sexta-feira, janeiro 28

Como é que pode rir tanto?


Eu não tenho família aqui na Holanda, então as festinhas holandesas que eu frequento são básicamente as festas dos colegas da empresa, as confraternizações ( incluindo as da empresa e turma do marido ), e as festas das amigas brasileiras casadas com holandeses que acabam virando mezzo-a-mezzo.

Quando estávamos no Brasil, íamos começar um churrasquinho informal na família quando um amigo do meu irmão apareceu pra trazer uma furadeira e meu irmão o convidou pra ficar. Aí na mesma hora um outro amigo ligou e meu irmão já o chamou pra vir, e assim o churrasquinho informal virou festcheeenha.

Comemos, bebemos, batemos papo, a certa hora fui pro quarto e fiquei ali lendo com o Bart. Meu irmão e a tchurma lá embaixo dando altas gargalhadas. E o Bart: "não entendo, as festcheeenhas holandesas começam com o povo animado, todo mundo conversa o que tinha pra conversar, o ânimo vai baixando e a festcheeenha acaba. Aqui é o contrário, o povo vai chegando, cada um num horário, às vezes com horas entre a chegada de um e de outro, não dá nem pra entender que horas a festa começou, aí você percebe que o povo conversa um pouco mais sério, aí vai ficando mais animado e alto, e termina nessas gargalhadas. É difícil pra mim entender, lá no Kos ( o vizinho holandês ) não é assim… E eu gostaria que fosse assim, mas não é…"

Explicando. Querido, na Holanda o povo se reúne e fala da queda do cabinete, do Wilders, da inflação, do aumento do preço da TV a cabo, da dificuldade de se encontrar um bom aannemer ( faz-tudo ), a imaginação de vocês pra falar de assuntos práticos mas desagradáveis é de impressionar qualquer estrangeiro. E é um tal de fala-coisa-ruim-daqui, rebate-com-coisa-ruim-dali que parece competição. O brasileiro, quando se junta num churrasquinho improvisado de sexta-feira, pode até chegar e comentar que a semana foi pauleira, mas ele bota os assuntos desagradáveis de lado e fala com os amigos de coisas leves, um carro lindo que ele viu, um show que ele foi, os amigos rebatem com outras coisas legais… Essa fase das gargalhadas é a fase dos "causos" e piadas. O povo já comeu, o churrasqueiro já parou de churrasquear e o que sobrou na churrasqueira tá ali só pra petisco, as crianças dispersaram, e eles tão contando os causos engraçados de "quando eu era criança pequena em Barbacena". Ou piadinhas. E isso vai noite adentro, porque amanhã é sábado e tá todo mundo feliz que o despertador não toca.

E ele não entende. Sem horário pra chegar, sem horário pra sair, sem ter combinado antes… Como pode achar tanto assunto pra dar tanta gargalhada… Mas ele concorda que é melhor fechar a semana gargalhando com a história da Paqüela* do que falando do aumento da idade da aposentadoria para 67 anos.

* História da Paqüela: tradição na minha família, uma história meio de terror que a gente conta pras crianças pequenas, de preferência de noite e quando está chovendo. No churrasco da Comadre em Rotterdam eu fui contar pro Daniel, filho da Alice, e demos tanta, mas tanta risada… eu continuo rindo só de pensar no Daniel contando a história da Paqüela em holandês, adaptada pra Holanda ( eu estou na A15 e quero a minha Paqüela ), pros coleguinhas holandeses. Parece que o Daniel é mais um a achar que eu sou meio louca :o)

6 comentários:

Camila disse...

Conta a história da Pacoela pra gente tb!!!!

S. W disse...

ahahhah Dri, me matei de rir, porque é assim mesmo. Terça feriado foi meu churrasco de despedida, um amigo, trouxe outra amigo, que trouxe um amigo que estava na cidade e coisa assim, no fim tinha o triplo de pessoas esperado, e da-lhe ir comprar mais cerveja, mais carne, e 3 horas depois chega um outro grupo de amigos, e no final todo mundo está lá dando risada super alto, já dançando, já fazendo amizade, e não tem hora pra acabar.

Alice disse...

D AMOU a história da paquela (na minha cabeça era com "quê u e"). Ele sempre lembra e morre de rir!

Adriana disse...

A Alice tá certa, é paqüela! E é expressão do Pará, olha só!

Silvia disse...

Sensasional a forma que você escreveu sobre as diferenças entre as confraternizações na Holanda e no Brasil!Meus parabéns mesmo!Vocês conseguiu escrever em poucas palavras o que muitos (se não todas) as brasileiras casadas com holandeses sentem quando comparecem a esses eventos 'bate-crachá' de família (holandesa)...aniversários pra ser mais exata.
Eu que sempre fui uma pessoa alegre e que amaaaava comemorar meu aniversário, já estou ficando deprimidade em pensar na rodinha, no chazinho e na conversar baixo astral!Dá vontade de cortar os pulsos!

ThiemiHigashi disse...

hahahahahahahhahaa...
Ri muitooo!!!
Muito bom, Dri...
Nao faco ideia de como seja aih, mas acredito cegamente no que vc fala.