terça-feira, agosto 26

Vocês leram?

Vocês leram que há um projeto de lei para aumentar a licença maternidade no Brasil? Leia aqui.

Eu não vou nem comentar ou discutir se é melhor para a criança e a mãe, porque é claro que é. Mas quais as consequências para a mulher no mercado de trabalho?

Eu não sei se as coisas mudaram tanto nesses últimos 6 anos que estou fora, mas quando eu trabalhava no Brasil, os 4 meses já afetavam muito a carreira da mulher, imaginem 6.

Eu acho o projeto de lei muito bem escritinho, mas acho extremamente inocente a deputada achar que "só" o incentivo fiscal vai driblar a bomba que vai ser na carreira das mulheres.

No Brasil, participei do processo de entrevistas de novos candidatos na empresa, e quando havia "empate", não só a preferência ía para o homem como se o empate fosse entre duas mulheres, a "menos em idade procriativa" era beneficiada. E vou mais longe, uma colega com ótima performance foi promovida, e numa função superior haviam duas possibilidades abertas em departamentos diferentes. O departamento que ela escolheu não aceitou a transferência porque já tinha muitas funcionárias "em idade procriativa".

O pior é que tudo isso é velado, é escondidinho, é por debaixo dos panos. A pessoa ouve um "suas habilidades serão melhor aproveitadas no outro departamento", e só fica sabendo da verdade de forma extra-oficial por alguém que está saindo da empresa, ou se aposentando, ou deixa escapar.

E mesmo em posições mais baixas, onde a mulher não está tão interessada em ter uma super carreira, mas precisa trabalhar para complementar a renda, ela vai ficar tranquila em casa, certa de que seu emprego estará esperando por ela? Porque na prática, quando uma funcionária sai em licença maternidade, pelo menos nas empresas que trabalhei no Brasil, acabavam distribuindo o trabalho dela temporariamente entre os colegas e quando muito contratavam um temporário para ajudar em tarefas mais manuais, mas ficavam todos ansiosos esperando pela volta da funcionária. Mas 6 meses são mais difíceis de cobrir nesse esquema, vai acontecer muito de contratarem um temporário mais capacitado, e os riscos da funcionária acabar perdendo sua vaga é maior, afinal ainda tem muito chefe mente curta por aí que vai pensar "ela tem um filho pra cuidar e o outro é livre-leve-solto". Será que a mulher vai ficar tranquilinha em casa?

E tem outro lado. Tem mulheres que extrapolam também. Não são maioria, mas tem. Tenho um primo que tem uma pequena indústria. Ele tinha uma funcionária que trabalhava num equipamento bem especializado, ela foi bem treinada e ganhava mais que os outros por isso, e depois que ela casou, teve 5 filhos um atrás do outro, voltava da licença já grávida. Meu primo estava irritadíssimo, porque não podia manter dois funcionários especializados, e a cada licença tinha que treinar outra pessoa. Por fim, acabou dispensando os serviços dela e pagando "as penalidades previstas por lei".

Vocês que estão aí no Brasil, o que acham? E quem está fora, como é a licença maternidade no seu país?

4 comentários:

Anônimo disse...

Você sabe bem como o sistema funciona aqui, e sua colega da outra empresa não só retornou ao posto como ainda foi promovida. Então acho que o problema é a mentalidade brasileira, não a licença em si, assim como aqui na Holanda muitas mulheres preferem ficar em casa com os pimpolhos, quando poderiam bem trabalhar. Na Suécia a licença maternidade é bem mais longa, o pai também pode tirar, e isso não parece prejudicar as mulheres, ao contrário, lá elas parecem trabalhar mais do que aqui e ocupam cargos bons (se a Inês passar aqui ela pode confirmar).

Anônimo disse...

Pra mim, a diferenca e' a seguinte: o Brasil tem muuuuita gente. Qualificada e desqualificada e ai que entra o medo das maes em licenca serem passadas pra tras sem poder se defender ou como vc disse sem nem saber o que esta acontecendo.
Aqui, se vc tiver o minimo de forca de vontade, tem espaco pra todo mundo. Inclusive pras maes que querem ficar por um periodo mais longo em licenca.

Anônimo disse...

Eu estou com a marcia. O problema ta' todo na cabeça, como diz meu marido. Num pais com "consciencia social", onde as pessoas entendem o valor dos outros na sociedade e compreendem que um filho bem criado pela mae sera' um adulto melhor, esse tipo de questionamento nem passa pela cabeça das pessoas.

Aqui na Italia sinceramente nao sei como funciona; sou freelancer e o assunto nao me interessa diretamente, mas aqui também o esquema é muito diferente: horas de almoço longas, quase todo mundo volta pra casa pra almoçar, quase todo mundo tem mamae e/ou sogrinha morando no andar de cima pra dar uma mao... Entao essa coisa da licença perde um pouco da importancia.

Anônimo disse...

Pelo que li na imprensa, a iniciativa privada não é obrigada a aumentar a licença maternidade. Aumenta se quiser e, se o fizer, ganha incentivo fiscal.

A licença de 6 meses só é compulsória para as servidoras públicas e, mesmo assim, só para as que trabalham em órgãos federais.

Daí, só se for economicamente vantajoso para as empresas privadas é que elas vão adotar. E se for, aí vão recrutar mulher a torto e a direito :-)