segunda-feira, novembro 22

Ah, Bebé, mamar na vaca cê num qué!


Será que fui só eu? Lá em casa eu nunca pude escolher se ía pra Universidade ou não, TINHA que ir, podia ser pra qualquer coisa que me apetecesse, não não ter curso superior não era opção.

E desde pequena fui doutrinada: você tem que ser a melhor, tem que sempre querer mais, e conforme eu fui ficando mais velha, tem que fazer um excelente estágio, tem que conseguir um emprego invejável, tem que ser bem sucedida.

Eu nem sei qual seria a reação dos meus pais se eu tivesse dito: mas eu quero só o suficiente pra comprar um carrinho, alugar um apartamentozinho, ir pra Porto Seguro com parcelamento em 10X pela CVC, e fazer minha festa de casamento no quintal de casa com lanchinho de carne-louca.

Eu acho que a possibilidade de querer menos na vida nem passava pela minha cabeça, porque eu sempre ouvi que eles faziam por nós ( eu e meu irmão ) mais do que os pais deles fizeram, portanto nós deveríamos também chegar mais longe do que eles chegaram. Querer menos nunca existiu.

Eu até preciso perguntar pro meu irmão como ele educa os filhos dele, porque se for da mesma forma que nós fomos educados, coitados dessas crianças, afinal, modéstica bem a parte, eu e meu irmão não nos demos mal na vida.

Só sei que hoje eu estava aqui na minha mesa, quase chorando de desespero, 4 da tarde e já sabendo que o dia não termina antes das 8 da noite, pensando que vou ter que comer comida congelada de novo, quando eu vi a assistente do departamento fechar a mesinha dela, desligar o computador, passar batom, e dar tchau felizinha porque hoje ela vai assistir HP com uma amiga e jantar fora. E eu brinquei: que inveja! Ela só respondeu: Adriana, é justo você ter inveja de mim, porque eu também tenho inveja de você. Você inveja eu sair todos os dias as 4, e o tempo que eu tenho pra ir ao mercado com calma, de ir pra aula de Pilates, de sair com uma amiga em qualquer dia da semana, de eu nem lembrar do meu trabalho depois que eu saio da empresa, e eu invejo você porque você não precisa economizar 2 anos, se privar de comprar roupas novas, vigiar as compras do mercado, tudo pra poder juntar dinheiro pra fazer uma viagem legal ( ela está indo pra Austrália em fevereiro ).

E eu fico pensando… Será que não tem meio-termo? Mas ué, a Holanda já é um meio termo, afinal essa colega ganha pouco mais de um salário mínimo e mora sozinha, tem seu carrinho e vai pra Austrália, quando isso será possível pra quem ganha salário mínimo no Brasil?

A verdade é que eu sou doida e o que eu quero é trabalhar 8 horas por dia, até umas 9 ainda vai, fechar minha mesa, ir fazer curso de Mindfulness porque eu tô mais que precisando, e ainda ganhar o que eu ganho.

Agora respondam aí: dá pé?

3 comentários:

S. W disse...

indeed

Leticiabon disse...

Adriana, tudo bem que você foi criada para querer sempre mais. Mas já imaginou, talvez, que essa pessoa que casa no quintal da prima e parcela a ida à Porto Seguro em 10x pela CVC esteja ainda mais além que os pais dela, que nem ir para Porto Seguro não puderam? Sei lá... Veja bem, eu moro em Brasília, acho que já comentei isso aqui antes, e aqui só se faz concursos. Desde os meus 25 anos, porque antes não me importava, só fiquei estudando e trabalhando e me divertia com muita culpa. Até que passei em um concurso, depois em outro, depois em outro. Até que hoje, com 31 anos, não estou satisfeita com o local do meu trabalho, mas sim o salário, e cansei de estudar (para concursos). Pois eu usava todo o meu tempo livre para isso. E deixava de fazer as coisas que eu gosto ou fazia com culpa. Hoje relaxei e não penso que isso é se acomodar, porque a vida vai passar e não quero pensar que deixei de correr (adoro), de ver filmes, de ler um livro, de fazer uma comida, porque estive sempre querendo alcançar a perfeição. Ok, foi um desabafo, mas a sua colega de trabalho está certa, cada um inveja uma coisa mesmo.

Mines disse...

É sempre uma questão de prioridades. O que é importante para VOCE, pode não ser para outra pessoa e nem por isso ela vive pior do que vc, só pq não escolheu ter para si todos os bens compráveis. Dessa forma ela não precisa se acabar de trabalhar só pra manter o tal padrão.
Certo? ou Errado? Não existe resposta.