quinta-feira, agosto 26

Bolo de Chocolate bem legal


Eu entrei na faculdade com 17 anos. Ninguém deveria entrar na faculdade aos 17 anos. Aliás, não antes dos 20, eu acho. Como pode um jovem de 17 anos decidir "o que ele vai ser quando crescer"? Eu tive a ajuda dos psicólogos e orientadores vocacionais do colégio onde eu estudava, mas o resultado de qualquer teste era algo assim: engenharia de alimentos, comércio exterior, marketing. Ou seja, o cara podia escrever lá no relatório: vai fazê qualquer coisa aê meo, que ía dar no mesmo.

Escolhi comércio exterior. Conforme o curso ía chegando ao fim, lá pelo terceiro ou quarto ano, começou a bater o pânico, tenho que arrumar um emprego, tenho que me sustentar pro resto da vida, ai meu deus - não tem mais desculpa, eu tenho que sair de debaixo das asas dos meus pais. Não, eu não ía deixar de morar com os meus pais, eu não ía ser jogada na rua com uma malinha de roupas, mas meus pais sempre foram bem claros, comigo e com o meu irmão, que a obrigação financeira deles conosco acabava com a faculdade.

Um dos maiores traumas da minha mãe sempre foi a falta de dinheiro, a miséria, a comida contadinha na panela. Ela veio de uma família pobre e numerosa, ela nunca falou do frango e tubaína dividido entre 2 adultos e 6 crianças nos domingos com nostalgia, era com muito ressentimento mesmo. E isso incutiu-se na minha mente desde criança. Ainda estagiária na GM eu só pensava em como é que eu ía garantir que nunca me faltasse emprego a vida toda, que eu poderia me aposentar sem ser aqueles velhinhos paupérrimos que não tem dinheiro pro remédio da pressão.

Foi assim que começou a se formar na minha cabeça a idéia de mudar pra outro país. Meu interesse principal era ou ganhar um salarião pra poder fazer um bom pé de meia ( lembrem-se eram os anos 90 e todo brasileiro tinha a ilusão que em qualquer outro país, especialmente os EUA, chegava-se garçom e saía-se dono do Starbucks ) ou um país onde a aposentadoria fosse decente o suficiente pra eu não passar fome de dentaduras.

Dei então entrada no processo de cidadania italiana, pensando em imigrar pra Inglaterra, e comecei o processo de requerer visto de trabalho pro Canadá, a exemplo de vários funcionários da GM. Já estava de viagem marcada para o Canadá quando vim pra Holanda / Alemanha visitar um fornecedor e conhecer o Bart.

Desde então, apesar da eterna reclamação, sempre me encontro em situações onde eu me pego pensando: "quando eu ía imaginar que isso iria acontecer na minha vida"? Parei no meio do vilarejo em Wales que eu tinha que cruza pra ir da fábrica ao hotel para admirar a lua, só vinha esse pensamento à mente. Um happy hour em Amsterdam, andando de camelo no Egito, indo trabalhar de bicicleta e terninho - passando pela frente do imponente estádio do PSV, a lista é grande queridos leitores…

A minha recente promoção foi um choque. Choque porque nem eu, que não sou nada "simplezinha" e sou ultra exigente, pensei que fosse chegar lá aqui na Holanda, com todos os "contras".

Sei que ainda terei vários momentos de "wow" com essa vida louca de expatriada que eu escolhi pra mim. Estou esperando os loucos momentos de braços abertos. Juro que vou pensar mil vezes antes de reclamar novamente, porque minha vida é mesmo muito especial. Vejam, não estou aqui encorajando ninguém a fazer as malas e imigrar, porque eu tive o apoio do meu marido, psicológico e financeiro, pra não dizer legal - porque imigrar ilegalmente deveria ser a última opção na lista de qualquer um, quase enlouqueci, quase o levei a loucura, gastei praticamente todas as minhas reservas financeiras de 10 anos numa multinacional brasileira até encontrar um emprego aqui, mas, agora que minha vida está mais ou menos "encaminhada", ela é cheia de gratas surpresas sim senhor.

Ontem um momento wow-engraçado, que eu nunca pensei que fosse presenciar na vida. Estávamos tomando o cafézinho da tarde na empresa, e um dos colegas contava que o pai dele, que é padeiro, fazia space cakes ( bolo com maconha ) para um café em Maastricht, que o dono vinha à padaria com as "doses" de maconha, que tinha que ser rigorosamente controlado ( 3 gr. Por um bolo de 2 kg ), propriamente misturado com manteiga derretida pra suavisar o efeito, e que tinha que ter sempre uma janelona aberta senão o povo ficava "alterado" enquanto os bolos assavam. Um dos outros colegas pediu a receita pra esposa tentar fazer ( e eu de boca aberta ), o rapaz prometeu a receita e disse que ele deveria ir comprar a maconha no café trilili-trololó da rua popopó, porque lá eles vendem uma erva mais fresca que é boa pro bolo. E eu comecei a rir, e expliquei que uma conversa dessa no Brasil seria feita bem baixinha, ultra secreta, e o negócio todo de comprar a erva toda muito escondida, e que naquele momento, eu havia escutado uma das conversas mais bizarras da minha vida.

Meus colegas riram muito, e eu acabei rindo também, porque aqui qualquer um pode ir lá no café, comprar 3 gr de maconha, derreter na manteiga e fazer bolo de chocolate pra te levar pro espaço. E isso é bem bizarro, cêis hão de concordar.

Ah, tão curiosos pra saber se eu vou fazer o bolo? Ha ha ha, isso eu não conto, mas a receita pelo menos eu já tenho...

2 comentários:

Jaboticaba Preta disse...

Minhas lombrigas vieram doidinhas conferir a receita de bolo de chocolate para saborear nesse belo dia de verão :P Tem alguma receita boa?

beijocas

lilian moreira disse...

Olá Dri,

Será que tem gosto de maconha?