos escolhem um nome "ocidental" que obviamente não é o nome de batismo. Nosso colega chinês aqui no escritório da Holanda é Zheng, ele disse que é o mais aproximado da pronúncia do nome original dele ( que quando ele fala, pra mim soa exatamente como Zheng, mas ele disse que não é ), ele não quis escolher um nome muito diferente. Mas a grande maioria escolhe nome de stripper americano – tenho vários contatos Kevin, Cindy, Linda, Mandy. A chinesa que dá apoio ao meu grupo é Chris.

Ela foi a primeira da classe dela ( eles colocam isso no CV e quando se apresentam na introdução, mencionam em que lugar da classe se formaram ), trabalhou numa empresa eletrônica famosa antes, o inglês é passável. Mas gente, não dá. Capacidade de dedução, pensar sozinha, iniciativa, é tudo ZERO. Eu tenho que escrever e-mail com tantos detalhes, tudo tão explicadinho, que é mais fácil fazer eu mesma. O trabalho de um comprador é 75% confrontacional: o vendedor quer mais dinheiro, você quer pagar menos, é sempre uma batalha – aberta ou velada – mas uma batalha. A mulher tem pavor de confronto, se o fornecedor diz "não posso abaixar o preço", ela responde tudo bem, vou avisar na Europa. O comprador é, por natureza, um sonofabitch, ele tenta negociar com o contato dele, normalmente um account manager qualquer, não conseguiu o que queria, ele liga pro chefe do cara. A Chris só fala com o fulano do nível dela, eu falo pra ela "escalar" pro gerente do cara, ela se recusa – só o gerente dela pode "escalar" pro gerente do cara – os céus vão abrir, São Pedro vai descer e condená-la ao inferno se ela cruzar a hierarquia e telefonar pra alguém acima dela. Da mesma forma, se alguém do meu grupo pede pra ela ligar pro gerente de empresa tal, ela imediatamente convoca uma reunião por telefone com o gerente da empresa e comigo porque eu sou a gerente do comprador – coisa que aqui só é feita em última instância.

E porque a gente tem que aguentar esse inferno todo? Ah, o precinho pode ser bem camarada. Agora deixem-me fazer uma pergunta séria. A gente se move, se revolta, faz boicote (not) a empresas que são descobertas explorando trabalho semi-escravo ou infantil em qualquer país pobre, agora vejam só – aqui no norte europeu, a média de valor horário ( labour ) por empregado é € 24 – uns €13 vão em média pro empregado, o resto é imposto na China €2.20! Agora me digam, ganhar menos de 2 euros por hora, é muito diferente de trabalho semi-escravo?

Recentemente eu comecei a usar os esmaltes Shellac, canadenses e carésimos. Meses depois do lançamento aparecem no mercado duas marcas "alternativas", chinesas, claro. Uma delas conseguiu homologação de venda na Europa, ou seja, deve ser ok. A outra não – a mais barata, claro – mas o que me fez rir copiosamente foi o nome, CCO Shellac abreviação de Carbon Copy Of Shellac.

Há dois meses fui comprar meu Kerastase ( aliás, me perguntaram qual eu uso, é o beginho com tampa laranja, acho que é Nutrisse e realmente, outros produtos da Kerastase não me agradaram muito ), e ao invés de made in France, tava lá, made in China, e o detalhe: nem um centavo de desconto. Entrei em contato com a Kerastase, me disseram que era falso, pediram o endereço do salão – que era um boqueta aqui em Eindhoven. Voltei lá e eles não vendem mais o produto, agora tenho que ir a um outro salão – todo chiquetoso – mas o preço é o mesmo de sempre e o produto made in France.

Enquanto eu escrevia esse post, a Chris Chinesa ligou, está muito confusa com um documento que eu pedi pra ela fazer. O problema é que eu escrevi: faça a seção 1 assim, a 2 assado e a 3 assado; ela me pede se dá pra eu fazer o documento eu mesma só com os espaços dos números pra ela preencher. Então me lembro do meme que rolou no facebook: futebol Brasil 8 X China 0; educação China 8 X 0. Sério, prefiro trabalhar com qualquer brasileiro estudante de escola pública e formado nas faculdades Bandeirantes, mas espertinho; do que trabalhar com essa chinesa primeria da classe da Universidade de Shangai mas uma completa songa-monga.

6 comentários:

Marcita disse...

Aaaah!!!! Eu bem estranhava o nome de uma chinesa que trabalha comigo. Agora já encontro explicação!!!!
E sim, como são enrolados e difíceis de compreender as coisas!!!!

Mary disse...

Pois é, na teoria eles são nota máxima, na prática é outra estória.

Ana Célia disse...

Bem, a menina é uma songa monga aos nossos olhos ocidentais. Ela nasceu, cresceu e vive nessa cultura. Posso estar muito errada, mas pelo o que vejo e entendo, eles são treinados a atender comandos, e não a treinar o raciocínio lógico ou opinar.
Até entendo o medo dela em não querer falar diretamente com seu superior, mas já que os chinezinhos estão trabalhando com europeus deveriam ao menos abrir algumas exceções nessa coisa da hierarquia, como nesse caso.

Mas realmente, deve ser exaustivo mesmo trabalhar com gente com cultura tão diferente assim!

Láris disse...

Ana Celia, concordo parcialmente com o que vc falou. Acredito que o problema dos chineses e dos orientais é de estilo, mas nao acho que sejam terinados para atender comandos, e nao treinados para opinar.

Os chineses sao espertos, ams como em qualquer lugar do mundo tem gente com pouco inciativa, e mais reservado. Trabalhei tres anos com uma americana que eu queria MATAR por ser estilo songa-monga. É possivel encontrar gente lerda em todo canto.

Eliana disse...

Ela pode ser songamonga, mas tem sorte...tem um trabalho rs...Não posso falar muito a respeito. No entanto me lembro de uma chinesa com quem estudei. A mina era ambiciosa, inteligentíssima e levantava várias questões nas discussões em sala de aula. Quando estava relax, chegava a ser uma songamonga hahaha Hoje ela tem o próprio negócio, casou e tem um nome ocidental hahahah Bom fim de semana.

Line disse...

Não acho que ela seja songa monga não, concordo com a Ana Célia. Isso é o que vejo na minha empresa também, a diferença cultural é muito evidente, achar que isso é burrice seria querer simplificar muito, na minha opinião.