quarta-feira, abril 20

Control freak


As pessoas acham que é bonitinho falar que "eu sou control freak", que eu tenho problema em "delegar", como se isso fosse mérito, como se isso fosse sinônimo de competência, como se isso quisesse dizer que se pode fazer tudo e fazer bem.

Eu, muito infelizmente, sou control freak. Esse imenso defeito está acabando com a minha vida, a nível pessoal e a nível profissional. Eu tenho a mais profunda convicção de que se eu quiser uma coisa bem feita, eu que tenho que fazer. E pronto.

Se eu vou ao supermercado, me incomoda deixar o marido escolher o que pode ser escolhido ( carnes, legumes, verduras, coisas frescas ), porque é claro que eu sei escolher melhor. Me incomoda chegar em casa e deixá-lo guardar as coisas, porque eu arrumo tudo direitinho, ele entucha tudo de qualquer jeito. Esses dias doente foram uma provação para mim, porque muita coisa eu tive que delegar para o marido, a listinha de compras, a limpeza do banheiro dos gatos ( você analisou o cocô pra ver se não tem nada de anormal, se um deles não teve diarréia? ), a aspiração do pó ( você aspirou a cadeira dos gatos? ). Eu sou uma chata de galocha. Meu marido é um chato de galocha. Somos o par perfeito.

Aqui no trabalho, a transição de compradora para gerente de compras está sendo traumática. De acordo com o previsto, demoramos um ano para contratar mais gente, treinar ( ainda estamos treinando ) e chegar num ponto onde eu só precise  cuidar de um fornecedor(zão) e de resto gerencie um grupo. Agora que a fruta tá madura, tá difícil colher. Eu tenho que identificar um projeto, falar pro Fulano, Ciclano e Beltrano fazer isso, aquilo e aquilo outro, mas na maioria das vezes eu penso, o Ciclano não é muito bom nisso, o Beltrano é meio lento naquilo outro, e quando vejo já estou planejando a execução do projeto eu mesmo. Isso é feio, isso é péssimo, principalmente porque demonstra na verdade que eu não confio na capacidade dos outros e pior, me acho melhor que todo mundo.

Meu trabalho tem uma parte ultra maçante, preencher telas e fazer relatoriozinhos. Diz o novo job description que eu analiso os dados e dou para a assistente fazer o relatório, preencher a tela, mas quando eu tenho que ir lá pedir pra ela, eu fico pensando que eu sou uma folgada do caramba, que não é justo eu só querer fazer a parte legal e jogar a parte ruim no colo dela, e vou andando até a mesa dela me digladiando comigo mesma de tanta culpa. Ela já percebeu e acha engraçado, afinal esse é o trabalho dela, ela sabe que é a parte chata do meu, ela não se importa, aliás ela me disse que para ela o insuportável é a minha parte, que ficar digitando telinha é legal, higiene mental.

Hoje eu tive minha reunião semanal com o boss e estamos "delegando", eu para outros e ele para mim, e isso está me ensinando muito. Eu acho tudo que ele está delegando para mim super legal ( budget para laptops, viagens, analise de workload e requisição de funcionários extras, career planning ) e ele já me disse que está començando a transferência pra mim de tudo o que ele detesta, ou seja, o que ele detesta é o que eu estou adorando. E assim eu vou aprendendo a relativizar meu conceito de "tarefa desagradável".

Hoje estou praticamente saltitando pelos corredores. Estou me sentindo bem, o trabalho está legal, está um dia lindo e hoje eu vou churrasquear. As asinhas de frango já estão de molho, pela primeira vez vou tentar fazer costelinhas de porco.

A vida é bela meu povo, at least for now.

1 comentários:

Valery disse...

Adriana, que bom saber que voce está bem agora. Sabe, não sou chefe não, mas quando tenho que pedir ajuda para algum colega, penso dez vezes, porque na minha cabeça, também acho que a pessoa não vai fazer como eu, e aí já viu né, a gente acaba acumulando muita coisa pra fazer. É difícil. Um abraço.