terça-feira, novembro 16

The Sky is not so blue today...


De todas as coisas boas que meus pais fizeram por mim e pelo meu irmão, permitir que tivéssemos animais de estimação foi uma das melhores e mais importantes.

Tivemos gatos, um cachorro, passarinhos… Cachorro foi só um, o Ship, que "veio" com a nossa casa, a dona estava indo morar num apartamento que não permitia animais, e ela ficou exultante vendo a nossa alegria, minha e do meu irmão, ao saber que poderíamos ficar com o Ship. Ele era um cachorro especial, mas todos os cachorros são especiais, não são? Inteligentíssimo, fazia vários truques, era o nosso orgulho. Ship era, segundo 100% das pessoas que o conheciam, o cachorro mais feio do mundo. Um cruzamento de pequinês com qualquer vira-lata, ele era feinho mesmo, mas simpatissíssimo, em alguns minutos conquistava qualquer um. Ship viveu uma longa vida, e acho que uma vida bem feliz. Quando ficou velhinho foi perdendo os dentes, teve um derrame, a gente foi se preparando para o fim que chegava. Minha mãe diz que um dia antes de morrer ela percebeu que ele não aguentava mais, e conversou com ele, disse que ela ía sentir muito a falta dele mas que ele podia ir. E ele foi.

A Ali, nossa última gatinha, eu comprei num petshop muito do ruim. Eles colocaram aquela caixa ali na vitrine, com esses siameses, todos entuchados num espaço minúsculo. A petshop ficava num shopping, e numa manhã eu vi aquela ninhada ali, tão pequeninhos, me apaixonei. Tínhamos acabado de perder nossa gatinha, envenenada, minha mãe não queria mais gatos, mas ao fim da tarde, quando voltei àquele shopping, me cortou o coração, havia sobrado apenas um gatinho, que sozinho, chorava. Entrei na loja pra perguntar o preço, a vendedora disse: é fêmea, ninguém quer, ela é muito pequeninha. Eu quiz. Levei a Ali pra pra casa. Na época o francezinho Jordi cantava Allison, e daí saiu o nome dela. Ali era a companheira da minha mãe, morria de ciúmes dela. Quando o Bruno nasceu, a gata imediatamente se pegou de amores por ele, ele fazia gato e sapato dela, e era engraçadíssimo ver minha mãe levando o Bru pra passear de carrinho de bebê pela vizinhança e a gata seguindo que nem cachorro na coleira. Ali foi a companheira de divórcio da minha mãe, quando mudei pra Holanda cogitei trazê-la, mas naquele momento pior do que a saudade que eu teria dela, seria minha mãe, que havia perdido o marido, vendido a casa onde moramos 25 anos, se despedido da filha que foi pra outro continente, perder também a gatinha que tanto fazia companhia pra ela. Ali foi pro apartamento com a minha mãe e sempre ía pra Holambra com ela, e numa das férias minha mãe olhou pra ela lá estendida ao sol, no jardim, e teve dó de trazê-la pro apartamento. E assim Ali ganhou casa nova. A família foi aumentando, e os três cachorros imensos do meu irmão tinham apenas um medo na vida: medo da Ali, a chefona. Ali já estava com 17 anos, firme e forte, briguentinha que só ela, e num dia começou a mancar, o veterinário deu remédios, em uma semana ela se foi. Velhinha, morreu rápido, na sala com meu irmão e minha cunhada, no cobertorzinho dela.

Hoje, com os meus meninos, rezo para que eles morram como o Ship ou a Ali, velhinhos, perto de nós. Que nós tenhamos tempo de nos preparar para a partida deles.

Nossas duas Mimi's e o Chaninho não tiveram a mesma sorte. Os três morreram envenenados por um vizinho que colecionava passarinhos. O vizinho aprendeu a lição dele mais tarde de forma terrível ( contarei o "causo" abaixo ), mas levou embora três dos nossos bichinhos, e acreditem-me encontrar seu bichinho morto no telhado é de acabar com qualquer um. Fui eu que achei a Mimi 2.

Tem quem não entenda que a morte de um bichinho de estimação seja para o dono tão triste quanto a morte de um parente querido. Meu irmão mesmo diz que "bicho é bicho". Mas eu encontrei muita gente nesse mundo que não valia um décimo do que valiam meus bichinhos, do que valem meus meninotos. O animalzinho não se importa se você é feio de doer, se suas roupas são do Carrefour, se seu carro é um poisé. Pra ele importa que, além de cuidar dele dando comida, água e uma caminha, você seja aquela mão amiga pra jogar a bolinha pra ele pegar, pra fazer um afago na barriga, pra desgrudar aquele durex que colou na pata dele. Com um bichinho você não tem que TER, você tem que SER.

Ontem recebi uma ligação ultra triste da Holandesa, o Sky gorducho foi pro andar de cima. Não há o que se dizer nessa hora, porque na cabeça só passa "putz, que merda". Ela postou uma foto hoje no blog dela ( vejam o link ali do lado ), que me levou às lágrimas, o Sky era um gato ultra bonachão, gorducho, que eu apertei bem. Continuo sem ter o que dizer a ela, porque nada consola, nada alivia a tristeza, nada ajuda. Só posso dizer: força.

*
*
*

*** O causo: o vizinho colecionava passarinhos, trocava e levava à exibições. Quando mudamos praquela casa, além de herdar o Ship, levamos a Mimi, que logo se tornou a melhor amiga do Ship. O vizinho veio nos pedir pra "nos livrarmos" da Mimi porque ela "estressava" os passarinhos e eles perdiam penas e ele pegava menos dinheiro quando trocava os passarinhos. Claro que a gente disse que era impossível. Mimi ficou grávida, teve um gatinho só, o Chaninho. Chaninho morreu envenenado aos 6 meses, a Mimi foi procurá-lo no dia seguinte e foi envenenada também. Em 3 dias perdemos os 2. Meses depois, alguém que sabia que a gente gostava de gatos, deixou uma filhotinha na nossa porta, a segunda Mimi. Mimi morreu envenenada aos 2 anos de idade. E como a Ali sobreviveu pro tanto tempo? Sorte. Sorte negra, mas sorte. O véio colocava veneno dentro de uma bolinha de carne e jogava no telhado. Numa noite ele fez o manjado truque, mas a bolinha deslizou de volta para o quintal dele. Aconselhados pelo veterinário, estávamos criando a Ali só com ração, e gato que come ração raramente se interessa por carne, então ela ignorou a bolinha de carne ( ou nem viu, vai saber ). No dia seguinte a filha do véio veio na casa dele com o filhinho de 2 anos e brincando no quintal o meninho achou a bolinha e comeu, teve convulsão, veio ambulância, o menino ficou semanas no hospital, sobreviveu mas com sequelas. O véio mudou pra um sítio, onde eu espero que ele tenha aprendido a lição. Aliás, nós nunca reclamamos dos mais de 20 canários que ele criava, embora muitas vezes a barulheira fosse irritante e o cheiro das gaiolas bem forte. ***

8 comentários:

Anônimo disse...

Olá
Leio o seu blog e gosto muito. Também adoro animais e o seu post é super lindo e sensível! Quando fui emigrante na Holanda adoptei uma gatinha, Estrelinha, vim embora e tive que a deixar com um grande Amigo. Tenho muitas saudades dela e sempre que telefono pergunto por ela, jamais a esquecerei...

vcdarcie disse...

oh, me fez chorar.
tb tive varios animais de estimacao, o penultimo cachorro, um pastor alemao, era docil, lindo, meigo e inteligente. ficou doente, estavamos na praia e ele aguentou ate a gente voltar pra se despedir, e meu pai fez do mesmo jeitinho q sua mae, conversou com ele e logo ele se foi.
ai ai, a gente se apega demais neles ne? hj tenho a Nikita, uma Yorkshire, minha menininha mimada e companheira...

qto a esse vizinho, nossa que palhaco....

Sheila disse...

Puxa, que história essa do seu vizinho. Qta maldade, mas a gente planta o que colhe, não é?

Tenho um Cavia, e , acredite, é a minha grande paixão. Quase ninguém entende isso, não enxergam o qto ele é doce, fofo e querido!! Cuido dele como cuidei de meus filhos, verdade!!!

Wilma disse...

Que louco esse vizinho!!! espero q tenha tomado como lição, coitada a cça com um avô idiota.

Láris disse...

Bebel Gilberto vanta que para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza... Seu post é trsite mas muito, muito lindo.

Jaboticaba Preta disse...

Nossa que tristeza :( Eu também amo animais, principalmente os gatinhos.

Marcia disse...

Bem feito pro seu ex-vizinho fdp! Além criar passarinhos em gaiolas o que já uma crueldade sem fim, ainda matou seus gatos envenenados (e talvez muitos outros na vizinhança). Não tenho pena nenhuma do neto dele nem dele.Eu sempre digo que aqui se faz, aqui se paga.
Fico muito p da vida quando alguém diz para alguém que perdeu seu animal "mas era só um cachorro..." (ou gato, ou qualquer outro animal).

Unknown disse...

Adriana,

Leio o seu blog desde sempre mas nunca comentei. Concordo com cada palavra sua, tenho meus peludos e meu filho os ama tanto ou mais do que eu, e sei o quanto fazem bem a ele, a todos nós. Temos de tudo um pouco, uma gata miúda adotada que não se acreditava que viraria a 1ª noite e hoje manda nos outros três, todos cachorros e todos submissos as vontades dela, até o pastor alemão, que o que tem de grande tem de amigo se curva diante da pequenininha invocada. Tenho uma vira lata inteligentíssima e um poodle velhinho, velhinho.

Credo, como o mundo pode aturar pessoas como esse seu antigo vizinho ? Me desculpe se parece crueldade mas bem feito, pelo menos esse verme teve uma resposta as suas maldades. Deus me livre de encontrar uma pessoa assim.

Beijos e nos mostre mais dos seus peludos que são tudo de bom.