quarta-feira, novembro 11

O lado de cá e o lado de lá

Ontem eu li o blog da Fernanda do Batata Belga ( link aí do lado ) sobre os problemas dela com a empresa, e sobre a discussão de se a mãe ( ou pai ) que fica em casa pra cuidar de filhos doentes pode tirar esses dias livres ou não. Eu sinceramente não sei o que diz a lei belga ou holandesa, mas na minha empresa anda acontecendo umas coisas que eu gostaria de comentar.

Eu não tenho muito contato com casais com filhos, logo eu não tenho muito como dizer se normalmente é o pai ou a mãe que fica com a criança caso ela adoeça. Entretando, essa semana eu estava conversando com meu diretor sobre isso, e vendo umas estatísticas.

Meu departamente está contratando. São várias vagas, e mais de 20 candidatos já foram entrevistados. Nenhuma mulher. Nada é oficial e nada é declarado, mas o fato é: nenhuma mulher foi convidada para entrevistas.

Vocês sabem aqui do caso da grávida. A funcionária engravidou e negociou com o diretor trabalhar 1 dia a menos por semana. Ele não gostou mas concordou. Ao voltar da licença maternidade, ela decidiu que não podia ficar 4 dias da semana longe da filha, e usou de uma lei holandesa para trabalhar apenas 3 dias por semana. Quando esse benefício estava para expirar, ela engravidou novamente, e para piorar, deu um mau-jeito no pescoço e saiu de licença maternidade 5 meses antes do parto.

Essa semana meu diretor me mostrou uma estatística do seguro-saúde. O maior índice de absenteísmo é de mulheres com filhos. É dado concreto.

Eu entendo o lado da mãe que se vê sem saída quando o filho está adoentado e a creche o manda de volta pra casa. Eu entendo o lado do gerente que tem que lidar com a ausência do funcionário.

Sinceramente eu acho que as mulheres tem que bater o pé e demandar do parceiro que revezem nessa circunstância. Não importa quem ganha mais, qual carreira seja mais promissora, uma coisa é duas vezes pro ano você ter que faltar porque o filho está doente, outra é você ter que faltar 4. Putz, se já é chato ligar quando a gente tá doente ( eu pelo menos detesto ), imagine ficar ligando toda vez que o filho fica doente adicionado às nossas próprias doenças.

Uma outra saída para quem não quer dar explicação é tirar uns dias de férias. Alegar um imprevisto pode ajudar quem não quer ser visto como "aquela que a qualquer espirro do filho tira o dia pra cuidar dele". Eu sei que a pessoa não devia ter que usar suas férias pra isso, e que se existe lei que garanta esses dias pagos pela empresa que não deveria haver discussão / cara feia, mas se formos honestos é o que acaba acontecendo, o chefe pensa isso, os colegas pensam isso...

Mas o que devia existir mesmo é um serviço na creche de babá-doença. Podem até cobrar mais, e por hora, mas deveria haver um serviço de um profissional que vá à sua casa ficar com seu filho doente caso você não tenha com quem deixar. Taí, vou começar um negócio novo e ficar rica.

Que dificuldade é tudo isso viu. Fico furiosa da vida com essa ausência de mulheres no processo seletivo, mas cada um convida pra entrevista e aprova os candidatos que quiser. E não culpo os diretores que estão escolhendo os candidatos, só no meu grupo temos 3 vagas de 12 abertas, e agora temos um colega ( homem ) doente. Tá todo mundo com trabalho até as orelhas. Uma pena que em épocas brabas dessas vagas boas sejam reservadas só a homens.

6 comentários:

Camila disse...

Continuo procurando emprego, Marido me disse que já saio em desvantagem... por ser estrangeira, casada, com 34 anos e mulher. Depois de tantas recusas, concordo com ele...

Adriana disse...

Dri, eu quem o diga. Lembra da história, filho com febre (terminou) sendo virose, sogro internado às pressas. Nem assim, consegui uma atitude simpática do chefe. Tanto eu quanto o marido tivemos que tirar livre. É um pesadelo viver assim!

Cris disse...

No meu caso, por saberem na minha empresa que o Martin trabalha de casa, querem usufruir disso toda e qualquer vez que o Tom fica doente. Teve dia que bati o pé e disse para eles que isso tem que ter um meio termo, que meu marido não fica em casa com as pernas pro ar, afinal trabalhar de casa não significa que não trabalhe prá valer apesar de ter um horário mais flexível. Agora estou com uma colega saindo e outra grávida.. me chamaram para uma reunião todos bem simpáticos me pedindo flexibilidade, ou melhor, para vir trabalhar no meu dia de folga caso nenhuma das outras esteja presente. Eu disse que 'sem problemas contanto que a empresa pague o dia extra de creche do meu filho'.. eles deram prá trás... disseram que como eu já fiz isso diversas vezes como quando alguma colega está de férias, acharam que não seria problema eu repetir a dose sempre que necessário. Eu disse que só o faço de vez em quando mas que não posso simplesmente deixar o menino em casa com o pai volta e meia só porque ele trabalha em casa e tem mais flexibilidade no horário. O pai, com um bebê em casa, não vai conseguir fazer o trabalho dele e às vezes precisa tirar o dia de folga para isso.. sendo que a minha empresa me dá sim "um" dia de férias para compensar a minha presença no dia de folga mas não me paga o dia de folga do meu marido e nem o dia extra que me custaria se eu deixasse o bebê na creche em um dia que não é o de praxe.
Flexibilidade é uma coisa, abuso é outra. Esse é o maior problema no meu caso. Quero dar uma mão e eles logo se acostumam e querem o braço todo.

Esther disse...

"Sinceramente eu acho que as mulheres tem que bater o pé e demandar do parceiro que revezem nessa circunstância. Não importa quem ganha mais, qual carreira seja mais promissora..."
Eu diria... "Sonhar nao custa nada... O meu sonho e tao real".
Infelizmente nao e bem assim...
Rivka.

Marcia disse...

Se existem empresas que acham que não vale a pena contratarem mulher de 34 anos, casada e estrangeira, melhor não trabalhar para elas mesmo! Que mentalidade é essa, céus!
Essa questão de creche é muito mal resolvida na Holanda. Por isso dá tanto problema. Na Suécia é bem diferente, existem creches 24 horas lá, e é quase de graça!

Fernanda disse...

Eu não sei como o sistema de saúde funciona aí, mas aqui funciona por meio de “mutualiteiten” que servem meio como intermediário entre você e os hospitais. Na sua mutualiteit (a minha é a christelijke mutualiteit) vc pode pedir para uma enfermeira ficar com seu filho em casa (e acho que custa 10 euros por dia … nada!). A única coisa é que vc tem que pedir com 24h de antecedência e a doença não pode ser muito contagiosa.
O meu problema dessa vez foi que nós duas tivemos gripe suína e a mutualiteit não manda ninguém para essa gripe.

Eu concordo com vc sobre os dias de férias e geralmente é isso que eu faço. Também concordo com o revezamento entre os parceiros (o.d.e.i.o. essa mentalidade de que é mãe quem tem que fazer tudo ou quem tem que abrir de mão de tudo para ficar com o filho), também dá certo lá em casa (até pq marido pode trabalhar de casa quando tem atestado que a filha está doente).
O problema é quando nada disso dá certo e você tem que ficar em casa pela segunda vez no ano …
Mas, indiscutivelmente, em algumas áreas é simplesmente suicídio profissional atender a algumas necessidades de um filho (e eu fico puta mas entendo o motivo de não incluir mulheres em processos seletivos para vagas que exigem hora extra, viagens, etc).

Abraço
Fe