terça-feira, fevereiro 1

Mensen met een zachte 'g'


Não tendo família holandesa, meu contato com os holandeses se faz no trabalho.

Meu primeiro emprego era em Amsterdam mas a maioria dos meus colegas não era holandês.

No segundo, trabalhava numa salinha fechada com 1 colega, a ex-grávida e demorou, mas nos tornamos boas colegas.

Aqui no emprego atual, não só o grupo é maior, como estou a mais tempo, e agora que gerencio um time, tenho mais contato ainda.

Se vocês olharem no mapa, verão que Eindhoven fica ao sul do país, na província de Noord Brabant. Como estamos bem próximo da província de Limburg, temos muito contato com gente que mora lá e vem trabalhar aqui, ou que nasceu lá e veio pra Eindhoven, enfim, a maioria é de "sulistas".

Dr. Alice disse que Brabant é a Minas Gerais da Holanda, valendo-me da comparação, Limburg seria a Bahia ( ou o interior de Minas? ). Estamos aqui no caipirolândia, ou como diz o resto do país, in het land van de boeren, na terra dos sitiantes. Eindhoven é a quinta maior cidade da Holanda e é o maior centro econômico da região, mas comparada com São Bernardo ( que é minúscula perto de São Paulo Capital ) é um pum. Um pum verdinho e organizado, é verdade, mas um pum. Eindhoven não tem um centro histórico com Den Bosch, não tem canais como Breda ( outras cidades de Noord Brabant ), mas compensamos com bastante verde. São ciclovias no meio das florestinhas, em Nuenen, aqui do lado, tem o festival anual dos jardineiros, a avenida que liga a A2 ( principal rodovia ) ao centro da cidade é toda arborizada. A maioria dos holandeses acha Eindhoven horrorosa, mas eu, paulistana, na primeira vez que vim pra cá, achei tudo bonito demais.

Mas o que eu queria falar mesmo é dos meus colegas caipiras. No nosso grupo temos um belga, um chinês e um Haiano ( quem vem de Den Haag, ou Haia ). O resto são brabantianos e limburguenses ( uau, ó que show minha abrasileiração/tradução ). Enquanto uma das comadres fala da metidês de vários colegas de regiões mais "nobres" do país, eu vos digo: meus colegas são responsáveis pela minha recém adquirida vontade de ser boazinha e me integrar nessa terra!

Meus colegas caipiras são muito legais. A maioria não vem de família rica, pelo contrário, um é filho de padeiros, outro é filho de um sitiante de aspargos, são jovens que foram à escola e à faculdade / universidade como qualquer outro holandês, mas tiveram seu empreguinho de férias pra ganhar uma graninha, quando crianças tinham brinquedos mas não era aquele exagero de ter tudo o que aparece na TV, íam ( e ainda vão ) de férias para campings, stacaravans ou hotéis mais simples.

Esses colegas dão muito valor a construir uma família, e mesmo os mais jovens já moram com as namoradas, estão pensando em casar. A maioria começou a namorar na faculdade, e enquanto no Brasil a maioria dos homens se extende cada vez mais na esbórnia da vida de solteiro ( ou é o que minhas amigas solteiras no Brasil me dizem ), aqui os jovens de 26/27 já estão comprando sua primeira casa com a namorada.

Mas o que eu acho mais legal é que não são afetados, não ficam exibindo seus carrões, não são obcecados por roupinhas Hugo Boss. Eles são super prestativos, por exemplo, no dia que eu tinha que buscar o netbook da minha sobrinha nevou e um deles me levou de carro até a loja na hora do almoço. A grande maioria vem de bicicleta, eu fico ouvindo uma das comadres que trabalha na multinacional famosa de Rotterdam e penso: será que os colegas dela vem de bike pro trabalho? Aqui, se não está frio, até meu diretor vem de bicicleta!

Eu, com tão pequena amostragem, não posso dizer que os caipiras holandeses são mais legais que os ratos de cidade, mas adivinhem quem é o "Haiano"? O véio insuportável. Todo esnobe, todo metido, todo "I'm too sexy for my shirt, so sexy it hurts". Os colegas caipiras dizem que o povo de Den Haag é assim mesmo, metido, como o véio é o primeiro que eu conheço, não posso concordar nem discordar, só sei de uma coisa: tô feliz de tar na caipirolândia.

E como diria o cantor Guus Meeuwis ( o Daniel - eu acho - de Holanda ):

… E eu ando sozinho aqui numa cidade quieta demais
Eu nunca tive problemas de nostalgia
Mas as pessoas estão dormindo e o mundo se fecha
E então eu penso em Brabant, onde as luzes ainda estão acesas…

Aqui eu sinto falta do aconchego dum barzinho de cidade pequena
Do sotaque das pessoas com um g suave
Eu sinto falta até do papo furado...


1 comentários:

Alice disse...

Peraí! O Guus Meeuwis é de Brabant/Minassss, portanto ele é O Betogether!!!! E Limburg, comadre, é Goiás!