segunda-feira, novembro 15

O projeto brasileiro

Sexta-feira eu decidi que não iria passar o final de semana remoendo sobre o projeto brasileiro com o gerente francês, e aproveitei uma reunião com o diretorzão para "colher" mais informações.

Ele explicou que nessa fase, estão fazendo o trabalho "de base", e que a matriz em Seattle pediu para selecionarem um funcionário que tivesse conhecimento do caminhão europeu e algum conhecimento do mercado brasileiro, que tivesse tempo disponível para viagens exporádicas nos próximos 18 meses e que tivesse interesse em ser expatriado no Brasil em 2 anos, pelo período de 5 anos.

Eu preencheria quase todos os requisitos, o "quase" fica por conta de que eu não quero voltar a morar no Brasil. Mas Adriana, voltar ao Brasil patrocinada, por tempo limitado, porque não?

Explico. Não se sabe ainda onde será a planta. Pode ser em algum lugar legal ou pode ser em Coxipó da Ponte do Sul. Como vou me comprometer agora sem saber pra onde eu iria? E daí vem o Bart, onde ele trabalharia? Novamente, em SP seria fácil achar algo na área dele, já na Vila dos Remédios… Sem falar que se tivéssemos que ficar em SP ou RJ, eu viveria preocupada com a segurança dele, que se percebe que é gringo a quilômetros de distância. Os termos do contrato de expatriado daqui também não são os melhores, eu teria que alugar minha linda casinha nova aqui na Holanda, e no Brasil, só eu teria direito a um carro ( se bem que o Bart tem paúra de dirigir no Brasil ). Mas o que mais pesa é que se o Bart ficasse esse tempo todo fora, sem trabalhar, ele voltaria naquela idade difícil de se mudar de emprego, teria passado a fase do "mid-career". E tem mais, será que eu me adaptaria? O barulho, o tráfego, a poluição, a politicagem empresarial, o povo falando uma coisa na frente e outra pelas costas, os eufemismos…

Mas e o francês, quer voltar ao Brasil? Não! Mas ele não disse nada ao diretor. Quando conversamos ele disse que vai aproveitar a oportunidade enquanto puder, que o diretorzão perguntou a ele se ele moraria no Brasil e ele disse que com um contrato favorável ele iria, mas o que ele diz é que contrato favorável para ele é apartamento pago, dois carros, escola internacional pros dois filhos, emprego para a esposa ( ela é uma executiva na área de marketing duma empresa de alimentos famosa ), e compensação salarial. Ele sabe que vão negar, e sabe que ele corre um sério risco de "se queimar" profissionalmente, mas ele acha que os benefícios imediatos compensam.

E é isso. Cá estou eu. Cheguei a pensar: será que eu deveria ter feito o mesmo e mentido? Mas a verdade é que eu gosto muito do meu emprego para arriscá-lo assim. Eu sei que eu vou me remoer muito, porque eu fui criada para não aceitar nada abaixo do top do top do top, e eu tenho certeza que eu vou vê-lo deslanchar na carreira nesses 2 primeiros anos e vou pensar que poderia ter sido eu. Estou sim me culpando por tomar o que é agora o caminho mais fácil, mas vou para já.

Está na hora de eu parar de me culpar por tudo. Imigrar aos 30 anos de idade não é bolinho. E não vou "desimigrar" aos 40 para reimigrar aos 45. Mereço agora relaxar e colher os frutos do que eu ralei nas pedras pra conseguir aqui na Holanda.

Combinamos que quando chegar a hora de tropicalizar os produtos do meu grupo eu serei envolvida e voilá, assim será o meu involvimento com o projeto. Enquanto isso eu terei meu coração partido várias vezes, porque uma decisão racional raramente corresponde a sua decisão emocional, e a emocional já me vê de terninho no Brasil, perto dos meus familiares, assistindo novela da Globo.

Porque é que eu sou tão complicada, respondam!

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