terça-feira, novembro 2

Não julgues...


A Fulana não devia ter dado aquela motinha pro filho adolescente; o Ciclano só vive de politicagem pra cima e pra baixo na empresa; a Beltrana sabe muito bem onde quer chegar com aquele decotão no escritório; o filho da Locha é uma peste, ela não sabe educar aquele menino; diga-me com quem andas e eu te direi quem és…

Dizem que todo mundo julga. Eu concordo. Pode até ser que uns sejam mais bondosos que outros ao julgar, mas julgam.

Ultimamente eu venho pensando que julgar não só é característica de personalidade como é também hábito. E hábito a gente muda, né? Venho repetindo o mantra: não julgue, não julgue, mas é bem difícil viu…

Ontem eu estava pensando, quem julga ( como eu o fiz alguns posts pra baixo ) normalmente só vê um lado da história, ou então se esquece de tentar se colocar nos sapatos do outro pra ver quanto o calo aperta. Estou apontando o dedo pra mim mesma.

Ontem eu almocei com a lourinha que se separou do marido 4 meses depois de casar ( desça uns posts ). Passado o choque, acostumada com a idéia eu fico pensando… será que eu teria feito diferente? É fácil agora dizer que não, mas será mesmo???

Eu sei que o casamento de blogueiras é maravilhoso e coisa de novela, afinal é só isso que a gente lê, maridos maravilhosos e namorados ultra-românticos, verdadeiros Richard Gere's com bouquet de rosas no teto solar da limusine… mas o meu casamento, o da Adriana, tem lá seus baixos, aquele dia em que você tá "p" da vida com o marido, ou a se-ma-na que você está "p" da vida com o marido... A Marina, que morava na Suécia, quando se separou do namorado começou um post dizendo: todo relacionamento é como uma montanha russa, hoje o carrinho da minha montanha russa não encontrou forças para subir os trilhos e o Fulano me disse que não me ama mais. Me marcou muito essa frase.

A colega loira, J., usou ontem uma expressão semelhante, a montanha russa vai tendo cada vez mais baixos, e mais baixos, e mais constantes baixos, e você fica pensando que se emagrecer e ficar mais bonita ele vai te dar mais atenção, que se você for promovida e ganhar mais vai ser mais valorizada e ter mais atenção, se você casar e passar de namorada a esposa vai ganhar mais atenção, e você acaba, mesmo vendo que as coisas vão mal, embarcando em mais uma tentativa pra ter o que falta na sua relação. Eu julguei, eu pensei ( e falei e escrevi ), como pode você ver que vai tudo mal e mesmo assim planejar um casamento um ano, e casar? Mas a verdade é que se eu tivesse 27 anos, numa relação de 11, com meu primeiro namorado que eu conheci aos 16, não sei se eu teria feito as coisas diferentes… Colocando-me - generosamente - no lugar dela, eu penso que deve ter sido muito difícil, e que pelo menos ela parou antes de entrar no joguinho de ter filho pra salvar relação, que é a coisa mais comum e o capítulo mais manjado do livreto ( ó eu julgando de novo ).

E como ela fala, no fim, estar infeliz no casamento, e ficar remoendo o aniversário de namoro esquecido, a lingerie não apreciada, o corte de cabelo não notado, cria - numa garota de 27 anos que só teve um namorado na vida - a predisposição ideal pra se encantar com um colega de trabalho mais maduro, bonitão, que elogia, aprecia, valoriza.

Eu entendo. Entendo e torço para que não seja tudo ilusão da cabeça dela, e crise do lobo ( não julgue, Adriana ) dele, e que daqui há vários anos eu os veja ainda juntos, felizes, levando a vida que sofreram ( e fizeram sofrer ) pra ter.

Estou agora repetindo o mantra para ser mais bondosa com ELE. Confesso que ainda penso na coitada da esposa que nesse momento teve que sair da casa onde moravam há 11 anos porque num milagre venderam rapidinho, que está vivendo com uma pensão de 980 euros ( que ele acha muito, 30% do salário líquido dele ), com duas filhas para cuidar, procurando emprego depois de 7 anos sem trabalhar, já na casa dos 40 sem grandes experiências profissionais ou carreira propriamente em si. Eu sempre digo que quem fica em casa pra cuidar de filho está ultra sujeita à uma meleca dessas, mas quando a gente vê acontecer, ainda é de revoltar. Eu penso que já que havia um acordo que ela cuidaria das crianças e da casa, que agora ela deveria levar 50% do salário dele, não foi esse o trato, formar uma família e dividir o trabalho meio-a-meio, você fora de casa e eu lavando, limpando, cozinhando, parindo? Meus colegas ( assim como meu irmão há 8 anos ), acham que se a relação acabou ambos tem o direito de tentar reconstruir a vida, e que é um absurdo o homem ter que bancar a esposa com 50% do salário até quando sabe-se lá… e que claro, vai sobrar pouco dinheiro pra gastar com a loira novinha ( sorry people… Adriana, não julgue ).

Como vocês podem ver, tenho que praticar o Não Julgue muito ainda…

3 comentários:

Alice disse...

Gostei do seu mantra, estamos sincronizadas: falei 1 ou 2 palavrinhas sobre mantra hoje tb!

lilian moreira disse...

Olá Dri,

Mantra dja em mim, não julgue Lílian, não julgue...

Belo post.

Anônimo disse...

Oi Dri. Fiquei sabendo de seu blog ontem com outra leitora tua. Estou morando em Amsterdam faz um pouco mais de um mês. E exatamente hoje estou numa crise infernal e quase me separando do namorado... que coisa isso ... será que são os hormonios, as tulipas ou a chuva que cai lá fora? Bom, escrevo um blog também, tá no começo. Vai lá: www.iamsterdam.com.br - ah, e vou tentar não julgar... mas realmente é dificil não julgar o outro.. pior é julgar a si mesma... ai que o bicho pega... beijocas.