sexta-feira, agosto 13

Já vou avisando, vou mudar 10 vezes de assunto nesse post!

Um amigo indiano do marido vai ao Brasil e veio em casa pedir dicas. Como já haviamos jantado na casa dele, nós o convidamos para um churrasco. Ele nos trouxe uma cachaça Sagatiba, que é muito boa, e que eu usei para preparar uma enorme caipirada de 1/2 litro de pinga, que ele bebeu praticamente só e me pediu pra repetir. Nunca vi ninguém beber como aquele indiano, e sinceramente, acho meio abuso esperar que sua anfitriã vá ficar a noite toda preparando drinks elaborados pra você.

O roteiro dele no Brasil é uma coisa de louco. Ele vai uma semana à trabalho e vai emendar 3 semanas de viagem, onde ele espera ver "o Brasil de verdade", e aí é que a Adriana se irritou. Ele vai ao RJ e não gostou quando eu disse que ele TEM que ir ao Cristo, ao Pão-de-Açucar. Ele acha que é passeio turístico demais, agora eu pergunto: você paulista, mineiro ou catarinense, que vai pela primeira vez ao RJ, você não vai ao Cristo e ao Pão-de-Açúcar?

E à cada destino que ele mencionava ele queria que eu falasse duma coisa absolutamente extraordiária e exótica pra ele ver, fazer ou comer. Quando eu trouxe à mesa do churrasco um pote de farofa e expliquei como passar a carne em tirinhas na farofa, o indiano dava pulinhos de alegria na cadeira: "see Adriana, these are the things I want to experience in Brazil".

Detesto isso, gringo nos tratar como se fôssemos macacos de circo ou saguis numa jaula a serem observados e admirados pela sua "exoticidade" ( tenho certeza que essa palavra não existe ). Ao fim da visita, já meio irritada e com uma caipirinha de Sagatiba na cabeça, falei pro cara, educadamente, claro: ó, quer ver uma coisa bem bem bem típica? Alugue um carro e vá para a 23 de maio em SP, às 17:00 hrs, de preferência num dia de chuva, nada mais paulista que isso, se tiver os meninos vendendo biju e mentex no farol, melhor ainda.

E nesse dia que o indiano veio, eu decidi que a sobremesa do churrasco, que até com picanha contou, seria creme de papaya com cassis. Mas quem mora aqui já viu o problemão: onde achar o papaya? Essa frutinha sem vergonha, que aí no Brasil a gente deixa estragar na fruteira, aqui é aute-cuisine. Não achei nosso papayazinho, mas achei um mamão médio, meio esverdolento, e paguei, sentem-se por favor, € 7,50 no mamão ( no Makro ). E juro, o cara já tava tão manguaçado que eu podia ter feito um creme de batata com cassis que ele nem teria percebido. Mas então.

E foi essa a primeira loucura que eu fiz pra achar aquela comidinha brasileira, ou quase brasileira, que no Brasil eu nem dava muita bola, e que aqui é manjar dos deuses? Imagina, nesses 7 anos acumulo várias histórias. E ó, você que mora no exterior, grude-se nos amigos mais experientes de expatriação, eles serão sua salvação.

A primeira providência é achar um TOKO amigo. O Toko é a casa de produtos asiáticos, que tem em toda cidade. Eindhoven tem um enorme na Kruisstraat, que é onde, seguindo dica da comadre Holandesa, achei mandioca já pelada e congelada, que aqui se chama Cassava. Você acha a Cassava "in natura" no AH, parafinada, mas essa limpinha e pronta pra cozinhar é uma enorme mão na roda! No Toko também você vai achar o Palm Olie, que é nosso Dendê, pra fazer aquela Moqueca, e essa dica peguei da Márcia do site BnH. E cansada de comer pão de queijo de saquinho, que é vendido aliás no finalmentebrasil.nl ou no caboverdiano de Rotterdam, usei a dica da outra Márcia ( de Rotterdam-Berlin-SP ) e comprei tapioca meel, nosso polvilho, que uso pra fazer pãezinhos de queijo fresquinhos e sem milhões de conservantes e salitres.

Andando uma vez numa casa de produtos naturais, dou gritinhos de alegria: feijão preto, bom e de preço honesto. E bem pertinho do natureba de Eindhoven achei o segundo salvador da pátria: o turcão. Lá achei requeijão praticamente brasileiro ( o Vache que rit quebra um galho mas é enjoativo ), um queijo que parece bem queijo branco, creme-de-leite da Nestlé. Lá tem um negócio chamado Burgur que parece trigo para quibe. Eu sinto a diferença e não gosto ( parece que o quibe tem nozes ), mas tem gente que jura que é a mesma coisa, então vale a pena testar seu paladar ( o burgur é cozido antes do grão ser quebrado, o trigo para quibe é quebrado cru ).

No Makro, além da carne brasileira, com etiqueta em português pra você saber qual é o corte e BEM mais barata que a carne holandesa, eu também compro carambola, e embora no AH já tenha maracujá ( keniano, que é doce e tem a casca cor de beringela ), no Makro tem o ano todo e não só no verão. Sem falar no mamão de milhonário.

Antes de eu começar a trabalhar eu me abalei até Amsterdam num mercadinho português pra comprar calabresa e paio, e de quebra ainda achei farinha láctea, que eu adorava comer com leite gelado. Aliás, lingüiças em geral permanecem um problema, porque eu me recuso a ir a Amsterdam comprá-las e nenhum site envia porque precisa de refrigeração ( dã ), e paulista sabe que feijão carioquinha com uma linguicinha é im-pa-gá-vel.

E guaraná antarctica? Lambei garrafonas de 1,5 lt de Amsterdam até em casa! Já ouvi gente dizer que trouxe zilhões de latinhas na mala do Brasil, e embora a pessoa não diga nada, provavelmente metade estourou, então nem é pra se reclamar muito das garrafas de Antarctica portugas trazidas de Amsterdam. Tem também no tal caboverdiano.

E hoje olhei pra um pacotinho de Fubá que vencerá no mês que vem e pensei, bolo de fubá com pedacinhos de goiabada, mas cadê a goiabada? Pra fazer um bolozinho, terei que entrar na net, encomendar, esperar, receber, e vai me sair uns 5 euros a brincadeira, por uma lata de goiabada que vinha na cesta básica da empregada.

O leite condensado graças a Deus tem a marca holandesa, que é ótima, e cozinhando na pressão ( eu trouxe uma Clockinha do Brasil mas aqui tem umas enormes, lindas, mas que eu nunca usei ) a gente consegue nosso querido doce de leite, que em cima do queijo do turcão, fica diliça ( do morango também ).

O que eu acho interessantíssimo é que metade dessas coisas eu praticamente nunca comia, ou comia se tivesse ali na mesa, quase pulando pra dentro da minha boca, mas agora, eu rodo quilômetros, carrego coisa no trem, pago carga no correio, pago os tubos aliás, pra fazer uma iguaria brasileira qualquer e comer suspirando, como eu nunca suspirei pela mesma iguaria preparada mil vezes melhor do que a que eu faço aqui ( meu bolo de fubá é meio ressequido, eu não tenho a mão da minha mãe! ).

Enquanto isso, quem tá lá no Brasil pergunta: Adriana, e o favo holandês, é mesmo tão delicioso na Holanda? ( ele é Belga! ). Adriana, e a torta holandesa original, é boa? ( ninguém aqui nunca viu nossa torta holandesa, e aquele biscoito com camada de chocolate nem existe ).

Post de gordo baleia saco de areia. Mas é melhor do que falar da alegria de ter achado uma pomada pra frieira nas prateleiras da Kruidvat sem receita ( Canesten ), né?

7 comentários:

Eliana disse...

Jura que vc fez churrasco pra um indiano?!?! Recebi um indiano também que veio a trabalho pra cá e ele pediu pro meu marido me avisar que ele não comia carne de vaca, o que já sabíamos. Fiz arroz, feijão e ovos fritos e ele comeu feliz da vida! hahaha

Wilma disse...

Entendo perfeitamente o indiano não querer vir aos pontos turísticos, afinal se cansou de ver em fotos, mídias, bom mesmo é conhecer uma feira (a de Ipanema, a de artezanato e a de comida mesmo), um bom jogo no Maraca, o pavilhão de São Cristovão representando a cultura nordestina, a praia de Ipanema no posto 9, o mirante do Leblon...não acho que seja gringo querendo rir como você disse, eu mesma sempre digo que não pago pra ver a estátua da liberdade em NY, acho que tem coisas mais interessantes e que eu nunca vi.

pacamanca disse...

Eu sou uma que ja viajou muito om lata de guarana na mala e nunca estourou nenhuminha. Também nunca quebrou nenhuma das muitas garrafas de vinho que ja emigraram comigo daqui pro Rio.

Olha, eu também ja tive essa fase de comer babando coisas que no Brasil nao comia, mas ja passou. Hoje minha comida do Brasil acaba toda vencendo na despensa porque esqueço completamente de fazer. So começo a sentir falta mesmo pouco antes de ir pro Rio, uma coisa totalmente psicologica, sabe. Tipo, assim que comprei a passagem pra ir pro Rio agora (semana que vem, êeee!) fiz logo uma lista das coisas que quero comer por la.

Vida de gordo é uma merda.

Cibelle disse...

Acesso blogs há anos, inclusive o seu antigo, e nunca vi alguem escrever do seu jeito. Você é polêmica, única e cativante.

Marcia disse...

Eu, Márcia ex-Rotterdam, atual São Paulo e futuramente Berlim, ainda dou outra dica: as boas lojas turcas vendem o trigo para quibe igualzinho ao brasileiro, este deve ser fininho e marrom. Eu sabia o nome de cor, mas não me lembro agora. Se comprar aquele mais grosso, o quibe não fica bom, aquilo é para kofta ( que também é gostoso, a carne moída de espetinho).
E com mais sorte ainda é possível encontrar pão sírio igualzinho ao que se vende aqui em SP e não aquele pita sem graça. O turco do meu ex-bairro em Rotterdam tinha.
E bolo de fubá com erva doce não rola? É assim que ue faço o meu.

nini disse...

oi adriana

Meu nome é nivia e moro em Hasselt, Bélgica, acho que uma hora de vc... estava lendo seu blog e vi que vc fez pão de queijo... e to louca procurando como fazê-lo... vc poderia me dizer qual produto vc compra aqui, em holandes mesmo e a marca... aqui temos muitas lojas chinesas e makro tambem (em Nuth NL)então se puder me ajudar, obrigada... se quiser enviar email para mim, ninifx@hotmail.com

Manu Maia disse...

Nosssa Adriana! Eu devia ter lido esse post em Julho [mesmo antes de vc escrve-lo] :P
Passei quase um mês aí e meu Deus, foi um desastre! Cada ida no supermercado era uma aventura. A única coisa que encontrei mais "abrasileirada" foi o tal do leite condensado, consegui fazer um brigadiro de colher [pq não achei aqelas caixotinhas pra enrolar]. Vou voltar em Janeiro e já tô pensando no desespero... mas pelo menos a tuas dicas eu já anotei. ;)
Beijo.