quinta-feira, abril 14

Passerà

A primeira vez que ouvi a música passerà e que me traduziram, achei super deprimente, coisa de italiano velho com a cachola cheia de vinho. Meses depois, estava eu na Itália, me sentindo uma velha, enchendo a cachola de vinho e pensando que a letra daquela música deveria ser adicionada à Biblia, aos Salmos ou algo que o valha, como verdade inquestionável e imutável.

Hoje li a palavra "inefável" no blog da Alice e imediatamente aquele momento, aquele grão de areia da minha vida, encorporou aquela palavra. Às vezes tenho uns momentos meio "Forces of Nature" ( filme com a Sandra Bullock ) e parece que o mundo gira fora de sincronia, eu sou o centro e ao mesmo tempo sou a parte menos importante do todo. Eu sentia uma brisa fresca no rosto, ouvia passarinhos e as cores das flores, tulipas, narcisos, lirios, violetas me tiraram o fôlego, me deixaram sem palavras. Naquele momento eu me sentia saudável como não me sentia há tempos, tudo estava bem com a família no Brasil, tudo bem com o meu lindo marido, o emprego pelo qual eu tanto batalhei ali me esperando... Naquele momento eu estava tão feliz, uma felicidade calma, tão boa...

E imediatamente já vem o inconsciente, ou a prudência, ou o meu auto-boicote-mode-on, me dizer que há apenas 3 semanas eu estava numa cama de hospital recebendo transfusões, sem saber o que eu tinha e claro imaginando o pior, brigando com o marido que não ajudava, preocupada com a mãe que também não está bem, com o gato que estava doente... Vem aquela voz dizer que "aquela pequena dor, ódio ou amor, passará".

Hoje, andando no friozinho, depois de horas batendo perna, olhei meu rosto numa vitrine e o nariz vermelho do frio trouxe lágrimas aos meus olhos. Hoje, e somente hoje, ainda em recuperação e ainda um pouco distante de estar 100% bem, entendo como eu estava mal, mal e mal. Eu não tinha energia para andar os 200 metros do estacionamento do shopping até a farmácia. As compras aos sábados demoravam mais de hora porque eu tinha que sentar pelo menos 2 vezes. Subir escadas quase me matava. E meu rosto estava tão branco, tão branco, que meu nariz não ficava vermelho com o frio...

Quando me diziam que "o importante é ter saúde, o resto a gente dá um jeito", eu fazia pouco caso. Aprendi.

Hoje foi um dia muito, muito feliz.

5 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Valery disse...

Adriana, que bom que voce está melhor. Logo estará 100%, voce vai ver. É isso mesmo, a gente vive reclamando das coisas, do excesso de trabalho, da falta de tempo, do cansaço, mas o principal é estar com saúde. Temos que nos policiar pra não reclamar tanto, porque vira mania, eu faço isso. Eu vi na internet que tem um movimento aí pelo mundo cujo lema é "sem reclamação", incentivando as pessoas a deixarem de reclamar. Achei muito legal. Tem até umas técnicas que divulgam para quem quer participar. Um abraço.

vcdarcie disse...

Que bom que esta bem! Boa sexta feira ! Beijos

Sheila disse...

Boas noticias!! Lembra da frase que falávamos no Brasil?? Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa...bonitinha , nénão??

vickie disse...

Adriana. Estou feliz que voce esta bem. Palavras muito lindas as suas; cheias de verdade. Aquela verdade que vem la do fundo do coracao. Minha mae sempre dizia (e eu fiz disso um dos meus proverbios favoritos) "Vao-se os aneis, ficam os dedos". As vezes a gente se esquece que "nao ha mal que sempre dure ou bem que nunca se acabe" . Me desculpe porque eu estou super cliche hoje.:)