terça-feira, julho 14

Fruto do meio


Nós somos frutos do meio.

Profissionalmente também.

Por 10 anos eu trabalhei no Brasil, onde as pessoas são mais emocionais, mesmo nas suas relações profissionais, do que aqui na Holanda.

Enquanto no Brasil as discussões numa sala de reunião não demoram muito a tomar um tom acalorado, aqui na Holanda, o circo está pegando fogo, o jabá assando, a porca entortando, e todo mundo sentadinho numa saleta sem janela, com duas garrafas de café, um beamer, discutindo em monotom um crash plan praquele fornecedor que está falindo. Impressionante.

Eu, claro, tenho que me controlar, porque sou fruto do meio, e por 30 anos, 10 de vida profissional, meu meio foi o Brasil.

Geralmente eu consigo manter o tom calmo, baixo, controlado. Não como eles, mas num nível aceitável, o que exige um enorme controle de mim.

Hoje entretanto, depois de tantas semanas num estresse sem tamanho, com fome porque a reunião se alongou pela hora do almoço adentro, com umas 6 pessoas que não entendem nada da área de compras, fiquei a um triz de "lose it", perder as estribeiras. A solução nesse caso é dizer, sorry that I feel so frustrated, but… Dizer que você está frustrada sempre ajuda, porque ficar "frustrada" é profissional, não é ter chilique. A reunião foi encerrada ali porque todos tínhamos uma outra reunião importante pra atender, mas mais tarde meu diretor, que ainda não tinha me visto tão "frustrada", veio discutir o assunto, e depois de eu expor todos os argumentos, concordou comigo.

Ele ter concordado comigo é bom, mas não deixo de estar "p da vida" com o fato de eu ter chegado tão perto de perder as estribeiras.

O que me impressiona de uma forma indescritível, é que nas mil entrevistas que eu fiz nessa empresa e em tantas outras, exigiram tanto de mim, eu tinha que ter talento para micro management, cultura de changing management, helicopter vision ( essa pediam em todas! ), e hoje, vendo quem trabalha comigo, metade tem visão de metrô paulista, que helicóptero que nada! Será que exigem mais de todos quando o país está em crise e há poucos empregos ( como foi o caso em 2003/2004 ), ou exigem mais porque eu era estrangeira?

Mas anyway, acalmei, estou indo pra casa, depois de ficar esperando u über-director por 2 horas. Vou-me, eu e minha incrível visão de helicóptero, microgerenciar minha cozinha, estudar os riscos de um macarrão com camarões versus batata com frango grelhado.

Blé.

1 comentários:

Kate Le Fay disse...

Dri, muito interessante esses posts profissionais, nos ajuda a entender o comportamento deles no trabalho e concordo com você: muitos holandeses não estão preparados. Eu também ficaria frustrada no seu lugar... Boas férias, aproveite para recarregar as baterias, você merece!