segunda-feira, janeiro 24

O bicho papão

A Holandesa escreveu um post sobre como foi para ela tomar a decisão de ter filhos. Vou contar pra vocês como foi a minha de não ter: apesar do marido não querer, de eu não ter quem ajude a olhar, de não ter família pra paparicar o rebento, eu sempre disse que no dia que batesse aquele instinto maternal e a vontade de ter filhos, eu mandaria tudo pra pontequepartiu e teria. Mas… cadê aquela vontade? Não veio. Até o marido já amaciou um pouco e não é mais contra, eu continuo não tendo família aqui, mas o que falta mesmo é a vontade. Tenho vontade de ter outro gatinho, de adotar um cachorro, mas de ter filhos? Não! Então, é provavelmente melhor que eu não tenha mesmo, certo?

Olha, é um saco aguentar aquelas que dizem: ah, mas eu também não tinha vontade, e agora que tenho filhos não sei como viveria sem eles, é tão gratificante, me faz uma pessoa melhor, iata iata iata. Se eu ganhasse 10 euros pra cada vez que ouvi a ladainha, já tinha umas 10 aplicações de Botox pagas. Será assim tão difícil entender que as pessoas podem sim ser felizes sem filhos, que podem se sentir completas sem passar pela maternidade ( ou paternidade ) e que alguns de nós são humildes o bastante para não achar assim tão essencial passar o DNA adiante?

E daí, só porque escolhemos não ter filhos, viramos o bicho papão. Para quem lê em holandês, vai aqui um link de uma matéria interessante. Nós somos sempre os intolerantes, ranzinzas, os mal humorados que não gostam de criança, e não gostar de criança é pecado capital, o oitavo. A mulherada brasileira adora falar que quem não tem filho é mal-amada. E em algum momento das nossas vidas nos pegaremos nos justificando para alguém que não somos assim o bicho papão, que até gostamos de crianças, que brincamos e curtimos nossos sobrinhos, que achamos os filhinhos dos amigos umas graças, mas que não é mesmo pra nós. O jornalista ainda pergunta: será que temos que ser considerados o bicho papão por querermos poder sentar no jardim e ler um jornal sem ser incomodados pelos gritos dos filhos do vizinho, ou então, não temos o direito de sair de férias, sentar na beira da piscina ou do mar e aproveitar o sol sem gritaria?

Essa matéria diz que está aumentando muito a oferta de hotéis "adults only". Eu discordo. Continua sendo muito difícil, o que tem aumentado são hotéis que tem "áreas" adults only, mas minha experiência no Gran Palladium Imbassaí na Bahia foi péssima, muita gente não respeitava a enorme placa que avisava que aquela área era proibida para menores de 18 anos, e daí ficava aquela coisa chata de ter que chamar segurança, hóspede com criança batendo boca e brigando com o tal segurança… não sei se aqui na Europa o mesmo acontece ou se o povo respeita mais as regras, mas no Brasil não funciona.

Esse final de semana me senti muito ofendida por uma atendente da chulé agência D-Reizen. Eu estava no centro da cidade e passei na frente de uma D-Reizen. Sempre compro meus pacotes na Arke, mas resolvi entrar e perguntar se eles tinham uma brochura de hotéis "adults only". A atendente tinha uns 18 anos e cara meio de antinha, mas Adriana tem que deixar de ser preconceituosa e quem vê cara não vê coração. A antinha, digo moça: como assim me-vráu? Eu expliquei: hotéis que não aceitam crianças. Ela me olhou com cara de quem tá vendo o bicho papão, respirou fundo, foi uma prateleira lááááá no fundo da loja, atrás do balcão e veio com uma brochura: hedonist hotels.

Hedonist Hotel. Vejam só, se você não quer passar suas férias ao lado de um bando de bacurins gritantes, você é um maníaco pervertido que quer andar pelado, ir em festinha da Toga, e fazer sexo em público. Minha vontade foi de dizer poucas e boas pra frangota, mas respirei fundo, usei da classe que mamãe me deu, disse não obrigada, não é isso que eu tenho em mente, e fui-me embora.

Estou agora consultando o site da Thomsom UK, que apesar de ser do mesmo grupo que a ARKE, tem mais oferta que a agência holandesa na área de adults only. Porque será, hein?

6 comentários:

Joaninha Bacana disse...

Hedonist Hotel? Hahahaha :-D Sem comentários :-D
Qto a ter filhos, eu adoro a postura da minha sogra (que é inglesa, casada com espanhol): ela diz que o assunto é do casal, é privado, e que é muita, mas muita grosseria perguntar para alguém se a pessoa quer ter filhos ou nao :-)
Beijocas, Angie

Joaninha Bacana disse...

Hedonist Hotel? Hahahaha :-D Sem comentários :-D
Qto a ter filhos, eu adoro a postura da minha sogra (que é inglesa, casada com espanhol): ela diz que o assunto é do casal, é privado, e que é muita, mas muita grosseria perguntar para alguém se a pessoa quer ter filhos ou nao :-)
Beijocas, Angie

Eliana disse...

O ter filhos é uma coisa padrão, que vem no pacote "... e foram felizes para sempre". Realmente associam a idéia de felicidade completa com a maternidade/paternidade. Já li também uma reportagem holandesa de pessoas que não tinham filhos eram tão ou mais felizes daqueles que já eram pais. Claro que não se pode generalizar. As pessoas precisam entender que temos a nossa liberdade de escolha. Pra isso hoje existem aí os tantos métodos anticoncepcionais. Tenho amigas mães, curto muito os meus sobrinhos e adoro paparicar um bebê, no entanto não tenho vontade de praticar a maternidade diretamente, 24h. Também acho uma pena que, em pleno séc XXI, tem mulher que se apaga com a maternidade, se anula como pessoa e ainda usa dos filhos para garantir o marido e a boa vida (que ela acha que tem), achando que está constituindo família.
E as pessoas deveriam parar de se intrometer na vida de um casal com este tipo de pergunta antiquada do querer ou não filhos, e pior, tentar te convencer que é a coisa mais maravilhosa do mundo (certamente o é). É uma pergunta desnecessária que não se leva a lugar algum, como citado no comentário acima.

S. W disse...

Eu cresci ouvindo a minha mãe falar que nunca quiz ter filhos, eu fui, um acidente a quase 30 anos atrás, ouço dela até hoje que não quer ser avó, porque implica em ter que conviver com crianças depois de velha, se ela não gostava quando era jovem imagine agora. Meus pais são como eu, se realizaram com o cachorro, babam por ele e são felizes assim.

Eu nunca pensei em ter filhos também, marido quer ter, mais isso é coisa que vamos conversando no futuro.Eu não tenho extinto maternal, não consigo me ver como mãe, e não vejo nada de errado nisso, deixo essa dávida pra quem mais do que eu vai fazer um ótimo trabalho educando suas crias.

Lógico que me permito mudar de idéia uma dia, quem sabe num outro momento da minha vida eu possa mudar, mas enfim, também não entendo quando as pessoas se chocam quando converso sobre isso.

Angela disse...

Passei a vida inteira ouvindo "Nao vai ter filhos?" E quando dizia "Vou, vou adotar mas só depois dos 45" Todo mundo me olhava enviesado, como quem duvida da possibilidade da minha opção. Juro, nunca engravidei mas nunca fiz um exame pra saber pq não rolou, eu sempre soube que ia adotar. Aos 44 entrei pra fila de adoção e agora todo mundo pergunta "E ai? E a adoção? Ainda nao saiu? Mas é burocracia ou voces tem algum "PROBLEMA"?... E a assistente social do Forum, então? Olhava pra mim e pro meu marido como se fossemos 2 ETs. Pois é, tem sempre alguém te julgando, não importa qual opção voce faça: Voce nunca escapa do julgamento de alguém...

lilian moreira disse...

Olá Dri,

Nunca quis ter filhos, como muitas de vocês na infância brincava de escritório, quando minhas irmãs tinham as crias e iam passar o resguardo na casa dos meus pais, ficava fula da vida, ter de aguentar um rescém nascido chorando...

Acho que na verdade nunca gostei de crianças e digo agora continuo não gostando, não gosta da falta de aducação, das manhas, das birras, é uma gritaria só....

Hoje tenho um casal, não foi fácil e continua não sendo, criar, educar, amar, duas pessoinhas tão dependente de ti, mas faço o possível...

Claro que amo os meus filhotes, mas não sou nem mais nem menos feliz por isso.

Continuo sendo eu Lílian.

Abraços.